PERFUME DA INOCÊNCIA (Imagem:
arte by Chris Buzelli)
- O aroma dos meus dias de infância ainda vive presente. Apesar de tudo,
sou mais menino que nunca. E tudo, afinal, se faz como se eu ainda estivesse no
quintal de casa viajando pelas delícias do que fui e ficou para sempre. Ainda ouço
as modinhas que a minha mãe solfejava arrumando a casa, completamente resignada
em sua angústia de mulher incompreendida que o marido esqueceu na primeira
esquina da rua para nunca mais voltar. Eram cantigas de um tempo distante e
soavam como vigilantes para que eu não pulasse os muros ou fugisse na primeira
fresta das portas. Inútil precaução pra me ver desgarrado na poeira das ruas,
perdido entre os que vão e os que vêm nos desencontros inesperados. Comigo o perfume
das rosas e frutas do quintal me dizem que não fui e jamais voltarei, sigo embalado
por uma eterna voz encantadora de mulher ao meu ouvido, um ânimo que no inverno
noturno se faz esperança da poucas coisas que sobraram de mim e que se perderam
no altar dos sacrifícios com todos os genocídios diários e cinismos, ultrajes,
apelos tácitos, pedidos de socorro, pela turba com seus apupos sem causa, pelas
cartas jogadas ou extraviadas, papeis amassados, lixo, muito lixo em todo
lugar. De mim apenas esculpo a pedra como se ouro fosse - migalhas de ásperas
emanações de primaveras esquecidas em álbuns de fotografias ou nas molduras das
salas de familiares. A presença de mulher sempre me apraz e é meu regozijo,
mesmo que tenha apenas sobrado de mim o espantalho que insiste em confundir o
que é sonho e o que é vida, enquanto as minhas palavras se tornam minhas
próprias emboscadas. Não tenho nada mais a perder. Suicídio é para covardes,
sou vivo e vou! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Curtindo as músicas da cantora e atriz formada em Letras,
Maria Leite.
PESQUISA
[...] quando nossas
relações com a comunidade forem completamente compreendidas, ocorrerá que a
saúde, o bem-estar e os poderes que elas infundem em cada indivíduo passarão a
dizer respeito não apenas à sua própria vida, mas afetarão também o conjunto do
qual cada um deles é integrante.
Trecho extraído da obra El amor y el matrimonio (Ombu, 1932), da escritora e erudita britânica,
ativista dos direitos das mulheres, Carmichael
Stopes (1840-1929).
LEITURA
Louvo a bailarina da Ásia que com seus gestos
lascivos suamente ondula desde a ponta dos desdos. / Não a louvo porque exprima
tods as paixões movendo, assim com tanta graça, os braços graciosos, / mas
porque sabe dançar à volta de uma vara examine, sem que a ponham em fuga as
rugas da velhice. / Excita, abraça, beija: com sua língua e suas pernas, faz
qualquer vara erguer-se, nem que seja do Hades.
Epigrama 129, Livro V, do
poeta grego Automédon de Cízico,
recolhido da obra Poesia erótica em tradução (Companhia das Letras, 2006), organizada pelo poeta e tradutor José
Paulo Paes. Veja mais aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA:
O amor é
o poder que dentro de nós aceita e valoriza o outro ser humano tal como ele é,
que aceita a pessoa que ali está, verdadeiramente, e não a transforma no ser idealizado
pela nossa projeção. O amor é o deus interior que abre nossos olhos cegos para
a beleza, o valor e as qualidades da outra pessoa.
Trecho da obra We:
a chave da psicologia do amor romântico (Mercuryo, 1983), do escritor e analista
junguiano estadunidense Robert A.
Johnson, inspirado na história de Tristão e Isolda para analisar a jornada heróica
de homens e mulhers no relacionamento na vivência de amor profundo e
verdadeiro.
IMAGEM
DO DIA
A arte da fotógrafa Beth Sanders.
Veja mais sobre O trâmite da solidão: sexta-feira, Josué
Montelo, Count Basie, Aristóteles, Martha
Medeiros, França Júnior, Michel Gondry, Jean-Baptiste Greuze, Kate Winslet & Boris Vallejo aqui.
DESTAQUE
A arte da cantora, compositora e artista plástica
Rebeca Matta.
CRÔNICA DE
AMOR POR ELA
A arte do pintor e artista pop britânico Peter Blake.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.