segunda-feira, abril 29, 2024

SAM HARRIS, DANIELA CAMACHO, CHO NAM-JOO & CRIANÇAS PERNAMBUCANAS

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do grupo instrumental MaKaMo, formado pelas instrumentistas e compositoras Moema Macêdo (bandolim), Maíra Macêdo (cavaquinho), Karol Maciel (acordeon) e Gabi Carvalho (violão).

 

UM DIA NOUTRO DE AMANHÃS & ONTENS... – Naquela do quando chove ou estia, a boia embalada pelo vaivém dos sonhos em redemoinhos trazia a surpresa da véspera pra reinvenção de outro amanhã. Nem havia senão e sem precisar o porquê dos quando nem onde as coisas do fim. Mas quem nunca tremeu diante do perigo, quem jamais se aperreou com adversidades: a felicidade urgente adoecendo cada vez mais gente, enquanto livros intactos de alta literatura na biblioteca do telecentro de Campestre são jogados no lixo das Alagoas. A indignação em dia ressoava como se tomasse vulto pelas acrobacias dos ventos ecoando Han Kang: O tempo era uma onda, quase cruel na sua implacabilidade... Então, se um doido bateu à sua porta é só atinar pro ditado do remédio de um é o outro, afora afastar todo mau olhado, com a irrecusável oportunidade de se habilitar à sabedoria e, de quebra, ganhar um salvo conduto para a sorte grande, afinal todo louco é amigo de Deus. É só voar com uns versos de Maria Negroni: A vida é uma jornada rumo ao nada e escrever é um atalho... mortalmente infinito \ sonhamos que somos... Como o nome chama as coisas é preciso ter cuidado, falar baixo para não acordá-las e saber que tudo acontece do impensável: falar pode trair a alma, como diz a lição nativa. E isso vale também para quem tem posses que vão dali pracolá e a perder de vista, mesmo que tenha perdido no tempo o que seja de dentro de si mesmo e restar só o perecível do lado de fora pra valer as rezas de infinitas velas na morte inevitável. Nunca é demais aprender com Niède Guidon: O que eu quero é olhar os outros nos olhos. É não ter que esconder nada. Tudo o que fiz aqui, procurei fazer o melhor possível... Se já perdia a conta de quantos recomeços, não será além da conta reinventar a vida uma vez mais, até que chegue a hora, quem sabe, da remissão neste primitivo tempo em que vivemos... Até mais ver.

 

OS NOMES DOS DEFINITIVOS

Imagem: Acervo ArtLAM.

Um único objeto: \ soco de palavras ilegíveis em papel branco \ carcinoma diz em letras pretas \ (… tempo parou um dois vinte e quatro segundos \ parado. tempo …) \ câncer de flor impreciso no local da língua da \ glândula parótida \ (… trezentos e dezenove segundos e assim por diante \ até o final dos números …) \ engolir saliva pela última vez. muito lentamente \ na cama do hospital está nevando \ tumor pérola milagre minúsculo \ tumor substantivo propenso à multiplicação \ como a palavra floresta \ Há uma floresta em chamas na floresta: \ flor textual ereta convallaria não morra \ parasita cefalantera sem sentido fuja da fumaça \ arraste sua coroa \ afunde a espada fugaz neste corpo para sempre \ cirurgicamente docemente \ á aberto, anestesiado em outro mundo, \ estabelecerei a ordem dos instrumentos \ diante do esplendor do sangue, as mãos dos homens são mais graciosas \ (… seis sete quando aquele pavor parcimonioso parou …) \ O perigo que não se vê não existe. até que alguém, \ no momento menos esperado, \ ordene que você coloque uma máscara que se pareça com você. \ nêutrons prótons frutos da vertiginosa \ rapidez crianças vêm até mim \ lentamente tremo e fico com o rosto muito branco \lentamente a ferida está desperta \ para o animal que estou curando não é um hábito terrestre\ —ir ao local da música para fugir do medo \ —não. música da madrugada é falsa \ Deixei-me cair na mesa \ odeio o ausente que deixou seus cavalos \ amarrados ao meu sonho \ as cordas do violino \ o colar de salamandra da enforcada \ Eu digo que a doença vai me ajudar a viver \ Eu digo que a seca contém a floresta \ gaultheria insana evergreen combate \ a catástrofe humilhação punição é felicidade \ o tumor, um choque, uma vontade de dizer coisas horríveis.

Poema da premiada poeta e tradutora mexicana Daniela Camacho, fundadora da revista El Puro Cuento e autora das obras En la punta de la lengua (2007), Aire seria (2008), Plegarias para insomnes (2008), Pasaporte (2012) e Experiencia Butoh (Amargord, 2018), entre outros.

 

NASCIDA EM 1982 – [...] O mundo mudou muito, mas as pequenas regras, contratos e costumes não, o que significa que o mundo não mudou nada. [...] As garotas burras são burras demais, as garotas inteligentes são muito espertas e as garotas comuns são muito comuns? [...] Enquanto os infratores temiam perder uma pequena parte de seus privilégios, as vítimas corriam o risco de perder tudo [...] Você tem razão. Num mundo onde os médicos podem curar o cancro e fazer transplantes de coração, não existe um único comprimido para tratar as cólicas menstruais. ‘O mundo quer que nosso útero esteja livre de drogas. Como terrenos sagrados numa floresta virgem. [...] Não sei se vou me casar ou se vou ter filhos. Ou talvez eu morra antes de fazer isso. Por que tenho que negar a mim mesmo algo que quero agora para me preparar para um futuro que pode ou não chegar? [...] cresceu ouvindo ordens para ser cautelosa, para se vestir de maneira conservadora, para ser “elegante”. Que é sua função evitar lugares, horários do dia e pessoas perigosas. A culpa é sua por não perceber e não evitar. [...] Pessoas que tomam um analgésico ao menor sinal de enxaqueca, ou que precisam de creme anestésico para remover uma verruga, exigem que as mulheres que dão à luz suportem com prazer a dor, a exaustão e o medo mortal. Como se isso fosse amor maternal. Esta ideia de “amor maternal” está se espalhando como um dogma religioso. [...] As mulheres assumem todas as tarefas menores e complicadas sem serem solicitadas, enquanto os homens nunca o fazem. Não importa se são novos ou os mais novos - eles nunca fazem nada que não lhes seja dito para fazer. Mas por que as mulheres simplesmente assumem as responsabilidades? [...]. Trechos extraídos da obra Kim Jiyoung, Born 1982 (Intrínseca, 2022), da escritora sul-coreana Cho Nam-joo.

 

ACORDANDO PARA ESPIRITUALIDADE SEM RELIGIÃONós temos uma escolha. Temos duas opções como seres humanos. Temos uma escolha entre conversação e guerra. É isso. Conversa e violência. E a fé é um obstáculo à conversa. Teologia é ignorância com asas... Pensamento do escritor, filósofo e neurocientista estadunidense Sam Harris, que na sua obra Waking Up: A Guide to Spirituality Without Religion (Simon & Schuster, 2015), expressa que:  [...] Nossas mentes são tudo o que temos. Eles são tudo o que já tivemos. E são tudo o que podemos oferecer aos outros. Isso pode não ser óbvio, especialmente quando há aspectos da sua vida que parecem precisar de melhorias – quando seus objetivos não são alcançados, ou você está lutando para encontrar uma carreira, ou tem relacionamentos que precisam ser reparados. Mas é a verdade. Cada experiência que você já teve foi moldada por sua mente. Todo relacionamento é tão bom ou tão ruim por causa das mentes envolvidas. Se você está perpetuamente irritado, deprimido, confuso e sem amor, ou se sua atenção está em outro lugar, não importa o quão bem-sucedido você se torna ou quem está em sua vida – você não desfrutará de nada disso. [...] Minha mente começa a parecer um videogame: posso jogá-lo de maneira inteligente, aprendendo mais a cada rodada, ou posso ser morto no mesmo lugar pelo mesmo monstro, repetidas vezes. [...] Se, como muitas pessoas, você tende a ser vagamente infeliz a maior parte do tempo, pode ser muito útil criar um sentimento de gratidão simplesmente contemplando todas as coisas terríveis que não aconteceram com você, ou pensando em quantas pessoas o fariam. considere suas orações respondidas se eles pudessem viver como você está agora. O simples fato de você ter tempo para ler este livro o coloca em companhia muito rara. Muitas pessoas na Terra neste momento nem conseguem imaginar a liberdade que vocês atualmente consideram garantida. [...] Por um lado, a sabedoria não é nada mais profundo do que a capacidade de seguir os próprios conselhos. [...] Não há nada passivo na atenção plena. Poderíamos até dizer que expressa um tipo específico de paixão – uma paixão por discernir o que é subjetivamente real em cada momento. É um modo de cognição que é, acima de tudo, sem distrações, receptivo e (em última análise) não-conceitual. Estar atento não é uma questão de pensar mais claramente sobre a experiência; é o ato de vivenciar com mais clareza, incluindo o surgimento dos próprios pensamentos. Mindfulness é uma consciência vívida de tudo o que aparece na mente ou no corpo – pensamentos, sensações, humores – sem se apegar ao que é agradável ou recuar diante do que é desagradável. [...] Algumas pessoas ficam satisfeitas em meio à privação e ao perigo, enquanto outras ficam infelizes, apesar de terem toda a sorte do mundo. Isto não quer dizer que as circunstâncias externas não importem. Mas é a sua mente, e não as próprias circunstâncias, que determina a qualidade da sua vida. Sua mente é a base de tudo que você vivencia e de cada contribuição que você dá à vida de outras pessoas. Diante desse fato, faz sentido treiná-lo. [...] A espiritualidade deve ser diferenciada da religião – porque pessoas de todas as religiões, e de nenhuma, tiveram os mesmos tipos de experiências espirituais [...] A forma como prestamos atenção ao momento presente determina em grande parte o caráter da nossa experiência e, portanto, a qualidade das nossas vidas. Os místicos e os contemplativos têm feito esta afirmação há muito tempo – mas um corpo crescente de investigação científica confirma-a agora. [...] todos nós buscamos a realização enquanto vivemos à mercê de experiências mutáveis. Tudo o que adquirimos na vida se dispersa. Nossos corpos envelhecem. Nossos relacionamentos desaparecem. Mesmo os prazeres mais intensos duram apenas alguns momentos. E todas as manhãs somos expulsos da cama pelos nossos pensamentos. [...] O sentimento que chamamos de “eu” é em si o produto do pensamento. Ter um ego é a sensação de estar pensando sem saber que você está pensando [...] Simplesmente aceitar que somos preguiçosos, distraídos, mesquinhos, facilmente provocados pela raiva e propensos a desperdiçar nosso tempo de maneiras das quais nos arrependeremos mais tarde não é um caminho para a felicidade. [...] Cada momento do dia – na verdade, cada momento da vida – oferece uma oportunidade de estar relaxado e receptivo ou de sofrer desnecessariamente. [...] A realidade da sua vida é sempre agora. E perceber isso, veremos, é libertador. Na verdade, acho que não há nada mais importante para entender se você quiser ser feliz neste mundo. [...]. Ele é autor das obras Free will (2012), Lying (2013) e The moral landscape: how science can determine human values (2010). Veja mais aqui.

 

POR AMOR ÀS CRIANÇAS PERNAMBUCANAS

[…] E eu fico apenas a refletir que as amizades políticas são sempre e naturalmente passageiras. Mas as que se firmaram sobre um ideal, no serviço de uma causa nobre, vão buscar, na eternidade de seus motivos, a força e a sobrevivência, que os interesses humanos não sabem e não podem encontrar [...]

Trecho da crônica Por amor às crianças pernambucanas, extraída da obra Assuntos pernambucanos (Fundarpe, 1986), do jornalista, advogado, escritor, historiador e ensaísta Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000), tratando acerca de temas como Guerra dos Mascates, dos engenhos centrais às usinas de açúcar, a Revolução Praieira, Nelson Chaves, Antonio Carneiro Leão, a pernambucanidade de Freyre, Mauro Mota, Joaquim Nabuco, Urbano Sabino, Oliveira Lima, o socialismo de Abreu e Lima, o separatismo e a restauração pernambucana, missões de capuchinhos franceses, Capitania de Pernambuco, a nêmesis de Capistrano de Abreu, entre outros assuntos. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

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