A arte do pintor e
escultor suíço Ignaz Epper
(1892-1969).
TRELAS DO DORO: DOIDICES NA SUCESSÃO - Tendo em vista a embolada na corrida sucessória presidencial, dois dos mais achegados trampolineiros embestados, o Doro, o sete-ciências, e o Robimagaive, um desajuizado metido a sabe-tudo, pitandor do sete e maior inventor de nove horas, ambos não menos pilantras que a corja política que enlameia o Brasil, auto-habilitados pelos disparates mais despropositais que já aprontaram nesta e noutras encarnações nas mais diversas plagas planetárias, resolveram botar lenha na campanha atual, candidatando-se para embananar mais ainda o pleito eleitoral para presidente da república. O negócio começou a ganhar corpo depois de uma pesquisa realizada na redondeza, onde todos os candidatos foram rejeitados e eles dois, por serem arteiros de plantão, reconhecidos inegavelmente pelas vítimas e pela polícia como os dois mais esforçados enroladores, ganharam, para espanto geral, nas intenções de voto, cem por cento da preferência. Isso, claro, resultou indubitavelmente eureka nas pretensões engalobadoras deles. - Se os cara lá tão viciados nas patifarias, nóisis vumo butá-los no bolso —, insinuou a empáfia do Doro. - São nanico perto da gente, arresolvemos logo esse cerca-lorenço que é o Brasil, num instantin de nada, num é não? —, asseverou dando corda categoricamente Robimagaive. - Ôxe, vamo butar tudo no lugarzinho certo! —, ensaiaram uníssonos quase que um chavão de campanha. Pois bem, mediante essa corda toda pronunciada na pesquisa, os melepeiros tomaram umas providências preliminares e aderiram logo ao que preceitua o Fecamepa — Festival de Cagadas que Melam o País, um movimento filho bastardo e xexéu descarado do Febeapá, que não resistiria a uma insinuação de teste de DNA do Ratinho, mas que usará deste expediente para ganhar notoriedade entre os cento e tantos milhões de brasileiros que nem o IBGE sabe na verdade até agora em quanto vai terminar essa corda de guaiamum. E nessa modalidade de competição, os dois pretensos candidatos estão levando o negócio mais do que a sério e querem sair em primeiro lugar sem choro nem vela. - Se os cara lá pintam e bordam prá cima da gente, eles vão também entrar nessa roda! —, argüiu Doro cheio da pacutia. - Vumo deixá-los na lanterninha da sabidoria, vão ver! —, emendou mais pabo ainda o Robimagaive. E já preparavam o primeiro discurso para ineivar a candidatura, partindo do princípio de que todo brasileiro é um fabricante de bosta em potencial, por isso, com centeza, eles querem virar a campanha numa papa grossa de merda. Inclusive, já deram de precavidos com as aulas do mestre Plínio Marcos para não morrerem também afogados no tolote. E para traçarem um perfil mais atraente, assistiram a tudo quanto foi programa de animador de auditório, isso para ganhar na simpatia da mundiça. Depois saíram cascaviando tudo que podiam se revestindo de guia espiritual, jeito de figurinha carimbada na preferência dos mais-ou-menos. E elegeram, ainda, uns temas polêmicos para cair na graça dos casacudos mais afortunados, como o fato de vestirem a camisa da arenga e serem terminantemente contra a CPMF, a dengue, a guerra do Afeganistão, a Coca-cola, a corrupção e a roubalheira, os pré-candidatos apresentados e os políticos de carreira, a pobreza do povão, a poluição da terra e outras lorotas de somenos importância. Deixaram claro que vão arriar o pau logo de cara para estremecer as bases dos outros concorrentes e chamar logo atenção para alguns patrocinadores mais espertos, com o fito de se arrumarem logo para a banda deles porque o negócio vai feder além da conta. Providencialmente começaram a fazer ginástica o dia todo, a tratar todo mundo de "meu povo", a remendar todo vestuário para ajeitar uma indumentária apresentável, decoraram alguns léxicos estrambólicos e catados a dedo no Aurélio para dar um ar de erudição e competência, exercitaram a tripa gaiteira para mode não se desviarem com flatulências insignificantes e fizeram afiliação a todo tipo de credo religioso para demonstrarem que também são íntimos na corriola do de lá de cima. Um rol enorme de posturas irredutíveis, reuniões inadiáveis, eventos imperdíveis, caboetagens inestimáveis e amocegamentos impossíveis estavam ocupando nossos postulantes que já emendavam o dia pela noite. Um detalhe: não conseguiram inventar o nome do partido, ao que pensavam algo em torno de PFE - Partido dos fuleiros embucetados. Ou PSCP - Partido da soda cáustica política. Ou PBP - Partido da Boba da Peste, mas não se entenderam com a nomenclatura apropriada da legenda, servindo ainda de muito pano para as mangas da arenga. E enquanto eles fumaçam a cachola, vamos aguardar para ver no que é que dá. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Nenhum poeta,
nenhum artista de qualquer arte tem seu significado completo sozinho […]. Pensamento
extraído da obra Selected Essays (Faber and Faber, 1972), do poeta, dramaturgo, crítico literário inglês e
Prêmio Nobel de 1948, Thomas Stearns Eliot (1888-1965). Veja mais aqui.
O FANTÁSTICO – [...] O fantástico é a vacilação experimentada por
um ser que não conhece mais que as leis naturais, frente a um acontecimento aparentemente
sobrenatural [...]. Trecho extraído da obra Introdução à literatura fantástica
(Perspectiva, 1982), do filósofo e linguista búlgaro
Tzvetan Todorov (1939-2017).
Veja mais aqui.
DIÁRIO DE UM LADRÃO – [...] Incapaz de vê-lo,
inventei o maior e mais lindo pênis do mundo. Dotei-o de insistentes e
deliciosas qualidades (ímpias): másculo, nervoso, sóbrio, mas com tendência
para o orgulho quase majestoso enviesado de veias. Sereno em sua pulsação
incaica. Sob meus dedos senti esculpidos em glandes de carvalho suas veias
túrgidas, palpitações, calores vermelhidão sem peias e às vezes a precipitada
pulsação do esperma. [...]. Trecho extraído da obra Diário de um ladrão (Record, 1988), do
controverso escritor e dramaturgo francês Jean Genet (1910-1986). Veja
mais aqui.
LUGARES
SOBRE UM PLANETA - Os semelhantes florescem / mínimo pássaro do
tempo / Nós continuamos, indizíveis / cristais, tremores / O fabuloso
desfilando / o extraordinário, comum / mas a penitência da incerteza permanece
/ Novas margens desmoronadas / esforços liliputianos / É preciso apressar-se / A
História vai fechar-se. Poema do escritor e pintor belga Henri Michaux (1899- 1984).
A arte do pintor e escultor suíço Ignaz
Epper (1892-1969).
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