A liberdade não
é algo que nos é dado, mas algo que temos de conquistar.
A arte da artista plástica e
fotógrafa suiça Méret Oppenheim
(1913-1985). Veja mais aqui.
QUARTO
POEMA DE AMOR PARA ELA - O quarto poema de amor nasceu numa noite
fria. Nasceu duma fantasia que eu sonhava então. Apesar de ser verão, chovia
longamente. Foi então no de repente que sonhei, ave-Maria. Eu já sabia porque
ela passeia nua de dia e na noite da minha vigília e nos capítulos dos meus
sonhos mais medonhos. Sempre nua e minha e toda etérea, vem pousando toda aérea
na atmosfera que anoitece. Aí o seu encanto me embevece e tudo em nós nos
apetece, nada engilha, tudo enrijece, sorvo muito e bocadão. É de endoidar
qualquer cristão porque o beijo da sua boca é o mais gostoso. O seu jeito a se
entregar é tão demais delicioso, chega perco a vida e a noção. Isso é só
provocação. Aí me torno cativo do carinho, ela faz com que amocegue o seu
caminho e lhe sirva de escravo e servil. Estou a mais de mil e faço o que ela
quiser. Dou-lhe tudo que tiver, dou-lhe posse e poder. Até não ter mais o que e
me tenha despojado, réu confesso e condenado, dela todo poderio. Que desvario!
Ela me soma em seus beijos quando em meus desejos ela se subtrai. É tudo
demais! A gente se enrosca e se retalha em posta para servir de prazer. A gente
abre as comportas, escancara todas as portas, todo limite a vencer. Aí me chama
na grande e brame louca a valer, me explora pra sobreviver, a me fazer servo e
senhor. E me faz seu pirão, me chama de bestão e me joga no seu balaio. Inda diz:
ai, ai, meu papagaio! E a coisa dá na canela, de apertar todas as costelas, de
desmaiar de paixão. E me faz seu refrão e quero que ela me ame como a musa de
Modigliani, se entregue ronronando entrecortadas frases, feito Amy Winehouse
com toda inquietude e deixe a minha morenice na sua branquitude sem que me
visse pelas pernas entreabertas, eu que sentisse minha farra ereta no seu corpo
lavado pelo estupor e o meu cio a chave certa, o seu grunhido e o seu sabor.
Isso é que é show! Ela é linda e nua na minha loucura! É de fato. É como um
retrato de valor que emoldura com torpor a candura do amor. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS – A desvalorização do
mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas. Pensamento do economista, filósofo, historiador, teórico
político e jornalista alemão Karl Marx
(1818-1773). Veja mais aqui.
A OBRA DE ARTE – [...]
A percepção que deflagra a emoção pode
nascer de um raio de sol, do voo de um pássaro que corta o céu da memória, dos
aspectos mais desesperados e insignificantes do cotidiano. A obra de arte nasce
como um mundo que se organiza: é sempre criadora de mundo. [...] Trecho da
obra Arquitetura uma Arte para Todos (Fundo de Cultura, 1962), do escritor, educador, arquiteto e historiador estadunidense Talbot Hamlin.
O GENERAL DO EXÉRCITO MORTO – [...]
No dia seguinte foram enterrados no local
onde caíram e, nessa primavera, suas tumbas surgiram em todos os lugares, como
se fossem incontáveis ovelhas espalhadas sobre as colinas que se elevam diante
do mar. [...] E dessa vez, com toda
certeza, os cantos devem ter evocado o mar, longínquo e pérfido. [...].
Trechos extraídos da obra O general do
exército morto (Objetiva, 2004), do premiado escritor albanês Ismail Kadaré.
Veja mais aqui e aqui.
DOIS POEMAS – I - Eu fio / Traço do caminho-sem-fim / No outro que meu corpo não
repele / Nem cansa de olhar as rugas / Eu fio / Nos dias diante do corte / Definitivo, próximo, exangue / Navalha, lágrima,
gume / Eu fio / Quando fujo do monstro / Saio do centro da dor / Percorro
estreitas passagens / Eu fio / Não o solto entre os dedos / D'água / De
claridade / De espanto que salta ao moribundo / Eu fio / Nas têmporas, dor,
silêncio que acode / Costurando o abrigo / Cerzindo à pele, o rasgo aceso / Eu
fio / No condutor da ruidosa manada / Que desce das altas janelas / Empreende
fugas, se dispersa / Memória do porão / Árvore do Esquecimento / Eu fio / Remendando
a mim mesma / Tantas que fui / Amarrando as botas do esmolo / Pregando botões
de rosa no deserto / Girando o carretel, Nona, Décima e Morta / Trêmula diante
da ceguidade e do buraco da agulha / Eu fio / Insólito diálogo sobre brasas / Nós
cegos, emaranhados, suspensos e líquidos / Regato e sede / Eu fio / De voz / Berrando
e esfolando as cordas da garganta / Cordão de isolamento e pêndulo / Eu fio / De
esperança amortecida / De cabelo e mistério no tempo / Preso à cintura da
vertigem. II - Se
me curvo / Diante do obelisco em riste / Distante o céu é turvo / A garganta na
tarde é triste / Logo a palavra vira urro / A língua que deseja insiste / Lavra
desde o ventre o zurro / Animal que esquece o despiste / No quarto ouve-se um
esturro / Deitada em ti consentiste / Apartada do mal do casmurro / Com teus
líquidos me ungiste / Desejo que um dia foi chamurro / Quer que tu o conquiste /
Sobre teu corpo é saburro / A lágrima de dor vira chiste / Se desfaleço após o
grito / E guardo o obelisco que pulsa / Naquele quarto restrito / As pernas
pareceram convulsas / Os olhares cumpriram um rito / As quimeras foram expulsas
/ Lançamos chamas de outro mito / Em nossas horas avulsas / O ritmo do nosso
atrito / Os meus líquidos impulsas / Diante do lábio constrito / As gotas de
sal e as insulsas / Meu manjar favorito / Quando prolongas e compulsas / Levas
contigo meu espírito / Se acho que é meu foguete / E banho o obelisco fausto / Cansado
daquele banquete / Daquela dança exausto / Viagem em um paquete / No íntimo
vira um austo / Para defender um mosquete / Inverso do holocausto / Contrário
ao torniquete / Beijando detrás do arbusto / Burlando qualquer piquete / Deitado
continua augusto / No salão ou no bosquete / Sóbrio ou tonto de hausto / Invencível
ginete / Afungenta o tempo infausto / Se para ele eu olho novamente / E fixo no
obelisco deitado / Nem é preciso que tente / Ele não fica parado / Eu o mordo
entre os dentes / Ele fica arrepiado / Se estiver doente / Fica rubro e sarado /
Do meu desejo é depoente / Confidente do meu brado / Na paixão intermitente / Por
morar do outro lado / No meu corpo é sol nascente / Em minha boca sagrado / São
gozos irreverentes / Onde reina amarado / Se à noite me faz chover / Quando me
roça o obelisco / Em minha boca ao se mover / No meu corpo desenha um risco / Lambuzo
de enlouquecer / Do foguete eu arrisco / Dizer que vai amanhecer / Ao meu lado
sempre um corisco / O que sou vem aquecer / No pula-pula arisco / Jamais vai os
trovões vai esquecer / Nem todos aqueles chupiscos / Se vai subir ou descer / Tira
do meu olho o cisco / No lençol umedecer / O meu precioso visco. Poemas da
poeta e artista visual Cyane Pacheco.
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MUSA DA SEMANA: JOZI LUCKA - A cantora e compositora Jozi Lucka é formada na faculdade de licenciatura em música. Ela estudou no Conservatório Brasileiro de Música, onde teve aulas de canto com Graziela de Salerno e com Paulo Louzada. Na mesma busca, depois passou a ter aulas de violão com Célia Vaz.
Primeiro, Winter Romance – um cd para o mercado japonês.
Depois o cd Intacta - lançado em 2002 - mostra a força da cantora e compositora.
Já trabalhou com Roberto Menescal, também nos vocais do disco de Emílio Santiago e participações em cds de artistas como Maria Creuza, Carlos Lyra, Rosa Maria Collen, Danilo Caymmi e no songbook de Dorival Caymmi. Também Lenine, Fátima Guedes, Moacyr Luz e Aldir Blanc emprestavam à Jozi suas canções inéditas para serem entoadas em palcos famosos da música carioca e tantos outros nesse nosso Brasil.
Ela participou do Projeto Aquarius, com a Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência do Maestro Isaac Karabtchevsky, para 60 mil pessoas nas areias do Leme. Depois foi selecionada para o prêmio Tim como revelação, ganhou espaço na grade da MTV com o clipe da música Empate, foi para as rádios e ganhou mundo nas asas da internet. Foi a única artista brasileira escolhida num concurso de música em Portugal na categoria de pop/rock. Está em estúdio gravando um novo cd com composições de sua autoria.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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Lachaise, by Ernst Barlach
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