quarta-feira, julho 02, 2008

ARSENY TARKOVSKY, MATURANA, DEWEY, ACKERMAN, TESSA KURAGI, PÍRAMO & TISBE, ALÊ CAVAGNA & QUANDO QUEM MANDA É O AMOR


 
A arte de Tessa Kuragi

QUANDO QUEM MANDA É O AMOR – Imagem: Tessa Kuragi - Vai a vida e nem aí. Tudo vai meio insosso, meia boca, tudo bem. Tudo sem sobressaltos, sem atropelos, até à toa e nos conformes, escorrendo na calha do racional, nem insinuando qualquer saída dos trilhos das metas ao alvo determinado. E é nessa hora que a gente se acha seguro, na certeza de que nunca mais definhará ou se submeterá ao estrupício de qualquer paixão. Ledo engano. Nada como uma noite entre um dia e outro para provar que, do inopinado, tudo se vira de pernas pro ar. Aí, segurar o tranco é que são elas, força redobrada no braço, pulso firme, punho determinado. De nada adianta quando quem manda é o amor, nada mesmo. Basta rolar um clima que ninguém, mas ninguém mesmo, sabe de onde vem, onde se escondia ou de que raio de lugar chega a eclodir. E rola mesmo assim, do nada. Só se sente o flagra quando toca uma daquelas canções na pele da alma, como a do João Bosco, que diz "(...) o amor quando acontece a gente logo esquece que sofreu um dia...". Isso apenas só um olhar nada pretensioso que cruza sorrateiro na exaltação do flerte e traz o arrepio no corpo atravessando toda espinha dorsal. Chega com um frio no plexo solar minando o coração e acedendo a libido. Nessa hora as idéias dão um nó e seja lá o que deus quiser. Mesmo assim, tudo é percebido como nada demais, levando a crer que vai se sair ileso: é só para ficar, mais nada. Nada o quê? Compelido pela imantação dos seres, vem surgindo devagar àquela revolução no peito que de tão estrondosa não se sabe bem o que é, mas que desarruma tudo a ponto de se desejar ardentemente estar ao lado daquela pessoa que vira tudo dos pés à cabeça. Na maior desorganização o desgoverno reina na convergência dos olhares, na timidez insinuada, no encontro agradável aonde cada um vai se surpreendendo mais com o outro, uma gentileza infinita, uma identificação exaltada. E quando dar fé, nossa, um talqualzinho o outro, quanta coincidência, hem? Pois é, mesmo nem sendo tão parecidos assim, tudo se inclina pro estreitamento no conluio dos afetos. É que no terreno do amor um passa a ser o outro e vice-e-versa, a viver pelo outro, a fazer tudo pelo outro, desmedidamente. Os dois passam a ser um: a unidade dos sentimentos. Isso sem contar com o febril perfume que vai incentivando aquele desejo desenfreado no mel da paixão avassaladora, acendendo a volúpia possante que desemboca num sim pro namoro das almas desgarradas. É aí que se perde a noção de si em mil ternuras que explodem demonstradas, milhões de carinhos dedicados, zis encantações afloradas, tudo em nome da entrega absoluta dos quereres mais arraigados. É o amor e quando ele reina não há espaço para mais nada. Ah é o amor na vez do seu domínio e com ele vem a febre do desejo ardendo, o fogo da paixão atiçando, os corpos pelando na combustão amorosa, tudo levando a saciar carências sedentas para satisfação do prazer de todas alucinações. Por causa dele, o sol brilha mais veemente, a vida é mais espetacular, o mundo passa a merecer a razão de se estar vivo, o universo é uma mera distância que exalta a infinitude do idílio, a natureza é o palco para a real felicidade. Amar, por isso, é o sentimento mais sublime de comunhão humana. É nele que tudo é vivo, tudo é verdadeiro, tudo é a mais real manifestação verdadeira de vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


A arte de Tessa Kuragi

PENSAMENTO DO DIA – Quanto mais a pessoa aprende e percebe, tanto maior será a sua capacidade para assimilação ulterior. Com as curiosidades novas surgem novas receptividades e com o acréscimo adquirido de conhecimentos surgem novas curiosidades. Pensamento do filósofo e pedagogo estadunidense John Dewey (1859-1952). Veja mais aqui e aqui.

EDUCAÇÃO – [...] A educação é um processo em que a criança ou o adulto convive com outro e ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência. [...]. Trecho extraído da obra Emoções e linguagem na educação e na política (UFMG, 1998), do neurobiólogo chileno e criador da teoria da autopoiese e da biologia do conhecer, Humberto Maturana. Veja mais aqui.

PÍRAMO & TISBESegundo a lenda, os frutos da árvore eram brancos, mas tornaram-se vermelhos depois da morte dos amantes Píramo e Tisbe. Noite após noite, eles sussurravam confidencias românticas por um buraco na parede entre seus quartos. Finalmente, incapaz de suportar a separação, Píramo sugeriu um encontro no túmulo de Ninus, ao lado de uma árvore que conheciam. Tisbe rastejou diretamente até o túmulo, mas quando chegou lá, se apavorou vendo uma leoa sobre uma presa recém-capturada. De sua boca pingava sangue. Quando Tisbe tentou fugir, a leoa arrancou sua capa mas ela conseguiu escapar. Logo Píramo chegou, viu a capa rasgada e a leoa devorando uma carcaça e supôs que sua amada estava sendo devorada enquanto ele observava. Agonizando conbre a morte de Tisbe, louco de desespero, ele tomou sua espada e mergulhou-a em seu flanco; o sangue jorrou por toda árvore. Finalmente, Tisbe voltou ao túmulo. De longe, ela pôde ver que a leoa se fora, e correu a esperar seu amado, como planejado. Mas, para seu horror, encontrou-o deitado morto no chão, viu sua espada e sua capa manchada de sangue a seu lado, e compreendeu imediatamente o que devia ter acontecido. “Seu amor por mim matou-o”, ela gritou. “Está bem, eu também posso ser corajosa. Eu também posso provar meu amor. Somente a morte poderia ter-nos separado, mas agora nem mesmo a morte irá afastar-nos”. Com isso, ela mergulhou a espada em seu coração e morreu ao lado dele. Como única testemunha da cena trágica, a árvore sentiu tamanha piedade dos amantes que manchou todos os seus frutos de vermelho, lembrete para o passante do destino dos amantes, e da distância até onde as pessoas podem chegar por amor. Trecho extraído da obra Uma história natural do amor (Bertrand Brasil, 1997), da escritora e naturalista estadunidense Diane Ackerman. Veja mais aqui e aqui.

EURÍDICE - Temos um só corpo / singular, solitário / a alma teve que baste /ali dentro fechada / caixa com olhos e orelhas / do tamanho de um botão / e a pele – costura após costura – / cobrindo a estrutura óssea / sai da córnea voando / para o cálice celeste / para o gelado raio / da roda voadora das aves / e escuta pelas grades / da sua cela viva / o crepitar do bosque e da seara / e a trombeta dos sete mares / corpo sem alma é pecado / é um corpo sem camisa / nada feito sem intenção / sem inspiração, nenhuma linha / insolúvel charada: / quem no fim irá voltar / à pista de dança quando / ninguém houver para dançar? / sonhei com uma alma outra / de um modo outro vestida: / ardia na fuga / da timidez à esperança / espirituosa e límpida / como o fogo habita a terra / sobre a mesa pondo lilases / para que lembrada seja / corre, criança, não pares / pela pobre Eurídice / rola o arco e a gancheta / no mundo roda / até subires uma oitava / no tom alegre, e calma / porque a cada passo a terra / faz soar guizos nos teus ouvidos. Poema do poeta e tradutor russo Arseny Tarkovsky (1907-1989).


A arte de Tessa Kuragi


MUSA DA SEMANA: Alessandra Cavagna além de uma linda mulher é atriz, poeta, autora teatral, diretora artística da Impávida Troupe de Teatro Popular e da Cooperativa Paulista de Teatro.

LUZIMENTO

Espasmos deslumbrantes
de luzes que cintilam no horizonte
onde fogos de artifícios
misturam-se à ribalta.
Sirenes estridentes
e buzinas dilacerantes
entrecortam o silêncio
desta noite chuvosa.
Garoa fina,
como de tantas noites.
Passos rápidos, muito rápidos,
de pedestres que vão vem e voltam
para lá e cá e além.
Gritos, gargalhadas e sussurros
choros, teses, debates
bate-papos num botequim do Bixiga.
Esta cidade cinza
salpicada de verde e vermelho...
És mãe amorosa
de braços longos
recebendo filhos de tuas entranhas e outras.
És carrasca
a arrebatar frágeis
a sufocar humildes
com ostentações e misérias
És puta fogosa
parindo incessantemente
e vomitando seus ovários
sobre sua prole.
Mas acima de tudo és bela.
Como és bela!
com tuas luzes cintilando no horizonte
onde fogos de artifícios
misturam-se à ribalta.

URBANÓIDES

O rato ronda rastejante pelas ruas enraizadas do centro.
Asfalto,
concreto,
cimento,
restos de restos de comida, latrinas entupidas
odor de urina podre misturada à fumaça do cachimbo do craqueiro,
em becos escuros e calçadas molhadas,
em córregos sujos e entulhos fétidos
nos lamaçais das enchentes e nos cofres públicos.
Prostitutas de lábios rubros
desfilam seus pares de coxas
carnudas e roxas de heróicas picadas.
Ouve-se uma sirene.
Alguns se escondem,
outros picam o cartão de ponto que inicia a nova jornada.
Amanhece,
e o sol trás consigo o cheiro do café fresco
e o periódico matinal
exibindo entre outras coisas
as sangrentas tragédias urbanas banais,
as mesmas que serão servidas mais tarde
no almoço e depois no jantar
acompanhadas por deliciosos assados
e um bom filet ao molho pardo.
E o rato prossegue sua ronda,
sendo empurrado ao seu destino
como passageiros em trens lotados.
Como todos, é engolido pela lastimável paisagem
que nenhum artista até hoje ousou modificar.
Talvez porque dentre as tintas
faltasse a principal:
A dignidade.


ABSTRAÇÕES

Se sexo fosse feio, sujo ou ruim, a humanidade já teria se extinguido.
Somos a prova viva do prazer. Apesar de muitos de nós termos sidos feitos nas coxas ou sermos filhos de masturbação.
Eu por exemplo: fui feita no portão.

ENCONTRO

Inferno? Conheço!
Já estive ali várias vezes.
É! Essa vida de vindas e voltas!
Tantas voltas o mundo envolta.
Céu? Também conheço!
Estive lá várias vezes.
Talvez o desejo de lá ficar
entornou-me direto para ali.
É! Essa vida de vindas e voltas!
Tantas voltas o mundo revolve
Talvez o eixo não encaixe ali,
nem lá
Talvez o eixo seja...
o meio... termo
...em...
mim


REFLEXÃO

Eu vago por versos frágeis
- Não sou poeta -
Escrevo porque minh’alma clama, insiste
Estou triste!
Agarro-me à realidade
como alguém em um penhasco
se agarra aos cascalhos e raízes
para não cair.
Mas que realidade é essa?
A minha ou a dos outros?

LIÇÃO DE FÍSICA Nº 3: ÓTICA

Este amor,
que tanto bem me fez
e tanto mal também
Espelho de Narciso,
Reflexos de Górgonas,
Cabelos de ser pentes.
Meu corpo luta
para não ceder a transformação
em pedra, matéria bruta
rocha concreta,
o mesmo material
que vi refletido em seus olhos,
em sua alma.
Meu amado já não é o que amei,
Imagem que criei ou que criaste:
Reflexão, holograma,
ilusão de ótica,
apenas imagem imortalizada
na fotografia que minhas retinas
revelaram na menina dos meus olhos.
Menina estúpida e ingênua,
que um dia acreditou
que o Amor poderia existir.
E Pode...


ÉROS MAL-CRIADO

Quem sabe o que é Amor?
Acaso existiu este deus cego e ingênuo, com cara e atos de criança mal criada, sempre a nos pregar peças?
Querêmo-lo livre, nos sufoca,
Querêmo-lo puro, embriaga-nos,
Querêmo-lo perto, repudiá-nos,
Querêmo-lo longe, nos persegue,
Inconstante, inconveniênte, impávido,
Anda por aí acertando-nos com suas flexas,
sem restrições, sem licença.
Não avisa quando chega,
Não sai sem estardalhaço.
Acaso Amor é punição? prisão? dor?
Éros mal-educado,
Minha psiquê tá de mal de você.

BONITINHA...MAS ORDINÁRIA

Mergulhei, me afoguei me perdi
no mar dos teus olhos, me perdi.
Perdi tanto dinheiro e falí.
Fugi pra Cochabamba e Parí,
Brás, Brasília, Brasiléia e subi
ao Monte Caucáso me prendi.
Saltei no precipício e descri.
Comi buchada de bode e sushi.
Parti pensando em você, eu menti.
Sem perceber eu menti
Menti a mim mesma, eu menti.
Talvez por medo eu menti.
Agora senti
que nada vale sem ti.


PSICOTRÓPICOS

Não me esconda,
Conta!
As contas do seu colar.
Argolas
me enrolam,
me faz delirar!
As contas, os doces, as bolas,
o exctase da paixão.
Tesão
A mão desliza na pele
branca,
arranca de um só golpe
o coração.
Matou,
Sangrou,
Aqui um jazz,
um tiro,
o vício,
assusta demais a emoção.
Penetra,
Adentra,
Estraçalha a vida,
destrói a mente
Mente,
Simplesmente
a útima!
Nunca mais, então.
Mas jaz na veia,
o pó na narina,
a dor do 'quero mais'.
Não mais,
Já Elvis
Elis e Cassia Eller,
A dose dessa vez foi demais.

RASCUNHOS

Patético pensamento instantâneo
condensado nas paginas de um caderno.
O duto condutor de grafiti-petróleo.
Quantos já morreram por ele?
Castelos infláveis interferem minha visão.
Abro janelas e a persepção se esvai.
Sinto, logo desisto de pensar.
A cada instante paredes mudam de posição.
Interfiro intrisecamente nas entranhas da solidão.
Parte de mim acomoda-se
Outra parte incomoda
a vizinha do setenta e quatro.
Do elevador sente-se o cheiro
de ópium e gasolina,
o botão do gás ligado.
Agora é só acender a luz
Passando a limpo
passado, presente e futuro
passado a limpo
poucos instantesme separam
daquilo que fui
do que poderia ter sido
dentro em breve
o silêncio
e o nada.


SAUDADES DE QUE???

Então descobri-me só
abri a janela e te vi
em cada nota,
em cada estribilho,
em cada gota de chuva.
Infernal platonicidade
de ter-te só em pensamento.
Nem sequer um beijo,
Nem sequer um afago,
Nem teu suor,
Nem teu corpo e o meu...
Nem teu cheiro,
pra deixar em meus sentidos
um pingo de saudade
do que nem sequer se fez

ABSTRAÇÕES

Se sexo fosse feio, sujo ou ruim, a humanidade já teria se extinguido.
Somos a prova viva do prazer. Apesar de muitos de nós termos sidos feitos nas coxas ou sermos filhos de masturbação.
Eu por exemplo: fui feita no portão.

ODE A MORPHEUS

Morpheus, me leve
em seus braços
enquanto a chuva cai
e refresca minh’alma incandescente!
Morpheus, me leve a Netuno
no meio do mar azul!
Me deixe voar nas asas de Ícaro
e beber o néctar de Baco!
Morpheus, me ajude
a enfrentar o Minotauro
no labirinto de meu ser
e desenrolar o fio de Ariadne!
Morpheus, me leve ao Monte Cáucaso!
O abutre não pode permanecer
devorando o fígado de Prometeu.
Deixe-me desatá-lo!
Morpheus,
quero quebrar o espelho de Narciso
e fechar a caixa de Pandora
antes que o primeiro mal se liberte!
Morpheus, deixe-me dormir em seus braços,
e acordar sem você.

Foto W. Pellegrini

ODE A CHRONOS

Cronos,
Senhor dos destinos,
que engole as horas.
Meus dias lentos,
minhas noites curtas!
Cronos, implacável!
Destrói e renova a vida.
Desgasta a pedra
que vira areia
com que brinca a ampulheta.
Cronos,
Senhor que dita as regras,
Senhor do inesperado.
Transforma tudo,
Modela-me ao seu molde,
Presenteia-me com seus ciclos!
Quero-te diáfano,
“entorpecido de vinho e vida”.
Nas linhas da sua mão
Escritos de um mar morto.
Dispa-se do temor que te encobre.
É tão belo teu corpo nu!
Devias andar somente nu.
Espalhei tinta na tela
Espelhei uma aquarela
pra prender o seu olhar

quero a paz...
a douçura do fruto colhido no pé
o riso da criança estampado em meu rosto.
simples e completo.
as coisas belas tronaram-se fúteis com o tempo.
a conteplação perdeu lugar para a violêcia.
o almoço em frente a tela sangrenta
enquanto sabereamos deliciosos assados.
o amor, a amizade, o respeito são coisas cafonas e antiguadas,
mas a droga que uso e me consome...isso é o que há!
contradições...

mas EU...EU QUERO O AMOR, A PAZ, A BELEZA, E A CONTEMPLAÇÃO.

Ale Cavagna também edita o blog Noites de Insônia, confira.

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MUSA DA SEMANA



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Ingresia dum chato de galocha, Graciliano Ramos, Dylan Thomas, Vanessa-Mae, Piero della Francesca, Maria Della Costa, Antonio Carlos Fontoura, Maria Zilda Bethlem, Zizi Smail & Humor e alegria na educação aqui.

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Propriedade industrial no Código Civil aqui. 
A poesia de Suzana Mafra aqui.
Erich Fromm, Teste da Goma & outras loas aqui.
A graviola do Padre Bidião aqui.
A poesia de Manoel Benetvi aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitora comemorando a festa do Tataritaritatá! (Arte Ísis Nefelibata)
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra:
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.