quarta-feira, julho 19, 2017

MAIAKOVSKI, IDA PRESTI, HEMINGWAY, FELICJA BLUMENTAL, JOHN MCLAUGHLIN, WAGNERT TISO, CILDO MEIRELES & CAVERNA DAS MÃOS

QUANDO SE SENTIR SÓ, FALE COMIGO! - Imagem: A caverna das mãos, Patagônia, Argentina. - Vambora, contagem regressiva, vira a chave, dá partida e aciona o motor, nove, acelera, oito, apruma a direção, sete, debreia, seis, engata primeira, cinco, pé no canto e na táboa, quatro, tem que usar o cardan, três, tudo na marra, dois, força na munheca, um, leva tudo nos peitos, zero, simbora! Sacode a segunda, manda ver no solado pra terceira e pisa fundo, salta pra quarta, segura o pisado senão morre, o aclive é sempre íngreme, ajeita pra quinta: é agora ou nunca, a horagá, o Dia D! Bota fé na pesada e seja lá o que Deus quiser! Vai que o negócio é sério, largar em primeiro, seguir na frente, manter a dianteira, só para-choque sem língua de fora, viu? Mostra o ronco do leão, trocentos cavalos, saúde de bicho! Urra! Não olhe pra trá, nem pelo retrovisor, concentração na subida, ladeira sem fim, o céu por limite, só vale se chegar ao topo! Não tem que dar colher de chá pra ninguém, da goela pra baixo tudo é perna! Arriba! Não dê moleza, tem que aguentar o trupé! Avante! Não pode esmorecer, tem que ter gás sem precisar abastecer, manobra direito, não vá derrapar, vixe! Segura nos punhos, mostra quem é que vale mesmo ser a cocada preta! Segura o catombo, olhe o quebra-mola, empina a rieira, sai do atoleiro, olhe o roçado, se avie, use acostamento se preciso, vai no domínio das rédeas, não vá abrir da vela nem cagar fora do penico, dê seus pulos que você não é quadrado! Quando der pulo saiba como cair, aumente o pinote, não vá perder o equilíbrio na passada, ao rebolar não dê rabo de arraia nem cavalo de pau, segura o pencó, esporada no espinhaço do bicho! Olha a bandeirada! Chegou? Agora segura as pontas que pra descer todo santo ajuda embolando na ribanceira, pode findar relando a bunda no chão no maior deslizado de perder troféu e campeonato. Já que chegou ao ápice, agora é mostrar quem manda no riscado. Bote sua mola! Qualquer vacilo, queda feia e desenfreada de não saber nem onde vai parar, sacou? Se está em riba, veja como é que faz pra ficar por lá. Se puder, suba mais: cacunda dos outros pode ser mais que degrau! Se não der, se aguente, não vá fazer papel safado de se acovardar nem cair na leseira de virar a casaca. Logo aparecerão simpatizantes antes antipáticos, amigos antes algozes, parentes antes perdidos, achegados antes de costas, e se souber mandar bem no caqueado, terá sempre plateia aplaudindo até nas meladas, nas topadas e no que não era nem pra ser. Errar é humano, mas não erre demais. Mantenha o nariz empinado, peito estufado, a valentia em dia, se trastejar cai do burrico na maior cama de gato. Não se abestalhe, um olho no santo e outro no vigário, um dormindo e o outro acordado, se tiver de fazer, faça duma vez e bem feito, nunca conserte que empiora e dá mais trabalho ter de fazer tudo novo. Ria e ria sempre, fraquezas são perdedores, derrota é pra quem não tem imaginação. Se cuspir pra cima, saia debaixo; se for pedir penico, tenha humildade, aliás a maior nobreza é a humildade, antes um abraço que o poder da força, antes diálogo que empenado litígio, antes aperto de mão que quebra-de-braço. Tudo em cima? Se desceu, ache o chão antes da queda; se vê que vai se estrepar, melhor arrumar os muafos e pedir parada puxando a cigarra; se na eversão não achou mão alguma de apoio, é que adivinham a ruína como se fosse labéu, aí tudo vai pro beleleu! E se mangarem do tropeço, sorria e vá pensando como é que pode dá volta por cima só no truleu leu leu. E se procurar por alguém e não achar, não leve por desfeita, é que estão todos ocupados, babau. E se sentir ao rés-do-chão, talvez seja uma emergência, sobreviva, melhor curau que perdeu o bonde que ser levado na maior boiada. Enfim, quando se sentir só, fale comigo, estou aqui. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

O VELHO & O MAR DE HEMINGWAY
[...] Na treva, porém, sem clarão fulgindo, nem luzes, só com o vento e o firme impulso da vela, sentiu-se como se já estivesse morto. Juntou as mãos para sentir as palmas. Não estavam mortas, e era capaz de sentir a dor da vida, apenas com abri-las e fechá-las. Encostou as costas à popa, e reconheceu que não estava morto. Os ombros lho disseram. [...] "Não devo pensar em tolices. A sorte é coisa que vem de muitas formas. Quem sabe reconhecê-la? No entanto, eu aceitava alguma em qualquer forma, e pagava o que me pedissem. Quem me dera ver o clarão das luzes. Quem me dera tanta coisa! Mas é isto o que eu quero agora". Procurou instalar-se mais confortavelmente ao leme, e pela dor sabia que não estava morto. [...] Sentia-se dormente, dorido, e as feridas e as partes mais esforçadas do corpo doíam-lhe com o frio da noite. "Espero não ter de lutar mais, pensou. Tanto espero não ter de lutar outra vez!" Mas, por volta da meia-noite, lutou e dessa vez sabia que era inútil. Vieram em massa, e apenas via as linhas que as barbatanas abriam na água e a fosforescência deles ao atirarem-se ao peixe. Batia-lhes na cabeça, ouvia o estalo das queixadas, sentia o tremer do esquife quando eles mordiam por baixo. Batia-lhes desesperadamente no que apenas sentia e ouvia, e sentiu que alguém lhe agarrava no cacete, que se sumiu. Arrancou a cana do leme, e bateu e feriu com ela, segurando-a com ambas as mãos, abatendo-a vezes seguidas. Mas vinham pela proa, um após outro, juntos, arrancando pedaços de carne, que brilhavam dentro do mar quando eles se voltavam para um novo ataque. Veio, por fim, um, que se atirou à cabeça, e o velho viu que tudo acabara. Acertou com a cana na cabeça do tubarão, cujas maxilas estavam presas na dureza da cabeça do peixe, que se não rasgava. Vibrou a pancada uma, duas, três vezes. Ouvia a cana partir-se, e espicaçou o tubarão com a ponta estilhaçada. Sentiu-a penetrar e, ciente de que era aguçada, enterrou-a mais. O tubarão soltou-se e rolou para longe. Era o último tubarão do bando que aparecera. Nada mais havia de comer. O velho mal podia respirar, e sentia na boca um sabor estranho, adocicado, metálico, e por instantes teve medo. Mas não durou muito. Cuspiu para o oceano e disse: -- Comam isso, “galanos”. E fiquem a julgar que mataram um homem. Sabia-se irremediavelmente derrotado e voltou à popa e verificou que a ponta partida da cana encaixava no olhal do leme o suficiente para ele poder governar. Compôs o saco pelos ombros e repôs o esquife no rumo. Vogava ligeiro, e o velho não tinha pensamentos ou sentimentos nenhuns. Passara por tudo, e limitava-se a dirigir o barco para o porto, tão bem e tão inteligentemente quanto podia. Pela noite, tubarões atacaram a carcaça, como alguém pode apanhar migalhas da mesa. O velho não lhes prestou atenção e a nada prestava atenção senão ao leme. Apenas reparava em como o barco singrava bem, muito ligeiro, agora que não levava grande peso na borda. [...].
Trechos da obra O velho e o mar (Livros do Brasil, 1956), do escritor estadunidense & Prêmio Nobel de 1954, Ernest Hemingway (1899-1961), contando a história de um velho pescador que luta com um gigante marlim em alto mar. Veja mais aqui e aqui.

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POEMA PÓSTUMO DE MAIAKOVSKI
Duas horas em breve. Estás deitada, talvez.
Na noite, como um Oka de prata a Via Láctea corre.
O tempo é meu, e os relâmpagos que eram meus telegramas,
Não mais te virão despertar, atormentar.
Comose diz: encerra-se o incidente.
A canoa do amor foi-se quebrar de encontro ao cotidiano.
Eis-me quite com a vida.
E é inútil o passar em revista penas, azares e recíprocas feridas.
Vê, que paz no universo.
A noite impôs ao céu a servidão de tantas estrelas.
Chegou a hora em que a gente se ergue e em que fala aos séculos,
À História, ao universo.
Poema póstumo, extraído da obra Autobiografia e poemas (Presença, 1977), do poeta, dramaturgo e teórico russo Vladimir Maiakovski (1893-1930). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de especiais com o guitarrista britânico de jazz John McLaughlin; da pianista e compositor polonesa Felicja Blumental (1908-1991); do músico, arranjador, regente, pianista e compositor Wagnert Tiso; e da violonista francesa Ida Presti (1924-1967). Para conferir é só ligar o som e curtir.

A ARTE DE CILDO MEIRELES
A arte do artista plástico Cildo Meireles.
 

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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