Ao som do grupo
instrumental MaKaMo, formado pelas instrumentistas e compositoras Moema
Macêdo (bandolim), Maíra Macêdo (cavaquinho), Karol Maciel (acordeon) e Gabi
Carvalho (violão).
UM DIA NOUTRO DE AMANHÃS
& ONTENS... – Naquela do quando chove
ou estia, a boia embalada pelo vaivém dos sonhos em redemoinhos trazia a
surpresa da véspera pra reinvenção de outro amanhã. Nem havia senão e sem
precisar o porquê dos quando nem onde as coisas do fim. Mas quem nunca tremeu
diante do perigo, quem jamais se aperreou com adversidades: a felicidade
urgente adoecendo cada vez mais gente, enquanto livros intactos de alta
literatura na biblioteca do telecentro de Campestre são jogados no lixo das
Alagoas. A indignação em dia ressoava como se tomasse vulto pelas acrobacias
dos ventos ecoando Han Kang: O tempo era uma onda,
quase cruel na sua implacabilidade... Então, se um doido bateu à sua porta é só atinar pro ditado do
remédio de um é o outro, afora afastar todo mau olhado, com a irrecusável oportunidade
de se habilitar à sabedoria e, de quebra, ganhar um salvo conduto para a sorte
grande, afinal todo louco é amigo de Deus. É só voar com uns versos de Maria Negroni: A vida é uma jornada rumo ao nada e escrever é um atalho...
mortalmente infinito \ sonhamos que somos... Como o nome chama as coisas é
preciso ter cuidado, falar baixo para não acordá-las e saber que tudo acontece
do impensável: falar pode trair a alma, como diz a lição nativa. E isso vale
também para quem tem posses que vão dali pracolá e a perder de vista, mesmo que
tenha perdido no tempo o que seja de dentro de si mesmo e restar só o perecível
do lado de fora pra valer as rezas de infinitas velas na morte inevitável. Nunca
é demais aprender com Niède
Guidon: O que eu quero é
olhar os outros nos olhos. É não ter que esconder nada. Tudo o que fiz aqui,
procurei fazer o melhor possível... Se já perdia a conta de quantos
recomeços, não será além da conta reinventar a vida uma vez mais, até que
chegue a hora, quem sabe, da remissão neste primitivo tempo em que vivemos...
Até mais ver.
OS NOMES DOS DEFINITIVOS
Imagem: Acervo ArtLAM.
Um único objeto: \ soco de palavras ilegíveis em papel branco \ carcinoma
diz em letras pretas \ (… tempo parou um dois vinte e quatro segundos \ parado.
tempo …) \ câncer de flor impreciso no local da língua da \ glândula parótida \
(… trezentos e dezenove segundos e assim por diante \ até o final dos números
…) \ engolir saliva pela última vez. muito lentamente \ na cama do hospital
está nevando \ tumor pérola milagre minúsculo \ tumor substantivo propenso à
multiplicação \ como a palavra floresta \ Há uma floresta em chamas na
floresta: \ flor textual ereta convallaria não morra \ parasita cefalantera sem
sentido fuja da fumaça \ arraste sua coroa \ afunde a espada fugaz neste corpo
para sempre \ cirurgicamente docemente \ á aberto, anestesiado em outro mundo, \
estabelecerei a ordem dos instrumentos \ diante do esplendor do sangue, as mãos
dos homens são mais graciosas \ (… seis sete quando aquele pavor parcimonioso
parou …) \ O perigo que não se vê não existe. até que alguém, \ no momento
menos esperado, \ ordene que você coloque uma máscara que se pareça com você. \
nêutrons prótons frutos da vertiginosa \ rapidez crianças vêm até mim \ lentamente
tremo e fico com o rosto muito branco \lentamente a ferida está desperta \ para
o animal que estou curando não é um hábito terrestre\ —ir ao local da música
para fugir do medo \ —não. música da madrugada é falsa \ Deixei-me cair na mesa
\ odeio o ausente que deixou seus cavalos \ amarrados ao meu sonho \ as cordas
do violino \ o colar de salamandra da enforcada \ Eu digo que a doença vai me
ajudar a viver \ Eu digo que a seca contém a floresta \ gaultheria insana
evergreen combate \ a catástrofe humilhação punição é felicidade \ o tumor, um
choque, uma vontade de dizer coisas horríveis.
Poema da premiada poeta e tradutora mexicana Daniela Camacho, fundadora da revista El Puro Cuento e autora das obras En la punta de la lengua (2007), Aire seria (2008), Plegarias para insomnes (2008), Pasaporte (2012) e Experiencia Butoh
(Amargord, 2018), entre outros.
NASCIDA EM 1982 – [...] O mundo mudou muito, mas as pequenas regras, contratos e
costumes não, o que significa que o mundo não mudou nada. [...]
As garotas burras são burras demais, as garotas inteligentes são muito
espertas e as garotas comuns são muito comuns? [...] Enquanto os
infratores temiam perder uma pequena parte de seus privilégios, as vítimas
corriam o risco de perder tudo [...] Você tem razão. Num mundo onde os médicos podem curar o cancro e fazer
transplantes de coração, não existe um único comprimido para tratar as cólicas
menstruais. ‘O mundo quer que nosso útero esteja livre de drogas. Como terrenos
sagrados numa floresta virgem. [...] Não
sei se vou me casar ou se vou ter filhos. Ou
talvez eu morra antes de fazer isso. Por
que tenho que negar a mim mesmo algo que quero agora para me preparar para um
futuro que pode ou não chegar? [...] cresceu ouvindo
ordens para ser cautelosa, para se vestir de maneira conservadora, para ser
“elegante”. Que é sua função evitar lugares, horários do dia e
pessoas perigosas. A culpa é sua por não perceber e não evitar. [...]
Pessoas que tomam um analgésico ao menor sinal de enxaqueca, ou que precisam
de creme anestésico para remover uma verruga, exigem que as mulheres que dão à
luz suportem com prazer a dor, a exaustão e o medo mortal. Como
se isso fosse amor maternal. Esta
ideia de “amor maternal” está se espalhando como um dogma religioso. [...]
As mulheres assumem todas as tarefas menores e complicadas sem serem
solicitadas, enquanto os homens nunca o fazem. Não
importa se são novos ou os mais novos - eles nunca fazem nada que não lhes seja
dito para fazer. Mas por que as mulheres simplesmente assumem as
responsabilidades? [...]. Trechos extraídos da obra Kim Jiyoung, Born 1982 (Intrínseca, 2022), da escritora
sul-coreana Cho Nam-joo.
ACORDANDO PARA
ESPIRITUALIDADE SEM RELIGIÃO – Nós
temos uma escolha. Temos duas opções como seres humanos. Temos
uma escolha entre conversação e guerra. É
isso. Conversa e violência. E a
fé é um obstáculo à conversa. Teologia é ignorância com asas...
Pensamento do
escritor, filósofo e neurocientista estadunidense Sam Harris, que na sua obra Waking
Up: A Guide to Spirituality Without Religion (Simon
& Schuster, 2015), expressa que: [...] Nossas mentes são tudo o que
temos. Eles são tudo o que já tivemos. E são
tudo o que podemos oferecer aos outros. Isso
pode não ser óbvio, especialmente quando há aspectos da sua vida que parecem
precisar de melhorias – quando seus objetivos não são alcançados, ou você está
lutando para encontrar uma carreira, ou tem relacionamentos que precisam ser
reparados. Mas é a verdade. Cada
experiência que você já teve foi moldada por sua mente. Todo
relacionamento é tão bom ou tão ruim por causa das mentes envolvidas. Se
você está perpetuamente irritado, deprimido, confuso e sem amor, ou se sua
atenção está em outro lugar, não importa o quão bem-sucedido você se torna ou
quem está em sua vida – você não desfrutará de nada disso. [...]
Minha mente começa a parecer um videogame: posso jogá-lo de maneira
inteligente, aprendendo mais a cada rodada, ou posso ser morto no mesmo lugar
pelo mesmo monstro, repetidas vezes. [...] Se, como muitas pessoas, você
tende a ser vagamente infeliz a maior parte do tempo, pode ser muito útil criar
um sentimento de gratidão simplesmente contemplando todas as coisas terríveis
que não aconteceram com você, ou pensando em quantas pessoas o fariam. considere
suas orações respondidas se eles pudessem viver como você está agora. O
simples fato de você ter tempo para ler este livro o coloca em companhia muito
rara. Muitas pessoas na Terra neste momento nem conseguem
imaginar a liberdade que vocês atualmente consideram garantida. [...]
Por um lado, a sabedoria não é nada mais profundo do que a capacidade de
seguir os próprios conselhos. [...] Não há nada passivo na atenção
plena. Poderíamos até dizer que expressa um tipo específico de
paixão – uma paixão por discernir o que é subjetivamente real em cada momento. É um
modo de cognição que é, acima de tudo, sem distrações, receptivo e (em última
análise) não-conceitual. Estar
atento não é uma questão de pensar mais claramente sobre a experiência; é o
ato de vivenciar com mais clareza, incluindo o surgimento dos próprios
pensamentos. Mindfulness é uma consciência vívida de tudo o que
aparece na mente ou no corpo – pensamentos, sensações, humores – sem se apegar
ao que é agradável ou recuar diante do que é desagradável. [...]
Algumas pessoas ficam satisfeitas em meio à privação e ao perigo, enquanto
outras ficam infelizes, apesar de terem toda a sorte do mundo. Isto
não quer dizer que as circunstâncias externas não importem. Mas é
a sua mente, e não as próprias circunstâncias, que determina a qualidade da sua
vida. Sua mente é a base de tudo que você vivencia e de cada
contribuição que você dá à vida de outras pessoas. Diante
desse fato, faz sentido treiná-lo. [...]
A espiritualidade deve ser diferenciada da religião – porque pessoas de
todas as religiões, e de nenhuma, tiveram os mesmos tipos de experiências
espirituais [...] A forma como prestamos atenção ao momento
presente determina em grande parte o caráter da nossa experiência e, portanto,
a qualidade das nossas vidas. Os místicos e os contemplativos têm feito esta
afirmação há muito tempo – mas um corpo crescente de investigação científica
confirma-a agora. [...] todos
nós buscamos a realização enquanto vivemos à mercê de experiências mutáveis. Tudo
o que adquirimos na vida se dispersa. Nossos
corpos envelhecem. Nossos relacionamentos desaparecem. Mesmo
os prazeres mais intensos duram apenas alguns momentos. E
todas as manhãs somos expulsos da cama pelos nossos pensamentos. [...]
O sentimento que chamamos de “eu” é em si o produto do pensamento. Ter
um ego é a sensação de estar pensando sem saber que você está pensando [...]
Simplesmente aceitar que somos preguiçosos, distraídos, mesquinhos,
facilmente provocados pela raiva e propensos a desperdiçar nosso tempo de
maneiras das quais nos arrependeremos mais tarde não é um caminho para a
felicidade. [...] Cada momento do dia – na verdade, cada momento da vida
– oferece uma oportunidade de estar relaxado e receptivo ou de sofrer desnecessariamente.
[...] A realidade da sua vida é sempre agora. E
perceber isso, veremos, é libertador. Na
verdade, acho que não há nada mais importante para entender se você quiser ser
feliz neste mundo. [...]. Ele é autor das obras Free will (2012), Lying
(2013) e The moral landscape: how science can determine human values
(2010). Veja
mais aqui.
POR
AMOR ÀS CRIANÇAS PERNAMBUCANAS
[…] E
eu fico apenas a refletir que as amizades políticas são sempre e naturalmente
passageiras. Mas as que se firmaram sobre um ideal, no serviço de uma causa
nobre, vão buscar, na eternidade de seus motivos, a força e a sobrevivência,
que os interesses humanos não sabem e não podem encontrar [...]
Trecho da
crônica Por amor às crianças pernambucanas, extraída da obra Assuntos
pernambucanos (Fundarpe, 1986), do jornalista, advogado, escritor, historiador e ensaísta Barbosa
Lima Sobrinho (1897-2000), tratando acerca de temas como Guerra dos
Mascates, dos engenhos centrais às usinas de açúcar, a Revolução Praieira, Nelson
Chaves, Antonio Carneiro Leão, a pernambucanidade de Freyre, Mauro Mota,
Joaquim Nabuco, Urbano Sabino, Oliveira Lima, o socialismo de Abreu e Lima, o
separatismo e a restauração pernambucana, missões de capuchinhos franceses,
Capitania de Pernambuco, a nêmesis de Capistrano de Abreu, entre outros
assuntos. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
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Poemagens & outras versagens aqui.
Diário TTTTT aqui.
Cantarau Tataritaritatá aqui.
Teatro Infantil: O lobisomem Zonzo aqui.
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VALUNA – Vale do Rio Una
aqui.
&
Crônica de amor por ela
aqui.