A JACA & A BOTIJA - Aquela jaqueira florida infincada na calçada
duma esquina, nunca chamara tanto atenção. Servira sempre apenas para roubos
furtivos de necessitados, mesmo sob protesto dos moradores da vizinhança que se
achavam donos dela, combatendo sob vigilância rigorosa e armada hostil contra
quem se arvorasse atacá-la. Um dia lá não lembro quando, apareceu um fruto de grandes
proporções, arregalando olhos e arrepiando noticiários locais e nacionais, até
prospectar todo tipo de estudiosos, fanáticos e religiosos advenos, todos
voltados para santificá-la e torná-la patrimônio da humanidade. Acontece que ao
aboticar as vistas com aquela aberração, Tomé foi acometido duma paralisia de
ficar de queijo caído e escorrendo baba pela boca de lavar o peito, guardados,
pés, chão abaixo, formando poças imensas. Logo ele apreciador de prediletos
bagos de jacas inchadas, fosse dura, mole, até da manteiga trazida doutras
localidades. Por dias ele ali, até sair do embotamento depois duma paralisia
demorada de passar dias sem comer nem beber, muito menos dormir, com aquela
maravilha crescendo no juízo, dele ficar obcecado, sem conseguir desgrudar
todos os sentidos daquilo que seria o maior de todos os prêmios de sua
conquista. Antes dessa morbidez que o acometera, dizia ele nunca ter tido problemas
intestinais, nem tosse alguma, afora ter sempre uma tesão infalível de garanhão
priápico, justo por ser costumeiro comedor da Artocarpus integrifolia L, da família Moraceae, que, segundo ele, exímio atrepador de vencer mais de
vinte e cinco metros na busca pelo alimento predileto, como inventor de lendas
as mais cabeludas a respeito de suas propriedades medicinais. Ao tentar se
aproximar para furtá-la, grande era a sua fome, logo se deparou com políticos,
padres, pastores, gurus, fiéis, beatos e curiosos que santificavam aquela
extravagância, privando sua captura e o seu pronto abastecimento. Dias
indômitos armando estratagemas em complicados planos para tomá-la pra si, perseguindo
inarredável por um momento propício, sempre nada exitosa por não saírem de perto um
mínimo centímetro da maior vigiada, pra que o fruto agora sagrado não fosse
surrupiado por mãos inescrupulosas. Passaram-se mais dias e lá inexoráveis permaneciam
romeiros vindos de todas as partes do país para confirmar aquele inusitado acontecimento,
chegando-se ao ponto de boatos sobre curas e milagres obrados só por estar na
presença ou mesmo ao tocá-la, o que era absolutamente proibido, mas
recalcitrantes conseguiam mediante descuido da tropa protetora. Bastava fazer
menção de tocar aquele símbolo sacrossanto da natureza, novos anúncios de
salvações curativas alardeavam por todo canto. Uma semana já se passara e nada
dele conseguir seu intento, quinze dias, um mês e ele lá, sem comer, beber ou
dormir, já enlouquecendo com a jaca crescendo ainda mais no seu quengo. Certa
feita, ele se aproveitou de uma cerimônia em que a multidão ajoelhou-se de olhos
fechados num louvor de gratidão aos céus por tão maravilhoso espetáculo, ele
zarpou, pegou a dita pesadíssima de quase nem conseguir arrastá-la, saiu
embolando ladeira abaixo, até sumir de ninguém saber como se dera o sumiço nem
o paradeiro. Um escândalo de convocar todas as forças armadas e especiais numa
comitiva perseguidora no encalço do desplante. Com o sumiço logo caiu uma chuva
com raios e trovões nunca vistos, a terra começou a tremer, as águas invadiram
as ruas, o tempo parou, as coisas perderam sentido e tudo poderia acontecer a
qualquer momento, sinais estes identificados como efeitos da ignomínia
praticada. Escapando da perseguição, Tomé se escondeu no sótão duma casa
amaldiçoada que ninguém se atreveria a se aproximar, imobilizado para não
denunciar que estava ali, nem ousou rasgar a jaca e comê-la, não, manteve-se
quieto, torando aço para nenhuma alma de outro nem ser vivente de nariz
intrometido aparecessem ali. De madrugada quando todos já roncavam o cansaço da
marcha, morrendo de fome e com a baba escorrendo pelo peitoril, ele armou-se um
facão e tascou na jaca. Desferido golpe restou inútil, o que o fez catar uma
foice e com repetidos golpes de tantas foiçadas, e como estava no meio da maior
escuridão, findou decepando o polegar e o indicador da mão esquerda, três dedos
de cada pé que serviam de apara para maior forçada, afora talhos nos braços de
quase perder uma orelha e o bico do nariz, enfim, depois de muitas tentativas
na casca dura, conseguiu fissurá-la e abri-la, qual não foi seu espanto ao
constatar que ao invés de bagos, dentro dela havia moedas e ouro. Oxe! Num
acredito! Quanto mais esquartejava a jaca, mais ouro e moedas apareciam. Não
era uma jaca, era uma botija. Danou-se! Ele não queria ouro nem riqueza, queria
bagos pra comer. De que serviriam moedas e barras de ouro se estava faminto.
Não podia sair pela cidade com moedas estranhas nem oferecendo barras de ouro,
assim do nada, logo desconfiariam e ele findaria preso por escamotear um
pretenso patrimônio histórico. Mesmo assim ele mordeu as moedas e as barras,
chega doer os dentes pelo esforço de tentar comê-las, perdeu alguns deles com
as mordidas, findando quase banguelo. De nada serviam, não havia como matar sua
fome. Ele se agoniava, debatia-se, reclamava da vida até cair duro de sono e
faminto. Uns seis meses depois de buscas por todos os cafundós da redondeza,
lembraram que faltava o palacete assombrado. Foram lá e sentiram logo cheiro de
jaca no ar. Reviraram tudo, até encontrar no sótão, tanto a jaca como Tomé,
completamente desfigurados. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
SOCIEDADE PÓS-CAPITALISTA DE DRUCKER
[...] A “literacia”
significava tradicionalmente o conhecimento do conteído de determinados temas,
por exemplo, efetuar multiplicações ou possuir um pouco de conhecimento da
história da América. Mas a sociedade do conhecimento (pós-capitalista)
necessita de conhecimento processual – algo que as escolas raramente tentaram
ensinar. Na sociedade do conhecimento, as pessoas têm de aprender a aprender.
[...].
Trecho extraído da obra A sociedade pós-capítalista (Pioneira, 1999), do economista,
professor, escritor e consultor austríaco Peter
Drucker (1909-2005), abordando historicamente sobre a sociedade
capitalista, política e conhecimento, sob a perspectiva do capital, da terra e
do trabalho na sociedade atual que exige a mudança de paradigma e de
mentalidade diante das novas realidades econômicas e sociais. Veja mais aqui.
Veja
mais sobre:
Não era
pra ser, nem foi, Entre a vida e a morte de Nathalie Sarraute, a música de Galina
Ustvolskaya, Aquarium World de Takashi Amano, o
ativismo de Emmeline Parnkhurst, Zakarella de Carlos Alberto Santos, a
pintura de Paul-Émile Chabas & as
gravuras de ean-Frédéric Maximilien de Waldeck
aqui.
E mais:
Trova
& Trovadorismo aqui.
Quase meio dia, A estrutura das revoluções científicas de Thomas Kuhn, Não morra antes de morrer de Yevgeny Yevtushenko, Os amores amarelos de Tristan
Corbière, A consciência da mulher de Leilah Assumpção, a
música de Debussy & Sandrine Piau, o
cinema de Eric Rohmer & Françoise Fabian, a pintura de Hyacinthe Rigaud & Vittorio Polidori, a
fotografia de Dian Hanson & Eric Kroll aqui.
A poesia
de Yevgeny Yevtushenko, a Psicanálise de Freud, o teatro de Leilah Assumpção, a
pintura de Hyacinthe Rigaud, a música de Rachmaninoff & Segueira Costa,
Ailson Campos & muito mais aqui.
Zé Ripe entre amigos & pé de serra aqui.
Dia Branco & outras dicas Tataritaritatá aqui.
Folia Caeté, O trabalho
do antropólogo de Roberto Cardoso de Oliveira, Monções de Sérgio Buarque de
Holanda, a poesia de Luis de Góngora y Argote, a música de Carlos Gomes, O poeta dramático de Karl
Georg Büchner, o cinema de Alfred E. Green & Carmen Miranda, a arte de
William Orpen, a pintura de Ivan Gregorewitch Olinsky & Charles-Antoine
Coypel aqui.
Sorria,
Canto geral de Pablo Neruda, A desobediência civil de Henry
Thoreau, O feijão & o sonho de Orígenes Lessa, A revolução na América do
Sul de Augusto Boal,
Mestre Vitalino & Marcelo Soares, a música de Sebastião Tapajós, a pintura
de Amedeo Modigliani, Monteiro Lobato & Brincarte do
Nitolino aqui.
A vida é
um filme, A crise na América Latina de Emir
Sader, No colo do pai de Hanif
Kureishi, Viagem nas primeiras horas de Wole
Soyinka, Técnica teatral de Erwin Piscator, a música de
João Bosco, o
cinema de Stelvio Massi & Joan Collins, a gravura de Václav Hollar, a pintura de Carl
Kricheldorf & Isaac Lazarus Israels aqui.
O
direito à informação e qual informação, A formação social da mente de Lev
Vygotsky, O retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, a poesia de Manuel Bandeira, a pintura de Vincent van Gogh & a música de Gonzaguinha aqui.
As
funduras profundas do coração de uma mulher, A arte de amar de Erich Fromm, A poesia de Paul Verlaine, Cem poemas de amor de Ledo
Ivo, a música de Debussy & Isao Tomita, Lula Queiroga, a pintura
de Cornelia Schleime & Fabius Lorenzi aqui.
Mãe é
mãe & deus proteja a minha, a sua, a nossa & o da mãe-joana & e das
mães (do guarda, do juiz de futebol e dos políticos) que são coitadas, Inteligência emocional de John Gottman, a literatura de Máximo Gorki, a poesia de Jorge Tufic, a música de Caetano
Veloso, a pintura de Lena Gal & Gustav Klimt, Travesuras
de mãe de Denise Fraga &
a arte de Luciah Lopez aqui.
&
APRENDER
A APRENDER
[...] Enquanto a memorização permanece a forma dominante de aprendizagem em
muitas salas de aula e instituições corporativas, há um reconhecimento
crescente de que a finalidade central da educação deve ser valorizar as pessoas
no sentido de se encarregarem elas próprias da construção do significado das
experiências que vivem. [...] As
ramificações que advêm do aprender a compreender a natureza do conhecimento e a
natureza da aprendizagem significativa, não só valorizam o indivíduo tornando-o
mais eficiente na aquisição e produção do conhecimento, mas também contribuem
para a sua autoestima e sentido de controle sobre a própria vida. Os tempos
atuais são tempos revolucionários, e ajudar as pessoas a aprender a aprender é
uma ideia que se impõe.
Trecho introdutório da obra Aprender a aprender (Platano, 1997), dos
professores do Departamento de Educação da Cornell University, Joseph
D. Novak e
D. Bob Gowin. Veja mais aqui, aqui, aqui e
aqui.
RÁDIO
TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de
especiais com o compositor, pianista e maestro russo Igor Stravinsky (1882-1971): Rite orf Spring & Symphonis of
Winds; da pianista portuguesa naturalizada brasileira, Maria João Pires: Concerto para piano nº 17 de Mozart & Sonata
nº 32, op. 111, de Beethoven; do compositor, professor e regente João Guilherme Ripper: Canntiga e
Desafio & Jogos Sinfônicos; e da pianista argentina Martha Angerich: Concerto nº 1 in E minor, op. 11, de Chopin &
Concerto nº 3 de Rachmaninoff. Para
conferir é só ligar o som e curtir.
COCO
CHANEL & IGOR STRAVINSKY
O filme Coco Chanel & Igor Stravinsky (2009),
dirigido por Jan Kouten, conta a história do envolvimento entre a estilista
francesa Gabrielle Coco Chanel
(1883-1971) e o compositor, pianista e maestro
russo Igor Stravinsky (1882-1971),
ela devotada a seu trabalho e apaixonada pelo charmoso e bem sucedido Arthur
Boy Capel, comparece ao Théâtre des Champs-Élysées, onde Stravisnky mostra
pela primeira vez o seu terceiro bailado "A Sagração da Primavera".
Ela se encanta pela música, mas o público vaia a obra considerando-a
revolucionária e moderna demais para seu tempo não deixando sequer a obra
terminar e originando uma sessão de pancadaria geral. Sete anos mais tarde,
Coco e Igor se reencontram em situações opostas. Ela agora é uma estilista
famosa, rica e respeitada, e vive a dor da morte de Boy, enquanto ele vive em
exílio na França após a Revolução Russa. A atração entre os dois é imediata e
ela o convida para se hospedar em sua casa de campo para compor; ele aceita e
muda-se com a mulher e filhos. Um intenso romance então se inicia entre os dois
artistas na fase mais criativa de suas carreiras. O destaque fica por conta da
atuação da atriz francesa Anna Mouglalis.
Veja mais aqui, aqui e aqui.
CULTO À
DEUSA AFRODITE
Esculturas
representando a deusa do amor, da beleza e da sexualidade na antiga religião
grega, Afrodite, responsável pela perpetuação da vida, prazer
e alegria. Influenciado pelos cultos da fenícia Astarte e da acádia Ishtar,
ambas deusas do amor, o seu culto foi importado da Ásia para a Grécia Antiga.
Na era romana ela passou a ser denominada de deusa Vênus. Veja mais aqui, aqui e aqui.