VAMOS APRUMAR A CONVERSA? DE
DOMINGO A DOMINGO – Todo
dia era domingo na minha infância. Chovesse ou fizesse sol, todo dia era
domingo. E enquanto para todos era dia de acordar tarde, pra mim, um menino
insone e treloso mijão da beira do rio, já me esgueirava com os primeiros raios
do sol virando o quintal de cabeça pra baixo, com as novidades inventadas com
todos os pés de plantas e nas árvores dos amigos invisíveis, investido do poder
de uma capa de nada ao pescoço com meu guarda-chuva mirim, penico na cabeça, nu
da cintura pra baixo e a vontade de sair voando por aí feito um super-herói que
sempre fui; e de saborear todas as frutas, contando mentiras ou anedotas
porque, nesse dia, não apareciam nem Marcelo nem Marquinhos pra gente virar o
mundo. Era dia das coleções de gibi, dos brinquedos presentes de Pai Lula e dos
os deveres de casa da professora Hilda, com os quais eu me aplicava tanto de
compor umas quadrinhas pra ela todo santo dia. Afinal, todo dia era domingo. Com
a vida crescendo, passou a ser dia de invadir a casa de Carma pra liberdade de
trelas na plateia maior; era dia de fazer carreira no quintal de tia Bia com
cataventos, Mané-gostoso, bonecos de barro, cavalo-de-pau, pra saber o sabor de
cada fruta adoçando minhas aventuras jamais superadas; e de tomar posse da
bodega de vô Arlindo e vó Benita degustando bolo de goma, nego bom e guloseimas
de venda regadas a todos os refrigerantes. Mais dias depois, passou a ser o dia
de roupa vincada novinha em folha, alinhado e cheio das pregas pra paquerada nas
meninas que iam ver o jacaré no tanque da Praça Maurity e dos Caboclinhos de
Rabeca pulando nas ruas; ou das matinês do Cine Apolo com Carlito ou Jerry
Lewis, ou do São Luiz com Django ou Ringo dos faroestes da pré-adolescência,
que me davam a empáfia de ser maior que os ídolos da minha predileção. Era dia
de rodar pelas rodovias ao som de Luís Gonzaga e todo cancioneiro da música
nordestina no toca-fitas do Fusquinha 59 que virou Fusca 71 e mudou pra Fuscão
72, Brasília 73 e o Passat 74 nas tardes da praia de Barra Grande. Também era
chegada a hora de acompanhar a namorada nas missas vespertinas da Matriz de
Nossa Senhora da Conceição dos Montes e sonhar com casório antes da hora. Era dia
de ver o bicampeonato de Emerson Fitipaldi e os tricampeonatos de Nelson Piquet
e Ayrton Senna, de vibrar com o Flamengo de Zico brilhando no Maracanã, dos
batizados, dos concursos públicos, das festanças abastadas até descobrir que o
final de semana deveria ser maior e que só aquilo apenas não bastava para todas
as estripolias. Na adulteza era dia de acordar ouvindo Vivaldi e lá pelas
tantas desafinar o violão em batucadas até dormir cheio dos quequéos com o
alarme da trilha sonora do Fantástico, avisando que amanhã era dia de branco e
o batente esperava pro trampo de mais uma semana. Até que hoje virou dia de
juntar lembranças e de que nada fiz, além disso, minha vida toda. E vamos
aprumar a conversa aqui.
Imagem: Trionfo della Divina (Cortona Provvidenza - 1633-1639) no Palazzzo
Barberini, do pintor e arquiteto italiano Pietro
da Cortona (1596-1669).
Curtindo o álbum Bach & Teleman (RCA, 1998), da flautista dinamarquesa Michala Petri com a Berliner Barock
Solisten & Rainer Kussmaul.
BRINCARTE DO NITOLINO– Hoje é dia do programa Brincarte do
Nitolino para as crianças de todas as idades, a partir das 10hs (no horário de
verão), no blog do Projeto MCLAM e com apresentação de Ísis Corrêa Naves. Na programação sempre especial também tem
atrações especiais chamando a meninada com Toquinho, Chico Buarque & Milton
Nascimento, Ivan Lins & As Chiquititas, A. J. Cardiais, Mundo Bita, A onça
Felinda, Meimei Corrêa, Marina, Turma do Balão Màgico, Turminha da Natureza, Nita,
Historinha Cantada, Fabio Jr, O Reino Encantado de Todas as Coisas, A criação
do mundo & muito mais No reino encantado de todas as coisas. No blog,
muitas dicas de Educação, Psicologia, Direito das Crianças e Adolescentes,
Teatro, Música e Literatura infantil, com destaque pro Brincar da Criança e as
historias em quadrinhos dos Aventureiros
do Una. Para conferir ao vivo e online clique aqui ou aqui.
ONDAS À PROCURA DO MAR – No livro O novo paradigma holístico: ciência, filosofia, arte e mística
(Summus, 1991), organizado por Dênis M. S. Brandão e Roberto Crema, encontro o
texto O novo paradigma holístico: ondas à procura do mar, do educador e
psicólogo francês Pierre Weil
(1924-2008), do qual destaco os trechos a seguir: [...] O sentimento de mal-estar generalizado diante dos grandes problemas da
atualidade, tais como a violência interindividual, a violência política e
internacional sob forma de guerras, o perigo de proliferação nuclear, o
desequilíbrio ecológico, entre outros, tem levado à construção de pontes sobre
todas as formas de fronteiras criadas em última instancia pela mente humana,
entre outros, podemos citar as organizações internacionais, os encontros
interdisciplinares e o advento de uma mentalidade de trabalho de equipe em
todos os domínios da ciência e da tecnologia o aparecimento de movimentos
alternativos à destruição em medicina e em terapia, o conceito de medicina
psicossomática e a abordagem holística em terapia e, enfim, os primeiros
encontros entre ciência e sabedoria. A palavra holístico está se infiltrando
sub-repticiamente na ciência, na filosofia, na educação, na terapia, sem que se
tenha feito um esforço para conhecer sua origem e traçar a história da evolução
deste conceito. [...] Uma vez que
estejam profundamente engajadas na holopraxis, as pessoas podem pensar na aplicação
da abordagem holística em determinados ramos profissionais. Assim, pode-se
falar em abordagem holística em: epistemologia, educação, psicoterapia,
medicina, política, economia, administração de empresas e organizações, paz
mundial. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
A PASTORA E O LIMPADOR DE
CHAMINÉS – O livro A pastora e o limpador de chaminés
(Ática, 1996), do escritor dinamarquês Hans
Christian Andersen (1805-1875), é uma linda história a qual passo a
transcrever: Por acaso você já viu um desses armários antigos, todos
negros de velhice, com espirais e flores esculpidas? Pois era exatamente um
desses armários que se encontrava no aposento: ele vinha da trisavó e de cima
até embaixo era ornado de rosas e tulipas esculpidas. Mas o que havia de mais
estranho, eram as espirais, de onde saíam pequenas cabeças de veado com seus
grandes chifres. No meio do armário via-se esculpido um homem de singular
aparência: fazia uma careta, pois não se podia dizer que ele sorria. Tinha
pernas de bode, pequenos chifres na cabeça e uma longa barba. As crianças o
chamavam de o Grande-General-Comandante-em-Chefe-Perna-de-Bode, nome que pode
parecer longo e difícil, mas um título com o qual poucas pessoas foram honradas
até hoje. Enfim, ele estava lá, com os olhos sempre fixos no consolo colocado
sob o grande espelho, em cima do qual estava posta uma graciosa pequena pastora
de porcelana. Ela usava sapatos dourados, um vestido enfeitado com uma rosa
viçosa, um chapéu dourado e um cajado: era encantadora. Ao lado dela estava um
pequeno limpador de chaminés, negro como carvão, e de porcelana também. Ele era
muito bonito, pois, na realidade, não era senão o retrato de um limpador de
chaminés. 0 fabricante de porcelana poderia ter feito dele um príncipe, o que
teria sido a mesma coisa. Mantinha graciosamente sua escada sob um braço e seu
rosto era vermelho e branco como o de uma moça; o que não deixava de ser um
defeito que se poderia ter evitado colocando nele um pouco de preto. Ele quase
tocava a pastora: tinham-nos colocado ali e eles ficaram noivos. Assim, um
combinava com o outro: eram dois jovens feitos da mesma porcelana e todos dois
igualmente fracos e frágeis. Não longe deles havia uma outra figura três vezes
maior: era um velho chinês que sabia balançar a cabeça. Também era em
porcelana; acreditava ser o avô da pequena pastora, mas nunca pudera prová-lo.
Afirmava ter todo o poder sobre ela e foi por isso que respondeu com um amável
inclinar de cabeça ao Grande-General-Comandante-em-Chefe-Perna-de-Bode, quando
este pediu a mão da pequena pastora. "Que marido você terá ali!",
disse o velho chinês, "que marido! Creio mesmo que ele é de acaju. Fará de
você a senhora Grande-General-Comandante-em-Chefe-Perna-de--Bode; tem seu
armário cheio de pratarias, sem contar o que tem escondido nas gavetas
secretas. - Jamais entrarei naquele armário sombrio - disse a pequena pastora -
ouvi dizer que ele tem lá dentro onze mulheres de porcelana. - E daí? Você será
a décima-segunda disse o chinês. - Esta noite, quando o velho armário começar a
estalar, realizaremos o casamento, tão certo como eu ser um chinês. E ao dizer
isso ele balançou a cabeça e adormeceu. Mas a pequena pastora chorava fitando
,o seu bem-amado limpador de chaminés. - Por favor - disse ela - ajude-me a
fugir pelo mundo, não podemos mais ficar aqui. - Eu desejo tudo o que você
deseja --disse o pequeno limpador de chaminés. - Vamos fugir; creio que poderei
ajudá-la. - Contanto que nós desçamos do consolo - disse ela – não estarei
tranqüila enquanto não nos virmos fora daqui. Ele tranqüilizou-a, mostrando-lhe
como ela devia colocar seus pezinhos sobre os rebordos esculpidos e sobre a
folhagem dourada. Ajudou-a inclusive com a sua escada e logo eles atingiram o
assoalho. Mas ao se voltarem para o velho armário, notaram que tudo estava em
revolução. Todos os veados esculpidos alongavam a cabeça e viraram o pescoço. 0
Grande-General-Comandante-em-Chefe-Perna-de-Bode deu um salto e gritou para o
velho chinês: "Que fogem! estão fugindo!" Então eles foram refugiar-se
na gaveta do armário da janela. Lá se encontravam três ou quatro baralhos
incompletos e um teatrinho que tinha sido construído. Representavam ali uma
comédia, e todas as damas, que pertenciam à família dos naipes de ouros ou
espadas, de copas ou paus, estavam sentadas nos primeiros lugares e se
pavoneavam com suas tulipas; e atrás delas estavam todos os valetes, que tinham
por sua vez uma cabeça em cima e outra embaixo, como acontece com as cartas de
baralho. Tratava-se na peça de um casal que se amava, mas que não podia
casar-se. A pastora chorou muito, pois ela pensava tratar-se da sua própria
estória. "Isto me faz muito mal", disse ela, "preciso deixar
esta gaveta". Mas assim que se puseram no chão novamente e lançaram um
olhar para o consolo, perceberam que o velho chinês acordara e que se agitava
violentamente. "Aí vem o velho chinês!", gritou a pequena pastora,
caindo sobre os seus joelhos de porcelana, totalmente desolada. - Tenho uma
idéia - disse o limpador de chaminés. - Vamos nos esconder no fundo do grande
cântaro que está lá no canto. Dormiremos sobre as rosas e as lavandas, e, se
eles vierem, jogaremos água nos olhos deles. - Não, isso seria inútil -
respondeu ela. - Sei que o velho chinês e a jarra já foram noivos e fica sempre
um quê de amizade após semelhantes relações, mesmo muito tempo depois. Não, não
temos outro recurso senão fugir pelo mundo. - E você tem coragem, realmente? -
disse o limpador de chaminés. - já pensou em como o mundo é grande? Talvez
nunca mais possamos voltar para cá. - Pensei em tudo - retrucou ela. O limpador
de chaminés fitou-a longamente e disse a seguir: "0 melhor caminho para
mim é pela chaminé. Você tem mesmo coragem de subir comigo ao longo dos canos?
Somente por ali é que poderemos chegar à chaminé e lá eu saberei voltar.
Precisamos subir o mais alto possível e bem no alto encontraremos um buraco
pelo qual entraremos no mundo. Ele levou-a até a porta do fogão: "Deus!
como é negro aqui dentro!", gritou ela. Enquanto isso, ela o seguiu com
bravura e sem hesitação e de lá passaram para os canos, onde fazia uma noite
negra como breu. "Olha chaminé", disse ele. "Coragem! 0 passo
mais difícil foi dado. Não tenha medo. Olhe, olhe lá para cima e veja que
estrela maravilhosa está brilhando." Havia realmente no céu uma estrela
que, com seu brilho, parecia mostrar-lhes o caminho: e eles subiam, subiam
sempre. Era uma estrada perigosa, tão alta! Mas ele a levantava, sustentava-a e
mostrava-lhe os melhores lugares em que colocar os seus pezinhos de porcelana.
Chegaram assim até o rebordo da chaminé. Ele saiu em primeiro lugar; e ela o
seguiu, muito feliz por deixar finalmente aquele caminho sombrio. Sentaram-se
para descansar, tão fatigados estavam! E tinham motivos para isso! 0 céu com
todas as suas estrelas se estendia acima deles e os tetos da cidade apareciam
lá embaixo. Passearam seus olhares bem longe em volta deles, por aquele mundo
que eles viam pela primeira vez. A pequena pastora, que vivera até então no
consolo, jamais pensara que o mundo fosse assim tão vasto: apoiou a sua cabecinha
no ombro do limpador de chaminés e chorou tanto, que suas lágrimas lhe chegaram
até a cintura. "E' muito", disse ela; "muito mais do que eu
poderia suportar. 0 mundo é muito grande: oh! não estou mais em cima do
consolo, perto do espelho! Não seria feliz se não voltasse. Segui-o pelo mundo;
agora leve-me novamente para lá, se você me ama verdadeiramente." E o
limpador de chaminés falou-lhe sensatamente; lembrou-lhe os dias monótonos que
ela passara sobre o consolo, o velho chinês e o Grande-General-Comandante-em-Chefe-Perna-de-Bode.
Mas ela não se deixou convencer, queria descer a todo custo e soluçava tão
forte, agarrando-se ao seu pequeno limpador de chaminés, que este não pôde
fazer mais do que ceder, embora achasse isto insensato. Dizendo adeus ao céu
estrelado, eles começ4ram a descer a muito custo pela chaminé; a pequena
pastora escorregava a cada passo mas o limpador de chaminés a amparava;
chegaram finalmente ao fogão. Não fora por certo uma viagem de prazer e eles
pararam na porta do fogareiro sombrio para ouvir o que se passava no aposento.
Tudo estava muito tranqüilo: docemente eles puseram a cabeça para fora, a fim
de ver o que havia por ali. Ai de mim! o velho chinês jazia no assoalho. Caíra
do consolo ao querer persegui-los e se quebrara em três pedaços. As costas
tinham-se destacado do restante do corpo e a cabeça rolara para um canto. O
Grande-General-Comandante-em-Che-fe-Perna-de-Bode conservava sempre a mesma
posição e refletia. "E' terrível", disse a pequena pastora, "o
velho avô quebrou-se e nós é que fomos a causa! Oh! não poderei sobreviver a
essa infelicidade!" E cheia de desespero em frente ao seu avô partido em
três pedaços, ela apertava as suas mãozinhas. "Podemos colá-lo",
disse o impador de chaminés; "sim, podemos colá-lo. Vamos, não fique
triste; se colarmos as costas dele e pusermos uma boa atadura na nuca, ele
ficará tão sólido e parecerá novo e poderá ainda dizer-nos uma série de coisas
desagradáveis. Vamos, pare de chorar. Garanto-lhe que nada está perdido; seu
estado não é desesperador. - Você acha? - perguntou ela. E eles subiram para o
consolo onde viviam há tanto tempo. "Veja onde chegamos disse o limpador
de chaminés, que era muito sensato; "por que fizemos tão longa viagem?
Poderíamos ter poupado tanto trabalho." - Oh! Ainda se ao menos o velho
avo estivesse colado! Que felicidade para mim - disse a pequena pastora. - Acha
que essa operação custará muito caro? E o avo foi colado. Chegaram até a
colocar-lhe uma atadura no pescoço e ele ficou como novo. Só que não podia mais
mexer com a cabeça. "O senhor está muito bem depois da sua enfermidade - disse-lhe
o Grande-General-Comandante-em-Chefe-Perna-de-Bode. Parece-me que não tem
nenhum motivo para ficar tão abatido; afinal, quer me dar a mão de sua neta ou
não?" O limpador de chaminés e a pequena pastora lançaram um olhar terno
sobre o velho chinês: sabiam que ele não moveria a cabeça; mas não podia
fazê-lo, e teria vergonha de confessar que tinha uma atadura no pescoço. Graças
a essa enfermidade, o casal de porcelana pôde continuar junto; renderam graças
à atadura no pescoço do avô e se amaram até o dia em que eles mesmos foram
quebrados. Veja mais aqui e aqui.
POEMA MEMÓRIA & ÂNCORA
DO TÉDIO – Conheci o
poetamigo Jura Mamede (Jurandir Mamede
de Santana), em 2010, quando ele me presenteou o seu livreto O sol fugitivo
(Maceió, 1986). Já conhecia algumas de suas obras e pudemos, ao longo de tardes
e noites por três anos seguidos, dialogar e trocar ideias a respeito da sua
atividade poética. Na ocasião em que o encontrei, ele estava se abstendo de
escrever poesias, alegando não haver mais nenhum sentido para poetar. Logo
estranhei, claro, um sujeito como ele em que eu havia recebido referências das
mais diversas vertentes poéticas de norte a sul do país, virar um completo
avesso ao ato que ele mais prosperara nas mais diversas localidades desse
Brasilzão véio, arrevirado e de porteira escancarada, era não menos
decepcionante. Mas bastou a primeira talagada na bebericagem e lá estava
traindo seu propósito e poetando noite adentro. Assim foi, até quando nos
últimos dias recebi a notícia de que ele havia produzido um livro cometendo
novíssimos poemas e que está já em andamento de publicá-lo. Fiquei, deveras,
animado com o retorno do poetamigo. Tanto é que registro aqui dois dos seus
poemas. Primeiro, o Poema Memória, do seu livro Cosmo das Águas (Maceió, 1985):
Com aquele que olha o abismo / e não voa,
/ que sem tristeza chora. / Com o náufrago que não desiste do naufrágio / com
os passos afogados na areia. / Com a poesia amorosa, raivosa / uma estrada
caminha em si / e não volta do abismo / exceto o poema / que voa anônimo do
precipício. Também um outro que ele participou recentemente de um sarau em
Maceió, o Âncora do tédio: Partem naus / Do
porto do tédio, / Náufragos da cidade. / Ancora, marinheiro, / Toda tristeza em
todo cais, / Regressa a pique / Com a despedida do sol e da lua. / O mundo fica
por viajar do outro lado das águas. E veja mais aqui e aqui.
ENREDO E AÇÃO – No livro Evolução e sentido do
teatro (Zahar, 1964), do educador, professor e crítico de teatro e
mitologia Francis Fergusson (1904-1986), destaco o trecho Enredo e ação:
A distinção entre enredo e ação é
fundamental, mas muito difícil de ser feita em termos gerais. Mostrei-a
claramente na maioria das peças estudadas, sendo as ações e os enredos dessas
peças sempre diferentes entre si. Aristíteles não explica a distinção, mas nos
primeiro nove capítulos da Poética, enquanto trata da tragédia em si, antes de
estudar os propósitos, ou analisar os tipos de tragédias, ele parece presumir
aquela distinção. [...] Aristóteles
nos dá uma definição geral de enredo – arranjo, ou síntese, de incidentes – mas
não define ação. Para mim, como já disse, ação é um conceito analógico, só
compreensível, portanto, com referência ações determinadas. Nesse estudo a
palavra se refere à ação que a peça imita; aos atos miméticos do dramaturgo –
estruturação de enredo, personagem e falas – que vão constituir a peça; e aos
atos miméticos dos atores que reproduzem, por meio de seus próprios seres, as versões
individualizadas ou características da ação que o autor tinha em mente. Assim o
livro todo é um estudo de ação em algum de seus muitos aspectos; e proponho,
pois, deixar os exemplos no lugar de uma definição geral. Se o leitor quiser
considerar a dificuldade de uma definição desse termo, é convidado a ler o
simpósio intitulado What is action?, realizado em 1938 pela Sociedade
Aristotelica Britânica. Macmurray, Franls e Ewing leram comunicados; todos
viram a diferença entre ação e os acontecimentos pelos quais é manifestada; e
todos concordaram quanto á fundamental importância do conceito. Mas não
conseguiram uma definição que nos ajudasse. É interessante notar que nenhum
deles mencionou a arte de imitir a ação. Se a ação não pode ser definida abstratamente,
de que serve o conceito no estudo das artes dramáticas? Serve para indicar a
direção que uma análise da peça deve tomar. A direção do objeto que o
dramaturgo tenta mostrar-nos; e precisamos dessa orientação se queremos
compreender a arte complexa do autor; estruturação do enredo, dos personagens,
da linguagem, do pensamento e a coerência entre eles. Com esse propósito podem
ser estabelecidas regras práticas como a famosa do Teatro de Arte de Moscou.
Diz ela que a ação de um personagem ou de uma peça deve ser indicada por uma
frase definitiva. Em Édipo, por exemplo, seria “achar o réu”. Esse expediente
não chega a ser uma definição, mas leva o ator à determinada ação que o autor
pretendeu. Assim, para quem se interessa pela arte do dramaturgo ou pela arte
do ator, a distinção entre enredo e ação é essencial. Veja mais aqui e
aqui.
LE GOÛT DES AUTRES – A comédia Le goût des autres (O gosto dos outros, 2000), dirigido pela
cineasta francesa Agnès Jauoi e
roteirizado por ela e por Jean-Pierre Bacri, conta a história de um rico
empresário acometido de depressão, entediado com a sua esposa, e que para fazer
um grande contrato internacional terá de fazer cursos de inglês e que passa a
ter um guarda-costas que é um ex-policial, desiludido e amargo. Nesse meio
termo, se apaixona pela professora de inglês que também é atriz que vê-lo como
um milionário sem graça, mas que depois de certo tempo, o vê como um ser humano
e capaz de evoluir acima de tudo. Trata-se, portanto, das confusões amorosas e
sociais de um grupo de personagens de diferentes gostos, classes e ambições:
desde o industrial novo-rico e sua professora de inglês; o truculento
guarda-costas e uma garçonete traficante. Pela comedia igualmente engraçada,
inteligente e sedutora sobre esnobismo, tolerância e as cegueiras da paixão. O
destaque do filme vai para a diretora Agnès Jauoi que além de atriz que atuou
em várias dezenas de filmes e no teatro, também é escritora com vários livros
publicados e que dirigiu também Como uma imagem (2004), Tal about the rain
(2008) e No final do conto (2013). Veja mais aqui.
CURSO DINÂMICO DE ORATÓRIA – Nos dias 14 e 21 de novembro, no
horário das 13 às 18hs, na Escola de Idiomas Wizard, em Três Corações (MG),
acontecerá mais um Curso Dinâmico de
Oratória – modalidade interativa e muito prática, com duração de 10 horas
de curso. Informações & Local de Inscrições: Rede Pizza Pré-Assada (Ao lado
do Frigorífico Loha) Rua Cel. Francisco Antonio Pereira, 197 – Centro
Telefones: (35) 93232-1039 ou (35) 98814-9720 (Com Meimei Corrêa) & Escola
de Idiomas Wizard, Praça Cônego Zeferino Avelar, 26 – Centro Três Corações –
MG, Telefone: (35) 93234-1918 Realização: Meimei Corrêa Produções/ Alan Miranda
Cursos/ Projeto MCLAM/ Diário do Tataritaritatá/ Escola de Idiomas Wizard. Veja
mais detalhes aqui.
IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia da médica e ativista Francisca Praguer Fróes (1872-1931),
uma das primeiras mulHeres formadas em Medicina no Brasil e a defender os
direitos da mulher e o divórcio em 1917, preocupando-se com questões de saúde
tipicamente femininas. Foi agraciada com um soneto do escritor Euclides da
Cunha, Página Vazia: Quem volta da região
assustadora / De onde eu venho, revendo inda na mente / Muitas cenas do drama
comovente / Da Guerra despiedada e aterradora, / Certo não pode ter uma sonora
/ Estrofe, ou canto ou ditirambo ardente, / Que possa figurar dignamente / Em
vosso Álbum gentil, minha Senhora. / E quando, com fidalga gentileza, /
Cedestes-me esta página, a nobreza / Da vossa alma iludiu-vos, não previstes /
Que quem mais tarde nesta folha lesse / Perguntaria: "Que autor é esse /
De uns versos tão mal feitos e tão tristes"?!!
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Domingo Romântico, a partir
do meio dia (horário de verão), com a reapresentação de toda programação da semana e a apresentação sempre especial e apaixonante
de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .