VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
ENTRE UM RIO & UM RISO DE MULHER
- Nasci na Rua do Rio, na beira do Una, hoje essa
nesguinha de nada feito fiapo de valeta que quando se arretava botava o seu
caudal cidade adentro, desalojando bispo, desarmando delegado, destronando
juiz, despejando prefeito e descabelando a população de ficar três dias encarreados
atrepando o povo no morro central, onde antigamente era o baixo meretrício,
limítrofe do cemitério local. Era o maior aguaceiro de não deixar vivalma com
coragem de enfrentar a correnteza do alagamento, vixe! Quase dois metros de
inundação. Bote fé. U-hu! Foi nesse rio que me batizei e quase morri afogado.
Rio esse pernambucano que começa em São Bento do Una e se encontra com o mar na
Várzea do Una, nas proximidades de Barreiros e de São José da Coroa Grande. Em
Palmares, o meu batismo de fogo: as lutas de Zumbi, a Guerra da Praeira, das
ligas camponesas, das intrigas triviais, das bravatas estrepitosas, dos fuxicos
cabeludos e de muita ignomínia tola. Dela me lembro, sangue na boca, mãos pro
alto e cabeça a mil. Foi lá que dei de cara com muita doidera, esquisitice e
renhenhém. E foi Carma quem me deu o primeiro abraço na vida. E com um riso
lindo. Minha mãe, coitada, vítima da minha buliçosa gestação, perdia a conta da
gravidez: sete ou dez meses? Quase endoida, avalie. Desentalei na horagá do
rebento de um jeito tão desajeitado da prestimosa parteira se atrapalhar. Foi
que escapuli dali às pressas para tocar fogo no mundo e aprontar, quase me
arrebentando no chão. Eis que Carma, providencialmente, me abraça brincando: -
Eita, chegou o meu neto lindo! O sorriso dela me acompanha desde então, porque
é o amuleto que me faz um sujeito, de sorte. Ah, dona Zezé! A paciência daquela
que me pariu – Deus a tenha ainda sonhando comigo um médico respeitado -, quase
finda num enlouquecimento avultado com as minhas presepadas de garoto. – Esse
vai ser o meu doutor, o médico que vai curar todo mundo! -, era ela, coitada,
depositando em mim, todas as fantasias de ver-me formado em Medicina. Não sabia
que na primeira aplicação de vacina, eu desmaiaria. Que dali em diante, jamais
eu poderia ver nem seringa nem potoca de sangue que logo desmontava estatelado
no chão. Mas ela não arredava, cuidou de mim todo tempo. E eu um malcriado, só
queria aconchego com Carma reclamando aos prantos: - Carma, maínha não deixa!
Maínha não deixa! Acometido por zis enfermidades por ser maluvido que
aproveitava cada mínima piscada de olho dela, com desobediência às prescrições
médicas desde que fora vítima de um derrame nos olhos ainda no primeiro ano de
vida, constantemente me empazinava com iguarias condenáveis pelo fígado
baqueado pelos antibióticos, a cometer todas as arteirices até cair do teto da
casa numa pia repleta de cascos de garrafas, com presepadas de virar armários
quebrando todos os utensílios, pisoteios muitos que me levaram a ser tratado
como os pés-da-doida por todas da vizinhança. Eu desfazia as ordens e na hora
das lapadas corria para os braços de Carma que me alentava como ente endeuzado.
Ah, Carma, sempre no meu coração. Daí eu digo: nasci entre um rio e um riso de
mulher. E vamos aprumar a conversa aqui, aqui e aqui.
Imagem: detalhe de obra do celebrado
decorador e pintor do Barroco brasileiro Manuel
da Costa Ataíde (1762-1830), o Mestre Ataíde.
Curtindo o álbum Villa-Lobos:
Piano Works (Farol Música, 2003),
do pianista Nelson Freire homenageando o compositor e maestro Heitor
Villa-Lobos (1887-1959). Veja mais aqui e aqui.
BRINCARTE DO NITOLINO
ESPECIAL DO DIA DO PINTOR
– Hoje é dia do programa Brincarte do Nitolino Especial do Dia do Pintor para
as crianças de todas as idades, a partir das 10hs (no horário de verão), no
blog do Projeto MCLAM e com apresentação de Ísis Corrêa Naves. Na programação especial também tem atrações
especiais chamando a meninada com O Teatro Mágico, Caetano Veloso, Turma da
Mônica, Toquinho, Nita na lenda do morro pintado, Meimei Corrêa, Tia Conça
& muito mais No reino encantado de todas as coisas. No blog, muitas dicas
de Educação, Psicologia, Direito das Crianças e Adolescentes, Teatro, Música e
Literatura infantil, com destaque pro Brincar da Criança e as historias em
quadrinhos dos Aventureiros do Una.
Para conferir ao vivo e online clique aqui
ou aqui.
A ENERGIA ESPIRITUAL – O livro A energia espiritual (Martins Fontes, 2009), do filosofo francês Henri Bergson (1859-1941), reúne conferências
sobre determinados problemas de psicologia e filosofia, mostrando como, a
partir de uma análise crítica dos métodos e dos resultados científicos de sua
época, desenvolve seu pensamento e sua filosofia com retorno consciente e
refletido aos dados da intuição, que, segundo ele, permite o ajuste ao
movimento livre e criador da vida e do espírito. Da obra destaco os trechos: [...]
Os filósofos que especularam sobre o
significado da vida e sobre o destino do homem não engatizaram suficientemente
que a natureza, por si, nos dá essas respostas. Ela nos oferece um sinal
preciso de que nosso destino está se realizando. Esse sinal é a alegria. Falo
da alegria, não do prazer. o prazer não é mais que um artificio imaginado pela
natureza para obter dos seres vivos a conservação da vida; não indica sua
direção. A alegria, porém, anuncia sempre que a vida triunfou, que ganhou
terreno, que conseguiu uma vitória: toda grande alegria tem um tom triunfal. [...]
Seria inexplicável o apego deste ou daquele
filósofo a um método tão estranho, se esse método não tivesse a tripla vantagem
de lisonjear-lhe o amor-próprio, facilitar o trabalho e dar-lhe a ilusão de
conhecimento definitivo. Como o conduz a alguma teoria muito geral, a uma idéia
quase vazia, ele sempre poderá, mais tarde, colocar retrospectiv amente na ideia
tudo o que a experiência terá ensinado sobre a coisa: afirmará então que se
antecipou à experiência unicamente pela força do raciocínio [...] Como, por outro lado, nada é mais fácil que
raciocinar geometricamente sobre ideias abstratas, ele constrói sem dificuldade
uma doutrina em que tudo se sustenta e que parece impor-se pelo rigor. Mas esse
rigor resulta de ter operado sobre uma ideia esquemática e rígida, em vez de
seguir os contornos sinuosos e móveis da realidade. [...] Considero que em filosofia o tempo dedicado
à refutação geralmente é tempo perdido. De tantas objeções levantadas por
tantos pensadores uns contra os outros, o que resta? Nada, ou pouca coisa. O
que conta e permanece é o que se apresentou de verdade positiva: em virtude de
sua força intrínseca, a afirmação verdadeira substitui a ideia falsa e acaba
sendo, sem que tivesse o trabalho de refutar ninguém, a melhor das refutações.
[...]. Veja mais aqui e aqui.
A POESIA NA EDUCAÇÃO – No livro Humor e alegria na educação (Summus, 2006), organizado por Valéria Amorim Arantes, reúne trabalhos
que versam sobre os temas da poesia e escola, Deus ludens – o lúdico na
pedagogia medieval e no pensamento de Tomás de Aquino, ousar brincar, escolha é
lugar de brincar, humor e educação e pós-modernidade, uma pedagogia lúdica, o
senso de humor no trabalho com adolescentes e seus problemas de adaptação,
teste do poder de inclusão, entre outros assuntos. Da obra destaco trecho de
Poesia e Escola, de Joan Fortunity: [...]
No sentido etimológico, poesia significa
criar, fazer. O ato poético é um ato criador. Essa é a noção fundamental. A
leitura de um poema nunca deveria ser passiva. Todo leitor é um criador e até
mesmo criador do ele lê. Negar isso seria uma contradição psicológica, visto
que, como dizia Paul Valéry, o poema não termina quando o autor o conclui, mas
sim quando o leitor o faz seu, incorporando-o a seu acervo espiritual. Poesia
também é mimese, no sentido que Aristóteles dava à palavra. Segundo o filosofo
grego, a imitação, ou mimese, consiste em reconstruir com palavras algo que
tenha a maior semelhança possível com a realidade; não no sentido de copiar a
natureza ou de descrever os fatos com precisão, mas de reconstruir a realidade
com a intenção de reinventá-la. [...] Não
são os professores que ensinam a fazer arte ou a ter ideias, já que a arte e as
ideias, como criação pessoal, não se ensinam, se promovem. A formação de uma
pessoa vai mas além da prática, embora sem dúvida não possamos desterrar de
todo essa última, pois se mostra necessária mas não suficiente. Se tudo fosse
uma acumulação de saber prático, não haveria ligar para a surpresa. É certo que
sempre se parte de algo, mas esse não deve nunca indicar o caminho inteiro por
seguir, deve-se deixar que aflores por si esse momento incerto que se dá,
precisamente, no limite entre o saber estabelecido e o desconhecido. “O novo me
estimula e o velho me encanta”, como diz o último verso de um célebre soneto do
poeta catalão J. V. Foix. É nesse espaço de dúvida que são geradas as situações
inéditas, e ele constitui o preambulo de toda a criatividade. Acredito, assim,
numa pedagogia do equilíbrio, que tanto trabalhe com os instrumentos científicos
quanto leve os estudantes a encontrar-se, na tentativa de compreender a vida. A
escola é, antes de tudo, um lugar de cultura, em que a formação e o aprendizado
escolar são necessários às pessoas. Aprender a ser é tão importante como
adquirir conhecimento, e a poesia é, antes de tudo, uma forma de ser. Veja
mais aqui, aqui e aqui.
MENINO DE ENGENHO – O romance Menino de engenho (1932 - José Olympio, 1978), do escritor José Lins do Rego (1901-1957), faz
parte da trilogia da cana-de-açúcar, juntamente com Doidinho (1933) e Banguê
(1934), contando a situação socioeconômica do engenho de açúcar, com suas
tensões sociais narradas por uma criança. Nos primeiros oito capítulos tem a
história da mãe que foi assassinada pelo pai que é capturado e preso. O menino
é levado por seu tio Juca para o engenho do seu avô materno, quando entrará em
contato com religião, surperstições, crendices, folclore, literatura oral,
heroísmos e vida campesina no partido da cana. Da obra destaco o trecho: [...] O quarto do meu tio Juca vivia trancado de
chave o dia inteiro. Ali só entrava a negra que lhe fazia limpeza e mudava as
roupas da cama. Mas quando aos domingos descansava na sua grande rede do Ceará,
de varandas arrastando no chão, eu ia ter com ele. O meu tio me punha ao seu lado,
fazia brincadeiras comigo. Era o único sobrinho com quem se dava de intimidade.
Ele tinha muita coisa para me mostrar; os seus álbuns de fotografias, os seus
livros de muitas gravuras, o Malho que assinava, cheio de gente de cara virada
pelo avesso. Lua as histórias todas do Malho, com retratos dos políticos e com
um Zé-Povo que tinha resposta para tudo. – Ali não bula – me dizia, quando eu
tocava por acaso num pacote embrulhado em cima da cômoda. Num dia em que ele me
deixou sozinho, corri sôfrego para o objeto da proibição; uma coleção de
mulheres nuas, de postais em todas as posições da obscenidade. Não sei para que
meu tio guardava aquela nojeta exposição de porcarias. Sempre que sucedia ficar
sem ele no quarto, era para os postais imundos que me botava. Sentia uma
atração irresistível por aquelas figuras decasradas de meu tio Juca. Uma vez em
que ele se demorou mais tempo, por não sei onde, entretive-me com as gravuras
muito tempo. O meu tio pegou-me de surpresa com o pacote na mão. Botou-me para
fora do seu quarto. Eu não era digno da sua intimidade, dos segredos de sua
alcova. Mas ficava-me de seus aposentos uma saudade ruim daquelas mulheres e
daqueles homens indecentes. [...]. Veja mais aqui e aqui.
POEMA & ORAÇÃO DO MILHO – No livro Poema dos Becos de Goiás e
Estórias Mais, (Global, 1965), da
poeta Cora Coralina (1889-1985),
destaco, inicial, o Poema do Milho: Milho...
/ Punhado plantado nos quintais. / Talhões fechados pelas roças. / Entremeado
nas lavouras. / Baliza marcante nas divisas. / Milho verde. Milho seco. / Bem
granado, cor de ouro. / Alvo. Às vezes vareia, / - espiga roxa, vermelha,
salpintada. / Milho virado, maduro, onde o feijão enrama. / Milho quebrado,
debulhado / na festa das colheitas anuais. / Bandeira de milho levada para os
montes, / largada pelas roças. / Bandeiras esquecidas na fartura. / Respiga
descuidada / dos pássaros e dos bichos. / Milho empaiolado... / abastança
tranquila / do rato, / do caruncho, / do cupim. / Palha de milho para o
colchão. / Jogada pelos pastos. / Mascada pelo gado. / Trançada em fundos de
cadeiras. / Queimada nas coivaras. / Leve mortalha de cigarros. / Balaio de
milho trocado com o vizinho / no tempo da planta. / “- Não se planta, nos
sítios, semente da mesma terra”. / Ventos rondando, redemoinhando. / Ventos de
outubro. / Tempo mudado. Revoo de saúva. / Trovão surdo, tropeiro. / Na vazante
do brejo, no lameiro, / o sapo-fole, o sapo-ferreiro, o sapo-cachorro. / Acauã
de madrugada / marcando o tempo, chamando chuva. / Roça nova encoivarada, / começo
de brotação. / Roça velha destocada. / Palhada batida, riscada de arado. / Barrufo
de chuva. / Cheiro de terra, cheiro de mato. / Terra molhada. Terra saroia. / Noite
chuvada, relampeada. / Dia sombrio. Tempo mudado, dando sinais. / Observatório:
lua virada. Lua pendida... / Circo amarelo, distanciado, / marcando chuva. / Calendário,
Astronomia do lavrador. / Planta de milho na lua-nova. / Sistema velho
colonial. / Planta de enxada. / - Seis grãos na cova, / quatro na regra, dois
de quebra. / Terra arrastada com o pé, / pisada, incalcada, mode os bichos. / Lanceado
certo-cabo-da-enxada. / Vai, vem... sobe, desce... / terra molhada, terra
saroia... / - Seis grãos na cova; quatro na regra, dois de quebra. / Sobe.
Desce... / Camisa de riscado, calça de mescla. / Vai, vem... / golpeando a
terra, o plantador. / Na sombra da moita, / na volta do toco - o ancorote
d’água: / Cavador de milho, que está fazendo? / Há que milênios vem você
plantando. / Capanga de grãos dourados a tiracolo. / Crente da Terra. Sacerdote
da terra. / Pai da terra. / Filho da terra. / Ascendente da terra. / Descendente
da terra. / Ele, mesmo, terra. / Planta com fé religiosa. / Planta sozinho,
silencioso. / Cava e planta. / Gestos pretéritos, imemoriais. / Oferta remota,
patriarcal. / Liturgia milenária. / Ritual de paz. / Em qualquer parte da Terra
/ um homem estará sempre plantando, / recriando a Vida. / Recomeçando o Mundo. /
Milho plantado; dormindo no chão, aconchegados / seis grãos na cova. / Quatro
na regra, dois de quebra. / Vida inerte que a terra vai multiplicar / Evém a
perseguìção: / o bichinho anônimo que espia, pressente. / A formiga-cortadeira
- quenquém. / A ratinha do chão, exploradeira. / A rosca vigilante na rodilha, /
O passo-preto vagabundo, galhofeiro, / vaiando, sorrindo... / aos gritos
arrancando, mal aponta. / O cupim clandestino / roendo, minando, / só de
ruindade. / E o milho realiza o milagre genético de nascer. / Germina. Vence os
inimigos, / Aponta aos milhares. / - Seis grãos na cova. / - Quatro na regra,
dois de quebra, / Um canudinho enrolado. / Amarelo-pálido, / frágil, dourado,
se levanta. / Cria sustância. / Passa a verde. / Liberta-se. Enraíza. / Abre
folhas espaldeiradas. / Encorpa. Encana. Disciplina, / com os poderes de Deus. /
Jesus e São João / desceram de noite na roça, / botaram a bênção no milho. / E
veio com eles / uma chuva maneira, criadeira, fininha, / uma chuva velhinha, / de
cabelos brancos, / abençoando / a infância do milho. / O mato vem vindo junto. /
Sementeira. / As pragas todas, conluiadas. / Carrapicho. Amargoso. Picão. / Marianinha.
Caruru-de-espinho. / Pé-de-galinha. Colchão. / Alcança, não alcança. / Competição.
/ Pac... Pac... Pac... / a enxada canta. / Bota o mato abaixo. / Arrasta uma
terrinha para o pé da planta. / “- Carpa bem feita vale por duas...” / quando
pode. Quando não... sarobeia. / Chega terra. O milho avoa. / Cresce na vista
dos olhos. / Aumenta de dia. Pula de noite. / Verde. Entonado, disciplinado,
sadio. / Agora... / A lagarta da folha, /
lagarta rendeira... / Quem é que vê? / Faz a renda da folha no quieto da noite.
/ Dorme de dia no olho da planta, / Gorda. Barriguda. Cheia. / Expurgo...
Nada... força da lua... / Chovendo acaba - a Deus querê. / “- O mio tá bonito...”
/“- Vai sê bão o tempo pras lavoras todas...” / “- O mio tá marcando...” / Condicionando
o futuro: / “- O roçado de seu Féli tá qui fais gosto... / Um refrigério” / “-
O mio lá tá verde qui chega a s’tar azur...” / - Conversam vizinhos e
compadres. / Milho crescendo, garfando, / esporando nas defesas. / Milho
embandeirado. / Embalado pelo vento. / “Do chão ao pendão, 60 dias vão”. / Passou
aguaceiro, pé-de-vento. / “- O milho acamou...” “- Perdido?”... “- Nada... / Ele
arriba com os poderes de Deus...” / E arribou mesmo, garboso, empertigado,
vertical. / No cenário vegetal / um engraçado boneco de frangalhos / sobreleva,
vigilante. / Alegria verde dos periquitos gritadores... / Bandos em
sequência... Evolução... / Pouso... retrocesso. / Manobras em conjunto. / Desfeita
formação. / Roedores grazinando, se fartando, / foliando, vaiando / os ingênuos
espantalhos. / “Jesus e São João / andaram de noite passeando na lavoura / e
botaram a bênção no milho”. / Fala assim gente de roça e fala certo. / Pois não
está lá na taipa do rancho / o quadro deles, passeando dentro dos trigais? / Analogias...
Coerências. / Milho embandeirado / bonecando em gestação. / - Senhor!... Como a
roça cheira bem! / Flor de milho, travessa e festiva. / Flor feminina, esvoaçante,
faceira. / Flor masculina - lúbrica, desgraciosa. / Bonecas de milho túrgidas, /
negaceando, se mostrando vaidosas. / Túnicas, sobretúnicas... / saias,
sobressaias... / Anáguas... camisas verdes. / Cabelos verdes... / Cabeleiras
soltas, lavadas, despenteadas... / - O milharal é desfile de beleza vegetal. / Cabeleiras
vermelhas, bastas, onduladas. / Cabelos prateados, verde-gaio. / Cabelos roxos,
lisos, encrespados. / Destrançados. / Cabelos compridos, curtos, / queimados,
despenteados... / Xampu de chuvas... / Flagrâncias novas no milharal. / -
Senhor, como a roça cheira bem!... / As bandeiras altaneiras / vão-se abrindo
em formação. / Pendões ao vento. / Extravasão da libido vegetal. / Procissão
fálica, pagã. / Um sentido genésico domina o milharal. / Flor masculina
erótica, libidinosa, / polinizando, fecundando / a florada adolescente das
bonecas. / Boneca de milho, vestida de palha... / Sete cenários defendem o
grão. / Gordas, esguias, delgadas, alongadas. / Cheias, fecundadas. / Cabelos soltos excitantes. / Vestidas de
palha. / Sete cenários defendem o grão. / Bonecas verdes, vestidas de noiva. / Afrodisíacas,
nupciais... / De permeio algumas virgens loucas... / Descuidadas. Desprovidas. /
Espigas falhadas. Fanadas. Macheadas. / Cabelos verdes. Cabelos brancos. / Vermelho-amarelo-roxo,
requeimado... / E o pólen dos pendões fertilizando... / Uma fragrância quente,
sexual / invade num espasmo o milharal. /
A boneca fecundada vira espiga. / Amortece a grande exaltação. / Já não importam
as verdes cabeleiras rebeladas. / A espiga cheia salta da haste. / O pendão
fálico vira ressecado, esmorecido, / no sagrado rito da fecundação. / Tons
maduros de amarelo. / Tudo se volta para a terra-mãe. / O tronco seco é um
suporte, agora, / onde o feijão verde trança, enrama, enflora. / Montes de
milho novo, esquecidos, / marcando claros no verde que domina a roça. / Bandeiras
perdidas na fartura das colheitas. / Bandeiras largadas, restolhadas. / E os
bandos de passo-pretos galhofeiros / gritam e cantam na respiga das palhadas. /
“Não andeis a respigar” - diz o preceito bíblico. / O grão que cai é o direito
da terra. / A espiga perdida - pertence às aves / que têm seus ninhos e
filhotes a cuidar. / Basta para ti, lavrador, / o monte alto e a tulha cheia. /
Deixa a respiga para os que não plantam nem colhem. / - O pobrezinho que passa.
/ - Os bichos da terra e os pássaros do céu. Também a Oração ao milho: Senhor, nada valho. / Sou a planta humilde
dos quintais pequenos e das lavouras pobres. / Meu grão, perdido por acaso, / nasce
e cresce na terra descuidada. / Ponho folhas e haste, e se me ajudardes,
Senhor,/ mesmo planta de acaso, solitária, / dou espigas e devolvo em muitos
grãos / o grão perdido inicial, salvo por milagre, / que a terra fecundou. / Sou
a planta primária da lavoura. / Não me pertence a hierarquia tradicional do
trigo / e de mim não se faz o pão alvo universal. / O Justo não me consagrou
Pão de Vida, nem lugar me foi dado nos altares. / Sou apenas o alimento forte e
substancial dos que / trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre. / Sou de
origem obscura e de ascendência pobre, / alimento de rústicos e animais do
jugo. / Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques, / coroados de rosas e
de espigas, / quando os hebreus iam em longas caravanas / buscar na terra do
Egito o trigo dos faraós, / quando Rute respigava cantando nas searas de Booz /
e Jesus abençoava os trigais maduros, / eu era apenas o bró nativo das tabas
ameríndias. / Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito. / Sou
a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. / Sou a farinha econômica do
proletário. / Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em
terra estranha. / Alimento de porcos e do triste mu de carga. / O que me planta
não levanta comércio, nem avantaja dinheiro. / Sou apenas a fartura generosa e
despreocupada dos paióis. / Sou o cocho abastecido donde rumina o gado. / Sou o
canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece. / Sou o cacarejo alegre
das poedeiras à volta dos seus ninhos. / Sou a pobreza vegetal agradecida a
Vós, Senhor, / que me fizestes necessário e humilde. / Sou o milho. Veja
mais aqui e aqui.
O JOGO E A ESPONTANEIDADE – No livro Improvisação para o teatro (Perspectiva, 1979), da autora e
diretora Viola Spolin (1906-1994),
destaco a parte Sete aspectos da espontaneidade – jogos: O jogo é uma forma natural de grupo que propicia o envolvimento e a
liberdade pessoal necessários para a experiência. Os jogos desenvolvem as
técnicas e habilidades pessoais necessárias para o jogo em si, através do
próprio ato de jogar. As habilidades são desenvolvidas no próprio momento em
que a pessoa está jogando, divertindo-se ao máximo e recebendo toda a
estimulação que o jogo tem para oferecer – é este o exato momento em que ela
está verdadeira aberta para recebe-las. A ingenuidade e a inventividade
aparecem, para solucionar quaisquer crises que o jogo apresente, pois está
subentendido que durante o jogo o jogador é livre para alcançar seu objetivo da
maneira que escolher. Desde que obedeça às regras do jogo, ele pode balançar,
ficar de ponta-cabeça, ou até voar. De fato, toda maneira nova ou
extraordinária de jogar é aceita e aplaudida por seus companheiros de jogo.
Isto torna a forma útil não só para o teatro formal, como especialmente para os
atores interessados em aprender improvisação, e é igualmente útil para expor o
iniciante à experiência teatral, seja ele adulto ou criança. Todas as técnicas,
convenções, etc, que os alunos-atores vieram descobrir lhes são dadas através
de sua participação nos jogos teatrais (exercícios de atuação) [...]. Veja
mais aqui e aqui.
VAI QUE É MOLE – A comédia musical Vai que é mole (1960), dirigida por J. B. Tanko, conta a história
de três ladões que saem da cadeia e logo são contatados pelo chefe para
planejarem novos golpes. A namorada de um deles, o Brancura, quer que ele pare
com a vida criminosa. As coisas ficam ainda mais complicadas quando Brancura
recebe uma carta de sua tia, já falecida, dizendo que ela enviou seu filho José
Maria para cuidar. Depois que Macio e Brancura devolvem para uma dançarina a
bolsa que roubaram dela, são chamados para participarem de um programa de
televisão que enaltecerá a "honestidade" dos dois, causando muita
confusão pois tanto seus comparsas como a polícia sabem dos roubos que eles
cometeram no passado. O destaque do filme é para o saudoso ator, comediante,
escritor, cantor e compositor Grande
Otelo (1915-1993), pseudônimo de Sebastião Bernardes de Souza Prata, que,
neste filme, atua ao lado de Ankito, Jô Soares, Otelo Zeloni, Virginia Lane e
Renata Fronzi, entre outros. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
No dia do pintor homenagem ao artista
plástico e professor tricordiano Luiz Sérgio Mafra.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Domingo Romântico, a partir
do meio dia (horário de verão), com reprise de toda programação semana e com apresentação sempre
especial e apaixonante de Meimei Corrêa.
Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .
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