segunda-feira, julho 17, 2017

MOACIR SCLIAR, ELIS REGINA, SPENCER LEWIS, AL DI MEOLA, CLÁUDIA TELLES, HENRY YAN, FELIPE COELHO & DOMINGO NA MASSAGUEIRA

DOMINGO NA MASSAGUEIRA - É domingo, dia de botar a cara na vida: dietas, etiquetas, tudo pro escambau, oxe, hoje vale tudo! E o tempo, chove ou faz sol? Céu azulzinho pra achar graça de tudo. Apruma pro sul, Massagueira - simbora, cambada! Ô lugar bonito danado! Pra lá vai de qualquer jeito! Vixe! Adivinharam foi? O mundo todo na mesma direção: passou Taperaguá? Estamos em Barra Nova, doido! Ah, vamos dar uma chegada na Boca da Caixa! Melhor pro Broma. Não, melhor pra Bica da Pedra. Você está brincando, né? Vamos pra Praia do Saco! Qualé? Ao invés de esclarecer, complica. Ninguém se entende e passa Riacho, Morros, Mucuri, Campo Grande, Tororonba, quanta gente, querem atrapalhar meu lazer, é? Gente de todo tipo: quem se mata toda semana pra viver esse dia, quem negocia até o ar que respira, quem desama e quer se ajeitar, quem saiu da clausura dos livros para ver como é mesmo que é, quem posa de bonzinho pra cagar raio a partir de amanhã, incubadores de intriga com as garras de deliberados falsos, hipócritas suicidas, todos botam os dentes no estandarte: hoje é dia pra viver o ar puro, água de coco, negociando talheres, goles, pacutias, uma bocada no sururu, uma garfada no arroz de coco com pirão de peixe – queria era uma feijoada da panela de barro no trempe de pedra! Vôte! Olha o guaiamum, gente! Está na hora da golada no cachimbo, vira, virou: essa é boa, levanta até quem tá caiando! Agora deu: o cara já ta porrado, cercando frango. Visse aquela estirada na esteira de piripiri? Olha o efeito, na hora! Tô vendo só o amolegado do cipó! Merece uma bronha! Eita! Vai tirar o atrasado ou é só o vício mesmo? É mais fácil mentir que enganar. Que espertáculo a soberba com seus motores raçudos rasgando as águas: sai da frente, pescador! Arriba, jangadeiro! Só revelando temperamentos: um cara ou coroa entre a Ilha do Maranhão e a Ribeira. Tanto faz Canal de Dentro ou de Fora, a ilha de Santa Rita. Vamos até o Pilar e de lá a gente volta até o mar! Começou o delírio! Visse a carreira da catenga? Não, estava grudado na Burrinha! Aonde? Ah, lá do outro lado. Vixe, gosta disso, é? Lá vem Esquenta Mulher! Tem gosto pra tudo, avalie. Melhor O casamento de um feiticeiro com a negra de um peito só! Que é que é isso? Ah, daquele cantador Eneas Pica-Pau. Tem outra? Tem a do Defunto que falou no dia de finado! Danou-se! Essas coisas não me caem bem, gosto disso não. Olha o Nelson da Rabeca! Pronto, nunca vi mais gordo. É deputado, senador, prefeito, o quê? Ah, dizem que é o melhor tocador! O que? Músico, sei lá. Ah, meu, que papo é esse, hem? Ué, as coisas do lugar. Quero lá saber disso, hoje é domingo, a gente veio aqui pra beber ou conversar? O povinho bom dali assiste a tudo: os homens pescam, a mulher tece a renda, filé e labirinto. Isso é que é vida, quando eu me aposentar vou morar aqui, na beira da lagoa! Antes disso já tem é morrido, bocó! Ué, posso sonhar não? Hoje é o primeiro ou o sétimo dia da semana? Hoje é domingo, bestão, não é sábado. Não entendi. Ah, vai se catar! Gostei da comida! É da boa! E o que sobrou? Junta todo o resto de lixo! Juntei e agora? Joga esse troço aí na água mesmo, ora! Vamos pescar? Pra quê? Perda de tempo, tem mais peixe aí não. Não tem? Dizem que não tem mais não, já pescaram tudo! Besteira, é só comprar na primeira barraca, fresquinho, assado ou cozido! Já está escurecendo, vamos simbora? Vambora. Vamos dar um trocado pra ajudar esse povo, coitado. Esmola, dou não! Nem Deus com gancho e o diabo com garrancho! Até parece, raposa muda de pelo, mas não deixa de comer galinha. E eu com isso? Um gambá cheira a outro. Eu quero é me arrumar e só, se não sair da frente ou passo por cima. É mesmo, que se danem! Enquanto isso, lá no fundo da lagoa, Zé Bagre e Bagre Zé que acompanharam movimento do dia todo, conversavam com todos os pontos e vírgulas: todo domingo é assim! É mesmo. E a gente ó. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

A FACE OCULTA DO SEXO DE MOACIR SCLIAR
O sonho da razão engendra monstros, disse Goya. E fantasias também, acrescentou Freud. Agora, nada para criar fantasias, belas ou monstruosas, como o sexo — porque nada proporciona campo mais fértil para a imaginação, sadia ou doentia. Ao longo da história da humanidade, as pessoas pagaram um triste tributo a fantasias que, ao fim e ao cabo, representam a punição pelo pecado original, o pecado que consiste em descobrir prazer em algo que, na maioria das espécies, serve tão somente para a reprodução. Aqui está uma lista de dez históricas fantasias ligadas ao sexo e à vida sexual. A fantasia do útero voador: os antigos acreditavam que o útero era não parte da anatomia feminina, mas uma criatura dotada de vida própria, que poderia sair do corpo da mulher, voando em busca da criança que depois iria nascer. A fantasia do afrodisíaco infalível: uma substância que foi procurada desde a antigüidade em ostras, em insetos (cantárida, por exemplo) e em alimentos variados. Algumas dessas coisas devem ter funcionado: nada como a auto-sugestão. A fantasia do pênis pequeno: pouca coisa incomoda tanto os adolescentes. Há quem procure médico para solucionar o problema. Que na verdade nem é tão problema. Esse é um caso típico do “tamanho não é documento”. A paixão faz o serviço. A fantasia do ovário perigoso: no século 19, a histeria das mulheres era freqüentemente atribuída a um excesso de funcionamento ovariano. Muitos ovários foram assim retirados das pacientes. Uma lição de humildade para a medicina. A fantasia do rejuvenescimento: vários métodos foram propostos, desde a injeção de extrato testicular de animais até a novocaína, esta preconizada por uma médica romena chamada Ana Aslan, que enriqueceu com o método. A vigarice médica é um curioso, e ainda não bem estudado, capítulo da história do comunismo. A fantasia do clitóris perigoso: justificativa para a clitoridectomia, ainda praticada em muitas culturas, e que precisa ser urgentemente erradicada. A fantasia sobre o vento e a gonorréia: era muito difundida na campanha gaúcha a idéia de que urinar contra o vento causava gonorréia. Considerando a falta de latrinas e considerando a freqüência com que sopra o minuano, não era difícil explicar o surgimento da doença. A fantasia da tábua do vaso: poucas coisas são tão perigosas, segundo essa fabulação. Pela tábua do vaso, se transmitiria a gonorréia. A tábua do vaso poderia até causar gravidez. A fantasia das impressões sobre a grávida: “Comi morango enquanto estava grávida, então meu filho nasceu com isso aí”. Isso aí:  uma lesão vascular longinquamente semelhante à fruta. A necessidade de encontrar explicações persegue as pessoas. A fantasia do cabaré das normalistas: essa é uma homenagem ao folclore porto-alegrense (mas também foi registrada em Curitiba pelo escritor Dalton Trevisan). Segundo a lenda, haveria na cidade um cabaré freqüentado só pelas jovens e deliciosas alunas do curso normal, um lugar cujo endereço uns poucos choferes de praça conheciam. Nada mais parecido à Ilha da Fantasia.
Dez históricas superstições sobre sexo, extraído da obra A face oculta — inusitadas e reveladoras histórias da medicina (Artes e Ofícios, 2001), do escritor e médico gaúcho Moacyr Scliar (1927-2011). Veja mais aqui.

Veja mais sobre:
O dono da razão, A canção do exílio de Murilo Mendes, Identidade & etnia de Carlos Rodrigues Brandão, A socioantropologia de Maria Sérgio Michaliszyn, a pintura de Francisco Zúñiga & Mônica Alves Torres, a arte de Jules Pascin & a música de Ju Martins aqui.

E mais:
O culto da rosa: canção à flor, mulher amada, Totalidade & infinito de Emmanuel Lévinas, Mundo fantasmo de Bráulio Tavares, a música de Wojciech Kilar, A arte do teatro de Gordon Craig, Erotic Symphony de Jess Franco & Susan Hemingway, a pintura de Paul Delaroche, as gravuras de Paul-Émile Bécat & a poesia de Fernanda Guimarães aqui.
Poemas de Paul Verlaine & Denise Levertov, a pintura de Paul Delaroche, a fotografia de Patricia Hampl, a música de Marcoliva & a poesia de Lourdes Limeira aqui.
Alegoria da loucura, O livro do cortesão de Castiglione & Coríntios aqui.
Fecamepa, Gestalt-terapita de Friederich Perls, Contos e novelas de Jean de La Fontaine, a poesia de Laurindo Rabelo, Auto da alma de Gil Vicente, Crônica da cidade amada de Carlos Hugo Christensen, a música de Diversões Lúdicas, a pintura de Ignaz Epper, Brincarte do Nitolino & Cia Ópera na Mala aqui.
Espectro da fome de Josué de Castro, A ilíada de Homero, a música de Mercedes Sosa, Conversation Noturne de Martha Angerich, a pintura de Tamara de LempickaEliezer AugustoAna Botafogo & a poesia de Genesio Cavalcanti aqui.
Outra globalização de Milton Santos, À sombra das raparigas de Marcel Proust, As nuvens de música de Véronique Gens & Stark Naked Orchestra, Cleópatra & Elizabeth Taylor, a poesia de Clevane Pessoa de Araújo Lopes, a pintura de Camille Pissarro & Howard Chandler Christy aqui.
Primeiro de maio, o pensamento de Mahatma Gandhi, Kark Marx, Adam Smith, David Ricardo, O trabalho & os dias de Hesíodo, a pintura de Tarsila do Amaral, a música de Chico Buarque & Milton Nascimento aqui.
As drogas & as campanhas antidrogas, O pensamento de Milton Friedman, On the Road de Jack Kerouac, A droga é só um pretexto de Francis Curte, Bioética de Javier Gafo Fernández, a música do Yes, a pintura de Carlos Schwabe & Félicien Rops aqui.
A vida, a terra, o homem & a bioética, A condição humana de Hannah Arendt, Grande sertão veredas de João Guimarães Rosa, Pau Brasil de Oswald de Andrade, a poesia de Patativa de Assaré, Dos confins do sertão de Elomar Figueira de Mello, Cronologia pernambucana de Nelson Barbalho, a arte de Fernand Khnopff, a pintura de Shere Crossman & Antonio Cláudio Massa aqui.
Que país é esse, Brasilsilsilsilsilsil, As coroas & máscaras de Eduardo Galeano, Não verás país nenhum de Ignácio de Loyola Brandão, Aos trancos & barrancos de Darcy Ribeiro, Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda, a poesia de Castro Alves & Affonso Romano de Sant’Anna, Samba do crioulo doido de Sérgio Porto, Ary Barroso, Juca Chaves, Dias Gomes & Ferreira Gullar, Gonzaguinha & Ivan Lins, Chico Buarque & Ruy Guerra, Canto das Três Raças, Flávio Rangel & Millôr Fernandes, Maurício Tapajós & Aldir Blanc, Joyce & Fernando Brant, Renato Russo & Cláudia Alende aqui.
Credibilidade da imprensa brasileira, História da imprensa brasileira de Nelson Werneck Sodré, Beijo no asfalto de Nelson Rodrigues, Cervantes & Millôr Fernandes, Notícias dum Brasil de Eduardo Gudin & a jornalista Enki Bracaj aqui.
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O ENVENENAMENTO MENTAL DE SPENCER LEWIS
A mente humana tem muitas características estranhas e muitas tendências espantosas [...] A primeira é que a mente ou consciência humana tem uma tendencia, um impulso muito definido, de acreditar e aceitar como verdade aquilo em que ela quer acreditar, ou o que sente ser um cumprimento a sua capacidade de raciocinar e de chegar a conclusões corretas. A segunda é uma inclinação sempre presente de aceitar como crença, como verdade, como um princípio incontestável, uma ideia ou uma conclusão que concorda com outra ideia ou grupo de ideias anteriormente estabelecidas na mente ou consciência, a partir de experiências pessoais. [...] uma terceira inclinação, está aquela fraqueza, de preferir aceitar e adotar uma ideia extraordinária, incomum, singular ou distintamente diferente sobre certas questões, se esta ideia ou crença incomum for compatível ou estiver em harmonia com as crenças e ideias anteriores aceitas pela mente. [...] uma conclusão singular e que difere das opiniões aceitas pela mente das massas. [...] Minha opinião está certa porque difere da das massas e prova que sou melhor em meu raciocínio, mais inteligente ou mais astuto em minha analise lógica das coisas, e mais generoso em minha concepção mental dos fatos e princípios. [...] verificamos que a mente humana, mesmo na pessoa mais inculta, iletrada ou despreparada, gosta de considerar-se superior, em muitos aspectos, à mente da pessoa mediana com quem entra em contato. [...] Homens e mulheres têm preparado deliberadamente doses de veneno mental e se esforçado ao máximo para ministrá-las a suas vitimas inocentes. [...] Por essas razões e muitas outras, cabe a todo homem (e mulher) guardar cuidadosamente seus pensamentos, suas palavras, seus gestos e ações. [...] Podemos distribuir alegria em lugar de tristeza. Podemos ministrar esperança em lugar de desespero. Podemos verter na mente e na consciência de outrem uma atitude sorridente, uma determinação cada vez maior de força de vontade, um quadro de um futuro bonito, uma porta aberta à oportunidade, um poder purificador que atingirá todas as partes do corpo e um brilho divino de alegria espiritual que rejuvenescerá e redimirá a mais infeliz das criaturas. [...].
Trechos extraídos da obra Envenenamento mental (Renes, 1976), do escritor, ocultista e místico Dr. Ph.D Harvey Spencer Lewis (1883-1939). Veja mais aqui, aqui e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de especiais com a saudosa cantora Elis Regina (1945-1982) ao vivo & no Monteux Jazz Festival; do compositor e guitarrista estadunidense Al Di Meola ao vivo com One of these nights & Jazzwoche Burghausen; a cantora e compositora Claudia Telles com seus grandes sucessos & o violonista Felipe Coelho com Cata Vento & Musadiversa. Para conferir é só ligar o som e curtir.

DESTAQUE: CLÁUDIA TELLES
Sou fã da cantora e compositora Cláudia Telles, filha da eterna cantora Sylvinha Telles e do violonista Candinho, desde 1976, quando ela lançou um compacto com a música Fim de tarde (CBS, 1976), dos compositores Robson Jorge & Mauro Motta. A partir daí passei a acompanhar a trajetória dessa grande cantora que, alguns anos atrás, concedeu uma entrevista falando de sua carreira e do seu trabalho. Confira a entrevista aqui & mais dela aqui & aqui.

A ARTE DE HENRY YAN
A arte do pintor, professor e desenhista chinês Henry Yan.

TODO DIA É DA MULHER: MEU CORPO MINHAS REGRAS



PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...