DA AMIZADE – Na obra Do espírito (1758), do
filósofo e literato francês Claude
Adrien Helvétius (1715-1771),
destaco o trecho do Discurso III – Se o espírito deve ser considerado um dom da
natureza ou como efeito da educação, notadamente no capítulo XIV - Da amizade: Amar é ter necessidade. Se não existe
necessidade, não existe amizade: seria um efeito sem causa. Os homens não
possuem todos as mesmas necessidades; a amizade, pois, entre eles, fundada
sobre motivos diferentes. [...] Confesso
que, considerando-a como uma necessidade recíproca, não nos podemos ocultar
que, num longo espaço de tempo, é muito difícil que a mesma necessidade e por
conseguinte a mesma amizade subsista entre dois homens. Por isso, nada de mais
raro que as amizades antigas. É muito difícil ter ideias claras a respeito da
amizade. Tudo que nos cerca procura nos enganar sobre o assunto. Existem homens
que, para se acharem mais estimáveis aos olhos dos outros, fazem da amizade
descrições romanescas e persuadem-se de sua realidade, até que as
circunstancias, desiludindo a eles e a seus amigos, lhes ensinam que eles não
amavam tanto quanto pensavam. Esse tipo de gente pretende comumente ter a
necessidade de amar e de ser amado vivamente. [...] a força da amizade é sempre proporcional à necessidade que os homens
têm uns dos outros, e que essa necessidade varia segundo a diferença dos
séculos, dos costumes, das formas de governo, das condições e dos caracteres. [...]
Caímos na miséria: procuramos com o mesmo
amigo os meios de nos subtrairmos à indigência; e sua conversa nos poupa pelo
menos na infelicidade o aborrecimento das conversações indiferentes. É portanto
sempre de nossas dificuldades ou prazeres que se fala com o amigo. Ora, se não
há verdadeiros prazeres nem verdadeiras dificuldades, como o provei
anteriormente, a não ser os prazeres e as dificuldades físicas. Se os meios de
busca-los são apenas prazeres de esperança, que supõem a existência dos
primeiro, e que não passam, por assim dizer, de uma consequência; segue-se que
a amizade, assim como a avareza, o orgulho, a ambição e as outras paixões, é o
efeito imediato da sensibilidade física. Veja mais aqui e aqui.
AFRODITE (Imagem: Afrodite descansando, do pintor francês Henri-Pierre Picou (1824-1895) – Em grego, Afrodite significa espuma, correspondendo na mitologia helênica, à Vênus dos romanos. Era filha de Zeus e a ninfa Dione. Ela teria pela primeira vez subido à terra na ilha de Chipre que ficara sendo a sua ilha sagrada. Deusa da beleza e do amor sexual, seu cinto inspirava violentas paixões a quem eventualmente o possuía. Por isso, do seu nome foi derivada a palavra afrodisíaco, aplicada a todos os excitantes das funções sexuais. O cinto de Afrodite chamava-se Cesto e figura em muitas alusões literárias. Da mitologia grega, o cinto de Afrodite passou para a mitologia romana, transformado em cinto de Vênus. Juno o teria pedido emprestado para se fazer amar por Júpiter, o Zeus dos romanos. Veja mais aqui, aqui e aqui.
O CONTRATO DA CARNE – No livro O retrato do rei (Companhia das Letras, 1991), da escritora Ana Miranda, destaco o trecho inicial: “Deus criou a luz”, disse frei Francisco de
Meneses, acendendo uma vela. “As águas, o firmamento; a terra e a relva”. Sua voz
ecoava na igreja vazia. “Criou o sol, a lua, as estrelas”. Uma
mariposa acercou-se da chama e ficou rodeando-a, numa atração fulminante. “Criou
os animais estúpidos”, olhou o homem a seu lado, e o homem. Sorriu. “Que não deixa
de ser um animal estúpido”. Flexionou os joelhos, reverente; fez o
sinal-da-cruz. Virou-se para seu interlocutor, sem dar as costas para o altar.
Fernando de Lancastre, o governador da capitania do Rio de Janeiro, São
Paulo e Minas do Ouro ouvia-o, silencioso. “Criou um jardim paradisíaco para
que os seres ali habitassem e plantou a árvore proibida”, continuou o
trinitário. E disse ao homem: do fruto do conhecimento não comerás. Se comeres,
morrerás. O padre e o governador caminharam pelo corredor da igreja. A espada
de Fernando às vezes arranhava o chão, emitindo ruídos estridentes. Esta é a
mais idiota de todas as histórias, disse frei Francisco. A mais mentirosa. O conhecimento
não traz a morte. Todos os seres morrem, sejam árvores, papagaios, macacos,
zebras. Ainda sereis queimado por vossas estultícias, disse o governador. O conhecimento
traz apenas a infelicidade, apenas isso. Mas prefiro ser um desgraçado
entendedor que uma mula aventurosa. Como eu ia dizendo, Deus fizera um rio que
saía do Éden para regar o jardim do Paraíso. Em um braço desse rio, chamado
Pisom, o que rodeava a terra de Havilá, havia ouro. O ouro refulgente. Em sua
infinita malícia, Ele nada avisou ao homem. Hic jacet lepus. Poderia aquele
reinol ignorante entender latim? Ali se escondia a lebre, completou. Tolices.
O ouro traz benefícios, disse Fernando, ao entrarem na sacristia. Numa banca
brilhava um crucifixo. O padre sentou-se no faldistório, sobre o estofo
rasgado. Benefícios? A poderosa força maléfica do ouro cria mais ruínas que
fortunas; todos se tornam credores e devedores; a ambição surpassa os demais
sentimentos. A ilusão da opulência e do poder destrói a ética. Pelo ouro, os
justos cometem injustiças, os sagazes tornam-se parvos e os idiotas brilham na
retórica. Pegou um cálice dourado. Olhou o reflexo de seu rosto, -distorcido,
no metal. E para que os homens sonham com o ouro? , continuou o padre. A
realização de seus sonhos está perto, entre pedras de cascalho, ali, entre
rochas e penedos, a um passo, basta estender a mão para atingir o zênite. O
zênite do quê? A visão de seus sonhos se evapora como um resto de chuva em dia
de sol. E se no meio de uma imensa devastação alguém se decide a perguntar: por
que, mesmo, queremos o ouro? Por que sonhávamos? Ninguém saberá responder. Mas
eu vos digo: para reinar, para comer e para fornicar. É isso que os homens
desejam, e nada mais. Reinar, comer, fornicar. Fernando mantinha-se silencioso.
Considerava aquele padre um fementido prevaricador, soturno, crápula, e tinha
problemas demais para perder tempo com filosofias esdrúxulas e blasfemas. Além
disso, percebia aonde frei Francisco queria chegar, com aquelas ruminações
inconvenientes. Ia pedir-lhe a prorrogação do monopólio da venda de carne nas
Minas do Sertão. Poucos, disse o padre, elevando o indicador, são os que contam
o trágico fim de Jasão. Ele perdeu tudo que tinha. O mesmo navio que o levara
de encontro ao velocino de ouro o esmagou. Este é o destino de todos os heróis.
Frei Francisco suspirou. Tinha nariz longo quebrado na metade, sobrancelhas
juntas. Estas rugas, disse o frei, oferecendo uma visão completa de seu rosto, são
as únicas condecorações que recebi por meus esforços. O próprio Midas esteve a
ponto de morrer de fome, e nasceram-lhe duas orelhas de burro. Veja mais aqui.
TEATRO & POESIA – O poeta e dramaturgo do período elizabetano inglês Christopher Marlowe (1564-1593), levou
uma vida desregrada, envolveu-se com espionagem e foi assassinado por um de
seus companheiros, durante uma orgia. A sua primeira produção dramática foi a
tragédia em duas partes Tamerlão o Grande (1890-93), em que o personagem
central é um conquistador ávido de poder e de humilhar seus inimigos,
revelando-se um herói voraz, arrogante e cruel. Esse mesmo tema reaparece na
farsa trágica A famosa tragédia do rico judeu de Malta (1592), encaminhando-se
pro lirismo exaltado na A trágica história do doutor Faustus (1588-1604),
revelando-se um mestre na versão mais notável da lenda do homem que vendeu a
alma ao diabo, para dominar o mundo e seus prazeres. Em seguida ele escreveu
peças históricas como O massacre de Paris (1593), também O reinado difícil e a
morte lamentável de Eduardo II (1594), bem como o seu poema Hero e Leandro
(1598), um decassílabo narrativo que é manejado com grande habilidade e os
encontros amorosos são descritos com vigor apaixonado. Ele é considerado o
precursor de Shakespeare e, por consequência, um gênio do teatro. Veja mais
aqui.
NON TI MUOVERE – O filme
Non ti muovere (Não se mova, 2004), dirigido por Sergio Castellitto, baseado no
romance homônimo de Margaret Mazzantini, conta a história de um pai em pânico
que espera o desenrolar da cirurgia que pode salvar a sua filha acidentada,
enquanto lembra suas escolhas e os acasos que moldaram sua vida, como a relação
arrebatadora com uma jovem camareira. Trata-se de um retrato sentimental das
suscetibilidades do homem, naturalmente inclinado a abrir mão do desejo por um
cotidiano previsível. O destaque do filme vai para a
atriz espanhola Penélope Cruz Sanchez. Veja mais aqui, aqui e aqui.
PROGRAMA
TATARITARITATÁ – O programa Tataritaritatá
que vai ao ar todas terças, a partir das 21 (horário de Brasilia), é comandado
pela poeta e radialista Meimei
Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação
desta terça aqui. Logo mais, a
partir das 21hs, acontecerá mais uma edição do programa Tataritaritatá – agora
com 2 horas de duração -comemorando os mais de 400 mil acessos do blog,
apresentação da querida Meimei Corrêa e com as seguintes atrações na
programação: Heitor Villa Lobos, Airto
Moreira & Flora Purim, Patativa do Assaré, Elis Regina, Enya, Chico Buarque
& Gilberto Gil, Edu Lobo, Djavan, Lenine, Ivan Lins, Maria Rita, Geraldo
Azevedo, Leila Pinheiro, Jane Duboc, Milton Nascimento, Bráulio Tavares, Kleiton
& Kledir, Sonia Mello, Mazinho, Ricardo Machado, Moína Lima, Roberto Toledo,
Ozi dos Palmares, Zé Ripe & Paulo Profeta, Cikó & Zé Linaldo, Amel
Brahim, Gonzaguinha, Michael Kamen &
muito mais!SERVIÇO:O que?
Programa Tataritaritatá Quando? Hoje,
terça, 18 de novembro, a partir das 21hsOnde? No MCLAM
- blog do Programa Domingo Romântico Apresentação:
Meimei Corrêa. Confira mais aqui.
Veja mais sobre:
As mulheres soltam o verbo, o verso &
o sexo porque todo dia é dia delas aqui.
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William Shakespeare, Émile Zola, Giovani
Casanova, Federico Fellini, Emmylou Harris, Hans Christian Andersen, Harriet
Hosmer, Max Ernst, Raínha Zenóbia & Os contos de Magreb aqui.
Literatura e História do Teatro aqui.
Pequena história da formação social
brasileira, de Manoel Maurício de Albuquerque aqui.
A linguagem na Filosofia de Marilena
Chauí aqui.
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Vigiar e punir de Michel Foucault aqui.
Norberto Bobbio e a teoria da norma
jurídica aqui.
Como se faz um processo, de Francesco
Carnelutti aqui.
As misérias do processo penal, de
Francesco Carnelutti aqui.
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Todo homem que maltrata uma mulher não
merece jamais qualquer perdão aqui.
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Neurodesenvolvimento & transdisciplinaridade aqui.
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Villalba, Wanderlúcia Welerson Sott Meyer, Ronald Augusto, Monique Barcello
& Lia Rosatto aqui.
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Biziga de amor & Programa
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O Teatro da Espontaneidade &
Psicodrama aqui.
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Psicologia Social & Direito Administrativo aqui.
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mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
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Psicologia, Direito & Educação aqui.
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Livros Infantis
do Nitolino aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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chargista, pintor e ilustrador francês Honoré-Victorien Daumier (1808-1869).
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Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.