VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? VOAR É PRECISO, VIVER NÃO É PRECISO!
AS
ASAS DA IMAGINAÇÃO - O meu sonho nasce na vigília. A minha lucidez já é pura
alucinação, isso no meio do meio dia. É o mesmo que a metafísica de Fernando
Pessoa: de nada, o sonho. Desde menino que meus olhos são oníricos: como
Galileu, vivia a investigar os céus pra projetar minha odisséia de Archytas,
construindo meu próprio pombo mecânico e alçar voo, gritando como Arquimedes a
descoberta da flutuação dos objetos. E chegava às conclusões de Roger Bacon
numa pipa chinesa ou na carruagem aérea do rei Supama, ou nos veículos aéreos
do Ramayana para chegar às alturas como Ramado do Sri Lanka até Ayodhaya,
pousando em Uttakosala, ou fazendo
a viagem espacial de Arjuna e alcançar a cidade de Kuvera. E ao contrário de
João de Almeida Torto, voar como no voo de
Mirita. A minha
cabeça é o vento no ninho das quimeras. Minhas orelhas são asa-delta, então.
Entre onde eu vivo e a galáxia, não há distância. Tal como Ícaro, anseio por
alturas. Não esqueço o conselho de Dédado. Vou-me Antoine de Saint-Exupéry: “Nós
não pedimos para ser eternos, mas apenas para não ver os atos e as coisas
perderem subitamente seu sentido. O vazio que nos rodeia faz-se então sentir”.
E sonho como Leonardo da Vinci com seu ornithopter: “[...] depois que alguém
voa, passa o resto dos seus dias olhando pra cima querendo voltar pra lá”.
Por isso mesmo, nada satisfeito, me mando na passarola de Bartolomeu de Gusmão
que já era a máquina voadora de Emanuel Swedenborg para que eu repetissse dele:
“[...] Temos provas suficientes e exemplos na natureza que voar sem perigo é
possível, embora quando as primeiras tentativas sejam feitas, possivelmente
teremos que pagar pela experiência com um braço ou uma perna”. E me atrepo
na vida feito a dupla Jean-François de Rozier e François d´Arlandes no voo com
o balão de ar quente dos irmãos Etiene e Joseph Montgolfier. E faço um verso
como quem vai no aeróstato dirigível e no balão motorizado de Henri Giffard. E
entoando a canção voo como quem sobrevoa no planador do Sir George Cayley. E se
cheguei ou me perdi de mim, sigo sem rumo no monoplano do inventor neozelandês
Richard Pearse que logo vira o biplano de Hiram Maxim e já transmuda no
aerodrome de Samuel Langley para que eu aterrisse no 14-Bis de Santos Dumont
para zoar do Flyer dos irmãos Wright. Não erro da terra e já me dou no
hidro-aeroplano de Henri Fabre e o meu mundo aos rodopios no girocóptero de
Juan de La Cierva, aprumando a conversa com o ekranoplano do russo Alexeev
Rostislav Evgenievich. Estou sempre na imensidão, pés no chão de Anteu, decolo
no helicóptero de Paul Cornu, me dano feito o supersônico concorde de Chuck
Yager, dou carreira no foguete R.7 da missão Sputnik e me vejo Yuri Gagarin na
Vostok para sacar que a terra é azul. E me refaço como Alan Shepard no foguete
Radstone e eu já sou Neil Armstrong na Apolo 11 seguindo incólume feito o
Hubbel rumo à direção da venta. O meu brevê sempre foi a imaginação. Tal como
Julio Verne, maior viagem. Feito curtir uma peça de rock progressivo, tipo Close
to the edge do Yes, êxtase catártico no epílogo. Ou o Concierto de
Aranjuez nos teclados de Tomita: agora eu vou sair de mim. Ou, melhor, Clair
de Lune de Debussy. Virei Fernão Capelo Gaivota. E também o piloto das
Ilusões de Richard Bach. Acho que esses sonhos o Freud explica: eu Blériot
atravessando o canal da mancha com meu aeroplano. Como nada é previsível no
sonho, lá vou eu na maior doidice com a musa mecânica (que é a Anne Moss nuínha
da silva) no aerobanquete futurista de Marinetti: “No avião, sentado sobre o
tanque de gasolina, com o ventre aquecido pela cabeça do aviador, eu senti a
inanidade da velha sintaxe herdada de Homero”. Com isso vou até a ascensão
da Zona de Apollinaire e pelos júbilos de Kafka com os aeroplanos em Brescia e
o voo de D´Annunzio com o piloto Curtis (nessa hora, com certeza, estarei ao
lado da sedutora Anneliese van der Pol). E como dissera o general romano
Pompeu, o Grande, reiterado por Plutarco, Petrarca e Fernando Pessoa: “navegar
é preciso, viver não é preciso”. Veja mais aqui e aqui.
Imagem: Nu feminino, do artista plástico Guilherme Faria.
Curtindo a música do filme Cela s'appelle l'Aurore (Assim é a
aurora, 1955), do cineasta espanhol Luis
Buñuel (1900-1983), composta pelo compositor franco-húngaro Joseph Kosma (1905-1969). Veja mais
aqui, aqui, aqui e aqui.
CUIDADO COM O OUTRO: ANIMUS
E ANIMA – O livro Saber cuidar: ética do humano, compaixão
pela terra (Vozes, 1999), Do escritor, teólogo e professor universitário Leonardo Boff, trata sobre tamagochi e
o cuidado, a falta de cuidado: estigma de nosso tempo, sintomas da crise
civilizacional, remédios insuficientes, insuficiências do realismo
materialista, indicações para o caminho certo, uma nova ética a partir de uma
nova ótica, cuidado: o ethos do humano, a fábula-mito do cuidado, Gaius Julius
Hyginus, a explicação da fábula-mito do cuidado, dimensões do cuidado, o teatro
cósmico, a Terra, a dimensão do céu: Jupiter, a dimensão terra: Tellus/Terra, a
dimensão história e utopia: Saturno, natureza do cuidado, ressonâncias do
cuidado, o amor como fenômeno biológico, a regra de ouro: a justa medida, a
ternura vital, a carícia essencial, a cordialidade fundamental, a
convivialidade necessária, a compaixão radical, concretizações do cuidado,
cuidado com o nosso único planeta, cuidado com o próprio nicho ecológico,
cuidado com a sociedade sustentável, cuidado com o outro, cuidado com os
pobres, oprimidos e excluídos; cuidado com a cura integral do ser humano,
cuidado com a nossa alma, anjos e demônios interiores; cuidado com a grande
travessia: a morte; patologias do cuidado, a obsessão e o descuido, o cuidado e
o futuro dos espoliados e da Terra, entre outros assuntos. Na obra destaco a
parte Cuidado com o outro, animus e anima: Não
há só a rede de relações sociais. Existem as pessoas concretas, homens e
mulheres. Como humanos, as pessoas são seres falantes; pela fala constroem o
mundo com suas relações. Por isso, o ser humano é, na essência, alguém de
relações ilimitadas. O eu somente se constitui mediante a dialogação com o tu,
como o viram psicólogos modernos e, anteriormente, filósofos personalistas. O
tu possui uma anterioridade sobre o eu. O tu é o parteiro do eu. Mas o tu não é
qualquer coisa indefinida. É concretamente um rosto com olhar e fisionomia. O
rosto do outro torna impossível a indiferença. O rosto do outro me obriga a
tomar posição porque fala, pro-voca, e-voca e con-voca. Especialmente o rosto
do empobrecido, marginalizado e excluído. O rosto possui um olhar e uma irradiação
da qual ninguém pode subtrair-se. O rosto e o olhar lançam sempre uma pro-posta
em busca de uma res-posta. Nasce assim a res-ponsa-bilidade, a obrigatoriedade
de dar res-postas. Aqui encontramos o lugar do nascimento da ética que reside
nesta relação de res-ponsa-bilidade diante do rosto do outro, particularmente
do mais outro que é o oprimido. É na acolhida ou na rejeição, na aliança ou na
hostilidade para com o rosto do outro que se estabelecem as relações mais
primárias do ser humano e se decidem as tendências de dominação ou de
cooperação. Cuidar do outro é zelar para que esta dialogação, esta ação de
diálogo eu-tu, seja libertadora, sinergética e construtora de aliança perene de
paz e de amortização. O outro se dá sempre sob a forma de homem e de mulher.
São diferentes mas se encontram no mesmo chão comum da humanidade. Ambos
realizam, em seu modo singular, a essência humana, abissal e misteriosa. A
diferença entre eles não é algo fechado e definido, mas algo sempre aberto e
plasmável, pois se encontram em permanente inter-ação e reciprocidade. Na
linguagem cunhada por C. G. Jung cada um possui dentro de si o animus (a
dimensão do masculini) e a anima (a dimensão do feminino). O homem desperta na
mulher sua dimensão masculina expressa culturalmente pelo modo-de-ser-trabalho;
a mulher evoca no homem sua dimensão feminina, concretizada historicamente pelo
modo-de-ser-cuidado. Cuidar do outro, animus-anima implica um esforço ingente
de superar a dominação dos sexos, desmontar o patriarcalismo e o machismo, por
um lado, e o matriarcalismo e o feminismo excludente, por outro. Exige inventar
relações que propiciem a manifestação das diferenças não mais entendidas como
desigualdades, mas como riqueza da única e complexa substancia humana. essa
convergência na diversidade cria espaço para uma experiência mais global e
integrada de nossa própria humanidade, uma maneira mais cuidada de ser.
[...] Veja mais aqui e aqui.
O SONHO MAIS DOCE – O romance O sonho mais doce (Companhia das Letras, 2005), da escritora anglo-iraniana
Doris Lessing (1919-2013) –
ganhadora do prêmio Nobel de Literatura 2007 -, conta a história de uma dona de
casa e atriz infeliz, nos anos 1960, aterrorizada com problemas que assombram
seus filhos, principalmente seu ex-marido identificado como o causador de todos
os problemas de sua vida. Da obra destaco o trecho: [...] O apartamento no subsolo era amplo, e Frances nem sempre sabia quem
acampava por lá. Sacos de dormir e acolchoados se amontoavam no chão, como
detritos depois da borrasca. Ela se sentia uma espiã quando descia para
conferir a situação. Exceto por fazer questão de que o mantivessem limpo e
arrumado - eles eram tomados por acessos ocasionais de "arrumação"
que pouca diferença faziam no estado geral das coisas -, preferia não interferir.
Julia não tinha tais inibições. Costumava descer os poucos degraus, parava para
supervisionar a cena de dorminhocos que de vez em quando se prolongava até o
meio-dia ou mais tarde ainda, xícaras sujas pelo chão, pilhas de discos,
rádios, roupas largadas em volta, amarfanhadas, em seguida dava as costas muito
lentamente, uma figura severa apesar de seus veuzinhos e das luvas que, às
vezes, ostentavam uma rosa presa ao pulso, e, tendo notado, pela rigidez de um
dorso ou por uma cabeça nervosamente erguida, que sua presença fora percebida,
voltava a subir devagar as escadas, deixando atrás de si, no ar estagnado,
aromas de flor e pó-de-arroz caro. Frances se debruçou na janela para ver se
havia luz saindo da cozinha: sim, havia, portanto estavam todos lá, à espera do
jantar. Quem, esta noite? Saberia logo mais. Foi então que o fusca de Johnny
dobrou a esquina, estacionou com precisão e, de dentro, saiu o próprio. Na
hora, três dias de sonhos tolos se dissolveram, enquanto pensava: Eu fui uma
louca, eu estava maluca. O que me fez imaginar que alguma coisa mudaria? Se
houvesse de fato um filme, então não haveria dinheiro nenhum para ela e os
meninos, como sempre... mas ele não dissera
que o contrato tinha sido assinado? No tempo que levou para atravessar sem pressa
o escritório, parando na escrivaninha para olhar as duas cartas fatídicas,
chegar à porta, ainda se demorando, e então descer as escadas, foi como se os
três últimos dias nunca tivessem acontecido. Ela não iria fazer a peça, não
iria gozar da perigosa intimidade do tablado ao lado de Tony Wilde, e tinha
certeza absoluta de que no dia seguinte escreveria ao Defender aceitando o emprego. Com vagar, recobrando a
compostura, desceu a escada e, depois, sorridente, parou na porta aberta da
cozinha. De encontro à janela, com os braços esparramados para espalhar o peso
do corpo no parapeito, estava Johnny, só bravatas e - ainda que não se desse
conta disso - desculpas. Em volta da mesa, uma variedade de jovens; Andrew e
Colin estavam ambos presentes. Todos olhavam para Johnny, que pregava sobre
algum assunto, todos com admiração, exceto os filhos. Sorriam, como os outros,
mas eram sorrisos ansiosos. Eles, como ela, sabiam que o dinheiro prometido
para aquele dia desaparecera na terra dos sonhos. (Por que diabos fora contar?
Era mais do que previsível!) Já acontecera tudo isso antes. E eles, como ela,
sabiam que Johnny chegara naquele momento, quando a cozinha estava cheia de
gente jovem, para não ser recebido com ira, lágrimas, censuras - mas isso
pertencia ao passado, fazia já muito tempo. Johnny abriu bem os braços, palmas
viradas para ela, sorrindo dolorosamente, e disse: "O filme gorou... a
CIA...". A um olhar de Frances, desistiu, calou a boca e se virou inquieto
para os dois filhos. "Não se incomode", disse Frances. "Na
verdade eu não esperava outra coisa." Os meninos estavam de olho nela; a
preocupação deles a fez se censurar ainda mais. Parou à beira do fogão, onde
vários pratos iriam muito em breve passar pela hora da verdade. Johnny, como se
as costas de Frances o absolvessem, começou um velho discurso sobre a cia,
cujas maquinações dessa vez eram responsáveis pela não-realização do filme.
Colin, precisando de alguma âncora dos fatos, interrompeu para perguntar:
"Mas, pai, eu pensei que o contrato...". Johnny foi rápido.
"Muita chateação. Você não entenderia... o que a CIA quer, a CIA
consegue." Um olhar cauteloso por cima do ombro mostrou a Frances o rosto
de Colin retesado num nó de raiva, perplexidade e ressentimento. Andrew, como
de hábito, parecia despreocupado, achando graça até, mas ela sabia quão
distante estava disso. Essa cena, ou algo parecido, se repetira durante toda a
infância dos meninos. [...]. Veja mais aqui.
RAZÕES ADICIONAIS PARA OS
POETAS MENTIREM – No
livro Eu falo dos que não falam (Editora Brasiliense, 1985), do poeta, ensaísta,
tradutor e editor alemão Hans Magnus Enzensberger, destaco
inicialmente o poema Razões adicionais para os poetas mentires, na tradução de
Kurt Scharf e Armindo Trevisan: Porque o
momento / no qual a palavra feliz / é pronunciada, / jamais é o momento feliz.
/ Porque quem morre de sede / não pronuncia sua sede / Porque na boca da classe
operária / não existe a palavra classe operária. / Porque quem desespera / não
tem vontade de dizer: / “Sou um desesperado”. / Porque orgasmo e orgasmo / não
são conciliáveis. / Porque o moribundo em vez de alegar: / “Estou morrendo” /
só deixa perceber um ruído surdo / que não compreendemos. / Porque são os vivos
/ que chateiam os mortos / com suas notícias catastróficas. / Porque as
palavras chegam tarde demais, / ou cedo demais / Porque, portanto, é sempre um
outro, / sempre um outro / quem fala por aí, / e porque aquele / do qual se
fala / se cala. E também o poema Modelo da Teoria do Conhecimento: Aqui tens / uma grande caixa / com o rótulo:
/ caixa. / Se a abrires, / encontrarás nela / uma caixa / com o rótulo: / caixa
/ tirada de uma caixa / com o rótulo: / caixa. / Se a abrires – / agora me
refiro / a esta caixa / não àquela –, / encontrarás nela / uma caixa / com o
rótulo / etcetera; / e se continuares / assim, / encontrarás, / depois de
infindáveis fadigas, / uma caixa / infinitamente pequena / com um rótulo / tão
miúda / que, por assim dizer, / se evapora diante de teus olhos. / É uma caixa
/ que existe só na tua imaginação. / Uma caixa totalmente / vazia. Veja
mais aqui.
DIONISO: O FUNDO DO POÇO – No livro O riso doído: atualizando o mito, o rito e o teatro grego (Ágora,
2002), do psicólogo e psicodramatista Albor
Vives Reñones, traz no capítulo destinado ao tema de A tragédia: bebendo o
sangue do bode que dança, traz o personagem de Dioniso, que era consorte de
Ariadne, deusa do labirinto de Creta, local de mistério, da dança da vida e da
morte (a dança do touro). Era filho, amante, vítima de sacrifício e consorte
renascido da Grande Deusa ancestral, senhora dos céus e do poder escuro da
terra, cujo culto e idolatria precederam as religiões e a cultura patriarcais.
Era um deus sexual e fálico, um falo num centro, como a criancinha e o falo
amputados pelas mênades e devolvidos ao reino da deusa maternal para tornarem a
nascer de seu ventre, como Osíris-Horus renasceu de Ísis. Nesse capítulo
destaco o trecho denominado O fundo do poço: O mito de Dioniso é o mito da tragédia, como gênero teatral. Nasceu em
um período em que a Grécia vivia seu apogeu e simultaneamente sua queda, uma
época de mudanças e revisão das crianças e atitudes. Por um século e meio foram
apresentadas peças que traziam a marca constante de circularidade, de retorno,
de ciclo que os rituais tratam, assim como os mitos, o ciclo do viver e suas
variações, seus inicios e fins, que são outros inicios. O que Dioniso vem
ensinar é o mesmo que os poetas sempre transmitiram, e os pintores sempre
pintaram e, com maior fidedignidade, os músicos sempre cantaram. Dioniso vem
ensinar que a vida é um jogo em que os pares de opostos são parte de uma
unidade permanente. E verdade que todos os povos exprimiram esta mesma
sabedoria por meio de seus mitos e poetas, mas nenhum usou o teatro como os
gregos o fizeram, e nenhum tinha em Dioniso seu patriarca e estandarte. A
tragédia grega fala de Dioniso. A tragédia trata do imponderavel. [...] Por último, temos um entrelaçado de
histórias e ações feitas por pais ou parentes do protagonista. Aquelas que
perpassam cronologicamente o autor do erro trágico e alcançam a prole, que nos
seus atos nada teria feito de recriminável. Em todas elas há um tempo passado
ao qual se referem os personagens, no qual alguma ação se realizou (ou deixou
de se realizar), causando sofrimento posterior, representado no agora, no
momento que a peça representa. [...] A
lista de desgraças vai longe, e em todas elas ocorrem fatos que independem da
vontade do personagem central. Alguma ligação existe a partir de ações feitas
no passado ou por ele ou por alguém genealogicamente anterior. O filho paga
pelo erro do pai, independentemente de este ter ou não sofrido as consequências
daquele ato. Outras vezes, sofre-se por rações que são obscuras. É a esposa
que, para continuar um ciclo de agruras do marido, sofre também, sendo mero
joguete dos designios superiores. Sofre-se ou se vive bem pelo desejo de um
deus que pode mudar de ideia antes do fim da peça (ou da vida...). E nesses
ciclos sem fim, o passado se presentifica a cada instante, sendo relembrado o
erro trágico, sendo rememorado no sofrimento que se arrastas pelas vidas e
relações. Não há saída diante da inexorabilidade do destino, que determina a
alegria e dor de cada um. Nada pode o Homem fazer, senão pedir auxilio aos
deuses e acreditar que eles possam auxiliá-lo, enquanto ele age de modo que
acha correto. Situação insustentável pela impotência em que nos coloca, e que
em cada uma das tragédias está retratada. Se existe uma definição para o
espírito trágico, esta certamente deve contemplar a falta de horizonte e o peso
grave e constante que nos oprime. Veja mais aqui.
A SOCIEDADE DOS POETAS
MORTOS – No livro O psicanalista vai ao cinema: artigos e
ensaios sobre psicanálise e cinema (Casa do Psicólogo/EdUFSCar, 2004), do
escritor e psicanalista Sérgio Telles,
trata acerca de filmes, entre eles, destaco o trecho destinado ao filme A
sociedade dos poetas mortos: [...] Educar,
como é sabido, não é meramente instruir. É preparar, na medida do impossível, o
jovem para a vida, fazendo-o frutificar seus talentos e transmitindo-lhe a
experiência acumulada das gerações anteriores. É manter uma delicada balança,
um fino equilíbrio entre debelar o narcisismo infantil, que induz o jovem a
julgamentos onipotentes, a imaginar que pode realizar maciçamente os desejos sem
levar em conta a realidade, e fazer com que ele não abdique desses desejos, não
perca a ousadia e a criatividade para inventar o novo, dando-lhe forças para
lutar por eles. Ou seja, é necessário mostrar-lhes os limites, as
impossibilidades, as coerções que a realidade impõe, sem com isso, castrá-lo
irremediavelmente. Dever-se-ia evitar os dois extremos: tanto o estimular
maníaca e exageradamente a expressão individual ignorando limites, assim como a
excessiva repressão, o enquadramento compulsório, a entrada forçada no rebanho [...]
louvável no filme é que a poesia não é
ali mostrada de modo alambicado e sensível, mas como depositária da sabedoria
da vida, que enriquece e fortalece aqueles que dela tomam conhecimento. [...].
Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do cartunista cubano Alfredo Martirena.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Some Moments, a partir das
21 horas (horário de verão), com apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix
MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot
Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para
conferir online acesse aqui .
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