OS MILAGRES DE ALAGOINHANDUBA – Um belo dia apareceu em
Alagoinhanduba um sujeito que diziam atender pelo nome de Gideão. Ninguém sabia
quem era, familiares, parentes, onde morava, nada a respeito de tal sujeito,
apenas que ele aparecia nos momentos mais periclitantes oferecendo solução,
desde que satisfizessem a condição por ele estipulada. Muitos depoimentos,
boatos e testemunhos davam conta de ações milagrosas praticadas por ele. Não
havia quem não acrescentasse um fato aos tantos já ditos e repetidos de boca em
boca. O que se sabia era que se procurasse, jamais o encontraria; só aparecia
assim do nada, quando situação iminente. Zé-Corninho mesmo presenciara certa
feita, ao visitar um amigo de infância que finava desenganado de doença letal,
quando soube que um estranho apareceu e disse que salvava o caso, desde que
dessem a ele um prato de comida. Todos desconfiaram, mas entre eles, uma alma
caridosa, independente da cura, deu-lhe a refeição. Após o repasto, ele
entregou um pedacinho de papel devidamente enrolado pra pessoa que lhe dera a
comida, determinando que pusessem amarrado a um cordão no pescoço do vitimado,
que ele ficaria bonzinho de um dia pro outro. Com um detalhe: não podiam abrir,
jamais, para não reverter o quadro. Nem deram bola pro que disse, porém, mesmo
assim, não custava nada e assim fizeram. No outro dia, o enfermo estava
saltitante e feliz, repetiu Zé-Corninho batendo o pé de raiva, diante das
mangações. Nessa mesma hora Afredo Bocoió compartilhou dum caso semelhante que
se deu com uma grávida que se encontrava, ela e o bebê, entre a vida e a morte,
poucas horas depois do desconhecido ter comido um pedaço de bolo pedido, e de
terem amarrado um papelzinho embrulhado no pescoço da parturiente, que logo ela
deu a luz e o menino estava berrando que nem bode novo. Também Mamão entrou na
conversa por ter sabido de um acidentado que estava morre mas num morre e que
ficou bonzinho depois que amarraram um bilhetinho no pescoço dele, tanto que
soube que poucas horas depois já estava correndo de motocicleta pra cima e pra
baixo, como se nada tivesse acontecido. Oxe, isso é lorota, diziam muitos,
quase todos incrédulos. Logo aparecia quem tivesse notícia de coisas assim
parecidas que aconteceu pela redondeza. Quem é esse milagroso? Diz-se ser um
tal de Gideão! Mora aonde? Ninguém sabe. Trabalha? Sei não. O que ele faz da
vida? Quem sabe, ora! Cadê ele? Ah, dizem que ele só aparece em hora de extrema
precisão. E o que tem dentro do bilhete? Nunca soube. Ah, isso tem coisa. Por
que a gente não confere? Então, foram checar com pessoas que tiveram a graça. A
primeira que souberam não estava em casa, porém os vizinhos confirmaram ter
ocorrido o fato de verdade, que não sabiam nada a respeito do salvador.
Partiram pra outra, havia viajado, contudo, confirmação de moradores da rua e
do bairro todo deu por conta de fato verídico, mesmo que ninguém soubesse nada
a respeito do já tido por santo. Vamos ver isso no amiudado. Assim fizeram,
depois de muito rodarem no encalço, deram de cara com uma devota, em carne e
osso, de viva voz contando como sucedeu tudo e de como saiu do estado de coma
em que se encontrava há dias. Tá. E o bilhete, o que tinha? Não sei, não abri.
Ora, ninguém sabe o que tinha nos bilhetes deixados, ninguém sabe de nada! O
que é que é isso, hem? Logo souberam da fúria do padre Quiba que dizia ser esse
boato façanhas do anticristo! Como é que pode? Quem seria capaz de operar tal
prodígio, hem? Ué, dizem que é Gideão, só isso que se sabe. Ah, mas ele só
aparece em situações das brabas. Pois é, não adianta procurar por ele, já
caçaram de tudo, todos os cafundós, ninguém sabe do paradeiro dele. Só pode ser
magano! Foi quando souberam que um que havia sido abatido com não sei quantas
balas dum tiroteio medonho, estava vivinho da silva! Quem? O Trojeu! Ah, vamos
lá ver esse sortudo! E foram, encontraram-no virando copos e meiotas numa
bodega da esquina, ainda com o papelzinho amarrado no cordão do pescoço. Ôpa!
Achamos. Entabularam conversa e esmiuçaram tintim por tintim o acontecido, até
pergutarem pelo embrulhinho do pescoço. Isso aqui? Sim! Ah, foi Gideão que me
deu, disse que me salvava de morte matada, mas se eu abrir morro de morte
morrida. Que nada! Ah, abro nem prum trem, meu. Rapaz, que coisa! E pagaram
bebida, tira-gosto e litros e mais beiçadas de deixá-lo cai mas num cai, até
quedar desacordado no meio da calçada. Removeram o cordão e abriram o bilhete
com a seguinte inscrição manuscrita: “Eu te benzo, eu te curo, amanhã cairá
duro”. Deram a maior risada, virou piada, o que davam por líquido e certo,
agora era pinóia. Quem diria que era marmota, hem? Pois é, só conversa pra boi
dormir. No outro dia, já era mais de dez horas da manhã, sol quente de rachar o
chão, e Trojeu lá estendido na calçada. Oxe, pegaram o homem pra levá-lo pra
casa, quando alguém achou melhor levá-lo prum hospital. Assim fizeram. Chegando
lá, quando o enfermeiro examinou, o diagnóstico: estava mortinho. Ué, defuntou?
Passou dessa pra melhor faz tempo. De mesmo? Oxe, babau. Matamos o homem.
Remorso comeu no centro da corja toda. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
A HISTÓRIA SECRETA DE DONNA TARTT
[...] A beleza raramente é suave ou reconfortante.
Pelo contrário. A verdadeira beleza sempre nos assusta. [...] a ideia de perder o controle fascina pessoas
controladas como nós mais do que a maioria dos outros temas. [...] Quanto mais instruída, inteligente e
reprimida é a pessoa, mais necessita de métodos para canalizar os impulsos
primitivos que subjugou com tanto esforço. [...] Trata-se de um conceito bem grego, e muito profundo. Beleza é terror. O
que chamamos de belo provoca arrepios [...]. Beleza é terror. O que chamamos de belo nos faz tremer. [...].
Trechos
do romance A História Secreta (The Secret
History – Companhia das Letras,
1992), da escritora, ensaísta e crítica estadunidense Donna
Tartt. Veja mais aqui.
Veja mais
sobre:
Além da
entrega mais que tardia, Papoulas
de julho de Sylvia Plath, Literatura
de vanguarda de Guillermo de Torre, a pintura de Artemísia
Gentileschi & Tom Wesselmann, a
música de Sky Ferreira, a arte de
Jean Cocteau & Luciah
Lopez aqui.
E mais:
Caraminholas
do miolo de pote, Escritos de Guillaume
Apollinaire, O homem pós-orgânico de Paula Sibilia, a
literatura de Antoine
de Saint-Exupéry, a música de Diamanda Galás, a pintura de Marie
Fox, a fotografia de Jim Duvall & a arte de Luciah Lopez aqui.
Fecamepa, Gestalt-Terapia
de Friederich Perls, Novelas de La
Fontaine, As rosas do cume de Laurindo Rabelo, Auto da alma de Gil Vicente,
Crônica da cidade amada & Procópio Ferreira, a música de Diversões
Lúdicas, a pintura de Ignaz Epper, Brincarte
do Nitolino & Cia Ópera na Mala aqui.
O
trâmite da solidão, O espectro da fome de Josué de Castro, a pintura de Frida Kahlo, a música de Mercedes Sosa, A Ilíada de Homero, Ana Botafogo In
Concert, Conversação noturna & Martha Angerich, a
pintura de Tamara de Lempicka, a
arte de Eliezer Augusto & a
poesia de Genesio Cavalcanti aqui.
Doro
& a copa do mundo, Fritz Perls, Procópio Ferreira, a música de
Moraes Moreira & Programa Tataritaritatá aqui.
Blitz-krieg do Mineirão, Manuel
Bandeira, a arte de Ana Botafogo & a música de Mercedes Sosa aqui.
A Filosofia
& História das calamidades de Abelardo, Nara Salles, Projeto Carmin &
Cruor Arte Contemporânea aqui.
A provocação
aguda da paixão aqui.
A
mulher, Lei Maria da Penha, Ginocracia & Daby Palmeira aqui.
A
donzela arrevesada de Hermilo Borba Filho, a poesia matuta de Rubão, Dr. Zé
Gulu & papos do Doro aqui.
O
romance do pavão misterioso de João Melchiades da Silva aqui.
A arte
fotográfica de Andréia Kris aqui.
Pechisbeque, 1984 de George Orwell, Legado & grito de Renata Pallottini, As casadas
solteiras de Martins Pena, A realidade das coisas de Tales de Mileto, a música de Bach
& João Carlos Martins, País de
Cucanha, o cinema de Sidney Lumet & Sophia Loren, a arte de Antoni Gaudí, a pintura de Theo Tobiasse & Jean-Jacques Henner
aqui.
Quando
não é na entrada é na saída, O autor como produtor de Walter Benjamin, Fronteiriços
de Anna Bella Geiger, Linquistica
& Estilo, Carna, a música de Andrea dos Guimarães, Antologia
pornográfica de Gregório de Matos & Alexei
Bueno, Wunderblogs, a arte de Gilvan Samico & Matéria
Incógnita aqui.
Crônica
de amor por ela, a pintura de Pablo Picasso, a música de Roberto Carnevale, a fotografia de Claudia Andujar, Teoria
da Literatura de Rogel Samuel, Os 120 dias de Sodoma de Marquês de Sade, a poesia de Ana Cristina César, o cinema de Chris
Wilkinson & Linda
Marlowe & a arte de Lygia Pape aqui.
Betúlia,
a belezura e os restos nos confins do mundo, Evolução
e sentido do teatro de Francis
Fergusson, Porto Calendário de Osório Alves de Castro,
Kadish de Allen Ginsberg,
a fotografia de Claudia Andujar, a pintura de Federico Beltrán Massés & Fayga
Ostrower, a música de Consuelo de Paula & Iemanjá,
Mãe D’Água de Petrolina - PE aqui
&
A ARTE
DE ANA BOTAFOGO
SILÊNCIO
DE EDJANE LEAL
Entre
um trago / de bebida / e um trago / da vida / A sensação / jorrante e / sutil /
de existir.
(Momentos).
eu
sou um desejo / contido ... / Um ai interminável. / Eu sou um sopro / insano /
de uma massa mal delineada / inacabada. / Eu sou um pássaro irrequieto /
errante. / Eu sou a tempestade / e a calmaria / angústia e coragem / doença e
crueza / carência e doação... / Um bicho... / Sou simplesmente / por assim
saber-me. / (Bicho).
Cada
noite / que se passa / sem os abraços / teus, / é como se eu morresse / um
pouco / nos desejos / meus. (Apego).
Poemas recolhidos do livro Silêncio (Tarcisio Pereira, 2015 –
Prêmio Poesia Cultural), da poeta pernambucana Edjane
Leal Cruz.
DEPOIMENTO: Conheci a poesia de Edjane no início dos anos 1980, em Recife,
quando trabalhávamos numa mesma instituição. Ela me passou alguns dos seus
poemas e, pensamos até, em publicar um livro com nossas produções poéticas.
Mudanças ocorreram, perdi o contato, mas publiquei seus poemas em zines,
revistas e no tablóide Nascente –
Publicação Lítero Cultural, que editei ao longo das décadas. Hoje tenho a
grata satisfação de receber o seu primeiro livro, fruto de um prêmio literário
que ela arrebatou, reunindo não só poemas dela, mas também, numa segunda parte
do livro, de estudantes adolescentes de escolas públicas da cidade de Floresta,
em um projeto denominado Sonhar é preciso,
que ela desenvolveu com amigas e professoras. Maravilhosa iniciativa, parabéns.
Sucesso do muito & beijabrações. Veja mais aqui.
RÁDIO
TATARITARITATÁ: TOQUINHO, ROSA PASSOS, JOÃO BOSCO & PAULA MORELENBAUM
Hoje na
Rádio Tataritará é dia de especial com Toquinho
em dois shows ao vivo: Só tenho tempo pra
ser feliz & Brasil; Rosa Passos no Festival de Jazz de
Vitoria-Gasteiz & Romance; João
Bosco no Obrigado gente & ao vivo; e Paula Morelenbaum no show Berimbaum & no Tuscia in Jazz. Para conferir é só ligar o som e curtir.
A ARTE DE ARTEMÍSIA GENTILESCHI
A arte da pintora italiana Artemisia Gentileschi (1593-1653). Veja
mais aqui.