Imagem do pintor brasileiro Ismael Nery (1900-1934). Veja mais
aqui.
Curtindo o poema orquestral Danse Macabre (op. 40, 1874), do
compositor, pianista e organista francês Camille
Saint-Saëns (1835-1921). Veja
mais aqui e aqui.
A
VOLTA AO AMOR NO ETERNO RETORNO - O
político, filósofo, médico, místico e poeta grego, Empédocles de Agrigento (490-435 a.C.), nascido em Aeragas, hoje
Agrigento, na Sicília, cidade colonial grega no litoral sul da Sicília, então
parte da Magna Grécia, no Mar Mediterrâneo, é o primeiro filósofo dórico e um
dos notáveis defensores da teoria da constituição da matéria de Pitágoras, um
profundo teórico da evolução dos seres vivos e considerado o primeiro
sanitarista da história. Na política, opôs-se à oligarquia, defendendo a
democracia, mas foi desterrado quando do triunfo da reação. Dos eleatas deriva
ele a doutrina da eternidade e imutabilidade do ser; mas divide o ser uno dos
eleatas e a busca dos jônicos de um único principio das coisas pelos quatro
elementos: fogo, terra, água e ar, como no seu poema: Com a terra vemos a terra, com a água, a água, com ar, divino ar, e com
fogo, o eterno fogo, com o amor, o amor, a luta com a triste luta; combina
ao mesmo tempo o ser imóvel de Parmenides e o ser em perpetua transformação de
Heráclito, salvado ainda a unidade e a pluralidade dos seres particulares. Ele
julga também real – dos fenômenos e das coisas, mediante a diversa combinação
dos quatro elementos. Essa combinação realiza-se mediante duas forças
fundamentais e primordiais: o amor e o ódio. O amor conserva misturado e unido
tudo, coisas e elementos, que o ódio distingue e divide. A principio domina
unicamente o amor e, por conseguinte, a harmonia e a paz, como que numa idade
do ouro; depois mistura-se com o amor o ódio, a divisão, donde a origem dos
seres individuais que, num predomínio sucesso do ódio, são destruídos. Isso
provoca, por reação, uma volta ao amor, recomeçando daí um novo ciclo e, assim
por diante, repete-se um eterno retorno de coisas e eventos (Fonte: Historia da
filosofia, U. Padovani & L. Castagnola, Melhoramentos, 1978). Veja mais
aqui, aqui e aqui.
MESQUINHEZ – No livro Os filhos de Candinha (Martins, 1943) do escritor Mario de Andrade (1893-1945), encontro
a crônica Mesquinhez, a seguir transcrita: Temos
que distinguir porem. Si é fato que existe em certas classe de sublimadores de
vida (poetas, mendigos, etc) sincera incompetência pra viver, não é menos certo
que muito individuo se aproveita disso pra não tomar atitude ante os fenômenos
sociais. Dado que o artista, o cientista é um ser à parte, pois então vamos nos
aproveitar disso. Sistematizam este estado de off-side que é inerente à
psicologia deles, e na verdade já não estão apenas à parte mais, criam mas é
uma salvaguarda de indiferentismo e até sem-vergonhismo que lhes permite
aceitar tudo em proveito pessoaç. Quando Julien Brenda estabeleceu no livro
bulhento dele a condição do clerc, ele não esqueceu de especificar bem que a
contemplatividade do intelectual às direitas não impedia este de se manifestar
a respeito dos movimentos políticos e tomar parte neles. Mas disto os cultos
brasilianos não querem saber. Si, entre escritores, ainda existem alguns que,
talvez por mais acostumados a pensar, tomam partido, é absurdo como se
estabeleceu tacitamente que pintores, músicos, arquitetos, fisiólogos e
tisiólogos e teólogos são da neutralidade. Neutralidade? É, eles chamam de
neutralidade o quye é muito boa falta de caráter. É a neutralidade que consiste
v. g. no governo de Carlos de Campos, em tudo quanto era concerto, qualquer
pecinha deste compositor lamentável, aparecer no programa. E me vinham: - “Você
compreende, essa música banalíssima, porem nós que pertecemos à classe dos
músicos devemos honrar um, sim, um músico que está na presidência do Estadi”. E
como a bondade pessoal de Carlos de Campos era mesmo um fato, aquilo rendia bem
ao colega. Dele. Este ano um pintor ainda me expunha suas teorias sobre a
honradez profissional. Era assim: - “Você compreende (usam e abusam do você
compreende arranjador gratuito de cumplicidade) você compreende, tudo isto que
eu faço não é minha arte não! Mas é disso que o povo gosta! Estas orquídeas,
isso é passadismo do miúdo, mas Fulano, que você sabe a importância dele na Prefeitura,
queria por força que eu pintasse orquídeas. Eu pintei e ele comprou! Estou
envergonhado de ter um quadro assim na exposição, mas, você compreende, é por
causa do nome do comprador. Mais tarde, quando eu não tiver mais cuidados
pecuniários, então hei-de fazer a arte que sinto em mim”! e com isto, si
receberem a encomenda de uma sinfonia para Mussolini e um retrato de Napoleão a
cavalao, fazem. Porque diz-que o assunto não tem importância na obra de
arte!... me parece inconstestavel que estamos atravessando um momento muito
importante, que pode despertar no povo brasileiro a consciência social – coisa
que ele não tem. Ora não só músicos, tisiólogos e fisiólogos, mas até
literatos, vou percebendo uma pouca vontade vagarenta em tomar atitude. Parece
que estão muito preocupados em cantar a mãe-preta, o seu rincãozinho, a sua
religiãozinha, pra tomarem consciência verdadeira do momento que a
nacionalidade atravessa, e vai bastante mais além desses lugares-comuns
temáticos do novo “modernismo” de agora. No poema de Martin Fierro vem aquela
estrofe honesta, que gosto muito: Yo he conocido cantores / que era um gusto
escuchar, / mas no quieren opinar / y se divierten cantando; / pero yo canto
opinando / que es mi modo de cantar. Eu acho que também temos que cantar
opinando agora. Há muito mais nobre virilidade em se ser conscientemente besta
que grande poeta da arte pura. Veja mais aqui, aqui e aqui.
RASTRO DE APOLO – No livro Rastro de Apolo (GRD, 1977), do poeta, jornalista, tradutor e
biógrafo Gerardo Mello Mourão
(1917-2007), destaco o trecho: Oito léguas pelo mesmo pampa triste / o rastreador gaúcho
consulta o inconsútil chão / de joelhos / e era
/ de seus
olhos / o adorador e criador de corpos / senhor e servidor
/ Termina
o chão / começa o ar / e onde se acaba / todo elemento
/ seria
um rastro: / do coração de outubro / amadurece ao sol
/ tua
laranja: / boa tarde Calíope / e o pé pentesileu
/ pisava
seu pentâmetro / e uns perdem / e outros acham
/ artelho
e calcanhar e tornozelo / entre solo e sol / Do coração de outubro
/ saltada
a flor: / quem despe um pé / dum escarpim / de cordobán?
/ Pois
busco o rastro / de joelhos / de olhos no chão:
/ talvez
nas águas / nas verdes águas / sobre ele adeje
/ gaivota
sábia / Ao vento de Delfos / boiava a morte / boiava morto
/ Sebastião
Muniz / na fonte de Castália e ali pisaras: / por onde um rastro um dia
florescera um corpo / tuas ancas, Mepômene, dançaram
/ o mel e
a lua de teus seios. / Boa noite, Calíope, / por onde?
/ A morte
de Sebastião Muniz viera caminhando / ao tom das harpas
guaranis / — ó noite azul, ó estrelas
/ flutuando
no rio / ó noite azul do Paraguai! — a morte / de Passo de Camaragibe e
Araripina / aos montes da Tessália
/ por
serras e por mares caminhando — / na praia do Senegal dera uni aceno
/ e por
ali / seu passo sertanejo — e sob aquele céu / serrana e marinheira a
Morte / dizia chão e mar e por seu nome / chamava cada chão e cada
mar: / virias / defunta Musa / e à sugerida lágrima / uma
estrela caíu despedaçada — e ali / talvez ardera o pé do que pisara
/ e à
cadência da lira e ao som / da flauta andara andando
/ onde
/ boiava
ao vento de Delfos no jornal perdido / a achada morte.
/ Carrapateira
— sertão da Paraíba — / seiscentos habitantes receita orçamentária cem
dólares / quatro casas comerciais e um candeeiro / amarelava a luz
/ nas
prateleiras de cachaça de Nezinho Varejão: / Mariana debulha no jacá o
milho elementar / debulha Laurentina o rosário penitente:
/ —
"Tu crês, Arsênio, outro país lá em cima?"
/ —
"Não sei — sei que andaram seis léguas — / terão casa? "
/ João
Pedrosa aponta a lua: / no céu só Deus — no mundo o homem / terra pra riba
de jeito nenhum — / o céu vive na vida boa / pra nós tudo que vem é
bom / eu piso em qualquer chão". / Chicão Gomes — "Deus / não
consente, gentes: a torre de Babel ia
até o céu - o povo / fazia a torre / todo mundo lá em cima
falando / a mesma língua — Deus não deixou — / como castigo misturou as
línguas". / — "Deus deixa
tudo" — Arsênio emborca / outro martelo de aguardente — / "Deus deixa
tudo — o mundo é nosso / quem sabe viver, vive — quem não sabe,
/ se
acaba — a terminação é a cabeça da gente" / Nezinho Varejão: / — "o
homem não tem poder, Arsênio, / como o foguete engancha lá?
/ Se
chegar, não baixa, se baixar se machuca / no rochedo de pedra:
/ tudo é
mentira / acredita, Galdino?" / — "Eu ? eu sou do tempo antigo / difícil o
homem ir na lua / quando era impossível, meu pai dizia:
/ "Só
se for no mundo da lua" / — Tem destino esse cabra americano"
/ Galdino
se exalta: / — "o
mundo vai acabar, Prefeito, / isto é conversa dos beiradeiros de pé-de-serra
/ mas o
movimento dos homens dá de tudo / morasse na cidade, eu ainda poderia pensar, /
lá eu via o movimento mais ou menos" / — "Mas derrubar um boi - você
derruba" / — Peguei muito boi nesses pés-de-serra"
/ Disse
Antônio Matias: — "o aparelho / tem que passar do terreno para poder
pousar / senão o cabra despenca lá de cima: / a entrada é caso de
dificuldade" / — "Três já
precisava coragem - imagine um só" / os homens riem na bodega de Adonias:
/ "Se
o cabra passar da lua vai parar nos / quintos do inferno"
/ —
"Com três é bom — / um diz uma palestra outro diz outra / você — uma
viagem de quatro léguas / sozinho é duro / com três montados é melhor"
/ Arsênio
acende o cigarro na lamparina: / — "o americano diz que mandaram um gato
/ —
morreu". / — "Não teve vida de resistência". / Nezinho
Varejão: — "gato morre de fome de um dia pro outro"
/ — "Gato morre" — sentença de Galdino
/ Um
gesto, alguém limita o cosmos: — / "eles irão passar da chuva? / pois pra
riba da chuva / só Nosso Senhor". / — "Contam — conta
Adonias — / a gente sobe no avião — olha pra baixo / é céu por
todo lado / o cabra não sabe se tem terreno na lua / mesmo a três mil metros da
terra brasileira / não sabe". / — "Eu estou aqui / o
sol gira — a terra / fica parada" / — "Quando eu era
menino vi um avião / o jumento largou as cangalhas / larguei o jumento com dois
surrões de farinha / do Engenho Sereno / hoje é diferente
/ gente
está aqui sabe até / que acontece no estrangeiro".
/ — "Isto
é exploração do dinheiro, Galdino". / — "Isto é coisa do
Cão / o estudante diz que o mundo gira como a bala / do canhão".
/ —
"A ciência está atrobada, Arsênio, / eles têm muita ciência / muitos
acreditam outros não acreditam / depende de Deus" —
/ —
"Quando Deus consente — João Pedrosa — / o homem muda tudo
/ mas só
quando Deus consente / senão não muda nada" —
/ —
"É o homem abaixo de Deus" / — "A lua é um
planeta que vive no espaço não tem / moirão nenhum pra segurar, o americano
devia / trazer uma banda dela, mas quem manobra é Deus
/ Nosso
Senhor — o homem está invadindo o terreno / de São Jorge / está desafiando
/ Deus
castiga" / — "0
homem deve se contentar com o país dele" — / Joana ergue o rosário — /
"Mas o homem é igual.a Cabral: / tinha coragem — estava sem destino / acabou
descobrindo a terra". / — "Nosso
Senhor não fez a Lua pro homem chegar perto / se quizesse, botava aqui em
Piranha, bem pertinho / ai o homem ia de jumento"
/ — "Mas ele pára lá na lua para almoçar / ou
vem almoçar aqui embaixo / no país dele? / Porque a viagem é
comprida, gente" / — "0 Prefeito tem razão:
/ a Lua
não tem terra nem pedra nem nada / só vento brabo e se o homem tivesse juizo
não ia lá / a cruviana mata / ele / o americano diz que a Lua joga lajedo de pedra:
/ acho
que é o corisco / a Lua é um planeta sem infinidade / na capital têm
um aparelho que vai até o rochedo dela / bem que Deus disse: aqui a minha
semelhança — / e fez o homem / Deus é homem calmo / queria que o homem ficasse aqui
/ o homem está desafiando /Deus castiga". / Antonio Faustino armazena
feijão verde na sala / ouve a Voz da América e diz: / — "Deus não
existe". / E de repente caiu / dos espaços infinitos
sobre / os homens e as mulheres caiu / um silêncio sagrado – vinha / de Ribeirão das Almas - duas léguas de
Carrapateira / e ia subindo entre as ladainhas excelentes / o anjinho morto em
seu caixão azul / ia subindo para o céu da tarde azul
/ ia
subindo azul e ia ficando / sobre a estrada subitamente sagrada / o rastro do
caixão florido — o rastro / das flores de salsa encarnada. Veja mais aqui.
DO CAMARADA ÀS LEMBRANÇAS
DE UM SONHO - A trajetória
da atriz de teatro, cinema e televisão Maria
Claudia Maciel, começa no início da década de 1970 quando ela participou de
diversas peças teatrais, como O camarada Miussov de Karaiev, Vestido de noiva
de Nelson Rodrigues, Agora eu conto, entre outras. Em 2004, ela retorna aos
palcos com a peça Jung e Lembranças de um sonho, de Luiz Carlos Maciel. No
cinema, ela começou ao lado de Renato Aragão no filme Bonga, o vagabundo,
seguindo-se Independência ou Morte, O flagrante, Um marido contagiante, Se
segura malandro, O coronel e o lobisomem, e Eros, o deus do amor. Por seu
trabalho, ela foi eleita uma das mulheres mais lindas das décadas de 1970/80,
principalmente quando participou na televisão brasileira em novelas e séries de
sucesso. Fica aqui o registro do nosso aplauso de pé. Veja mais aqui.
TRAFIC – A comédia Trafic (As aventuras do Sr. Hulot no tráfego louco, 1971), dirigido
pelo cineasta francês Jacques Tati
(1907-1982), com roteiro do próprio diretor em parceria com Bert Haanstra e
Jacques Lagrange, e música de Charles Dumont, conta a história de um designer
de automóveis e de uma agente de publicidade participando do salão de automóvel
em Amsterdam, na Holanda, enquanto causam confusões pela autoestrada durante a viagem,
denunciando o quão ridículo as pessoas e as coisas realmente são. Bem recebido
pela crítica, este filme consagra a genialidade do autor que produziu uma obra
para lá de significativa no cenário cinematográfico. De minha parte, é um dos cineastas que mais aprecio e que tenho sempre que posso revisto sua obra. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do artista plástico realista Jeremy Lipking.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Some Moments, a partir das
21 hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Dê livros de presente para as crianças.






