A FESTA DAS OLIMPÍADAS – Os
biltres marmanjos alagoinhandubenses ficaram de queixo caído com o show de
apresentação que deu a mulherada no que chamaram de olimpíadas do lugar. Na vera,
não foi lá o que se diga de fora de série, todavia pros desvarios sebosos das
afuleiradas mungangas anteriores, foi um show de competição. Por conta disso, morreram
de inveja porque logo apareceram interessados em bancar o evento. Daí, tomaram vergonha
na cara reorganizando a porqueira que haviam feito nas provas masculinas
anteriores, anunciando novas competições agora com tudo nos conformes. Agora
sim, diziam, não antes choverem falcatruas nos contratos auspiciosos de
patrocínio, com vantajosos percentuais embolsados pelos organizadores,
resultantes do leilão que fizeram de tudo no município: desde faixas, cartazes,
panfletos, outdoors, baners e outros materiais de natureza propagandística,
usados em tudo quanto fosse possível explorar, como a indumentária e imagem dos
atletas – teve uns três que saíram com nome do anunciante carimbado na testa,
outros com adesivo nas bochechas, até um que saiu com um bóton pedurado numa
flâmula amarrada no pingulim, afora outras trejeitosas e risíveis fixações. Pois
fizeram de tudo na arrecadação duns trocados: dos telhados ao meio fio,
aproveitaram todo espaço possível para venda de cotas de publicidade. Nada
escapou: igrejas, patrimônio público, propriedade privada, tudo enfeitado com
os anúncios do piso ao teto e da entrada aos fundos. Muitos reclamos apareceram
pelo uso indevido de portas, janelas, muros, portões, antenas, puxadinhos,
terrenos baldios, tudo invadido sem autorização nem acordo. – É festa, véi! -,
desprezou um dos compoenentes da comissão organizadora. Imagine a situação emporcalhada
que ficou a localidade. Entre sopapos e deixa disso, todo mundo foi envolvido
pelo evento e logo deu início a primeira bateria da prova: salto da ribanceira.
Um horror. Era da altura íngreme dum morro e que no meio do embolado colocaram
uns obstáculos tipo paralelepípedos, cacos de vidros, cascos de garrafas
quebradas, metralha, coisas do tipo da maledicência despudorada. Aí, empurravam
o desgraçado que a pulso pulava lá de cima embolando ladeira abaixo de deixar
partes do corpo pelo caminho até embaixo, todo estropiado para conferir o que
faltava da vítima. Ganhava aquele que se fodesse lá embaixo com o menor tempo
cronometrado. Não sobrou um pé pra reivindicar a vitória. Contudo, se era uma
desgraça para o participante, era um sucesso pra mundiça da plateia, tudo a
favor do morro na maior torcida para que os participantes se estrapassem
ladeira abaixo. – Se sair um inteiro num presta! Tem que chegar lascado pra
gente poder gostar! Essa prova comeu toda manhã e, depois do meio dia, a tarde
toda foi para a bolada nos ovos: o participante de frente pra bola na marca do
pênalti – coisa de uns dez metros, nem isso – e vinha todo mundo pra chutar a
pelota e acertar os possuídos do néscio. Mesmo quem não tinha boa pontaria
acertava em cheio pra desespero do palerma que caía se acabando de dor. Ganhava
aquele que conseguisse ficar em pé depois duns cinquenta chutes bem dados com
direito a duas chances cada chutador. Ninguém ganhou, foi só comemoração. Quando
anoiteceu foi a vez do pé na bunda. Nessa todo mundo se inscreveu não sabendo
as dificuldades da prova: o atleta tinha de correr sempre encostando um dos pés
nas nádegas – ou seja, na carreira tinha que ter um pé no chão e o outro com o
calcanhar tocando o catimbofá. Pra aumentar a dificuldade, tinha o desportista
que afixar uma liga amarrada de cada colhão em cada pé. Levava tempo até que
todos conseguissem tal façanha. Teve gente que amarrou elástico e que, pela
correria, não aguentava o repuxo, findando meio mundo arreado no trajeto com a
lapada. Ninguém conseguiu terminar a prova, mas os festejos foram muitos pela
desgraça de todos. Pra compensar anunciaram que a prova seguinte seria a da
pelada e, como já era mais de meia noite, ficou pra quando o dia amanhecesse. E
como a população ficou indômita, tiveram de inventar algumas eliminatórias para
então soltar a lista classificatória dos que participariam da desejada pelada.
– Ah, futebol é comigo! A gente já nasce jogador! Mal o Sol despontava no
horizonte, ninguém se entendia e, como todo brasileiro é além de jogador um
técnico em potencial, cada um com seu pitaco de estratégias pras partidas.
Levaram coisa de mais ou menos uns três dias para resolver a questão dos
grupos, turnos, returnos, melhor de três, semifinal e final. Meio sem jeito a
turma foi se organizando, coisa de uns trezentos times e a maior confusão na
armação das equipes, só tomando jeito porque um galego de dois metros de altura
e olhos verdes, apelidado de Alemão começou a prospectar os componentes da sua
equipe, fato que fez com que cada um tomasse partido pra esvaziá-lo, vez que
tencionavam que ele fosse o goleiro do contra pra vingança do desastroso 7x1 da
copa. – Deix’ele pro gol pra gente dar bico e encher o cara de frangaços! – É
mermo, a gente se vinga do alemão dessa vez. – Bota ele no gol pra gente dar
uns teiaços raçudos nesse fresco agalegado! Assim foi tramado e ele findou
mesmo embaixo das traves todo com pinta de profissional. Depois de umas
quinhentas partidas, todos contra todos, sobrou uma equipe que se sobressaiu
para enfrentar a decisão com o que sobrou de jogadores pro Alemão. – Só deixa
ele juntar perna-de-pau pra gente golear. Coitado, nehuma chance de vencer, vez
que não sabia no que estava enredado. E assim foi. Com dez minutos de jogo já
estava 8x0, dois legítimos do ataque e outros seis tudo contra, como se os a
favor estivessem em conluio com o adversário. E estavam mesmo, tanto é que
findou o primeiro tempo 36x0. – Segura essa alemão fidapeste! Isso é uma
lavagem da porra! – Ué, eu tô jogando sozinho, porra! -, gritou inocentemente o
Alemão. E nem deu tempo de gritar, já começava o segundo tempo com todo mundo
dando chute nas duzentas bolas que jogaram no campo. Ele agarrar nem podia, se
livrava. Teve um que contou o escore: 2755x0. E ficou nisso mesmo porque
ninguém era doido de sair recontando um por um. O Alemão que quase morre
asfixiado dentro das redes entupidas de bolas, só se salvando porque berrava
por socorro. A cidade em peso de alma lavada pela vingança da copa, começou ao
cortejo com a estátua da bimba gigante – o símbolo das olimpíadas deles - por
toda cidade, até findar na entrega dos troféus – o tolote de ouro – para todos
os participantes. Como não tinha o suficiente para contemplar todo mundo, teve
gente que se virou com fotos, lembrancinhas e brebotes que traziam a inscrição
do prêmio. O ponto alto foi a distribuição do aperitivo, a teibei – a raiz de
pau milagrosa -, e todo mundo festejou de só voltar ao normal uns quinze dias
depois. E vamos aprumar a conversa & tataritaritatá! © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados.
Veja
mais:
AS OLIMPÍADAS DO FECAMEPA AS MULHERES NAS OLIMPÍADAS
JOGO DURO
A TEIBEI
Curtindo
o álbum (cd/DVD) Wanda Sá ao vivo (Biscoito
Fino, 2014), da cantora e violonista Wanda Sá.
PESQUISA
Convém, pois, que tenhamos presente que, quando interferimos com responsabilidade
e liberdade – e com isso com a possibilidade de uma vida digna e autônoma -
tocamos em nossa condição humana de pessoa. Poderíamos renunciar a tais
‘ficções’, com auxílio das quais compreendemos a nós mesmos, sem nada ter a
oferecer em troca senão um sucedâneo que, ao que tudo indica, torna ainda mais
sombrio o horizonte no qual já se desenha um provável rebaixamento de valor e
de autoestima da humanidade, com o sentimento torturante mediocrização do homem
e de sacrílega banalização geral da existência?
Trecho extraído da obra Sonhos e pesadelos da razão esclarecida:
Nietzsche e a modernidade (UPF, 2005), do filósofo e professor Oswaldo
Giacoia Junior.
LEITURA
Penduro antigas fotos de namoradas de
infância – com o coração partido, sento, cotovelos na mesa, o queixo na mão,
estudando os olhos altivos de Helen, a boca fina de Jane, os dourados cabelos
de Susan.
Nas paredes de uma sala sem requintes de
arrumação, poema extraído do livro Gasolina & Lady Vestal –
Poesia Urbana (L&PM, 1985), do poeta estadunidense da geração beat, Gregory
Corso (1930-2001). Veja mais aqui.
PENSAMENTO
DO DIA
[...] jamais poderia imaginar quão sutis e veladas
são as armadilhas com que se deixam enredar os falantes compulsórios de
qualquer segmento da vida intelectual, como que confirmando os laços entre
biografia, sociedade e produção científica. Só que desta vez eu vesti a pele da
fonte, sem volta.
Trecho
extraído da obra Intelectuais à
brasileira (Companhia das Letras, 2001), do sociólogo e professor Sergio
Miceli.
IMAGEM
DO DIA
A arte
do grafiteiro e artista de rua britânico Banksy.
Veja
mais sobre Aurora: o Sol nasce paratodos!, Henry
David Thoreau, Toninho Horta, Samuel Beckett, Píndaro, Nathalia Timberg,
Roman Polanski, Aldo Locatelli, Romeo Zanchett & Emmanuelle Seigner aqui.
DESTAQUE
A arte da ciber ativista, desenhista digital e
blogueira Nadia Gal Stabile, editora do blog Sarau para todos.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Aphrodite, by Augusta Stylianou.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
World
Peace, by Nancy L Jolicoeur.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.