Imagem: Acervo ArtLAM.
Ao som do álbum Pure (Decca Records, 2003),
do DVD Live from New Zealand (Decca Records, 2004)
e Pie Jesu – Vietnam no National Memorial Day
Concert in Washington (2011), da soprano neozelandesa Hayley
Westenra.
UMA QUASE CANÇÃO DE AUTOEXÍLIO... - Já morri duas vezes: a primeira aos 10 anos de
idade; a outra, aos 23 – afora outras tantas passageiras no meu
dia-a-dia. Como a morte se abestalhava, escapulia. Mas antes de anteontem ela
reapareceu. Quem não desespera com a presença dela por perto? Ao contrário dos
estereótipos todos, ela era fascinantemente sedutora. Achegou-se com elegância,
aboletou-se ao meu lado e não perdeu tempo: E a vida, hem? Apesar dos pesares,
muito bonita: É bom viver! Além de linda, sabia, era inarredavelmente
poderosíssima! Ela, então, estalou os dedos e um caleidoscópio instantâneo
fez-se filme com todo inventário humano: guerras, fome, injustiças, misérias.
Isso é bom? Não. A quem você quer enganar? Tudo era impressionante e insistia
em meus olhos não aceitar nada daquilo: uma flor desabrochava, uma criança
estendia a mão, um gesto de solidariedade na esquina... Pode sonhar! Só
acontece mesmo na sua cabeça de tolo. Não acredito. Quer subestimar minha
inteligência? E disse-me Dorothy Eden: O perigo, claro, residia na sua curiosidade, na sua inteligência e nos
seus olhos obstinadamente observadores... Sempre prestei atenção a
tudo no mundo e na vida. Lendo-me os pensamentos sussurrou: Memento mori...
Ao invés de mim isto deveria ser pronunciado pros que se acham donos do mundo e
das coisas, surpreendendo os valentões, os ricaços de todos os mandos e os
fanáticos da fé. Fitou-me grave e, novamente, os seus dedos agitaram no ar
apontando para um salão que surgiu de repente e, no bico da quina do adeus,
lá estava: a rainha neandertal ressuscitara mais agnotológica que antes, com
suas muitas formas ageótipas de se mostrar tão bela e metida com seus bruxedos
medievais - carecia de espiar direito ali os seus zis e ardilosos disfarces. Estava
a dita ressurreta ali envolvida com uma romaria escatológica e um coro tóxico
aos berros cantantes: A humanidade fracassou! Glória, Jesus! O além-humano
morreu! Aleluia! Era uma louca Babel e tudo girava em delírio, como se o
come-cu (STSS) devorasse silenciosa e mortalmente as suas entranhas. Uma cena
deprimente aquela, mais uma. E o pior era a constatação de que a arte, a
filosofia, as ciências, todas sucumbiram àquele ato, ali enterradas
definitivamente. E logo vi todos se aprontarem para possante marcha sob os
supostos auspícios do todo-poderoso deles. Oh! Era um sinal de rasga-mortalha:
o mundo vai acabar! Arrodeavam o cerimonial de uma cova dantesca com enorme
pedra sobre. Se era aterrorizante, o medo a favor. Muito desesperador. Enquanto
presenciava tudo aquilo, a atraente parca visitante roubava a cena cochichando ao
meu ouvido Cressida Cowell: As ações têm consequências e um preço
deve ser pago; há coisas que não podem ser desfeitas... Era um alerta e me
fez sofrer tanto de ficar com o juízo meio mole. Coisa boa aquilo não era, a
insônia de Cioran. Sim, eu me sentia bipolar: uma montanha russa no
escuro, cético, niilista. Tal Mark Twain diante de um urso polar, com
minha amnésia infantil - cada um com a sua loucura: incompleto, finito e o
inesperado esmagador. A senhora libitina percebeu o quanto tudo aquilo calou
fundo dentro de mim: mais uma das minhas tantas quedas num poço sem fundo da já
inexistente Alagoinhanduba. Socorreu-me remediável com a presença do Eduardo
Marinho que aparecera alheio a tudo e pude levar um lero feito o emancipador
conversável do Agostinho da Silva. Toda reunião desconfortável
desaparecera. E a madame do exício sorriu com o meu pronto restabelecimento puxando-me
a um canto secreto e beijou-me: Vá! Apressei o passo cada vez mais longe, ao
deus dará! Sentia-me uma andorinha enfrentando sozinha todos os predadores
algozes. Escapei fedendo, a alma quase se perdendo de desencarnar de vez pelo
barro batido do caminho estreito e mais não tivesse a esperança inútil, o coração
esmagado - a morte só poderia ser vida: o passado e tudo que já foi agora é
dela. Ao meu ouvido sua voz ecoava Bella Akhmadulina: Quem sabe - a
eternidade ou um momento \ Eu tenho que vagar pelo mundo. \ para este momento
ou esta eternidade \ Agradeço também ao mundo... Sobrevivi aos seus
múltiplos encantos e estou aqui, pela terceira vez, pronto pra contar hestória.
Até mais ver.
A
CIGANA ADORMECIDA
(Um
leão cuida de seu livro de sonhos)
Imagem: Acervo ArtLAM.
La
Gitana escreve há anos um trabalho secreto \ que ninguém nunca saberá, \ mas já
começou \ para ser realizado na vida real. \ Enquanto ela continua a sonhar \ Seus
sonhos compõem o mundo. \ O leão, porém, não posso dormir. \ Se você parar de
observá-la, \ ela poderia acordar e nós desaparecemos imediatamente.
Poema
da
poeta e artista chilena Cecilia Vicuña. Veja mais aqui, aqui e aqui.
LA CASA DE LA BELLEZA - [...]
A verdade é
necessária quando há justiça. Mas a verdade sem reparação envenena a alma
[...] Desde
que me lembro, tivemos que cuidar de nossa segurança. Eu sou loira, olhos
azuis, 1,75 de altura, algo cada vez menos exótico no interior, mas na minha
infância tudo um ás na manga para ganhar o carinho das freiras e o tratamento
preferencial dos meus colegas, bem como um foco de atenção que no caso do meu
pai se tornou paranóia de um sequestro que felizmente nunca aconteceu na
família, riqueza e traços Os anglo-saxões contribuíram para o meu isolamento. [...] Sua mãe,
apenas dezesseis anos mais velha que ela, já foi a rainha do bairro, então Ela
pensou que iria acabar pobre, mas acabou grávida de uma loira que falava pouco
espanhol e que ele presumiu ser um marinheiro. Dessa visita furtiva
de amor, a mulata que Ela compartilhou com a mãe não apenas seu sobrenome, mas
também sua beleza e escassez. [...] Entre os apitos dos carros ele avançou saltando por poças
de água até chegar à corrida 11, onde Ele embarcou em um ônibus em ruínas […] Um menino de
cerca de onze anos entrou para vender balas. Ele disse que foi deslocado de
Tolima. Ele disse que tinha
quatro irmãos. Ele disse que era o “chefe da família”. Karen Ele enfiou a
mão na bolsa e entregou-lhe quinhentos pesos antes de ligar para o ponto. [...] Ao cruzar a centena,
ficou atordoada com as buzinas, a fumaça do escapamento, os ônibus verdes e tão
antiga quanto a fome de quem pede esmola […] Algumas mulheres, quase sempre
negras ou indígenas, com os filhos pendurados no peito ou nas costas, seguravam
a criatura em um mão, o papelão na outra, o pote para receber moedas debaixo do
braço, numa lamentável equilíbrio sempre atento à mudança de luz. Ao ficar vermelho,
mendigos, deslocados, bandidos, viciados em drogas, aleijados, charlatões,
desempregados, analfabetos, Abusadas, mutiladas, crianças e mulheres grávidas
assaltam veículos em espetáculo diário tão repetitivo e previsível que já não
surpreende ninguém. [...] Minha mãe morreu quando eu tinha onze anos. Sempre fui bastante
feio. Em todo caso,
nenhuma beleza. Eu sabia pouco sobre homens e relacionamentos, sabia
principalmente por meio de livros. Decidi ser psiquiatra porque cresci ouvindo
meu pai comentar casos e parecia o mais natural. [...] Ainda me lembro
daquela vez em que ele me chamou de “mamãe”. Eu estava distraído
olhando o jornal, Perguntei uma coisa para ele, se ele tinha marcado consulta
no urologista, alguma coisa assim, e sem levantar O chefe do jornal me disse:
“Não, mamãe”, aí ele ficou vermelho de vergonha e o que ele me disse Isso me
deu um ataque de riso. [...] A verdade é que Karen Marcela Ardila, por ter nome do
meio, era O sorriso permaneceu desde que ela ganhou o prêmio Colombian Girl,
aos oito anos. anos. Sua persistência no gesto era tanta que quase não
conseguia mais controlá-lo. Ele sorria o tempo todo momento, mesmo
quando a situação era triste ou dramática, outra razão pela qual Jamais poderia
apresentar algo diferente do segmento de entretenimento. [...] Karen sabia, sua mãe
lhe dissera, que o maior infortúnio de sua mãe fora dar à luz uma mulher porque
"os homens fazem o que querem, enquanto as mulheres "Fazemos o que
temos que fazer." Karen lembra que tinha treze anos quando a ouviu dizer
isso. De Então ele se
perguntou, com cada mulher que conheceu, se ele realmente fazia o que queria ou
o que queria. essa foi a vez dele. [...] Suas conversas com ele estavam se tornando
cada vez mais um ritual dominical e ela temia que com a passagem Com o tempo
ela se tornou uma daquelas mães que um dia foi trabalhar no capital, com quem
aos poucos o tema da conversa se perdia nas ligações todas as vezes mais curto
e mais esporádico [...] “Quando você vem, mãe?”, ele disse finalmente. Já fazia tanto tempo
Eu não liguei para a mãe dela. Ao ouvir aquela palavra ele se sentiu
distante. [...] Aquele cheiro de
terra do mar, de água do mar [...] tirando uma soneca na cadeira de
balanço e a mãe preparando bolinhas de tamarindo na varanda de casa, e dizendo
“menina, não me procure”. porque você vai me encontrar", porque ninguém
mais a chama de menina, ninguém mais a procura, muito menos ela. encontra, ela
não se encontra mais, muito menos sabe onde está, cada vez mais perdida, cada
novamente aqui e ali ao mesmo tempo e ainda em lugar nenhum ao mesmo tempo.
[...]. Trechos extraídos da obra La Casa de la Belleza (Planeta, 2017), da
escritora e jornalista colombiana Melba Escobar. Veja mais aqui.
ANTINOMIAS DO REALISMO - [...] Observei um desenvolvimento curioso que sempre parece
definir quando tentamos manter o fenômeno do realismo firmemente em o olho da
nossa mente. É como se o objeto da nossa meditação começasse a
oscilar, e a atenção para ele se afastar insensivelmente em dois direções
opostas, de modo que finalmente descobrimos que estamos pensando, não sobre o
realismo, mas sobre o seu surgimento; não sobre a coisa em
si, mas sobre sua dissolução. [...] Também perde o grande jogo do narrador onisciente, que é
conhecer segredos que nenhum dos personagens envolvidos jamais aprenderá,
ironicamente levando para o túmulo sua infeliz ignorância. [...] Esta sinédoque, em que a escaramuça representa
a batalha, como recomendou Balzac, é um ataque muito mais directo e enérgico ao
problema impossível da representação colectiva do que qualquer coisa na
Esquerda, que é reduzida a manifestações e marchas, e cujos dilemas são vividamente
dramatizado pelo facto de terem participado nas filmagens de Outubro de
Eisenstein mais actores e figurantes do que o número de participantes reais na
própria revolução bolchevique. [...]
Provavelmente todo o modernismo desperta
isso não necessariamente impulso admirável que muitas vezes assimilamos à
Interpretação como tal; mas aqui, pelo menos, podemos nos perguntar se o
interesse está no conteúdo de tais temas simbólicos e interconexões ou no
sentido ontológico primeiro plano do próprio processo. [...]. Trechos extraídos
da obra The
Antinomies of Realism
(Verso, 2013), do crítico literário estadunidense Fredric Jameson, no
qual trata a respeito das tinomeias do realismo, das fontes gêmeas e impulso narrativo, do afeto ou o presente do corpo; Zola,
ou a Codificação do Afeto; Tolstoi, ou, Distração; Pérez Galdós, ou, o declínio
da protagonicidade; George Eliot e Mauvaise Foi; a dissolução do gênero, a
Terceira Pessoa Inchada, ou Realismo após Realismo, Coda: Kluge, ou Realismo
após Afeto, a lógica do material, as experiências do Tempo: Providência e
Realismo, Guerra e Representação, Vou ser o romance histórico hoje, ou ainda é
possível, entre outros assuntois. Em seus estudos ainda expressou: Alguém disse uma vez que é mais fácil imaginar o fim do mundo
do que imaginar o fim do capitalismo. Podemos agora rever isso e testemunhar a tentativa de
imaginar o capitalismo através da imaginação do fim do mundo. Se tudo fosse transparente, não existiriam
ideologias...
Veja mais aqui, aqui e aqui.
UMBILINA...
[...] todos os seres da terra são instrumentos
de um mistério: tudo começa porque tem que acabar [...] concluiu que
nada vale a pena – nem sofrer, nem ser feliz. Viver não é uma coisa nem outra,
viver é cíclico. [...].
Trechos extraídos da obra Umbilina e sua grande
rival (Autor, 2013), do escritor, dramaturgo e jornalista Cícero Belmar.
&
Oficina-vivência Autogestão da Memória, Museus
Comunitários e Museologia Política, entre os dias 3 a 5 de abril de 2024,
na sede da Sociedade de Cultura Artística 22 de Novembro, no Território Sagrado
Ibarema/Paudalho, reunindo 20 articuladores(as) de Iniciativas de Memória,
Museus Comunitários e Movimentos Sociais de Aliança, Nazaré da Mata, Olinda,
Paudalho, Recife e Tracunhaém. Um evento da ELMP, IBRAM, Funcultura e
NEPE/UFPE. Veja mais aqui.
UM OFERECIMENTO: SANTOS MELO LICITAÇÕES
&
Tem mais:
Curso: Arte supera timidez aqui.
Poemagens & outras versagens aqui.
Diário TTTTT aqui.
Cantarau Tataritaritatá aqui.
Teatro Infantil: O lobisomem Zonzo aqui.
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VALUNA – Vale do Rio Una aqui.
&
Crônica de amor por ela aqui.