quinta-feira, novembro 26, 2015

CINEMA, SAUSSURE, BEDINGFIELD, SINGER, BIDAL, ARIZABALO, BISMARCK, KORYTOWSKI & MUITO MAIS.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? VOU PRO CINEMA – Era eu ainda menino quando vi pela primeira vez um filme no cinema. Era Chaplin, O vagabundo. Fiquei apaixonado por Carlitos e sempre queria que meu pai me levasse para assisti-lo nos cinemas da minha cidadezinha de interior. Vi todos os filmes dele, os quais passaram nas matinês que não perdia todo final de semana no Teatro Cinema Apolo ou no Cine São Luiz. Depois foi a vez de Buster Keaton, Harold Lloyd, Teixeirinha, Mazzaropi, Jerry Lewis, muitos faroestes, comédias, dramas. O fascínio foi tão grande que não mais deixei de ir a todos os filmes que chamasse a atenção. Em toda minha infância e adolescência, não deixava de ver películas as mais diversas. Isso ampliava o rol das minhas predileções e, talvez, tenha sido o meu primeiro contato com a poesia, levando-me a escrever quadrinhas inocentes todo dia para a professora da escola do primário; ou contando histórias e inventando mentiras cabeludas para aparecer nas brincadeiras; ficar solando no bucho uma guitarra invisível sonhando de olhos abertos como se estivesse no glamour do palco num show musical; e de representar personagens horrorosos pra meter medo nas crianças menores; era que eu gostava mesmo de contar histórias e estórias, e usava das minhas mais incipientes noções teatrais, musicais e literárias, para inventá-las ao bel prazer, sem pés nem cabeça. Os personagens, as tramas, as imagens, a música, tudo me dava ideia da vida em movimento, o que me fazia cada vez mais próximo do invento dos irmãos Lumiére e das demais expressões artísticas, chamando-me atenção para o roteiro, os cortes, closes, conduzindo-me a um olhar mais agudo da condição humana, como da descoberta do simbólico e do imaginário. Eu me deixava passageiro seguindo à própria sorte do enredo nessa experiência radical que me colocava frente a frente com Eros e Tânatos, e com as verdades mais recônditas da alma na sua lógica particular e na expressão do inconsciente coletivo. Quando me casei aos 15 anos, fui emancipado pela Lei e pude, então, assistir todos os filmes da Nouvelle vague e os escandalosos filmes de Pasolini e Peter Greenaway. Foi nesse tempo que tive acesso às leituras de Nietzsche, Walter Benjamim, Freud, Jung e Derrida e, por conta disso mesmo, aproveitava, no Recife, para ir quase todo dia pras sessões do Cine Arte AIP, não perdendo sessões nem lançamentos importantes noutros cinemas da cidade, como os de Fellini, Buñuel, Saura, Antonioni, Malle, Trufaut, Polanski, Godard, Kurosawa, Coppola, Lars von Trier e Almodóvar, entre muitos outros. Lembro que quando surgiram os videocassetes, eu pegava uns dez pra assistir nos finais de semana. O mesmo quando apareceram os dvds. Ainda hoje sou apaixonado pela telona e quase na condições de cinéfilo, não consigo passar uma semana sem que possa apreciar um bom filme, razão pela qual sempre destaco aqui diariamente um entre os filmes que já tive oportunidade de assistir. E veja mais aqui

Imagem: Nu, do artista plástico realista francês Javier Arizabalo.


Curtindo o álbum Strip Me (Sony, 2010), da cantora e compositora pop britânica Natasha Bedingfield, participante ativa de campanhas por causas humanitárias ao redor do mundo, conhecida por seu trabalho com crianças na campanha Stop the Traffik da instituição de caridade de sua mãe, chamada Global Angels.

AS PALAVRAS SOB AS PALAVRAS – A obra As palavras sob as palavras – os anagramas de Ferdinand Saussure (Abril, 1978), do linguista suíço Ferdinand Saussure (1857-1913), trata a respeito de hipograma, aliteração, hemistíquios, timbres, assonâncias, anagrama, anafonia, paronomásia, paragrama, paratexto, antigrama, logograma, simetria fônica, poesia homérica, entre outros assuntos atinentes à linguagem. Da obra destaco o trecho inicial: [...] absolutamente incompreensível se eu não fosse obrigado a confessar-lhe que tenho um horror doentio pela pena, e que esta redação me causa um suplicio inimaginável, completamente desproporcional à importância do trabalho. Para mim, quando se trata de linguística, isto é acrescido pelo fato de que toda teoria clara, quanto mais clara for, mais inexprimível em linguística ela se torna, porque acredito que não exista um só termo nesta ciência que seja fundado sobre uma ideia clara e que assim, entre o começo e o fim de uma frase, somos cinco ou seis vezes tentando refazê-la. [...] A língua só é criada com vistas ao discurso, mas o que separará o discurso da língua ou o que, num dado momento, permitirá dizer que a língua entra em ação como discurso? Conceitos variados estão disponíveis na língua (isto é, revestidos de uma forma linguística) tais como boeuf, lac, ciel, rouge, triste, cinq, fendre, voir. Em que momento, ou em virtude de qual operação, de qual jogo que se estabelece entre elas, de quais condições formarão estes conceitos o discurso? A sequencia destas palavras, por mais rica que seja pelas ideias que evoca, não indicará jamais a um ser humano que um outro individuo ao pronunciá-las, queira significar-lhe alguma coisa. O que é preciso para que tenhamos a ideia de que queremos significar alguma coisa, usando termos que estão disponíveis na língua? [...]. Veja mais aqui e aqui.

O SACRÍFICIO – O livro No tribunal de meu pai – crônicas autobiográficas (Companhia das Letras, 2008), do escritor polonês Isaac Bashevis Singer (1902-1991), conta a historia ocorrida no início do século XX, no qual os moradores da rua Krochmalna, no velho bairro judeu de Varsóvia, acorriam à modesta casa de número 10 em busca de solução para problemas. Ali, vez ou outra, apareciam casais à procura de matrimônio ou separação, credores e devedores à cata de solução justa para suas pendências, além de manifestações misteriosas que demandavam explicação, como a de gansos que, mesmo mortos, não paravam de grasnar. Religiosas ou mundanas, deste ou de outro mundo, essas questões eram submetidas a uma antiga instituição judaica, o tribunal rabínico - mescla de corte de justiça, sinagoga, casa de estudos e consultório psicanalítico. O da Krochmalna era presidido pelo rabino Pinhos-Mendel, pai do autor da obra, e funcionava em sua própria casa. Nestas memórias o autor recria o ambiente em que cresceu, rico em histórias e personagens a um só tempo divertidos e comoventes. Da obra destaco o trecho denominado O sacrifício: Há neste mundo indivíduos muito estranhos, cujos pensamentos são ainda mais singulares que eles próprios. Em nossa casa em Varsóvia - na rua Krochmalna, número 10 -, dividindo o hall de entrada conosco, vivia um casal de anciãos. Eram pessoas simples. O homem era artesão, ou talvez vendedor ambulante, e seus filhos já estavam todos casados. Contudo os vizinhos diziam que, apesar da idade avançada, os dois continuavam apaixonados. Todo sábado à tarde, após o cholent, saíam para passear de braços dados. Na mercearia, no açougue - aonde quer que fosse fazer compras -, a mulher só falava do homem: "Ele gosta de feijão... ele gosta de um bom pedaço de carne... ele gosta de vitela...". Há mulheres assim, que vivem falando de seus maridos. Ele, por sua vez, estava sempre dizendo: "Minha mulher". Minha mãe, descendente de várias gerações de rabinos, implicava com o casal. A seus olhos, tal comportamento era uma demonstração de vulgaridade. Mas no fim das contas, o amor - sobretudo entre duas pessoas idosas-não pode ser tão facilmente repudiado. De repente começou a correr um boato que escandalizou a todos: os dois velhos pretendiam divorciar-se! A Krochmalna ficou em polvorosa. O que significava aquilo? Como podia ser? As moças torciam as mãos: "Mamãe, não estou me sentindo bem! Acho que vou desmaiar!". Mulheres maduras proclamavam: "É o fim do mundo". As mais enfezadas maldiziam os homens: "Ora, se não são piores que animais!". Logo a rua foi convulsionada por uma notícia ainda mais ultrajante: o casal iria se divorciar para que o velho pecador pudesse se casar com uma mocinha. Não é difícil imaginar a profusão de pragas rogadas contra o homem: uma queimação na barriga, dores em seu coração negro, um braseiro nas entranhas, um braço e uma perna quebrados, uma pestilência, o castigo dos céus! O mulherio não economizava nas imprecações, vaticinando que o bode velho não chegaria vivo ao dia do casamento - em vez do dossel de núpcias, depararia um ataúde preto. Nesse ínterim, em nossa casa, a verdade veio à tona. A velha procurou minha mãe e falou-lhe em termos tais que o rosto pálido de mamãe enrubesceu de constrangimento. Apesar de ela ter tentado me despachar para longe dali, a fim de que eu não escutasse, acabei escutando, pois estava ardendo de curiosidade. A mulher jurava que amava o marido mais do que qualquer outra coisa no mundo. "Cara senhora", argumentava ela, "eu daria minha vida para salvar uma unha dele que fosse. Pobre de mim, estou velha - sou um trapo de gente -, mas ele, ele ainda é um homem. E precisa de uma mulher. Por que obrigá-lo a carregar esse fardo? Enquanto nossos filhos viveram conosco, era preciso ter cuidado. As pessoas falariam. Mas agora o que elas dizem me preocupa tanto quanto o miado de um gato. Já não preciso de marido, porém ele - oxalá continue assim-é como um jovem. Ainda pode ter filhos. E agora encontrou uma moça que o quer. Ela tem trinta e poucos anos; é a hora dela de também ouvir a música das bodas. Além do mais, é órfã e trabalha como criada numa casa; será boa para ele. Com ela, ele gozará a vida. Quanto a mim, não passarei necessidade. Ele garantirá meu sustento, e eu sempre ganho alguns trocados vendendo badulaques. De que preciso na minha idade? Só quero que ele seja feliz. E ele me prometeu que - após cento e vinte anos, quando chegar a hora - jazerei a seu lado no cemitério. Voltarei a ser sua mulher no outro mundo. No Paraíso, servirei de escabelo para seus pés. Está tudo combinado." A mulher viera a fim de, simplesmente, pedir a meu pai que cuidasse do divórcio e celebrasse o matrimônio. Minha mãe tentou dissuadi-la. Como as outras mulheres, ela via naquele caso uma afronta ao sexo feminino. Se todos os homens de idade dessem para se divorciar de suas esposas e casar-se com mocinhas, em que bonito estado ficaria o mundo. Mamãe disse que a idéia toda era evidentemente obra do Diabo e que tal amor era uma coisa impura. Chegou a citar um dos livros de ética. Porém aquela mulher simples também sabia citar as Escrituras. Lembrou a minha mãe que Raquel e Lia haviam dado suas servas Bala e Zelfa como concubinas a Jacó. [...]. Veja mais aqui.

OS POEMAS QUE ELA FEZ PRA MIM – No seu maravilhoso blog Baú de Ilusões, a queridamada poeta e radialista Meimei Corrêa expõe seu talento e comete alguns belos poemas, entre eles, alguns com os quais ela me agraciou com o prêmio da dedicatória e vários deles reunidos no Momento de Poesia do seu espaço. Destaco os poemas sem título a seguir: I - Cubra-me com teu canto, meu encanto, no espanto das estrelas que se perdem em nosso universo. Cubra-me com tua poesia, minha alegria, na alegoria das flores nos jardins que bailam em nossos sonhos. Cubra-me com teu corpo que te sorvo nas horas serenas das noites, nos espaços inventados dos dias, meu açoite, minha lei... E te deixo com meus traços de paixão quando te afastas, para que não te esqueças dos sabores, dos nossos rumores, gozos e prazeres até que voltes e tudo aconteça novamente... II - Teu toque em minha pele permeou-me o corpo e tomou minha alma, arrebatou-me o coração, arrancou-me a calma e não foram necessárias tantas palavras... Levaste as chaves de todo o meu tesouro, meu mundo, guardado em poesia para cobrir-te os caminhos com nossa paixão mútua, cumplicidade que se estende todos os dias, quando surge o sol, a lua e todas as estrelas que nem mesmo o céu as tem. III -  Eu te dei tudo de mim: a alma, a identidade, os sonhos, o sono e a vigília, a inspiração e todas as rimas... Adormeci ainda menina, romântica, solta na imaginação. Acordei mulher, selvagem, presa nos teus quereres, rainha no teu reino de mil sonhares em mim. Tu me roubas nas madrugadas... Tu me prendes em tuas manhãs... Tu me tens em cada segundo do teu existir que é meu... IV - E tu me sondas enquanto durmo regada do teu amor ardente, vigiada pelo teu olhar vermelho de paixão incandescente, desejos que se resguardam por instantes, enquanto o sono toma conta do meu corpo que é teu. E tu me esperas acordar em teus braços que me amparam os sonhos e a minha respiração se mistura ao teu odor delicioso, pele de seda, sonho de vida, vida de amor... Você é minha jóia rara, e eu busquei sempre alcançar todas as estrelas para transformar o seu chão em céu. Quem me dera eu pudesse transformar-lhe as rugas de preocupação em risos vindos do coração, seus momentos de tristeza em eternos pingos de amor a lhe regar a alma para que saiba sempre que aqui, neste cofre onde você está guardado, bem cuidado e amado, tudo será sempre "um sim" para todos os seus apelos, sonhos, desejos e por que não, aquela "ordem" gostosa, imperiosa, quando você toma conta, chegando menino e homem mandonista e eu sou quem você me fez e faz ser. Jóia rara, você é em minha vida, a vida que me faz viva. Veja mais aqui, aqui e aqui.

CARAVANA & BOBEIRA PEGA – A trajetória do humorista e ator de teatro, cinema e televisão Pedro Bismarck (Ademilson Pedro da Cruz), inicia com a criação do personagem Nerso da Capitinga, em 1981, na cidade de Juiz de Fora (MG). Foi a partir deste personagem que ele foi convidado para integrar um grupo de teatro, no qual, fez sua primeira apresentação ao público em 1984, em um quadro para o espetáculo "Caravana Café Concerto, um Delírio!". Na peça, dirigida por Robson Terra, Pedro Bismarck fazia imitações, cantava e contava piadas. Passou a adotar o nome artístico de Pedro Bis, que posteriormente foi modificado para seu pseudônimo atual. Em seguida vieram os shows Show de Humor com Pedro Bis e O Melhor de Pedro Bis, Neversário do Nerso (2004) e Bobeira Pega (2009). Em 1990, foi convidado por Chico Anysio para participar do programa Escolinha do Professor Raimundo, após Chico ter visto uma fita de vídeo com apresentações de Pedro. Por sugestão de Chico Anysio, o nome artístico foi alterado para Pedro Bismarck. Teve rápida passagem pelo SBT (1993) e retornou à Rede Globo no ano seguinte. Após o fim da Escolinha, em 1995, Pedro Bismarck atuou em outros programas, como Estados Anysios de Chico City e Brava Gente. Em 1998, fez uma participação especial no filme Menino Maluquinho 2 – A aventura, e também foi protagonista de um episódio do programa Você Decide. Em 1999, Pedro Bismarck integrou o elenco do extinto Zorra Toral e em 2000, participou do filme Amélia. Veja mais aqui.

MONTENEGRO – A comédia de humor negro Montenegro - ou de suínos e as pérolas (1981), dirigido pelo sérvio Dušan Makavejev, conta a história de uma dona de casa americana deprimida, casada com um rico homem de negócios sueco com duas crianças aparentemente perfeitas. Ela tenta apimentar a sua existência com uma série de ações para fugir do tédio e da angústia, quando ela come todo o seu jantar, toca fogo nos lençóis da cama e envenenar o leite do cão de estimação, até ser apresentada a um psiquiatra pelo marido, servindo apenas para continuar a sua frustração. Um dia, quando ela decide acompanhar o marido em uma viagem de negócios, ela fica detida na alfândega do aeroporto e ao perder o voo se envolve com imigrantes iugoslavos, se entregando ao seu fantástico e surreal mundo regado a amor livre e prostituição. Tudo culmina com ela tendo um caso passional com um jovem chamado Montenegro que trabalha em um jardim zoológico. Depois de passar a noite com ele, ela mata o rapaz e retorna para casa. Uma vez lá, ela serve sua família um jantar gourmet, seguido por uma sobremesa leve de frutas, o que acaba por ser envenenado. O destaque do filme vai para maravilhosa atuação da atriz estadunidense Susan Anspach. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Esculturas de Annie Bidal

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada ao lexicólogo, tradutor, escritor e poetamigo Ivo Korytowski & Literatura & Rio de Janeiro. Veja aqui e aqui.
 

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...