VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? A COMILANÇA DO ZÉ CORNINHO (Imagem: Justo na
hora da foto do Zé Corninho, alguém atravessa na frente e ele fica escondido!) -
Não havia tempo ruim pro apetite voraz do Zé Corninho. Servido duma terrina
que acomodava confortavelmente uns quarenta centímetros de repasto às
colheradas, ele amolava os dentes num misturado, quer seja de arroz, feijão,
marcarrão, saladas, frutas – do tipo jaca, fruta-pão, palmas de banana, feixe
de cana, melancia, e isso entre uma colherada e outra -, milho, inhame,
batata-doce, batata-inglesa, cará, vargem, quer seja conservas, tutanos,
salames, charques, toucinhos, titelas, ao grosso com verduras diversas, raízes
de todo tipo, mato de toda espécie, tudo entre assados, grelhados e guisados, e
num mesmo molho, lavado com ponches, sucos, lapadas de cana, cervejas ou bebida
que seja. Ô paladar macho esse, hem? E isso podia ser a qualquer hora do dia,
no café da manhã, no almoço, na janta, no lanche dos três horários, no desjejum
de quando acordava de madrugada ou da sesta, e aos bocados. O cara é bom de
boca, nunca teve fastio, nem enjeitava sobremesas ou tira-gosto do que quer que
fosse. Era só pintar na sua frente que ele traçava. – Esse disgraçado deve de
ter um poço fundo nas tripas! -, era o que mais reclamavam dele nessa hora. Apesar
disso, ele nunca teve um bucho carregado duma indigestão na vida, nem sofria de
um calombo pronunciado embaixo da caixa dos peitos, nada disso. Diziam aos
cochichos que ele só devia de transferir toda gordura ingerida pros chifres e pras
partes pudendas, fato este que era o centro das anedotas, vez que, reiteravam
os pinoientos: - O cabra é ajegado, o que tem de pra-ti-vai e culhão, dá pra
assombrar até éguas ou jumentas num carreirão infeliz. Afora as gaias qui se
engancham pelos fios afora. Coitada da madame dele, deve ser um afolosado só. Pois
é, sempre achegado a dá uma de penetra em qualquer rega-bofe ocasional, o lambão,
antes de tudo, tem um pantim da gota feito um ritual que ele faz em volta do
dicomer, agradecendo em devotada oração pra Santa Edwiges – a protetora dos
pobres e endividados -, e pra deusa Lakshimi – a deusa hindu da riqueza,
fortuna e prosperidade (esta última, fruto duma enrolada num rabo de saia
budista ou coisa parecida, que de tão marcante não deu pra perder o costume de
venerá-la em todas as horas de fartura). Mas eis que um dia lá, no meio dum
empanturrado, o regalão teve um empazinamento de tripa forra, chega deu-lhe uma
agonia dos bofes botar tudo pra fora e ele danar-se a morrer todo estropiado.
Pegaram-no pelo saco e pelas orelhas, adentraram numa emergência hospitalar de
num ver o sujeito por menos de seis dias encarreados. Só deu o ar da graça
quase uma semana depois do engasgamento, agora regrado com uma dieta que lhe
doía nos quengo. O médico, aos esporros, dava o tom da situação: - O senhor é
corno, mas não é eterno! Não é a comida que vai lhe evitar as gaias. Tome
tento, coma direitinho senão vai engrossar a fila dos pés juntos e vai pro saco
loguinho, loguinho, tá ouvindo? Oxe, ele ouvia submisso de nem bater as
pálpebras. O de branco ainda gritou de quase deixá-lo mouco: - Olhe, como hoje
é o Dia Mundial da Alimentação, faça-me o favor de seguir à risca essa dieta,
entendido? Eita! Ele baixou a guarda acenando com a cabeça afirmativamente.
Quando saiu estava tão murcho que mais parecia que ele tinha ressuscitado do
Hades. Aí eu gritei: - E aí, Zé Corninho, tá pronto pra outra? E ele: - Não fui
nessa, nem vou nem tão cedo. Vamo é arrochar nos engolidos que a vida é só uma!
E foi exercitar a dentadura na primeira rapadura que viu pela frente. E vamos
aprumar a conversa! Veja mais aqui, aqui e aqui.
Imagem: Grand Nude Constantinople, do pintor
pós-impressionista francês Henri Lebasque (1865-1937).
Curtindo o dvd Nos horizontes do
mundo – ao vivo (2007), da cantora e compositora Leila Pinheiro.
UM POUCO SOBRE ARTE – No livro Psicossomática e a psicologia da dor (Pioneira Thomson Learnig,
2012), organizado por Valdemar Augusto
Angerami, aborda temas como a dor. O entrelace da adolescência à
convivência do câncer e sonorizações da dor, abordagem psicossomática da mulher
dolorida e a interface entre objetividade e subjetividade das dores de ser
mulher, a primeira suinã florida desse inverno, a dor da perda da saúde, dor
psíquica e significados do cuidar de um filho com câncer, o fenômeno da fé e a
construção da subjetividade, o esplendor da deificação e a mulher morena, com
as cordas partidas e um excerto sobre a psicoterapia junto a pacientes
laringectomizados, o fascínio de uma conferência, dor crônica e os aspectos
biológiocos, psicológicos e sociais, aspectos psicológicos em pacientes com dor
crônica, a expressão da dor na arte, entre outros assuntos. Na obra destaco o
trecho Um pouco sobre arte: Muitas são as
definições de arte. Conforme definem Luigi Pareyson e Umberto Eco, arte é a
atividade formadora ou formante, ação de retirar do nada a matéria e dar forma,
segundo um sentido ou significado do mundo que tenha o propósito de agradar ou
impressionar a percepção. Para tolstoi, arte é uma atividade humana cujo
objetivo é transmitir aos outros os melhores e mais elevados sentimentos que se
atinge na vida, e dessa maneira, possui assim para a humanidade a mesma
importância da palavra, que expressa o pensamento e gera comunhão social entre
as pessoas. A comunhão social da arte é gerada através do sentimento
compartilhado. É muito comum hoje em dia ouvir dizer que determinada obra de
arte é boa, mas incompreensível. Para Tolstoi, a boa arte é sempre compreendida
por todos. [...] Quando Leonardo
afima a pintura deve dar a impressão de uma janela através da qual vemos uma
sessão do mundo visível, entendo que a pintura tem seu próprio lugar no espaço.
Esse espaço criado (pintura) propõe uma nova realidade visual formada a partir
da interação da percepção do artista com o mundo real. Alguns teóricos afirmam
que o ser humano é um ser inacabado, uma vez produz sua cultura ao passo em que
é produzido pela mesma. [...] A arte,
segundo Merleau-Ponty, é uma reflexão figurada da visão na visão. Forma de
processar o que existe e transformar em reflexão figurada, ou seja, reflexão
elaborada no campo senso-perceptivo, originada no imaginário sem a necessidade
de uma correlação com o real. Seria como buscar em um trabalho artístico uma
nova proposta de realidade visual. Sartre afirma que o homem, em uma de suas
características inerentemente humanas, não se conforma em ser o que é. Segundo
Angerami, o homem existe em relação a sua condição de ser-no-mundo, o que
implica numa luta constante consigo próprio para não perder sua dignidade
existencial e suas características individuais. Dessa maneira, o poeta, o
pintor, o artista, enfim, é aquele que possibilita uma nova proposta de mundo
através de seu trabalho [...]. Veja mais aqui.
A MÃE E O DEMÔNIO – No livro The japanese psyche: major motifs in the fairy tales of Japan
(Spring, 1988), de Hayao Kawai,
encontro a história A mãe e o demônio: Uma
mulher vivia com seu abastado marido e sua amada filha. Quando chegou o dia em
que a moça se deveria casar, a mãe ficou muito feliz. Acompanhou a filha em uma
viagem pelas montanhas, num grupo que festejava o casamento, rumo à casa do
futuro marido. A noiva seguia de carruagem, enquanto a mãe, os amigos e
parentes caminhavam ao lado, cantando e rindo. De repente, uma nuvem escura
caiu do céu e rodeou a carruagem. Todos fugiram, temendo que fosse um mau
espirito, mas ela se dissipou tão rapidamente quanto se havia formado. Contudo,
a noiva sumira da carruagem. “Minha filha! Onde está minha filha?”, fritava a
mãe. “Um demônio a raptou!”, exclamaram todos. “Devemos correr” “Mas onde está
minha filha? Tenho de encontra-la!”, repetia a mãe. Seus parentes e amigos
arrastaram-na com eles, correndo para longe da montanha. A salvo, de volta na
aldeia, a mãe não conseguia descansar. “Devo encontrar minha filha!”, ela
repetia, embora todos aconselhassem-na a não regressar à montanha, do contrário
o demônio a mataria. Mas mãe estava decidida. Embrulhou um pouco de arroz para
comer, vestiu roupas quentes, calçou seus sapatos mais resistentes e partiu na
direção da montanha. Por todo dia ela escalou encostas e trilhou vales,
chamando o nome da filha, mas apenas o vento e as aves lhe respondiam. Quando
caiu a noite, a mãe estava cansada [...] o que encontrou foi um templo no meio do campo e quando se acercou, uma
monja apareceu à porta. “Reverenda senhora”, disse a mãe inclinando-se para
cumprimenta-la, “estou longe de casa. Posso ficar em seu templo por esta
noite?”. A monja de imediato introduziu-a no recinto. [...] “Você está em busca de sua filha”, disse a
monja suavemente, “e eu sei o que lhe aconteceu e como você poderá encontra-la.
Ela foi raptada por um demônio que vive do outro lado do rio que passa aqui
perto [...]”. A mãe adormecera com a
cabeça no pagode que lhe serviu de travesseiro. O vento soprou o capim alto,
tangendo-o com um som melancólico e solitário. “Será que foi apenas um sonho
com o templo e a monja?”, perguntava-se a mãe. [...] A mãe esperou paciente [...] Então
ouviu o som de um tear. “Talvez ela esteja tecendo!”, pensou a mãe, e foi
diante de um tear que encontrou sua filha. Ao se verem, mãe e filha choraram de
felicidade, correram uma ao encontro da outra e abraçaram-se. “Você está a
salvo!”, exclamou a mãe. “O demônio deste castelo raptou-me”, explicou a filha.
“Ele e seus servos saíram e ficarão fora o dia todo, assim estamos a salvo
[...] No castelo, o demônio acordou e
pôs-se a chamar pela esposa. “Traga-me água!”, ele ordenou, mas vendo que a
esposa não lhe respondia começou a quebrar a caixa de madeira, destruindo as
sete tampas e os sete cadeados. “Onde está a minha esposa?”, ele berrava. “Ela
deve ter escapado!” Despertou seus servos e correram até o estábulo, onde
encontraram os cavalos e as carriagens ainda no lugar. Correram até o rio e
viram a mãe e a filha no bote. “Lá está ela, a desgraçada!”, guinchou o
demônio. “E está com alguém. Eu tinha razão, havia outro ser humano no
castelo!”. O demônio voltou-se para seus servos. “Bebam toda a água do rio! As
duas mulheres não podem escapar!” Ele se curvou e pôs-se a engolir a água. Seus
servos fizeram o mesmo e, à medida que sugavam o rio, o bote das mulheres se
arrastava até eles. “Estamos perdidas”, mãe e filha gritaram conforme o bote se
aproximava do demônio. Subitamente, a monja apareceu a bordo. “Levantem a
saia”, ela ordenou. “Exibam as partes íntimas para o demônio! Rápido, vocês não
têm tempo a perder!”. As três mulheres levantaram seus quimonos, exibindo-se e
saltando no ar. Diante da cena, o demônio e seus asseclas desataram a rir. “Mas
o que é isso!”, e o demônio engasgou. “Nunca vi nada mais engraçado!” O demônio
e seus servos cuspiram toda a água que engoliram, e a torrente empurrou o bote
das mulheres rio abaixo. As três logo estavam longe do castelo do demônio.
“Reverenda irmã”, a mãe voltou para a monja, “você salvou nossas vidas. Como
lhe agradecer?” A monja parou por um momento e disse: “Vocês podem fazer algo
por mim. Eu sou o espirito do pagode de pedra na campina. Muitas vezes sinto-me
solitária, sem companhia. Se todo ano vocês trouxerem um novo pagode de pedra
até a clareira, e o colocarem próximo ao meu, então terei companhia”. Depois, a
monja desapareceu. Mãe e filha retornaram a salvo para casa, e, assim, todo ano
levavam um pago de pedra à campina, e em razão disso o local se transformou
numa comunidade perdida na montanha. A partir de então, todos viveram felizes
para sempre: a mãe, a filha, as famílias e a monja com suas novas companhias. Veja
mais aqui.
A ATRIZ – No livro O príncipe feliz e outras histórias (1888), do escritor e
dramaturgo britânico Oscar Wilde
(1854-1900), encontro o conto A atriz: Existiu
outrora uma grande atriz. Uma mulher que alcançara tamanhos triunfos que todo o
mundo da arte a adorava, curvado a seus pés. O incenso da adoração
perfumara-lhe a vida por muitos anos e vedara-lhe os olhos para as outras
coisas, de sorte que ela a nada mais aspirava. Não obstante, chegou o dia em
que conheceu um homem, a quem amou com toda a força da alma. Então sua arte,
seus triunfos e as nuvens de incenso nada mais significaram para ela – o amor
era toda a sua vida. Mas embora pensasse assim, o homem que ela amava tornou-se
ciumento – ciumento do público que não mais lhe interessava. Pediu-lhe que
desistisse da sua carreira e abandonasse o palco para sempre. Ela acedeu sem
resistência, e disse: – O amor é melhor do que a arte, melhor do que a fama,
melhor do que a própria vida. E logo abandonou alegremente o palco e todos os
triunfos para dedicar sua vida ao homem que amava. O tempo transcorreu, o amor
do homem começou rapidamente a diminuir e a mulher que tudo havia sacrificado
por ele perecebeu-o; a certeza disso caiu-lhe n`alma como a neblina fria do
entardecer, envolvendo-a da cabeça aos pés numa mortalha de desespero.
Tratava-se, porém, de uma mulher corajosa, decidida, e embora com a mágoa
estampada no rosto, não se deixou abater. Compreendeu que teria de sobrepujar a
crise da sua vida, a crise da qual dependia o seu destino. Com perspicácia e
cruel clarividência, sentiu a realidade que lhe despedaçava o coração.
Sacrificara a carreira ao seu amor e agora este amor lhe fugia. Se não
encontrasse meios para reanimar a chama que bruxuelava e breve se apagaria
totalmente, se conservaria solitária em meio aos escombros de sua vida
arruinada. E a mulher, que fora uma grande atriz, percebera que a sua arte, em
vez de ser-lhe um estímulo ou uma inspiração nesta fase penosa da vida,
demonstrara o contrário – era desvantagem e obstáculo. Alheara-se da orientação
dos diretores de cena e das idéias e conselhos dos autores. Até então nada
fizera sem eles – cada pensamento, cada entonação de voz e, mesmo, cada gesto
era-lhe sugerido, pois esta é a arte do ator. E, agora, quando se via obrigada
a pensar, criar e agir por si mesma, sentia-se desamparada, sem recursos, como
uma criança repentinamente às voltas com um grande problema. Mas à medida que
os dias se passavam, impunha-se cada vez mais ação pronta e enérgica. Um dia,
quando andava de um lado para o outro, com o gérmen selvagem do desespero
crescendo-lhe no íntimo a cada minuto que passava, um homem foi vê-la. Ele fora
empresário do teatro onde ela trabalhara. Viera pedir-lhe que representasse
numa nova peça. Ela recusou. Que iria fazer no palco com essa arte falsa que
transforma aqueles que a praticam em fantoches, fantoches irremediáveis,
movidos por cordéis manejados pelas mãos dos autores e diretores de cena? Agora
ela se encontrava face a face com a verdadeira tragédia da vida, ao lado da
qual todas as falsas tristezas do palco nada mais eram senão lantejoulas e
bambinelas. Contudo, o empresário insistiu, dizendo-lhe que a oferta
significava dinheiro para ele, zumbindo-lhe em torno com a persistência de uma
mosca no outono, que não quer ser enxotada. Não quereria pelo menos ler a peça?
Para livar-se dele, leu-a, e reconheceu que a tragédia impressa era a tragédia
da sua própria vida. A mesma situação: o problema estava resolvido. O destino
viera em auxílio da atriz numa peça teatral. Ela devia representá-la dominando
inteiramente cada detalhe do enredo. Estudou, então, a parte que lhe competia e
a representou para um grande auditório. Atuou com fervor do gênio que jamais
ultrapassara durante a sua carreira e o aplauso que retumbou de todos os lados
foi a homenagem irresistível tributada pelos espíritos e corações dos homens
àqueles que possuem gênio. Quando tudo chegou ao fim, ela voltou para casa
fatigada e um tanto surpresa com os gritos e aplausos da multidão ainda lhe
ressoando nos ouvidos. Dera-lhe o máximo, pusera-lhe aos pés o poder e a
maravilha da sua alma. Tudo que lhe restava agora era um sentimento de
impotência e fragilidade. Chegara à casa entristecida e carregada de flores.
Repentinamente, observou que havia dois pratos na mesa preparada para a ceia e
lembrou-se de que, nesta noite, fora resolvido o seu destino. Esquecera-o até
então. Naquele momento o homem que ela amara entrou, indagando: – Cheguei na
hora? Ela olhou para o relógio, e respondeu: – Chegaste na hora, mas
demasiadamente tarde.
Veja mais aqui, aqui e aqui.
O ARTISTA, O MESTRE & O
DISCIPULO – No livro Poemas em prosa (1894), do escritor e dramaturgo britânico Oscar
Wilde (1854-1900), destaco, inicialmente, o poema O artista: Uma noite veio à sua alma o desejo de criar uma
imagem d “O Prazer que durava um Momento”. E ele foi pelo mundo para procurar
por bronze. Pois ele podia apenas pensar em bronze. Mas todo o bronze do mundo
inteiro havia desaparecido, nem existia em lugar algum do mundo inteiro bronze
a ser achado, exceto pelo bronze da imagem d “O Sofrimento que resistia para
Sempre”. Essa imagem ele mesmo tinha, e com suas próprias mãos, criado, e havia
colocado sobre a tumba da única coisa que ele havia amado na vida. Na tumba da
coisa morta que ele mais amara ele colocou essa imagem criada por ele, para que
servisse como um símbolo do amor do homem que não morria, e um símbolo da dor
do homem que resistia eternamente. E no mundo inteiro não havia outro bronze,
salvo o bronze dessa imagem. E ele pegou a imagem que ele havia criado, e a
colocou numa grande fornalha, e a deu ao fogo. E do bronze da imagem d “O
Sofrimento que resistia para Sempre” ele criou uma imagem d “O Prazer que
durava um Momento”. Também o poema O mestre: Agora quando a escuridão pairou sobre a terra José de Arimatéia, tendo
acendido uma tocha de madeira, desceu da colina ao vale. Pois ele tinha assunto
a tratar em sua casa. E ajoelhado nas pedras do Vale da Desolação ele viu um
rapaz nu que chorava. Seu cabelo era da cor do mel, e seu corpo era como uma
flor branca, mas ele havia ferido seu corpo com espinhos e coroado seu cabelo
com cinzas. E ele que tinha muitas posses disse ao rapaz que estava nu e
chorando, “Eu entendo seu sofrimento ser tão grande, pois certamente Ele foi um
homem justo.” E o rapaz respondeu, “Não é por Ele que eu choro, mas por mim
mesmo. Eu também transformei água em vinho, e eu curei o leproso e fiz o cego
enxergar. Eu andei sobre as águas, e dos habitantes das tumbas expulsei
demônios. Eu alimentei o faminto no deserto onde não havia comida, e eu
levantei os mortos de suas casas apertadas, e ao meu comando, e diante de uma
multidão de pessoas, uma figueira estéril secou totalmente. Tudo que esse homem
fez eu também fiz. E no entanto eles não me crucificaram”. Por fim, o poema
O discípulo: Quando Narciso morreu o lago
de seu prazer mudou de uma taça de águas doces para uma taça de lágrimas
salgadas, e as Oréades vieram chorando pela mata com a esperança de cantar e
dar conforto ao lago. E quando elas viram que o lago havia mudado de uma taça
de águas doces para uma taça de lágrimas salgadas, elas soltaram as verdes
tranças de seus cabelos e clamaram, “Nós entendemos você chorar assim por
Narciso, tão belo ele era.” “E Narciso era belo?” disse o lago. “Quem pode
sabê-lo melhor que você?” responderam as Oréades. “Por nós ele mal passava, mas
você ele procurava, e deitava em suas margens e olhava para você, e no espelho
de suas águas ele refletia sua própria beleza.” E o lago respondeu, “Mas eu
amava Narciso porque, quando ele deitava em minhas margens e olhava para mim,
no espelho de seus olhos eu via minha própria beleza refletida”. Veja mais aqui, aqui e aqui.
O LEQUE DE LADY WINDERMERE – A comédia em quatro atos O leque de Lady Windemere (Aguilar,
1975), do escritor e dramaturgo britânico Oscar Wilde (1854-1900), tem um enredo baseado em situações que
envolvem intrigas e mentiras, retratando a elegância e a superficialidade da
sociedade vitoriana. A protagonista, sem saber que é filha de uma senhora,
desconfia de que o marido mantém um caso de amor clandestino com ela, mal sabendo
que ele, o marido, conhecendo a verdadeira história, não tem o menor interesse
amoroso pela sra. Erlynne e, sim, um respeito profundo por saber que ela é, na
verdade, sua sogra. Enciumada, Lady Windermere pretende vingar-se de Robert,
cometendo adultério. A sra. Erlynne, conhecendo os planos da filha, tenta
evitar que esta cometa tolice semelhante a dela, a qual, no passado, custou-lhe
o afastamento da família. Da obra destaco o trecho da cena inicial: A ação da peça se desenrola dentro de 24
horas, começando numa terça-feira, às 5 da tarde, e terminando no dia seguinte,
a uma e meia da tarde. Época: 1892. Primeiro ato. Cenário: Sala de estar da
casa de Lorde Windermere, em Carlton House Terrace, em Londres. Portas ao
centro e à direita. Escrivanhinha com livros e papeis à direita. Sofá com
pequena mesa para chá à esquerda. Grande janela abrindo para terraço à
esquerda. Mesa à direita. (Lady Windermere está à mesa à direita, arranjando
rosas num jarro azul. Entra Parker.) PAR – Está vossa senhora em casa esta tarde?
L – Sim... quem veio? PAR – Lorde Darlington, senhora. L – (hesita um momento).
Mande subir... e estou em casa para todos quantos chegarem. PAR – Sim, senhora.
(Sai pelo centro). L – É melhor para mim vê-lo antes desta noite. Alegra-me que
haja vindo. (Entra Parker pelo centro) PAR – Lord Darlington. (Entra Lorde
Darlingjton pelo centro. Sai Parker). DAR – Como vai a senhora? L – Como vai o
senhor? Não, não posso apertar-lhe a mão. Minhas mãos estão úmidas por causa
destas rosas. Não são lindas? Chegaram de Selby esta manhã. DAR – São
totalmente perfeitas (Vê um leque que está sobre a mesa). E que maravilhoso
leque! Posso examiná-lo? L – Pode, sim. Lindo, não é? Tem meu nome escrito e
tudo mais. Acabo de recebe-lo. Foi o presente de aniversário que me deu meu
marido. Sabe que hoje é dia de meus anos? DAR – Não. É mesmo? L – Sim, entro na
maioridade. Dia importantíssimo na minha vida, não é mesmo? Por isso dou esta
noite uma recepção. Sente-se (Continua arranjando as floras). DAR –
(Sentando-se) Sinto não ter sabido que era dia de seu aniversário, Lady. Teria
mandado cobrir a rua inteira, diante de sua casa, com flores para que passeasse
sobre elas. São feitas para a senhora (Curta pausa). L – Lorde Darlington, o
senhor importunou-me a noite passada no Ministério dos Estrangeiros. Receio que
venha importunarme de novo. DAR – Eu, Lady? (Entram Parker e lácaio pelo
centro, com bandeja e serviço de chá). Veja mais aqui, aqui e aqui.
O RETRATO DE DORIAN GRAY – O romance filosófico O retrato de Dorian Gray (1890 – Lanmark,
2012), do escritor e dramaturgo britânico Oscar Wilde (1854-1900), contando a
história de um jovem que é retratado em um quadro por um artista plástico que
se encanta por sua beleza e que se envolve com o hedonismo da aristocracia
decantando que a beleza sensual são as coisas mais importantes da vida.
Ocorre, porém, que o belo jovem se mantem sempre rejuvenescido, enquanto o seu
quadro envelhece registrando todos os pecados que lhe corrompem a alma. Taxada
como uma história indecente e que foi censurada, ofendeu a sensibilidade moral
dos críticos literários britânico. Da obra destaco o trecho inicial: O artista é o criador de coisas belas. O objetivo
da arte é revelar a arte e ocultar o artista. O crítico é aquele que sabe
traduzir de outro modo ou para um novo material a sua impressão das coisas
belas. A mais elevada, tal como a mais rasteira, forma de crítica é um modo de
autobiografia. Os que encontram significações torpes nas coisas belas são
corruptos sem sedução, o que é um defeito. Os que encontram significações belas
nas coisas belas são os cultos, Para esses há esperança. Eleitos são aqueles
para quem as coisas belas apenas significam Beleza. Um livro moral ou imoral é
coisa que não existe. Os livros são bem escritos, ou mal escritos. E é tudo. A
aversão do século XIX pelo Realismo é a fúria de Caliban ao ver a sua cara ao
espelho. A aversão do século XIX pelo Romantismo é a queixa de Caliban por não
ver a sua cara ao espelho. A vida moral do homem faz parte dos temas tratados
pelo artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio
imperfeito. Nenhum artista quer demonstrar coisa alguma. Até as verdades podem
ser demonstradas. Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num
artista é um maneirismo de estilo imperdoável. Um artista nunca é mórbido. O
artista pode exprimir tudo. Sob o ponto de vista da forma, a arte do músico é o
modelo de todas as artes. Sob o ponto de vista do sentimento, é a profissão de
ator o modelo. Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que
penetram para além da superfície, fazem-no a expensas suas. Os que lêem o
símbolo, fazem-no a expensas suas. O que a arte realmente espelha é o
espectador, não a vida. A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte revela
que a obra é nova, complexa e vital. Quando os críticos divergem, o artista
está em consonância consigo mesmo. Podemos perdoar a um homem que faça alguma
coisa útil, contanto que a não admire. A única justificação para uma coisa
inútil é que ela seja profundamente admirada. Toda a arte é completamente
inútil. Foi a obra adaptada para o cinema, num filme de fantasia e suspense, Dorian
Gray (2009), dirigido por Oliver Parker. Veja mais aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do gravador e gravurista holandês Jacob Matham (1571-1671).
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Some Moments, a partir das
21hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação sempre especial e apaixonante
de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Dê livros de presente para as crianças.