VAMOS APRUMAR A CONVERSA? TEM HORAS QUE ATÉ O AMOR
FALA GREGO – No começo tudo é como a poesia de
Dáfnis à Cloe: o eflúvio das almas gêmeas. Ou como conta Ovídio nas
Metamorfoses, da harmonia de Filêmon e Báucis que findam, ele como um carvalho
e ela como uma liana que o envolve desde o tronco até a fronde. É a hora em que
Eros e Psiquê estão unos e tudo não é só mar de rosa como às mil maravilhas.
Tudo tem graça, tudo é lindo de se ver. Os corações apaixonados se embalam de
nada perturbar a paz de quem está amando. É como a história de amor do jovem
caçador Alfeu que se enamora pela ninfa Aretusa, quando ela se esquiva dele por
ser humano, fugindo para a ilha da Ortígia, na costa da Sicília. Ele, por sua
vez, se converte num rio da Arcádia, indo desaguar no Peloponeso. Transformado
em rio, ele persegue sua amada por baixo do mar e, alcançando-a, eles se
enlaçam para sempre numa fonte. Ou como Pigmaleão e Galatéia. Ele, um escultor
de extraordinário talento e que, além de artista, era misógino. Até que um dia,
repulsando mulheres de carne e osso, resolveu talhar no mármore as formas de
uma criatura que seria um modelo de perfeição, em suas linhas puras. A estátua
era a de Afrodite. Ele apaixonou-se pela própria figura que modelara,
conseguindo, graças às suas ardentes preces, que Zeus lhe infundisse vida,
casando-se com ela. O amor é lindo. Porém, finito na vida, ou como diz
Vinicius: infinito enquanto dure. Com o passar do tempo, aí é que de uma hora
pra outra, vira Alceste e Don Juan, quando não se leva nos sonhos de Madame
Bovary feita de Xantipa. Aí é a hora em que Hércules se torna escravo da paixão
por Onfália. Mutatis
mutandi. O tempo cuida e o que era etéreo não se
mostra tão puro assim. É como Eco que amava Narciso que amava a si próprio. Ou Carolina
que não viu nem os versos nem o tempo que passou no coração do poeta. Ou Abelardo
que amou Helena e a sua maldição. Tem aqueles que se dão como o desfecho de Jasão
e Medeia, ou Kriemhild e Siegfried, ou Lohengrin e Elsa, ou mesmo Romeu e
Julieta, Tristão e Isolda, Píramo e Tisbe, ou, ainda, o fim de Paulo e Virgínia
na narrativa de Bernardim de Saint-Pierre. Aí nem mel, nem cabaça. Vixe, quanta
tragédia! Também outros em que o umbigo fala mais alto, haja capricho e
incompreensão. Dois bicudos que se amam, mas não se beijam. E levam tudo na
imposição: ou isso ou aquilo. Que bicho foi que mordeu? Nem que ponha mel nos
beiços, é só pregando sermão, procurando encrenca ou sarna pra se coçar. Parece
mais que falam em Volapuk, sem fair
play. Maior quebra-de-braço, só medindo força. Por da cá aquela palha, pronto! Aí surge o pomo
da discórdia. Quanto maior for a nau, maior a tormenta. Tudo por água abaixo. Quanto
desperdício! No reino dos amantes tudo é possível. Não há como prever como tudo
vai findar. Vai tudo aprumado até a hora que desanda tudo, de não haver
concórdia nem na marra. Nossa, quanto se sofre de nariz empinado! Vai, cada
qual, pentear macaco. Perdem o tempo e o latim. Finda cada qual pra sua banda,
beijo partido e dor no peito. Gorou. Afinal, ninguém está bem com a vida que
tem. E já dizia Terêncio: amantes amentes, tudo louco! Aí, sem saída, se
recolhe na tebaida. Se remexer na ferida, empiora; se não sai da quizília,
sucumbe no suplício de Tântalo com a túnica de Nessus. Pois é. Quem está vivo
tem de saber onde põe os pés, morto é que é levado. Fazer o que? Mesmo que o
coração diga não, só resta queimar os navios, desistir e partir pra outra
cantando o Anti-romance que fiz com Célio Carneirinho: Ah, esse amor partido, sem gosto e sem
cor, na sua efigie de quadro borrado. Ah, essa dor que murmura, resmunga terna
e segura nosso ocaso na inércia do sonho. Ah, que as veredas do amor me corrói
na insensatez da vergonha que me arrebata, me torce e me põe desolado nesse
caso meio inacabado. Quantas manhãs refletem o amanhã e o sentido do gozo e da
dor. É que o amor remexe e me trai e me põe de cabeça pra baixo. E vamos
aprumar a conversa aqui.
Imagem: Venus, Cupido and Satyr, do pintor italiano Agnolo Bronzino (1503-1572).
Curtindo o álbum The
Meeting (1982), do
compositor, pianista e tecladista de jazz estadunidense Chick Corea & do compositor e pianista austríaco Friedrich Gulda (1930-2000).
PSICOLOGIA DA ARTE – No livro Psicologia da arte (Martins Fontes, 1999), do psicólogo e cientista
bielorrusso Lev Vygotsky
(1896-1934), destaco os trechos [...] Achamos
que a ideia central da arte é o reconhecimento da superação do material da
forma artística ou, o que dá no mesmo, o reconhecimento da arte como técnica
social do sentimento. Achamos que o método de estudo desse problema é o método
analítico objetivo, que parte da análise da arte para chegar à síntese
psicológica: o método de análise dos sistemas artísticos dos estímulos.
[...] A arte é o social em nós, e o se o
seu efeito se processa em um indivíduo isolado, isto não significa, de maneira
nenhuma, que suas raízes e essência sejam individuais. O social existe até onde
há apenas um homem e as suas emoções. A refundição das emoções fora de nós
realiza-se por força de um sentimento social que foi objetivado, levado para
fora de nós, materializado e fixado nos objetos externos da arte, que se
tornaram instrumento da sociedade [...] Por
si só, nem o mais sincero sentimento é capaz de criar arte. Para tanto não lhe
falta apenas técnica e maestria, porque nem o sentimento expresso em técnica
jamais consegue produzir uma obra lírica ou uma sinfonia; para ambas as coisas
se faz necessário ainda o ato criador de superação desse sentimento, da sua
solução, da vitória sobre ele, e só então esse ato aparece, só então a arte se
realiza. Eis que a percepção da arte também exige criação, porque para essa
percepção não basta simplesmente vivenciar com sinceridade o sentimento que
dominou o autor, não basta entender da estrutura da própria obra: é necessário
ainda superar criativamente o seu próprio sentimento, encontrar a sua catarse,
e só então o efeito da arte se manifestará em sua plenitude. [...] É de suma utilidade distinguir, como o fazem
alguns autores, o esquema estático de construção da narração, como uma espécie
de anatomia dessa narração, do esquema dinâmico de sua composição, como uma
espécie de fisiologia desta. Já esclarecemos que toda narração tem sua
estrutura específica, diferente da estrutura do material que lhe serve de base.
Mas é patente que cada procedimento poético de enformação do material é
racional ou dirigido; é introduzido com algum fim, cabe-lhe alguma função a ser
exercida no conjunto da narração. E eis que o estudo da teleologia do
procedimento, ou seja, da função de cada elemento estilístico, do
encaminhamento racional e do significado teleológico de cada componente nos
explica a vida pujante da narração e transforma a sua construção morta em
organismo vivo. [...] devemos
entender por material tudo o que o poeta usou como já pronto – relações do
dia-a-dia, histórias, casos, o ambiente, os caracteres, tudo o que existia
antes da narração e pode existir fora e independente dela, caso alguém narre
usando suas próprias palavras para reproduzi-lo de modo inteligível e coerente.
[...] Parece que chegamos à conclusão
de que na obra de arte há sempre certa contradição subjacente, certa
incompatibilidade interna entre material e forma, de que o autor escolhe como
que de propósito um material difícil e resistente, desse que resiste com suas
propriedades a todos os empenhos do autor no sentido de dizer o que quer... E
aquele aspecto formal de que o autor reveste esse material não se destina a
desvelar as propriedades contidas no próprio material... mas justamente ao
contrário: destina-se a superar esses propriedades, a fazer o horrendo falar a
linguagem do leve alento, o sedimento da vida em um ressoar sem fim como o
vento frio da primavera.[...] Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
O QUINZE – O romance O quinze (José Olympio, 1989), da escritora, jornalista, dramaturga
e tradutora Rachel de Queiroz
(1910-2003), foi publicado quando a autora contava apenas com vinte anos de
idade, mostrando a miséria da seca de 1915, ao demonstrar sua preocupação com
questões sociais e psicologia de seus personagens em dois planos, um que enfoca
o vaqueiro Chico Bento e sua família e, de outro, a relação afetiva de Vicente,
um rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e
professora. Da obra destaco o trecho final: [...] Vicente, que até aí estivera calado, afastou-se uns
passos, conversando com um amigo que se aproximara. Conceição fitava-o. O
dentista insistiu: - Mas, Dona Conceição, o que a senhora disse é grave...
então, nunca o amor... A moça o interrompeu: - Ora o amor!... Essa história de
amor, absoluto e incoerente, é muito difícil de achar... eu, pelo menos nunca o
vi... o que vejo, por aí, é um instinto de aproximação muito obscuro e tímido,
a que a gente obedece conforme as conveniências... Aliás, não falo por mim...
que eu, nem esse instinto... Tenho a certeza de que nasci para viver só... O
dedo gordo do moço se espetou no ar, e o anel de grau relampejou amarelo, à
claridade da lâmpada. - Nasceu para viver só? Olhe, Dona Conceição, já não
ouviu dizer: ”Vae solis! ” Não crê na sabedoria dos antigos? A moça deu um
passo e encolheu os ombros: - Sei lá, doutor! Os antigos diziam tolices, como
todo o mundo- Mas, até logo; Mãe Nácia está-me chamando lá da casa da
Lourdinha... O dentista se descobriu e dobrou-se numa reverência. Vicente, longe,
com o amigo, não viu a prima sair. E Conceição se afastou rapidamente. Em
caminho, pensava na citação do rapaz: ”Vae solís!” Pedante! Mas Lourdinha
parecia tão feliz com a filhinha... Afinal, o verdadeiro destino de toda mulher
é acalentar uma criança no peito... E sentia no seu coração o vácuo da
maternidade despreenchida... ”Vae solís! ” Bolas! Seria sempre estéril, inútil,
só... Seu coração não alimentaria outra vida, sua alma não se prolongaria
noutra pequenina alma... Mulher sem filhos, elo partido na cadeia da
imortalidade... Ai dos sós... Mas ao chegar em frente à calçada da prima, onde
a avó a esperava, Duquinha afastou-se das saias de Dona Inácia, e correu-lhe ao
encontro: - Madrinha! Madrinha! Me dê dois tões para eu comprar um navio de
papel! À vista do menino, adoçou-se a amargura no coração da moça. Passou-lhe
suavemente a mão pela cabeça; e pensou nas suas longas noites de vigília,
quando Duquinha, moribundo, arquejava, e ela lhe servia de mãe. Recordou seus
cuidados infinitos, sua dedicação, seu carinho... E, consolada, murmurou: -
Afinal, também posso dizer que criei um filho... O tropel de um cavalo soou na
rua. Reconhecendo Vicente no cavaleiro, Duquinha estendeu a mão ao padrinho,
gritando: - A bênção! O rapaz viu a prima, sopeou o animal e tirou o chapéu,
num gesto largo: - Boa noite! Lourdinha ainda lhe gritou um recado para a mãe.
Vicente chegou as esporas ao cavalo, que arrancou, num grande impulso. E
Conceição o viu sumir-se no nevoeiro dourado da noite, passando a galope, como
um fantasma, por entre o vulto sombrio dos serrotes. Veja mais aqui e aqui.
ODE - No livro Ode e elegia (1944-45/ Topbooks, 2004), do poeta, jornalista,
escritor e ensaísta alagoano Ledo Ivo
(1924-2012), destaco o poema Ode: São
sombras projetadas em minha alma / que renascem no encanto do jardim: /
contemplo sombras que, no mar sem calma, / lembram jovens coqueiros arrastados
/ por ondas que, jogadas contra mim, / os preferissem por estranhos fados. / Na
terra solta, marca de raízes / sugerem tristes lírios arrancados / e
transportados para outros países / e em seres sem mistérios transformados. /
Voz que nunca será deste meu canto / no presente noturno já renasce / e talvez
por amor ou por encanto, / lembrança amiga de buscada face, / céu devolvido à
morte brusca e fria, / neste lugar em meio à solidão / de onde a noite jamais
se ausentaria, / eis que apareces, de repente, igual / a campos generosos de
verão / lembrando a flor do mangue ou rosa astral. / Antes fosse talvez outra
mais pura / e menos bela do que tu, amor, / ou menos clara ao sol desta saudade
/ onde vou perdurar sem nada ter... / mas foste tu, amável e segura, / que sem
doçura e mesmo sem pudor, / permanecendo ausente ao meu querer, / se apropriou
de minha virgindade / e me deixou votado à primavera / onde eu sou o que fui, e
não o que era. / Longe do amor perdido e desejado / que aspira a perturbar o
amor presente / não poderei jamais ter na lembrança / esses campos noturnos,
sem que veja / teu corpo nu por mim abandonado / ardendo para sempre em febre
intensa. / Nasce em mim, qual certeza, a esperança / de tua carne em mim,
embora esteja / inclinado a outro corpo mais ardente / e afastado de ti na
noite imensa. / Um sórdido instrumento musical / na sombra espessa chora, tão
esquivo / que o mal que nasce deste céu nativo / parece ser o verdadeiro Mal. /
Sem poder formular o informulável / em mim sinto dormir a nostalgia / de um
país semelhante a uma mulher / que, inexplicavelmente, não me quer / e me
aparece oculto na durável / lembrança de uma antiga melodia. / Como uma flor
que não quer perecer / minha memória clama ao tempo e espera. / Que a luz dos
céus inunde meu passado / para que eu, no presente, seja tudo / como as quatro
estações na primavera. / Mesmo não sendo, quero sempre ser, / e à perdida unidade
ligado. / Clame o mar, se possível, mas que eu traga / a lembrança do indomável
de um desnudo / oceano resumido numa vaga... / Teu círculo de fogo está varado.
/ Não há norte nem sul, nem és Ofélia. / Os muçambês dos brejos, ao tufão /
ausente, se reclinam num pudor / virginal que parece da camélia / presa ao
vento ser o fiel bailado. / Oh pudor virginal que não pertence / ao teu rosto
embora se condense / numa atitude grata de pureza / te faz mais que mulher! Céu
e baixeza! / A loucura belíssima renasce / em mim, junto aos rochedos onde as
ondinas / estendem teorias de meninas / num bailado fantástico de vagas. / A
perdição maior de minha face / se inclina ante seu sexo que sugere / uma rica e
exemplar concha marinha, / coral em linhas ásperas e largas, / ilha ausente
demais meu olhar fere: / - tua fiel carícia agora é minha. / A vastidão do sono
descoberto / faz nascer melodias no meu sono / mas uma flor que nunca murchará
/ generosa aparece na corrente / desta fonte, milagre do abandono, / alma subindo
aos céus, resplandecente. / Jorra em mim a visão de um tempo incerto, / e ao
silêncio da noite destinado / espero que uma porta se abrirá / e eu deixarei de
ser um exilado. / Piedade inaudita, poço estável / onde se banha teu corpo
desnudo / espelho de mil faces, anjo amável / que no rosto sem voz reflete
tudo, / eu te ofereço trovas e canções. / Leva para a distância a minha mágoa /
e me sacode entre as constelações / para que eu fique, mas desapareça, e como a
água que corre, não feneça, / mas solitária esteja em outra água. / Que aos
meninos de outrora se transplante / a flor que alimentaste com teu riso, /
quando, na ausência, teu corpo ondulante / guardar a gravidade de um sorriso. /
Eras de muitos homens, tinhas vícios / infames e perversos, mas deixaste / em
nossas vidas sem amor algum / inapeláveis e cruéis resquícios, / pois corpos
jovens, tu os violaste / e os amaste sem amar nenhum. / Queres que eu permaneça
junto a ti / pois nasceste na beira destes lagos / para aos meninos dar rudes
afagos / misturados aos lírios, como se / boiasses nessas águas transmudadas /
a fim de ser amada com a constância / que tua alma imortal jamais quis ter. /
Onde o reinado mágico das fadas / que dominaste outrora, sem temer / a sombra
que cobria tua infância? / Eu quero ser o noivo de teu rosto, / nesta noite que
pousa em teus cabelos, / como a lua inclinada ante uma flor, / indiferente a
todos os apelos, / talvez mesmo ao apelo deste amor. / Não era um lírio branco
recusado / - o antigo e claro céu no seio posto - / antes milagre sem
libertação. / Era a fascinação de meu pudor / por teu grave esplendor tão
desejado. / Como canção maior do amor perdido / em mim renasce a prolongada
dor. / Curvo-me pleno de um mistério vão / e enquanto em ti a minha dor procura
/ do corpo arfante a pálida visão / que instrumento não fosse de loucura / ouço
esta voz que me faz soluçar / junto a prados cobertos de rosais. / Teu corpo
nu, perdida, me sacode / em posses feitas para nunca mais. / A fontes sem amor
que ninguém pode / estancar nesta terra sem memória / e a mortes que me chamam
para amar / eu me dedico, sobrenatural. / Mar que parasse, brusco, na harmonia
/ de uma beira de praia, hostil e fria, / princesa despojada de outra glória /
que não seja o prazer ao natural, / quero ficar em ti, como ondulante / nuvem
num céu de há muito desabado. / Sinto a germinação de um fruto arfante / que
fosse pelos ventos arrastado / para um lugar perdido no mento. / Mesmo as
sementes são por frio vento / levadas para algum lugar perdido. / Jamais o sonho quando a morte existe. / Tu
me deixaste o sonho, mas partiste / sem contemplar teu rosto refletido / na
água podre de minha infância triste. / Jamais a morte quando o sonho existe. /
Carne de amor há tanto tempo amante / e procurado em todos os lugares / em que,
junto à mulher, fui como um deus! / Quero ser o teu barco nestes mares / e nos
domínios de teu corpo arfante / aos teus anseios eu juntar os meus. / Em teu
seio há mil almas desamadas. / Deixa fugir em tuas carnes quentes / este corpo
que busca águas sagradas / de mares obscuros e ardentes. Veja mais aqui,
aqui e aqui.
ROMEU & JULIETA – A tragédia Romeu e Julieta (1591), do poeta, dramaturgo e ator inglês William
Shakespeare (1564-1616), conta a história de dois adolescentes apaixonado
cuja morte acaba unindo famílias rivais, sendo considerado, então, como
arquétipo do amor juvenil e que o seu enredo é baseado num conto italiano. Da
obra destaco as falas de Romeu: [...] ROMEU:
Que queres, tal é a transgressão do amor! Meus próprios pesares oprimem meu
peito e tu vais aumenta-los acrescentando ainda os teus. Esse afeto que me
mostraste acrescenta novo pesar ao excesso do meu. O amor é fumaça formada
pelos vapores dos suspiros. Purificado, é um fogo chispeante nos olhos dos
amantes. Contrariado, um mar alimentado pelas lágrimas dos amantes. Que mais
ainda? Loucura prudentíssima, fel que nos abafa, doçura que nos salva.
[...] Jurou e em virtude dessa economia,
comete o maior esbanjamento, pois a beleza, esfaimada por tanto rigor, priva a
beleza de toda a descendência. Ela é belíssima, discreta demais, sabiamente
belíssima, para merecer a felicidade em troca de meu desespero. Ela jurou não
amar e, por causa desse voto, vivo morto, vivendo somente para dizer-to agora
[....] Uma mulher mais bela do que minha
amada! O sol, que tudo vê, nunca viu outra semelhante desde a aurora dos tempos.
[...] Terno ser é o amor? Áspero demais,
rude demais, violento demais e pingente como um espinho [...] É minha dama! Oh! Ela é o meu amor! Oh! Se
ela soubera! Fala, entretanto, nada diz; mas que importa? Falam seus olhos, vou
responder-lhes!.... sou muito atrevido. [...] Ai! Mais perigos há em teus olhos do que em vinte de suas espadas [...]
Amor, que foi o primeiro que me incitou a
indagar, ele me deu conselho e eu lhe dei meus olhos [...] O amor corre para o amor, como os escolares
fogem dos livros; mas o amor se afasta do amor, como as crianças dirigem para a
escola com os olhos entristecidos. [...] Aqui está teu ouro, o pior veneno para as almas humanas, causando mais
mortes neste mundo odioso do que essas pobres misturas que não ousas vender. Eu
te vendo o veneno, tu nada me vendeste. Adeus! Compra alimentos e procura
refazer tuas carnes... vem cordial e não veneno, vem comigo para o túmulo de
Julieta. Lá deverei servir-me de ti. [...]. veja mais aqui e aqui.
DEUX OU TROIS CHOSES QUE JE
SAIS D’ELLE – O drama
social Deux ou trois choses que je sais d'elle (Duas ou três coisas que
eu sei dela, 1966), dirigido pelo cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, conta uma história de um casal que vive no
subúrbio parisiense que envolve crueldade neo-capitalista, prostituição
ocasional e amor físico num cenário de cadeia sexual, vida e corpos arrendados,
fantasias, cenas diversas, o sol refletindo no corpo, buzinas, folhagens, a
vida de uma mulher e a paisagem urbana numa lógica narrativa linear, tudo dá ao
filme um clima bastante exótico de vida. O destaque vai para a premiada e
estonteantemente bela atriz Marina Vlady.
Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do escultor e pintor francês Auguste
Rodin (1840-1917). Veja mais aqui.