AS
MULHERES MANDAM VER NAS OLIMPÍADAS - Alagoinhanduba
estava em festa. Não era pra menos. No começo a coisa era chocha: uns poucos gatos
pingados peruando nas disputas. Mas depois de muita macacada nas provas da
macharia, a cidade em peso resolveu não perder a mangação. Tinha gente até de
um olho só a se embolar de rir com a presepada. E o negócio pegou fogo mesmo
quando as mulheres denunciaram machismo nas competições por terem apenas provas
pros cuecas, deixando-as escanteadas do evento. Vuque-vuque da pega, coisa de
envolver polícia e Judiciário para acalmar os ânimos. O pandemônio foi ao ápice
quando elas deram conta que os organizadores faziam ouvidos de moucos das suas
reivindicações. Com o litígio estourando os limites da sensatez, a peleja ficou
séria: a caçarolada no quengo comeu no centro. Algumas armadas de panelas,
outras de mão-de-pilão, umas com rolos de massa – aquele conhecidíssimo amansa
corno -, e mais magueira de fogão, prateleiras, vassouras, rodos, batedor de
carne, brebores e o escambau. Pronto, resolveram a parada: os machos tudo
murchos, logo entraram no o que é que é, o que é que é isso, e teitei pra lá e
pra cá, e tudo entrando nos conformes, não antes uma assadeira ou penico voar
para ditar o rumo da coisa. Nem polícia, juiz, prefeito, bispo ou promotor,
autoridade que fosse para acalmar os ânimos das valentes senhoras e senhoritas que
já ameaçavam sacudir os próprios filhos para revidar os pantins dos maridos que
queriam enrolá-las com regulamentos inventados de última hora. Lá pras tantas,
de tão irredutíveis que se apresentavam, tiveram que aquiescer na apresentação
delas durante as olimpíadas.
A
ABERTURA – Dias atrás a
coisa começou de qualquer jeito, afinal, macho que se preze prima pela
desorganização. Vai de qualquer jeito, só passar um risco no chão e pronto. O argumento
era de que ninguém ali era biba pra está cum frescurites. Bastava dar um pipoco
qualquer e o trupé comia ineivado. Assim a coisa ia. E quando Zé Peiúdo foi
anunciar a primeira prova feminina, a Vera adiantou-se e logo tascou: - Num é
assim não, violão! Foi um vexame. Pronto, segundo a comissão organizadora, as
mocreias botavam o divertimento a perder. Novas altercações: assim, assado, vai
e volta, puxa-encolhe. Lá pras tantas, como sempre, elas venceram e fizeram uma
abertura digna de respeito – pelo menos pra elas, né? Desfile, balizas, evoluções,
bombos, marchas, maiôs, biquínis, bustiês – as mais recatadas de tomara-que-caia
no joelho - coisa lá com delicado toque feminino, coisa de se vê mesmo, vez que
não era aquela mundiça de marmanjo fedido. A turma da ceroula na maior ovação. Um
sunga gritou: - É hoje, dia de bronha! – Que nada, tem cada catraia trem virado
que não dá nem pra botar o pingolim em pé, quanto mais em dia! -, advertiu
outro. A turma do oba-oba não deixou por menos com aplausos acalorados: - Agora
sim, colírio desse digno de nota, isso é coisa que se apresente de verdade! Enquanto
as moças e moçoilas caprichavam nos requebros de deixar nego de queixo caído e
olhos trocados, as senhoras damas donas-de-casa ficavam no máximo no passo do
elefantinho, gingando comedidas, com seus bruguelos nos braços ou agarrados no
cós da saia. E deram voltas pela cidade todinha umas três vezes, até resolverem
parar e chamar na grande para dar início às provas da competição.
AS
PROVAS DA COMPETIÇÃO – Por
completa sacanagem, os bundões organizadores segredaram, de propósito, as
provas femininas, anunciando apenas na hora qual a que se realizaria no
momento. A cada anúncio a cidade em peso caía no estardalhaço da torcida no
maior óóóóóóóóóóóóóóó! Pois é, maior dos ardis digno das sociedades mais
secretas, deu-se o anúncio uma a uma. A primeira foi subir no salto. – Isso não
é salto, é perna-de-pau -, comentavam. Depois rodar a baiana e chutar o pau da
barraca: - Vixe, a cumade lá de casa tá perdendo! Só Xantipas e bote fé. Outra foi
a de borrar a maquiagem: - Sacanagem, meu! Tudo na base de cosméticos
inventados na hora por maquiadores ad hoc só para ver o resultado depois duma
briga de mulheres. Já viu, né? Maior barangada. Chegou a vez da prova do cabelo
armado! Tudo tratada por anunciantes cabeleireiros que queriam fazer seu
mercandising nas chapinhas delas. Depois de tudo pronto um ventiladorzão
tamanho do mundo, ganhava a que ficasse com o cabelo mais em pé: - Isso não é
prova, é assombração! A do xixi na calcinha foi o maior vexame: é que botavam
elas para encher o bucho com litros e mais litros d’água, vestiam-nas com uma
meia-calça e, o resultado, consistia na carreira pro mictório, quem se lembrava
de tirar a calcinha. – Maior mijadeiro. Acontece, porém, que inventaram de
botar no meio do aguaceiro tomado, um chá pra emagrecimento com noz da Índia, aí
já viu: no meio do mijo, caganeira da porra! A antepenúltima gerou polêmica:
relando a cheba na sela! Muitas inscritas desistiram na hora: - Isso é lá coisa
que se faça?! As mais afoitas passaram as pernas com seus saiotes nas bicicletas
com selins altos e às pedaladas com rebolado a toda carreira só de ver a
calcinha no movimento da bunda, acompanhadas pelos Zé-roelas que seguiram na
poeira porque não queriam perder um mínimo lance do espetáculo, filmando tudo. A
penúltima foi só reclamo: arranco de pentelho. Vixe! A bronca era o fato de ter
de fazer a depilação das virilhas delas, além do adesivo puxador e pra todo mundo
ver! –Desgraceira dessa, só pra mulé-macho mermo! Oxe, não faltou corajosa! Por
fim, a última: queimando o arroz. O escândalo foi a denúncia: - Traveco não
pode competir! Pode, num pode, findou tudo no balaio. Aí foi a maior torcida:
um festival de estrias e celulites. As beldades foram aplaudidas e ovacionadas!
Vivaaaaa!!!
A
PREMIAÇÃO – Ao término da
peleja, era chegada a hora de anunciar o prêmio. Ninguém sabia nem se dera
conta da premiação. O mistério envolveu toda população que se viu diante de um
corpo de jurados catados a dedo – o juiz, o promotor, o prefeito, o delegado, o
comandante da polícia, gerentes de repartições públicas, ricaços e outras
autoridades que nem eram graduadas, mas que foram convocadas para dar moral ao
evento, devido desistência já ao final do bispo e do padre da paróquia porque acharam
aquilo tudo uma pouca vergonha. Até que participaram, tanto eles como pastores
protestantes, espíritas e pais de santo, depois foi que eles, já com mais da
metade do certame corrido, arribaram. Nessa hora os caras capricharam na
organização, anunciando a inauguração de um monumento para registrar a ocasião
que seria marcada na história para sempre. Se pros apaideguados o prêmio era um
tolote de ouro, o que seria para s teteias? Aí, com o suspense no ar – todo mundo
queria ver como terminaria essa papagaiada -, tangeram o povo pro final duma
rua lá não sei onde e depois da maior discurseira dos organizadores, juntamente
com as autoridades presentes, cortaram a fita e descerraram a placa, sobre a
qual estava assentada a obra de arte: a escultura gigante de um pênis. Após a
inauguração, muito bate-boca e desentendimentos a fole, porém, ao final,
findaram desfilando a estátua fálica por todas as ruas, até o local da entrega
dos prêmios, no qual estavam deliberadamente organizados os troféus da primeira
à décima colocada: a piroca de pau. Muitas atletas ao tomarem conhecimento da
premiação, abriram mão e renunciaram da condecoração, enquanto outras, não
menos orgulhosas, empunhavam o galardão vitorioso. Isso significa que sobrou
piroca pra distribuir pro povo na maior festa. Ora, ora. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.
Veja mais sobre Nascente: O Sol Nasce Para Todos, Herta Müller, Livia Garcia-Roza, Elba Ramalho, Robert Altman, Francesco
Albani, Psicodrama, Arieta
Corrêa, Neve Campbell, Aline Riscado & Mariana Pabst Martins aqui.
DESTAQUE
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Stading
and seated nude, by Hubert B. W. Ru.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.