A arte de Tessa Kuragi
QUANDO QUEM MANDA É O AMOR
– Imagem:
Tessa
Kuragi - Vai a vida e nem aí. Tudo vai meio insosso,
meia boca, tudo bem. Tudo sem sobressaltos, sem atropelos, até à toa e nos
conformes, escorrendo na calha do racional, nem insinuando qualquer saída dos
trilhos das metas ao alvo determinado. E é nessa hora que a gente se acha
seguro, na certeza de que nunca mais definhará ou se submeterá ao estrupício de
qualquer paixão. Ledo engano. Nada como uma noite entre um dia e outro para
provar que, do inopinado, tudo se vira de pernas pro ar. Aí, segurar o tranco é
que são elas, força redobrada no braço, pulso firme, punho determinado. De nada
adianta quando quem manda é o amor, nada mesmo. Basta rolar um clima que
ninguém, mas ninguém mesmo, sabe de onde vem, onde se escondia ou de que raio
de lugar chega a eclodir. E rola mesmo assim, do nada. Só se sente o flagra
quando toca uma daquelas canções na pele da alma, como a do João Bosco, que diz
"(...) o amor quando
acontece a gente logo esquece que sofreu um dia...". Isso
apenas só um olhar nada pretensioso que cruza sorrateiro na exaltação do flerte
e traz o arrepio no corpo atravessando toda espinha dorsal. Chega com um frio
no plexo solar minando o coração e acedendo a libido. Nessa hora as idéias dão
um nó e seja lá o que deus quiser. Mesmo assim, tudo é percebido como nada demais,
levando a crer que vai se sair ileso: é só para ficar, mais nada. Nada o quê?
Compelido pela imantação dos seres, vem surgindo devagar àquela revolução no
peito que de tão estrondosa não se sabe bem o que é, mas que desarruma tudo a
ponto de se desejar ardentemente estar ao lado daquela pessoa que vira tudo dos
pés à cabeça. Na maior desorganização o desgoverno reina na convergência dos
olhares, na timidez insinuada, no encontro agradável aonde cada um vai se
surpreendendo mais com o outro, uma gentileza infinita, uma identificação
exaltada. E quando dar fé, nossa, um talqualzinho o outro, quanta coincidência,
hem? Pois é, mesmo nem sendo tão parecidos assim, tudo se inclina pro
estreitamento no conluio dos afetos. É que no terreno do amor um passa a ser o
outro e vice-e-versa, a viver pelo outro, a fazer tudo pelo outro,
desmedidamente. Os dois passam a ser um: a unidade dos sentimentos. Isso sem
contar com o febril perfume que vai incentivando aquele desejo desenfreado no
mel da paixão avassaladora, acendendo a volúpia possante que desemboca num sim
pro namoro das almas desgarradas. É aí que se perde a noção de si em mil
ternuras que explodem demonstradas, milhões de carinhos dedicados, zis
encantações afloradas, tudo em nome da entrega absoluta dos quereres mais
arraigados. É o amor e quando ele reina não há espaço para mais nada. Ah é o
amor na vez do seu domínio e com ele vem a febre do desejo ardendo, o fogo da
paixão atiçando, os corpos pelando na combustão amorosa, tudo levando a saciar
carências sedentas para satisfação do prazer de todas alucinações. Por causa
dele, o sol brilha mais veemente, a vida é mais espetacular, o mundo passa a
merecer a razão de se estar vivo, o universo é uma mera distância que exalta a
infinitude do idílio, a natureza é o palco para a real felicidade. Amar, por
isso, é o sentimento mais sublime de comunhão humana. É nele que tudo é vivo,
tudo é verdadeiro, tudo é a mais real manifestação verdadeira de vida. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
A arte de Tessa Kuragi
PENSAMENTO DO DIA – Quanto
mais a pessoa aprende e percebe, tanto maior será a sua capacidade para assimilação
ulterior. Com as curiosidades novas surgem novas receptividades e com o
acréscimo adquirido de conhecimentos surgem novas curiosidades. Pensamento do
filósofo e pedagogo estadunidense John Dewey (1859-1952). Veja mais aqui
e aqui.
EDUCAÇÃO – [...] A educação é um
processo em que a criança ou o adulto convive com outro e ao conviver com o
outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz
progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência. [...]. Trecho extraído da obra Emoções e linguagem na educação e na política (UFMG, 1998), do
neurobiólogo chileno e criador da teoria da autopoiese e da biologia do
conhecer, Humberto Maturana. Veja mais aqui.
PÍRAMO & TISBE – Segundo a lenda,
os frutos da árvore eram brancos, mas tornaram-se vermelhos depois da morte dos
amantes Píramo e Tisbe. Noite após noite, eles sussurravam confidencias
românticas por um buraco na parede entre seus quartos. Finalmente, incapaz de
suportar a separação, Píramo sugeriu um encontro no túmulo de Ninus, ao lado de
uma árvore que conheciam. Tisbe rastejou diretamente até o túmulo, mas quando
chegou lá, se apavorou vendo uma leoa sobre uma presa recém-capturada. De sua
boca pingava sangue. Quando Tisbe tentou fugir, a leoa arrancou sua capa mas
ela conseguiu escapar. Logo Píramo chegou, viu a capa rasgada e a leoa
devorando uma carcaça e supôs que sua amada estava sendo devorada enquanto ele
observava. Agonizando conbre a morte de Tisbe, louco de desespero, ele tomou
sua espada e mergulhou-a em seu flanco; o sangue jorrou por toda árvore.
Finalmente, Tisbe voltou ao túmulo. De longe, ela pôde ver que a leoa se fora,
e correu a esperar seu amado, como planejado. Mas, para seu horror, encontrou-o
deitado morto no chão, viu sua espada e sua capa manchada de sangue a seu lado,
e compreendeu imediatamente o que devia ter acontecido. “Seu amor por mim
matou-o”, ela gritou. “Está bem, eu também posso ser corajosa. Eu também posso
provar meu amor. Somente a morte poderia ter-nos separado, mas agora nem mesmo
a morte irá afastar-nos”. Com isso, ela mergulhou a espada em seu coração e
morreu ao lado dele. Como única testemunha da cena trágica, a árvore sentiu
tamanha piedade dos amantes que manchou todos os seus frutos de vermelho,
lembrete para o passante do destino dos amantes, e da distância até onde as
pessoas podem chegar por amor. Trecho extraído da obra Uma história natural do amor (Bertrand
Brasil, 1997), da escritora e naturalista estadunidense Diane Ackerman. Veja mais aqui e aqui.
EURÍDICE - Temos um só corpo / singular, solitário / a alma teve que baste /ali
dentro fechada / caixa com olhos e orelhas / do tamanho de um botão / e a pele
– costura após costura – / cobrindo a estrutura óssea / sai da córnea voando / para
o cálice celeste / para o gelado raio / da roda voadora das aves / e escuta
pelas grades / da sua cela viva / o crepitar do bosque e da seara / e a trombeta
dos sete mares / corpo sem alma é pecado / é um corpo sem camisa / nada feito
sem intenção / sem inspiração, nenhuma linha / insolúvel charada: / quem no fim
irá voltar / à pista de dança quando / ninguém houver para dançar? / sonhei com
uma alma outra / de um modo outro vestida: / ardia na fuga / da timidez à
esperança / espirituosa e límpida / como o fogo habita a terra / sobre a mesa
pondo lilases / para que lembrada seja / corre, criança, não pares / pela pobre
Eurídice / rola o arco e a gancheta / no mundo roda / até subires uma oitava / no
tom alegre, e calma / porque a cada passo a terra / faz soar guizos nos teus
ouvidos. Poema do poeta e tradutor russo Arseny Tarkovsky (1907-1989).
A arte de Tessa Kuragi
LUZIMENTO
Espasmos deslumbrantes
de luzes que cintilam no horizonte
onde fogos de artifícios
misturam-se à ribalta.
Sirenes estridentes
e buzinas dilacerantes
entrecortam o silêncio
desta noite chuvosa.
Garoa fina,
como de tantas noites.
Passos rápidos, muito rápidos,
de pedestres que vão vem e voltam
para lá e cá e além.
Gritos, gargalhadas e sussurros
choros, teses, debates
bate-papos num botequim do Bixiga.
Esta cidade cinza
salpicada de verde e vermelho...
És mãe amorosa
de braços longos
recebendo filhos de tuas entranhas e outras.
És carrasca
a arrebatar frágeis
a sufocar humildes
com ostentações e misérias
És puta fogosa
parindo incessantemente
e vomitando seus ovários
sobre sua prole.
Mas acima de tudo és bela.
Como és bela!
com tuas luzes cintilando no horizonte
onde fogos de artifícios
misturam-se à ribalta.
URBANÓIDES
O rato ronda rastejante pelas ruas enraizadas do centro.
Asfalto,
concreto,
cimento,
restos de restos de comida, latrinas entupidas
odor de urina podre misturada à fumaça do cachimbo do craqueiro,
em becos escuros e calçadas molhadas,
em córregos sujos e entulhos fétidos
nos lamaçais das enchentes e nos cofres públicos.
Prostitutas de lábios rubros
desfilam seus pares de coxas
carnudas e roxas de heróicas picadas.
Ouve-se uma sirene.
Alguns se escondem,
outros picam o cartão de ponto que inicia a nova jornada.
Amanhece,
e o sol trás consigo o cheiro do café fresco
e o periódico matinal
exibindo entre outras coisas
as sangrentas tragédias urbanas banais,
as mesmas que serão servidas mais tarde
no almoço e depois no jantar
acompanhadas por deliciosos assados
e um bom filet ao molho pardo.
E o rato prossegue sua ronda,
sendo empurrado ao seu destino
como passageiros em trens lotados.
Como todos, é engolido pela lastimável paisagem
que nenhum artista até hoje ousou modificar.
Talvez porque dentre as tintas
faltasse a principal:
A dignidade.
ABSTRAÇÕES
Se sexo fosse feio, sujo ou ruim, a humanidade já teria se extinguido.
Somos a prova viva do prazer. Apesar de muitos de nós termos sidos feitos nas coxas ou sermos filhos de masturbação.
Eu por exemplo: fui feita no portão.
ENCONTRO
Inferno? Conheço!
Já estive ali várias vezes.
É! Essa vida de vindas e voltas!
Tantas voltas o mundo envolta.
Céu? Também conheço!
Estive lá várias vezes.
Talvez o desejo de lá ficar
entornou-me direto para ali.
É! Essa vida de vindas e voltas!
Tantas voltas o mundo revolve
Talvez o eixo não encaixe ali,
nem lá
Talvez o eixo seja...
o meio... termo
...em...
mim
REFLEXÃO
Eu vago por versos frágeis
- Não sou poeta -
Escrevo porque minh’alma clama, insiste
Estou triste!
Agarro-me à realidade
como alguém em um penhasco
se agarra aos cascalhos e raízes
para não cair.
Mas que realidade é essa?
A minha ou a dos outros?
LIÇÃO DE FÍSICA Nº 3: ÓTICA
Este amor,
que tanto bem me fez
e tanto mal também
Espelho de Narciso,
Reflexos de Górgonas,
Cabelos de ser pentes.
Meu corpo luta
para não ceder a transformação
em pedra, matéria bruta
rocha concreta,
o mesmo material
que vi refletido em seus olhos,
em sua alma.
Meu amado já não é o que amei,
Imagem que criei ou que criaste:
Reflexão, holograma,
ilusão de ótica,
apenas imagem imortalizada
na fotografia que minhas retinas
revelaram na menina dos meus olhos.
Menina estúpida e ingênua,
que um dia acreditou
que o Amor poderia existir.
E Pode...
ÉROS MAL-CRIADO
Quem sabe o que é Amor?
Acaso existiu este deus cego e ingênuo, com cara e atos de criança mal criada, sempre a nos pregar peças?
Querêmo-lo livre, nos sufoca,
Querêmo-lo puro, embriaga-nos,
Querêmo-lo perto, repudiá-nos,
Querêmo-lo longe, nos persegue,
Inconstante, inconveniênte, impávido,
Anda por aí acertando-nos com suas flexas,
sem restrições, sem licença.
Não avisa quando chega,
Não sai sem estardalhaço.
Acaso Amor é punição? prisão? dor?
Éros mal-educado,
Minha psiquê tá de mal de você.
BONITINHA...MAS ORDINÁRIA
Mergulhei, me afoguei me perdi
no mar dos teus olhos, me perdi.
Perdi tanto dinheiro e falí.
Fugi pra Cochabamba e Parí,
Brás, Brasília, Brasiléia e subi
ao Monte Caucáso me prendi.
Saltei no precipício e descri.
Comi buchada de bode e sushi.
Parti pensando em você, eu menti.
Sem perceber eu menti
Menti a mim mesma, eu menti.
Talvez por medo eu menti.
Agora senti
que nada vale sem ti.
PSICOTRÓPICOS
Não me esconda,
Conta!
As contas do seu colar.
Argolas
me enrolam,
me faz delirar!
As contas, os doces, as bolas,
o exctase da paixão.
Tesão
A mão desliza na pele
branca,
arranca de um só golpe
o coração.
Matou,
Sangrou,
Aqui um jazz,
um tiro,
o vício,
assusta demais a emoção.
Penetra,
Adentra,
Estraçalha a vida,
destrói a mente
Mente,
Simplesmente
a útima!
Nunca mais, então.
Mas jaz na veia,
o pó na narina,
a dor do 'quero mais'.
Não mais,
Já Elvis
Elis e Cassia Eller,
A dose dessa vez foi demais.
RASCUNHOS
Patético pensamento instantâneo
condensado nas paginas de um caderno.
O duto condutor de grafiti-petróleo.
Quantos já morreram por ele?
Castelos infláveis interferem minha visão.
Abro janelas e a persepção se esvai.
Sinto, logo desisto de pensar.
A cada instante paredes mudam de posição.
Interfiro intrisecamente nas entranhas da solidão.
Parte de mim acomoda-se
Outra parte incomoda
a vizinha do setenta e quatro.
Do elevador sente-se o cheiro
de ópium e gasolina,
o botão do gás ligado.
Agora é só acender a luz
Passando a limpo
passado, presente e futuro
passado a limpo
poucos instantesme separam
daquilo que fui
do que poderia ter sido
dentro em breve
o silêncio
e o nada.
SAUDADES DE QUE???
Então descobri-me só
abri a janela e te vi
em cada nota,
em cada estribilho,
em cada gota de chuva.
Infernal platonicidade
de ter-te só em pensamento.
Nem sequer um beijo,
Nem sequer um afago,
Nem teu suor,
Nem teu corpo e o meu...
Nem teu cheiro,
pra deixar em meus sentidos
um pingo de saudade
do que nem sequer se fez
ABSTRAÇÕES
Se sexo fosse feio, sujo ou ruim, a humanidade já teria se extinguido.
Somos a prova viva do prazer. Apesar de muitos de nós termos sidos feitos nas coxas ou sermos filhos de masturbação.
Eu por exemplo: fui feita no portão.
ODE A MORPHEUS
Morpheus, me leve
em seus braços
enquanto a chuva cai
e refresca minh’alma incandescente!
Morpheus, me leve a Netuno
no meio do mar azul!
Me deixe voar nas asas de Ícaro
e beber o néctar de Baco!
Morpheus, me ajude
a enfrentar o Minotauro
no labirinto de meu ser
e desenrolar o fio de Ariadne!
Morpheus, me leve ao Monte Cáucaso!
O abutre não pode permanecer
devorando o fígado de Prometeu.
Deixe-me desatá-lo!
Morpheus,
quero quebrar o espelho de Narciso
e fechar a caixa de Pandora
antes que o primeiro mal se liberte!
Morpheus, deixe-me dormir em seus braços,
e acordar sem você.
Foto W. Pellegrini
ODE A CHRONOS
Cronos,
Senhor dos destinos,
que engole as horas.
Meus dias lentos,
minhas noites curtas!
Cronos, implacável!
Destrói e renova a vida.
Desgasta a pedra
que vira areia
com que brinca a ampulheta.
Cronos,
Senhor que dita as regras,
Senhor do inesperado.
Transforma tudo,
Modela-me ao seu molde,
Presenteia-me com seus ciclos!
Quero-te diáfano,
“entorpecido de vinho e vida”.
Nas linhas da sua mão
Escritos de um mar morto.
Dispa-se do temor que te encobre.
É tão belo teu corpo nu!
Devias andar somente nu.
Espalhei tinta na tela
Espelhei uma aquarela
pra prender o seu olhar
quero a paz...
a douçura do fruto colhido no pé
o riso da criança estampado em meu rosto.
simples e completo.
as coisas belas tronaram-se fúteis com o tempo.
a conteplação perdeu lugar para a violêcia.
o almoço em frente a tela sangrenta
enquanto sabereamos deliciosos assados.
o amor, a amizade, o respeito são coisas cafonas e antiguadas,
mas a droga que uso e me consome...isso é o que há!
contradições...
mas EU...EU QUERO O AMOR, A PAZ, A BELEZA, E A CONTEMPLAÇÃO.
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