DOMINGO NA MASSAGUEIRA - É domingo, dia de botar a cara na vida:
dietas, etiquetas, tudo pro escambau, oxe, hoje vale tudo! E o tempo, chove ou
faz sol? Céu azulzinho pra achar graça de tudo. Apruma pro sul, Massagueira -
simbora, cambada! Ô lugar bonito danado! Pra lá vai de qualquer jeito! Vixe!
Adivinharam foi? O mundo todo na mesma direção: passou Taperaguá? Estamos em
Barra Nova, doido! Ah, vamos dar uma chegada na Boca da Caixa! Melhor pro
Broma. Não, melhor pra Bica da Pedra. Você está brincando, né? Vamos pra Praia
do Saco! Qualé? Ao invés de esclarecer, complica. Ninguém se entende e passa
Riacho, Morros, Mucuri, Campo Grande, Tororonba, quanta gente, querem
atrapalhar meu lazer, é? Gente de todo tipo: quem se mata toda semana pra viver
esse dia, quem negocia até o ar que respira, quem desama e quer se ajeitar,
quem saiu da clausura dos livros para ver como é mesmo que é, quem posa de
bonzinho pra cagar raio a partir de amanhã, incubadores de intriga com as
garras de deliberados falsos, hipócritas suicidas, todos botam os dentes no
estandarte: hoje é dia pra viver o ar puro, água de coco, negociando talheres,
goles, pacutias, uma bocada no sururu, uma garfada no arroz de coco com pirão
de peixe – queria era uma feijoada da panela de barro no trempe de pedra! Vôte!
Olha o guaiamum, gente! Está na hora da golada no cachimbo, vira, virou: essa é
boa, levanta até quem tá caiando! Agora deu: o cara já ta porrado, cercando
frango. Visse aquela estirada na esteira de piripiri? Olha o efeito, na hora! Tô
vendo só o amolegado do cipó! Merece uma bronha! Eita! Vai tirar o atrasado ou
é só o vício mesmo? É mais fácil mentir que enganar. Que espertáculo a soberba
com seus motores raçudos rasgando as águas: sai da frente, pescador! Arriba,
jangadeiro! Só revelando temperamentos: um cara ou coroa entre a Ilha do Maranhão
e a Ribeira. Tanto faz Canal de Dentro ou de Fora, a ilha de Santa Rita. Vamos
até o Pilar e de lá a gente volta até o mar! Começou o delírio! Visse a
carreira da catenga? Não, estava grudado na Burrinha! Aonde? Ah, lá do outro
lado. Vixe, gosta disso, é? Lá vem Esquenta Mulher! Tem gosto pra tudo, avalie.
Melhor O casamento de um feiticeiro com a negra de um peito só! Que é que é
isso? Ah, daquele cantador Eneas Pica-Pau. Tem outra? Tem a do Defunto que
falou no dia de finado! Danou-se! Essas coisas não me caem bem, gosto disso
não. Olha o Nelson da Rabeca! Pronto, nunca vi mais gordo. É deputado, senador,
prefeito, o quê? Ah, dizem que é o melhor tocador! O que? Músico, sei lá. Ah,
meu, que papo é esse, hem? Ué, as coisas do lugar. Quero lá saber disso, hoje é
domingo, a gente veio aqui pra beber ou conversar? O povinho bom dali assiste a
tudo: os homens pescam, a mulher tece a renda, filé e labirinto. Isso é que é
vida, quando eu me aposentar vou morar aqui, na beira da lagoa! Antes disso já tem
é morrido, bocó! Ué, posso sonhar não? Hoje é o primeiro ou o sétimo dia da
semana? Hoje é domingo, bestão, não é sábado. Não entendi. Ah, vai se catar! Gostei
da comida! É da boa! E o que sobrou? Junta todo o resto de lixo! Juntei e
agora? Joga esse troço aí na água mesmo, ora! Vamos pescar? Pra quê? Perda de
tempo, tem mais peixe aí não. Não tem? Dizem que não tem mais não, já pescaram
tudo! Besteira, é só comprar na primeira barraca, fresquinho, assado ou cozido!
Já está escurecendo, vamos simbora? Vambora. Vamos dar um trocado pra ajudar
esse povo, coitado. Esmola, dou não! Nem Deus com gancho e o diabo com
garrancho! Até parece, raposa muda de pelo, mas não deixa de comer galinha. E
eu com isso? Um gambá cheira a outro. Eu quero é me arrumar e só, se não sair
da frente ou passo por cima. É mesmo, que se danem! Enquanto isso, lá no fundo
da lagoa, Zé Bagre e Bagre Zé que acompanharam movimento do dia todo, conversavam
com todos os pontos e vírgulas: todo domingo é assim! É mesmo. E a gente ó. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
A FACE OCULTA DO SEXO DE MOACIR SCLIAR
O sonho da razão
engendra monstros, disse Goya. E fantasias também, acrescentou Freud. Agora,
nada para criar fantasias, belas ou monstruosas, como o sexo — porque nada
proporciona campo mais fértil para a imaginação, sadia ou doentia. Ao longo da
história da humanidade, as pessoas pagaram um triste tributo a fantasias que,
ao fim e ao cabo, representam a punição pelo pecado original, o pecado que
consiste em descobrir prazer em algo que, na maioria das espécies, serve tão
somente para a reprodução. Aqui está uma lista de dez históricas fantasias
ligadas ao sexo e à vida sexual. A fantasia do útero voador: os antigos
acreditavam que o útero era não parte da anatomia feminina, mas uma criatura
dotada de vida própria, que poderia sair do corpo da mulher, voando em busca da
criança que depois iria nascer. A fantasia do afrodisíaco infalível: uma
substância que foi procurada desde a antigüidade em ostras, em insetos (cantárida,
por exemplo) e em alimentos variados. Algumas dessas coisas devem ter
funcionado: nada como a auto-sugestão. A fantasia do pênis pequeno: pouca coisa
incomoda tanto os adolescentes. Há quem procure médico para solucionar o
problema. Que na verdade nem é tão problema. Esse é um caso típico do “tamanho
não é documento”. A paixão faz o serviço. A fantasia do ovário perigoso: no
século 19, a histeria das mulheres era freqüentemente atribuída a um excesso de
funcionamento ovariano. Muitos ovários foram assim retirados das pacientes. Uma
lição de humildade para a medicina. A fantasia do rejuvenescimento: vários
métodos foram propostos, desde a injeção de extrato testicular de animais até a
novocaína, esta preconizada por uma médica romena chamada Ana Aslan, que
enriqueceu com o método. A vigarice médica é um curioso, e ainda não bem
estudado, capítulo da história do comunismo. A fantasia do clitóris perigoso:
justificativa para a clitoridectomia, ainda praticada em muitas culturas, e que
precisa ser urgentemente erradicada. A fantasia sobre o vento e a gonorréia:
era muito difundida na campanha gaúcha a idéia de que urinar contra o vento
causava gonorréia. Considerando a falta de latrinas e considerando a freqüência
com que sopra o minuano, não era difícil explicar o surgimento da doença. A
fantasia da tábua do vaso: poucas coisas são tão perigosas, segundo essa
fabulação. Pela tábua do vaso, se transmitiria a gonorréia. A tábua do vaso
poderia até causar gravidez. A fantasia das impressões sobre a grávida: “Comi
morango enquanto estava grávida, então meu filho nasceu com isso aí”. Isso aí: uma lesão vascular longinquamente semelhante à
fruta. A necessidade de encontrar explicações persegue as pessoas. A fantasia
do cabaré das normalistas: essa é uma homenagem ao folclore porto-alegrense
(mas também foi registrada em Curitiba pelo escritor Dalton Trevisan). Segundo
a lenda, haveria na cidade um cabaré freqüentado só pelas jovens e deliciosas
alunas do curso normal, um lugar cujo endereço uns poucos choferes de praça
conheciam. Nada mais parecido à Ilha da Fantasia.
Dez históricas superstições sobre sexo, extraído da
obra A face oculta — inusitadas e
reveladoras histórias da medicina (Artes e Ofícios, 2001), do escritor e médico gaúcho Moacyr
Scliar (1927-2011). Veja mais aqui.
Veja
mais sobre:
O dono
da razão, A canção do exílio de Murilo Mendes, Identidade & etnia de Carlos
Rodrigues Brandão, A socioantropologia de Maria Sérgio
Michaliszyn, a pintura de Francisco
Zúñiga & , a arte de Jules Pascin & a música de Ju Martins aqui.
E mais:
O
culto da rosa: canção
à flor, mulher amada, Totalidade & infinito de Emmanuel
Lévinas, Mundo fantasmo de Bráulio Tavares,
a música de Wojciech Kilar, A arte do teatro de Gordon
Craig, Erotic Symphony de Jess Franco & Susan Hemingway, a pintura
de Paul Delaroche, as gravuras
de Paul-Émile Bécat & a poesia
de Fernanda Guimarães aqui.
Poemas de
Paul Verlaine & Denise
Levertov, a pintura de Paul
Delaroche, a fotografia de Patricia Hampl, a música de Marcoliva & a poesia de Lourdes Limeira aqui.
Fecamepa, Gestalt-terapita
de Friederich
Perls, Contos e novelas de Jean de La Fontaine, a poesia de Laurindo Rabelo,
Auto da alma de Gil Vicente, Crônica da cidade amada de Carlos Hugo Christensen, a música de Diversões Lúdicas, a pintura
de Ignaz Epper, Brincarte do Nitolino & Cia Ópera na
Mala aqui.
O trâmite da solidão, Espectro da fome de Josué de Castro, A ilíada de Homero, a música de
Mercedes
Sosa, Conversation Noturne
de Martha Angerich, a pintura de Frida Kahlo, Tamara de Lempicka & Eliezer Augusto, a arte de Ana Botafogo & a poesia de Genesio
Cavalcanti aqui.
Cordel tataritaritatá, Outra globalização de Milton
Santos, À sombra das raparigas de Marcel Proust, As nuvens de Aristófanes, a música de Véronique Gens & Stark Naked
Orchestra, Cleópatra & Elizabeth Taylor, a poesia de Clevane Pessoa
de Araújo Lopes, a pintura de Camille Pissarro & Howard Chandler Christy aqui.
Primeiro de maio, o pensamento de Mahatma Gandhi, Kark
Marx, Adam Smith, David Ricardo, O trabalho & os dias de Hesíodo, a pintura de Tarsila do Amaral, a música de Chico
Buarque & Milton Nascimento aqui.
As drogas & as campanhas antidrogas, O pensamento de Milton Friedman, On the Road de Jack Kerouac, A droga é só um pretexto de Francis Curte, Bioética
de Javier Gafo Fernández, a música do Yes, a pintura
de Carlos Schwabe & Félicien Rops aqui.
A vida,
a terra, o homem & a bioética, A condição humana de Hannah Arendt, Grande sertão veredas de João Guimarães Rosa, Pau Brasil de Oswald de
Andrade, a poesia de Patativa de Assaré, Dos confins do sertão de Elomar Figueira
de Mello, Cronologia pernambucana de Nelson Barbalho, a arte de Fernand Khnopff, a pintura de Shere Crossman & Antonio
Cláudio Massa aqui.
Que país é esse, Brasilsilsilsilsilsil, As coroas
& máscaras de Eduardo Galeano, Não verás país nenhum de Ignácio de
Loyola Brandão, Aos trancos & barrancos de Darcy Ribeiro, Raízes do Brasil
de Sérgio Buarque de Holanda, a poesia de Castro Alves & Affonso
Romano de Sant’Anna, Samba do crioulo doido de Sérgio Porto, Ary Barroso, Juca
Chaves, Dias Gomes & Ferreira Gullar, Gonzaguinha & Ivan Lins, Chico
Buarque & Ruy Guerra, Canto das Três Raças, Flávio Rangel & Millôr
Fernandes, Maurício Tapajós & Aldir Blanc, Joyce & Fernando Brant, Renato
Russo & Cláudia Alende aqui.
Credibilidade da imprensa brasileira, História da imprensa brasileira de Nelson Werneck Sodré,
Beijo no asfalto de Nelson Rodrigues, Cervantes & Millôr Fernandes, Notícias dum Brasil de Eduardo Gudin & a jornalista
Enki Bracaj aqui.
&
O
ENVENENAMENTO MENTAL DE SPENCER LEWIS
A
mente humana tem muitas características estranhas e muitas tendências
espantosas
[...] A primeira é que a mente ou
consciência humana tem uma tendencia, um impulso muito definido, de acreditar e
aceitar como verdade aquilo em que ela quer acreditar, ou o que sente ser um
cumprimento a sua capacidade de raciocinar e de chegar a conclusões corretas.
A segunda é uma inclinação sempre
presente de aceitar como crença, como verdade, como um princípio incontestável,
uma ideia ou uma conclusão que concorda com outra ideia ou grupo de ideias
anteriormente estabelecidas na mente ou consciência, a partir de experiências
pessoais. [...] uma terceira
inclinação, está aquela fraqueza, de preferir aceitar e adotar uma ideia
extraordinária, incomum, singular ou distintamente diferente sobre certas
questões, se esta ideia ou crença incomum for compatível ou estiver em harmonia
com as crenças e ideias anteriores aceitas pela mente. [...] uma conclusão singular e que difere das
opiniões aceitas pela mente das massas. [...] Minha opinião está certa porque difere da das massas e prova que sou melhor
em meu raciocínio, mais inteligente ou mais astuto em minha analise lógica das
coisas, e mais generoso em minha concepção mental dos fatos e princípios.
[...] verificamos que a mente humana,
mesmo na pessoa mais inculta, iletrada ou despreparada, gosta de considerar-se
superior, em muitos aspectos, à mente da pessoa mediana com quem entra em
contato. [...] Homens e mulheres têm
preparado deliberadamente doses de veneno mental e se esforçado ao máximo para
ministrá-las a suas vitimas inocentes. [...] Por essas razões e muitas outras, cabe a todo homem (e mulher) guardar
cuidadosamente seus pensamentos, suas palavras, seus gestos e ações. [...] Podemos distribuir alegria em lugar de
tristeza. Podemos ministrar esperança em lugar de desespero. Podemos verter na
mente e na consciência de outrem uma atitude sorridente, uma determinação cada
vez maior de força de vontade, um quadro de um futuro bonito, uma porta aberta
à oportunidade, um poder purificador que atingirá todas as partes do corpo e um
brilho divino de alegria espiritual que rejuvenescerá e redimirá a mais infeliz
das criaturas. [...].
Trechos extraídos da obra Envenenamento mental (Renes, 1976), do escritor, ocultista e místico Dr. Ph.D Harvey Spencer Lewis (1883-1939). Veja
mais aqui, aqui e aqui.
RÁDIO
TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de especiais com a
saudosa cantora Elis Regina (1945-1982) ao vivo & no
Monteux Jazz Festival; do compositor e guitarrista estadunidense Al Di
Meola
ao vivo com One of these
nights & Jazzwoche Burghausen; a cantora e compositora Claudia Telles com seus grandes sucessos & o violonista Felipe Coelho com Cata Vento &
Musadiversa. Para
conferir é só ligar o som e curtir.
DESTAQUE:
CLÁUDIA TELLES
Sou fã da cantora e compositora Cláudia Telles, filha da eterna cantora Sylvinha Telles e do
violonista Candinho, desde 1976, quando ela lançou um compacto com a música Fim de tarde (CBS, 1976), dos compositores
Robson Jorge & Mauro Motta. A partir daí passei a acompanhar a trajetória
dessa grande cantora que, alguns anos atrás, concedeu uma entrevista falando de
sua carreira e do seu trabalho. Confira a entrevista aqui & mais dela aqui
& aqui.
A ARTE
DE HENRY YAN
A arte do pintor, professor e
desenhista chinês Henry Yan.
TODO DIA É DA MULHER: MEU CORPO MINHAS REGRAS