4 DE AGOSTO DE 1940
Nasci
atravessado, pelo avesso
E na
véspera
- não
queria deixar o conforto
Do útero
materno.
Enfrentar
não queria
A luz
exterior
Esperneei
gritei berrei
Dias e
anos seguidos
No
desconsolo
No
abandono
No
desterro mais cruel
Entregue
a mim, sem desejar-me
- nunca
perdoarei aquele parte indesejado.
HORIZONTE CERRADO - O primeiro contato que tive com a arte de
Antonio Miranda foi no inicio dos anos 2000, quando tive acesso ao seu texto poético-teatral
Tu país está feliz, registrando seu
trabalho no Poeta do Mês do meu Guia de Poesia. Foi daí que recebi o volume do seu livro Horizonte Cerrado, reunião de contos que muito apreciei,
principalmente O chamado, Volta às origens e A revelação, trazendo fatos, coisas e curiosidades do Planalto
Central.
OS VÁRIOS EUS
(maneirismo literário)
Para
Luiz Alberto Machado
Os meus
vários eus
Se desentendem
e se ofendem
Em posições
irreconciliáveis
Os meus
vários eus
Se defendem
como podem
Exacerbando
as divergências.
Entro em
pânico e me recolho
Execrando
minha existência
Múltipla
e contraditória.
Tento a
paz, a indulgência
Mas a
confusão se instala
Em minha
consciência
Sem qualquer
escapatória.
Nem dormindo
se apazigua
A guerra,
contigua àquela
Atração fatal
dos contrários
Que se
anulam pela contrafação
- pelos
comentários antagônicos
De eus agônicos
e arbitrários
De um
total desentendimento.
E por
falta de melhor argumento
Vão àquela
lavra maneirista
Do recurso
redivivo
Do “palavra-puxa-palavra”
Do admirável
Mario Chamie.
A SENHORA DIRETORA – Um ano depois, tenho a grata satisfação de
receber o volume A senhora diretora e
outros contos, o qual me deliciei lendo o conto título, Kafka explica, ou seria Freud?, Memórias de adolescente ou as confissões do
absurdo e, sobretudo, Memória da pele.
SAUDADES DO FUTURO
Tanto quis
fazer
E me
contive.
Tanto quis
ser.
Imaginei-me
tantas vezes
Onde nunca
estive.
Em menino,
era adulto
Sem poder
Para ocupar
espaços
Que se/me
negavam.
Amores!
Desejei a
quantos
E amei
tantos
Sem tê-los
(conquantos,
portantos)
Por contradizê-los
- eu bem
sei.
Temores!
Preferia
o impossível.
Projetei-me
em situações
Que logo
preteria
Por não
satisfazer-me.
Insaciável
Pelo não
vivido
E almejado
Frustrado
pelo que sentia
Ao ter o
que havia
Superado.
Vivi antecipadamente
O não
acontecido
E relevei
Tantas vezes
Descuidadamente
O que
sentia.
Era feliz
E não
sabia
- diz o
chavão
Em que
não cria
Porque –
então –
Para mim
A felicidade
Era sempre
futura
Em minha
(postiça,
intelectual)
Amargura.
DESPERTAR DAS ÁGUAS – Quando recebi o livro Despertar das águas fique supersurpreso. Já conhecia sua poesia,
todavia, nesse livro ele se inteirava de forma completa no seu ofício de poeta,
repassando tudo, desde o 4 de agosto de
1940 até o último poema do livro, Sobre
o infinito de Giordano Bruno. Ao ler Os
vários eus (maneirismos literários) parece mais que ele fotografou a minha
alma e a mim dedicou o poema. Mas não só isso: Em Saudades do futuro eu estava ali, era eu com todos os eus do poeta.
METAPOEMA
Tudo,
tudo mesmo
Já se
disse em poesia
Mas vale
dizer de novo.
Não se
banha no mesmo
Rio duas
vezes, não se
Lê o
mesmo poema.
E me
descubro em verso
Que já
havia esquecido
- eu,
ido e revivido.
Escreve-se
sempre o
Mesmo poema,
que vai
Desta página
até nunca.
Este verso
e o outro
Que é
sempre o mesmo
E o
outro, lugar algum.
O mesmo
poema é muitos.
MEMÓRIAS INFAMES – No livro Memórias infames ele ataca de primeira com Metapoema – um começo do fim pela pane de Dürrenmatt via dinâmica
heraclitiana arrematando Pessoa de suas muitas metas, até chegar na Janela para dentro:
JANELA PARA DENTRO
Pássaro adiantado
no tempo
- o
inverno anuncia dias calados.
Que me
falem de ti, onde andas.
Sem noticias
e mensagens.
Animais gregários.
Sapatos gastos.
A janela
olhando o horizonte,
O horizonte
dentro da janela.
Olhando para
dentro: sem você.
Quando aportaremos,
seguros?
As paredes
estalam. Estremecemos.
Nada além
disso, é o bastante.
Hora impávida,
ensimesmamento.
Deve haver
outra saída mais adiante.
Uma chuva
letárgica, atrasada
Molha sem
pressa, afogando
Por onde
passo, sem caminho
-
ofegante, buscando sem saber,
Sem saída,
descalço – o dia em falso.
Talvez. Deve
haver outra saída.
As nuvens
espreitam a lo lejos
E me
protege a sombra passageira.
TU PAÍS ESTÁ FELIZ - Finalmente tenho acesso ao texto teatral
publicado Tu país está feliz, em
edição bilíngue da Thesaurus, com apresentação de Anderson Braga Horta e músicas
de Xulio Formoso, no qual destaco O mundo
está cheio de palavras:
O MUNDO ESTÁ CHEIO DE PALAVRAS
O mundo
está cheio de palavras!
Tu consomes
pão e palavras:
Democracia,
liberdade, temor
Felicidade.
O mundo
está cheio de palavras...
E tão
somente uma palavra
Uma tão
só
Derruba tua
coroa
Ou inflama
tua garganta.
O mundo
está cheio de palavras!
HOMENAGEM – Tudo que trago aqui é muito pouco para se
ter uma dimensão da arte desse poeta, escritor, dramaturgo, escultor e
professor maranhense radicado em Brasília. Antonio Miranda além de ser quem é,
desenvolve um trabalho de difusão cultural e artística por toda América Latina,
divulgando e reunindo sua obra no seu sítio que agrega a Poesia Ibero-Americana.
Veja mais sobre:
A arte do advogado, escritor, crítico
literário, jornalista, dramaturgo, diretor, teatrólogo e tradutor Hermilo
Borba Filho (1917-2017) aqui,
aqui,
aqui,
aqui,
aqui
e aqui.
E mais:
Lygia Fagundes Teles & Pomba
enamorada ou uma história de amor aqui.
A poesia de D. H. Lawrence & Milene
Possas Sarquissiano aqui.
A poesia de Pablo Neruda, a Música de
Jane Monheit & a fotografia de Colette Standish aqui.
A poesia de Raymond Radiguet, a pintura
de Thereza Toscano & Para sempe Lilya aqui.
Encruzilhadas aqui.
Arthur Schopenhauer, Johann Nikolaus
Forkel, José Cândido de Carvalho, Victor Brecheret, Luís Buñuel, Iremar Marinho
& Bestiário Alagoano aqui.
Karl Theodor Jaspers, Pablo Picasso,
Georg Friedrich Händel, Fernanda Seno, Eva Green & Demi Moore, Tom
Wesselmann & Soninha Porto aqui.
Os crimes contra a administração pública aqui.
Homofobia, sexualidade, bissexualidade
& educação para as diferenças aqui.
A mulher assíria-babilônia & outras
tiradas, sacadas & outros tataritaritatás aqui.
Interpretação dos sonhos de Freud,
Psicopatologia, Semiologia & Comunicação Linguística aqui.
Os cânticos de Salomão, Anna Akhmatova, a
música de Carl Reinecke & Elza Soares, Chico Buarque & as chicólatras,
Fecamepa & Naldinho Freire aqui.
Ernesto Sábato, Nelson Rodrigues, Antonio
Cândido, Betty Lago, OVNI, A chegada dela no prazer da tarde
& Programa Tataritaritatá aqui.
Mahatma Gandhi, George Orwell, Maurren
Magg & Rick Wakeman aqui.
Autran Dourado, Thomas Mann, Gilberto
Gil, Luiza Possi & Célia Demézio aqui.
Guimarães Rosa, Milton Nascimento &
Caetano Veloso, Isabelle Adjani, Zezé Motta, Rejane Souza, Rafael Nolli &
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