VAMOS APRUMAR A CONVERSA? A
PRIMEIRA VEZ NO AVIÃO – Pra
tudo tem a primeira vez. E, pra mim, nessa hora, é sempre um rito de passagem, o
império do desconforto: cheio de pernas, pisando em ovos, embatucado com zis
dúvidas. Triste de quem não sabe, não passou. E eu já havia passado por um bom
bocado de primeira. Muitas, até. Mas esta, eu relutava. Tinha até comprado
passagens, contudo, recuava na hora agá. Três vezes me neguei a passar por
isso. Porém, havia chegado a hora, era uma obrigação. E tive de ser levado para
não refugar. Estava obrigado, os deveres do ofício exigiam. Quando cheguei no
aeroporto, o ambiente me era familiar; já havia estado ali por diversas vezes,
apreciado decolangens, aterrissagens, contudo, só estivera ali para recepcionar
ou me despedir de amigos, nunca como passageiro. Tinha comigo: não sou
passarinho pra sair voando pelos ares, nem peixe pra me meter por cima das
águas. Meu negócio era o chão, coisa atávica de Anteu. Oxe, tá doido?! Quem
quiser que fosse, eu não. Ah, pra tudo tem a primeira vez. A minha chegou. E lá
vou eu subindo pela primeira vez na escada – logo eu que tenho bronca com
alturas, já caí de escadas na infância, já sofri acidentes em roda gigante. Tonteei,
não vou chegar no último degrau. E pra piorar, a fila empancou bem no último
degrau. Dei um tempo e esperei o da frente entrar na aeronave, para eu poder
agir rápido e pular pra dentro, escapando da fresta entre a escada e a porta. Bem,
atônito me vi recepcionado por uma linda aeromoça. Sabia, de antemão, que ali
começaria meu martírio. O riso dela e a minha sina. Fui encaminhado pra minha
poltrona e lá me aboletei num Boeing da Varig: três carreiras de cadeiras na
esquerda, no meio e na direita. Lugares vagos que só, mas eu com a passagem e
poltrona certa. E me instalei espragatado e espaçoso, tentando relaxar. Quando
o bicho deu partida, eu comecei a me acovardar: - Adonde que vou me segurar,
hem? Já era. O veículo começou passeando na pista, dando volta, até que os
motores soaram forte, o avião empinou a venta e saiu rasgando o céu. Danou-se!
Lá tô eu na maior tremedeira e torcendo pra não me afrouxar com o furico
torando aço. Não passava nada. A minha preocupação era a merda pronta, se
inventasse de sair, eu tava sifu! Já pensou o vexame? Nessa eu prometia por
todos os céus e infernos que se saísse vivo dali, nunca mais tornaria a andar
nesse invento desembestado. Fechei os olhos, agarrei os braços da cadeira e
fiquei esperando pelo pior. Uns catabis balançaram de tremer tudo e eu me
apavorando com a subida. – Aonde isso vai parar, hem? Demorou um bocado, até
que fui tomando confiança. Estava ensopado de suor, parecia ter saído do banho
sem me enxugar de tão lavado. Fechei os olhos e baixei a cabeça. Senti uma mão angelical
ao ombro: - Está se sentindo bem? Era uma voz bondosa, fraterna. Levantei os
olhos e vi uma face magérrima, olhos verdes fraternais. Quase tive um troço! Ora,
será que eu morri e estou sonhando dentro da morte com o meu ídolo? Não podia
ser. Ele falava comigo de forma terna e eu de olhos arregalados, desacreditado,
como vivendo num ar onírico. Estava num misto entre atônito e agraciado. Afinal,
naquele momento pra lá de difícil eu estava frente a frente com meu ídolo. Só podia
ser sonho e ter morrido sem me dar conta. Só podia! Aos poucos, mesmo ofegante
fui tomando pé da situação, porque dois outros rostos acompanhavam o meu
momento. Eita, cá comigo, morri mesmo. Falavam comigo e eu não conseguia me
desgrudar dos olhos verdes do ídolo que repetia que eu não estava bem. A minha
situação chamou atenção porque me via arrodeado de outros curiosos graves. Depois
de certo tempo, consegui balbuciar: - Estou bem. A aeromoça me perguntou: -
Quer alguma coisa? Só me veio à mente: uísque. E sem nem pensar falei. Ela estranhou,
olhou dos lados, saiu e depois voltou com uma dose com bastante gelo. Fiquei espantado!
E trêmulo levei o copo à boca, enquanto o meu guardião-ídolo repetia que eu
estava me restabelecendo. Tomei um gole, depois outro e fui me recuperando. Ouvi
quando ele falou: - Não está mais lívido, agora está voltando ao normal. Sim,
eu já respirava tranquilo, olhando dos lados e parando, exatamente, meus olhos
nos olhos ternos do ídolo. – Tudo bem? -, perguntou-me ele. – Será? – respondi.
Notei-lhe a interrogação na face com a minha resposta-pergunta. – Por que? -,
insistiu ele. - Ora, se não morri, nem endoidei, você é o meu ídolo Betinho! E
isso só pode ser sonho ou pegadinha da morte! -, ousei responder. Ele sorriu,
todos riram. Ele me deu a mão e disse-me: - Dê-me um abraço! Oxe, todo
enrolado, soltei o copo na poltrona vizinha e me levantei para abraçar o cara
mais importante do Brasil: Betinho – o sociólogo Herbert de Souza, o homem ativista
da cidadania brasileira e do Fome Zero. Sem saber o que fazer, completamente
desnorteado, tive a intuição de pegar na minha bolsa o meu livro Primeira
Reunião que havia acabado de publicar e, vasculhando por uma caneta,
derrubando coisas, alvoroço desajeitado, autografei e entreguei ao ídolo como
gratidão. Ele fez sinal de surpreso e se despediu com abraço, dizendo: - Vou
ler, obrigado. Não consegui dizer mais nada, porque outro rosto famoso estava
entre os que acompanharam a minha agonia: Baby Consuelo. Quando saquei pela
presença dela, novamente busquei na bolsa outro exemplar do meu livro e
autografei pra ela. Ela sorriu, me deu um abraço e um beijo na face direita,
dizendo: - Tudo bem, vou ler. Se cuida. E foi se aboletar poltronas atrás da
minha. A viagem prosseguiu e não parou por aí. Quando o piloto anunciou que
iria começar a aterrissagem, por precaução, aproveitei a aeromoça passando e
perguntei se ela poderia me trazer outra dose de uísque. Ela sorriu e, depois
de algum tempo, retornou, dizendo-me: - Depois sente, afivele o cinto, retome o
assento que vamos já chegar a Fortaleza. Assenti com os ouvidos querendo
estourar. Tomava um gole e fazia exercícios na mandíbula para que pudesse
melhorar minhas ouças. Tempos depois, lá estava eu sentindo a sensação da
aterrissagem. Uma loucura. Pronto, estava em terra firme, ainda zonzo. Precisei
do resto do dia todo para me restabelecer. Passei. Ufa! Foi difícil e nem
morri, tô aqui contando história. E vamos aprumar a conversa aqui, aqui e aqui.
Imagem: Tribute a Rose Luxembourg, do pintor e escultor canadense Jean-Paul Riopelle (1923-2002).
Curtindo o álbum infantil Tim-Tim Por Tim-Tim (MK Music, 2014),
da cantora Aline Barros.
BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino pras crianças de todas
as idades, nos horários das 10hs e das 15hs. no blog do Projeto MCLAM. Na
programação comandada pela Ísis Corrêa
Naves muitas atrações: Fagner, Robertinho do Recife, Vida Verde Viva, Leo
& Gandhi, O leão cordeirinho, Anderson Freire, As Esquiletes, Manuel
Sampaio, O lobo e os sete cabritinhos, Nita & o jacaré e a princesa, O
lobisomem zonzo, Meimei Corrêa, Eliana, Patati & Patatá & muito mais
poesia, brincadeira, histórias e entretenimento pra garotada. No blog, muitas
dicas de Educação, Psicologia, Direito das Crianças e Adolescentes, Teatro,
Música e Literatura infantil, com destaque pro Brincar da Criança e as
historias em quadrinhos dos Aventureiros
do Una. Para conferir ao vivo e online clique aqui ou aqui.
PERSPECTIVA CIENTÍFICA – No livro Inteligência: múltiplas perspectivas (Artmed, 1998), de Howard
Gardner, Mindy L. Hornhaber e Warren K. Wake, encontro no capítulo 2, a parte
Origens da perspectivas científica, da qual destaco os trechos: Em 399 a.C., Sócrates foi condenado e
sentenciado à morte por um júri de aproximadamente 500 compatriotas. Seus
crimes eram não acreditar nos deuses da cidade-estado e corromper os jovens de
Atenas. Em sua autodefesa, Sócrates negou ambas as acusações e afirmou que
estava seguindo uma linha de investigação inspirada nos deus. O Oráculo de
Délfos dissera a um amigo de Sócrates que nenhum homem era mais sábio do que
Sócrates. Sócrates argumentou que as atividades pelas quais ele estava sendo
julgado eram simplesmente suas tentativas de compreender o que o Oráculo queria
dizer. Essas tentativas envolviam questionar estaditas, poetas, dramaturgos e
artesãos para ver se eram mais sábios do que ele. Esses questionamentos,
todavia, com frequência ocorriam na presença de espectadores: ... homens
jovens, aqueles com muito tempo livre, filhos de famílias mais ricas, seguem-me
por sua própria conta, deliciados ao ouvir as pessoas sendo questionadas; e
eles com frequência me imitam, eles próprios tentam questionar; e, então, eu
acho, eles encontram muitas pessoas que acreditam saber alguma coisa, quando na
verdade pouco ou nada sabem. Assim, em consequência, aqueles que são
questionados ficam zangados comigo, em vez de consigo mesmos... [...] Cerca de vinte séculos depois de Sócrates,
filósofos-cientistas começaram a explorar algumas das perguntas primeiramente
formuladas pelos gregos. Logo depois surgiu um debate entre dois grupos com
ideias diferentes sobre a mente e as origens do conhecimento. Esse debate
continua hoje entre seus descendentes intelectuais. Os racionalistas
contemporâneos atribuem suas ideias ao filósofo, matemático e cientista francês
René Descartes [...] Descartes
argumentava que a mente é a fonte de nosso conhecimento mais certo – da nossa
própria existência e da matemática. [...] As ideias de Descartes foram contestadas em várias frentes desde sua
época. O contemporâneo de Descartes, o filósofo britânico Thomas Hobbes,
argumentou que a mente era algo corpóreo. Ele e outros que afirmam que a mente
tem uma base física no corpo são chamados de materialistas. John Locke, outro
filósofo britânico, contestou a afirmação de Descartes sobre um conhecimento
inato. Locke asseverou que qualquer um que observasse um jovem bebê teria
poucas razões para considera-lo como armazenador de muitas ideias. Em vez de
conter quaisquer ideias originais cartesianas, Locke dizia que a mente homana é
originalmente vazia, uma folha em branco. [...] As ideias dos empiricistas e as ideias racionalistas obre a mente eram
aparentemente incompatíveis. Os empiriscistas argumentavam que os pensamentos
surgem da experiência e da informação sensorial. Em contraste, os racionalistas
afirmavan que a mente tinha certos tipos de conhecimento inato, independentes
da experiência e das informações sensoriais. No entanto, o filósofo alemão
Immanuel Kant conseguiu conciliar essas duas visões opostas. [...] Assim como Descartes, Kant mantinha algumas
noções racionalistas: a mente tem certas propriedades inatas que são
independentes das experiências detectadas por nossos sentidos. Ao mesmo tempo,
Kant afirmava (como todos os empiricistas) que para obter conhecimento os seres
humanos dependem em parte da experiência sensorial. [...] A teoria de Darwin discordava imensamente
das ideias religiosas e filosóficas prevalentes. [...] O trabalho de Darwin teve profundas implicações para o estudo da
inteligência. Por exemplo, ele preparou o caminho para os estudos comparativos
da inteligência humana e animal [...] afirmou
que a inteligência, como outras características, era herdada. [...] Como os psicólogos empiricistas e
associacionistas, os comportamentalistas enfatizavam que o meio ambiente era a
chave para determinar as capacidades humanas [...] teve um impacto sobre as ideias acerca da inteligência e educação. [...] Os comportamentalistas estavam determinados
a produzir leis baseadas no meio ambiente que governassem a aprendizagem e a
atividade inteligente. Em contraste, planejadores e usuários de testes de
orientação eugênica acreditavam que a biologia humana governava a inteligência.
[...] Cientistas do século dezenove,
como Donders, Helmholtz e Broca, exploraram a natureza material do corpo para
esclarecer o funcionamento da mente. Esses pesquisadores descobriram relações
entre os sentidos e o sistema nervoso, e também entre o cérebro e as
habilidades humanas, como produção e compreensão da linguagem, para explicar os
processos mentais superiores: é difícil entender as realizações da civilização
humana a partir de processos sensoriais e perceptuais. Assim, Wundt também
defendeu estudos de fenômenos culturais, como religião, linguagem e costumes. A
toeria da evolução teve um poderoso impacto sobre o estudo da inteligência. Ela
abriu caminho para os empenhos eugênicos de Galton e seu estudo da herança da
inteligência através de métodos estatísticos. A ênfase evolutiva na variação
também abriu caminho para o estudo das diferenças individuais de Galton, Binert
e gerações posteriores de pessoas interessadas em testar a inteligência. [...].
Veja mais aqui e aqui.
O HOMEM NU – No livro O homem nu (Record, 1977), do saudoso escritor e jornalista Fernando Sabino (1923-2004), destaco a narrativa
homônima a seguir: Ao acordar, disse para
a mulher: — Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão,
vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro
da cidade, estou a nenhum. — Explique isso ao homem — ponderou a mulher. — Não
gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as
minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não
faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até
cansar — amanhã eu pago. Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao
banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto
esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de
serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com
cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o
embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito
cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a
porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento. Aterrorizado,
precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando
ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro
interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que
já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos: — Maria! Abre aí,
Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa. Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá
dentro. Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o
ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da
televisão! Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que
o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar
nas mãos nervosas o embrulho de pão: — Maria, por favor! Sou eu! Desta vez não
teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de
baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim
despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado.
Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o
elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada
passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou
aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão. Mas eis que a porta
interna do elevador se fecha e ele começa a descer. — Ah, isso é que não!
— fez o homem nu, sobressaltado. E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do
elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho
conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais
longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka,
instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror! —
Isso é que não — repetiu, furioso. Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com
força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os
olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar
o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes
de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou
descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta,
enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu. — Maria! Abre
esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela.
Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o
traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era
a velha do apartamento vizinho: — Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso.
— Imagine que eu... A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um
grito: — Valha-me Deus! O padeiro está nu! E correu ao telefone para chamar a
radiopatrulha: — Tem um homem pelado aqui na porta! Outros vizinhos, ouvindo a
gritaria, vieram ver o que se passava: — É um tarado! — Olha, que horror! — Não
olha não! Já pra dentro, minha filha! Maria, a esposa do infeliz, abriu
finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se
precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois,
restabelecida a calma lá fora, bateram na porta. — Deve ser a polícia — disse
ele, ainda ofegante, indo abrir. Não era: era o cobrador da televisão. [...].
Veja mais aqui e aqui.
RIO UNA – No livro Poetas de Palmares (Fundarpe/FCCHBF, 1987), organizada por Juareiz
Correya, destaco o poema Rio Una, do poeta popular, cantador de coco e embolada
Manuel Bentevi: À margem do rio Una / nasci em uma casinha / onde um saudoso graúna /
cantava de manhãzinha. / Mamãe disse, e eu me lembro / que foi a seis de
setembro / num bom tempo de estio, / que cheguei ali, estranho / e tomei o
primeiro banho / na água daquele rio. / Eu com a minha mãezinha / os meus
irmãos e meu pai / em uma humilde casinha / já velhinha, cai não cai. / Aí fui
crescendo / de tudo fui entendendo / comecei a compreender / dia e noite, noite
e dia / o rio secava e enchia / e a água sempre a correr. / O rio de lado a
lado / formava grossa corrente / e eu em casa sentado / olhando a enorme
enchente / pau, caiçara, baronesa / desciam na correnteza / ali pro lado do mar
/ tudo na cheia descia / a água toda corria / e o rio no mesmo lugar. / Meus
pais morreram, eu saí / e nunca mais fui por lá / porém depois que cresci / me
lembro sempre de cá. / Daquela morada antiga / daquela gente amiga / que jamais
esquecerei. / Aquele tempo ditoso / aquele rio bondoso / onde um dia me banhei.
/ Ó rio de Una falado ; rio que o poeta adora / rio onde me banhei / naquele
tempo de outrora / há pouco fui visita-lo / e pensei até encontra-lo / triste,
velho e acabado / eu o achei um colosso / parece ainda mais moço / do que no
tempo passado. / Eu fiquei cheio de magoa / meu peito empalideceu / tomei banho
e bebi água / o rio não me reconheceu / ele perdeu a lembrança / quando eu era
pequenino / eu, velho, cheio de defeito / e o rio do mesmo jeito / parece ainda
ser menino / Não é por isso que eu deixo / de gabar meu rio Una / nem tampouco
me queixo / do meu amado graúna / que toda manhã cantava / e eu o apreciava /
naquele tempo sombrio / hoje lembro a mocidade / mas só me resta a saudade / do
meu graúna e do rio. / Na margem do rio Una / não há mais minha casinha / nem o
saudoso grauna / canta mais de manhãzinha. / Sem mãe, sem irmão, sem pai / da
minha mente só sai / a triste recordação / jamais me banhei no Una / Jamais eu
vi meu graúna / e tudo termina em não. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui,
aqui, aqui e aqui.
O MENINO QUE VIROU HISTÓRIA – A peça teatral O menino que virou história, da dramaturga, poeta e roteirista Nanna de Castro, conta a história do encontro
entre o menino Rafael e a jovem traça Zig dentro da biblioteca da escola. Rafa
é um menino muito legal mas ele não gosta nem um pouquinho de ler. Por causa
disto ele tem sérios problemas com a professora de português. Da obra destaco o
trecho inicial: Cena 1 O cenário é todo branco. Nele são projetadas
letras como se fosse uma página de um livro. Entram 5 traças marchando. Elas usam
babadores e têm garfos e facas nas mãos. Estão famintas. Executam uma
coreografia engraçada. As últimas traças da fila são Ploft e Zig. Zig está
sempre errando a coreografia e sendo repreendida pelas demais traças. Elas
cantam: Traças: - Comer, comer, os livros são bons de comer. Ler pra quê? Pra
quê vou ler? É muito mais fácil, muito mais gostoso Abrir minha boca e comer. Traça
1: - Comer um romance é uma delícia Pois todo romance é bem doce Mas sempre há
quem diga Que comer tragédia acaba em dor de barriga. Traça 2: - Aqui nesta
biblioteca Fazemos a nossa festança Todo livro que aparece A gente põe dentro
da pança Traça 3: - Você que adora leitura E está lendo um livro legal Se cuida
menino, se cuida garota Que eu posso comer o final. Ploft: - Se o livro é
gostoso e fininho Me escondo pra comer sozinho Se o livro é pesado e grandão Eu
como aos pouquinhos e no fim dou um arrotão. Zig: - Eu peguei um livro, abri
minha boca E estava pronta pra comer. Olhei as letrinhas, enfileiradinhas E me
deu uma bruta vontade Me deu uma vontade enorme Me deu uma vontade gigante Me
deu uma vontade de… ler. As traças param de dançar e cantar e olham
horrorizadas para Zig. Elas se juntam, balançam a cabeça num sinal de desapontamento
e saem de cena deixando Zig sozinha. Zig fala para a platéia. Zig: - Pois é
gente... Eu sou uma traça. E este pessoal que saiu aí é... ou melhor, era a
minha turma. Eu cresci junto com eles. Desde que eu era uma tracinha de
chupeta, a gente brinca junto. Só que eu fui crescendo e descobrindo que eu era
diferente deles... E o pior é que eles foram descobrindo que eu era
diferente... E agora, ninguém quer mais brincar comigo... É que eles acham
"dá hora", eles acham "mó legal", comer livro. Eu também
achava... Mas um dia, eu tava olhando pra uma página e aconteceu um negócio
fantástico... Mãe de Rafa grita de fora do palco. [...]. E veja mais aqui, aqui e
aqui.
KIRIKU E A FEITICEIRA – O longa-metragem de animação Kiriku e a feiticeira (1998(, dirigido
por Michel Ocelot, retrata uma lenda africana, em que um recém-nascido
superdotado que sabe falar, andar e correr muito rápido se incumbe de salvar a
sua aldeia de Karabá, uma feiticeira terrível que deu fim a todos os guerreiros
da aldeia, secou a sua fonte d'água e roubou todo o ouro das mulheres. O tio
dele vai até os domínios da feiticeira para exigir o fim das maldades. Kiriku
corre até o tio e insiste em acompanhá-lo, mas o tio do Kiriku não permite a
presença do sobrinho, ele decide usar sua astúcia e se esconde na copa de um chapéu
para conseguir seguir viagem com ele. Disfarçado no chapéu, Kiriku consegue
salvar o tio de uma morte certa. Porém, quando a feiticeira percebe que foi
enganada, exige todo o ouro das mulheres da aldeia. Kiriku mais uma vez vai até
os domínios da feiticeira, agora desejando conversar com ela e saber porque ela
é tão má. A bruxa tenta matá-lo por tal impertinência, ao que ele foge, mas
ainda não se convence. Continua nesse intento até descobrir porque a bruxa é
má. Um dia, Kiriku arma um plano com a ajuda da mãe, para visitar o sábio da
montanha, para saber mais sobre sobre Karabá. Ocorre, contudo, que para chegar
à montanha, seria preciso passar pela residência de Karabá, quando ela não
deixava ninguém se aproximar de sua casa, e restringia o acesso à montanha,
temendo que o seu segredo pudesse ser revelado pelo sábio. Usando de artimanhas
e após diversas peripécias, Kiriku consegue chegar até a montanha e ter conhecimento
com o sábio, dos segredos de Karabá. Ela dizia que devorava os homens, mas na
verdade transformava todas as vítimas em escravos mágicos de forma robótica
para obedecer as suas ordens. Kiriku aprende também que os poderes de bruxa
dela advêm de um espinho envenenado que se encontra enfiado em sua coluna
vertebral. No regresso a casa, Kiriku determina-se a arrancar o espinho das
costas de Karabá e enfim consegue o feito, libertando-a da maldição e quebrando
os feitiços que ela fizera. Ao final do filme Kiriku casa-se com Karabá e vira
homem adulto e ele Karabá vivem felizes para sempre. E veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Grupo de Pesquisa Carl Gustav Jung. Veja detalhes
aqui.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Quarta Romântica, a partir
das 21 hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.
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