O RATO, A COTIA E O CACHORRO – O rato Quejino andava folgado pra cima e pra
baixo, depois que chegara de São Paulo carregado de gírias e modas. A cotia
Rosmivilda logo deitou simpatia pras bandas do roedor, o que levantou ciumeira
no delegado de polícia, o cachorrão Mauzão, que se dava por pretendente arreado
de paixão pela prendada roedora. Deu-se então da autoridade policial investir
pesado nos intentos, o que restou infrutífero, vez que a bandoleira já estava de
braços, pernas e saias agarradas no cotovelo do Queijino, prometendo paixonite
aguda aos beijos e afagos em casamento ainda não marcado. Um verdadeiro golpe
nas pretenções de Mauzão que passou a se arrastar pelos cantos, todo encolhido
e sem vontade pra mais nada na vida. Nem adiantou o tigre juiz de direito, nem
o macaco escrivão, muito menos o burro advogado sacolejarem pra levantar os
ânimos do coitado, tanto que ele nem se deu conta dos flertes da jeitosa filha
da preguiça promotra de justiça. – Esse parece que está perdido mesmo -, disse
o juiz. – Enjeitar minha filha, como é que pode? -, reclamou magoada a preguiça
promotora. Mas, destá. O tempo passa e no meio do idílio, a cotia descobre que
o Quejino estaba enrabichado com a catita Juanita, lá pras bandas do outro lado
da cidade. A situação esquentou e o pau comeu: as duas entraram em guerra! E o
rato, sabido que só, pés na bunda, pernas pra que te quero. No meio do bafafá
apurou-se que a Juanita estava certa e de data marcada pro casório com ele,
quando a Rosmivilda bafejou que estava embuchada de filhote dele pra dali
poucos dias rebentar. Como é que é? A bomba sacudiu todo lugar e redondeza. Cadê
aquele filho duma ratazana? Procuraram por ele, o lugar mais limpo. Foram então
ter com o delegado Auzão que levantou as orelhas e partiu com um destacamento
pesado à caça do fugitivo. Depois de luas e sóis na pisada, acharam o
presepeiro solto na gandaia. Quando ouviu a voz de prisão, o danado quis
correr, mas foi pego pelo rabo e arrastado até a presença das querelantes. Acunhado
por tabefes e tapas por ambas ofendidas, findou quase morto na prisão. Foi aí
que a catita revoltou-se de não querer mais vê-lo nem pintado a ouro, e a cutia
teve um troço e abortou. Nessa hora o Auzão socorreu a Rosmivilda pro pronto
socorro, enquanto que a jeitosa filha da preguiça mortificada de ciúmes,
peiticou com a mãe promotora para mandar soltar o Quejino. E tanto fez que
conseguiu até ganhar a simpatia do rato aprisionado. Enquanto o Auzão cobria de
cuidados a cotia enferma, logo ela se enamorou da autoridade e firmaram
casamento pra dali alguns dias. Por conta disso, a preguiça filha passou a
cuidar com atenção redobrada do rato no seu esconderijo e logo misturaram pelos
e patas de findarem entrelaçados pelos vínculos do amor. Depois de tantos
entreveros, cada um o seu caminho, não se sabendo, ao certo, se foram felizes
pra sempre, o que é muito pouco provável, afinal, ninguém sabe, não moram mais
pela redondeza pra evitar brigas e dresgraças de rixas antigas, além do mais muito tempo já passou. Por isso o amor é
lindo e paz na Terra os bichos de boa vontade! Entrando pela perna de pinto, saindo
pela perna de pato, o que já é outra história porque já é outro fato. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
O ELOGIO AO ÓCIO DE BERTRAND RUSSEL
[...] A
moral do trabalho é a moral de escravos, e o mundo moderno não precisa da
escravidão. [...] Porque o trabalho é um dever, e um homem não
deveria receber salários proporcionalmente ao que produz, mas proporcionalmente
à virtude demonstrada em seu esforço. Esta é a moral do Estado escravista,
aplicada em circunstâncias totalmente diferentes daqueles na qual surgiu. Não é
surpresa que o resultado tenha sido desastroso. [...] O uso sábio do lazer, deve-se conceder, é produto
de civilização e educação. Um homem que tenha trabalhado longas horas a vida
inteira fica entendiado se se torna subitamente ocioso. Mas sem considerável
quantidade de lazer um homem é privado de muitas das melhores coisas. Não há
mais nenhuma razão para que a maior parte da população sofra dessa privação;
somente um ascetismo tolo, geralmente paroquiano, nos faz continuar a insistir
em excessivas quantidades de trabalho agora que não há mais necessidade. [...] Em um mundo em que ninguém seja compelido a
trabalhar mais do que quatro horas por dia, todas as pessoas que possuíssem
curiosidade científica seriam capazes de satisfazê-la, e todo pintor seria capaz
de pintar sem passar por privações, qualquer que seja a qualidade de suas
pinturas. Jovens escritores não precisarão procurar a independência econômica
indispensável às grandes obras, para as quais, quando a hora finalmente chega,
terão perdido o gosto e a capacidade. Homens que, em seu trabalho profissional,
tenham se interessado em alguma fase da economia ou governo, serão capazes de desenvolver
suas idéias sem a distância acadêmica que faz o trabalho de economistas
universitários freqüentemente parecer fora da realidade. Médicos terão tempo
para aprender sobre o progresso da medicina, professores não estarão lutando
exasperadamente para ensinar por métodos rotineiros coisas que aprenderam na
juventude, que podem, no intervalo, terem se revelado falsas. Acima de tudo,
haverá felicidade e alegria de viver, ao invés de nervos em frangalhos, fadiga
e má digestão. O trabalho exigido será suficiente para tornar o lazer
agradável, mas não suficiente para causar exaustão. Uma vez que os homens não
ficarão cansados em seu tempo livre, eles não exigirão somente diversões
passivas e monótonas. Ao menos um por cento provavelmente devotará o tempo não gasto
no trabalho profissional para objetivos de alguma impotância pública e, como
não dependerão destes objetivos para viver, sua originalidade não será tolhida,
e não haverá necessidade de adaptar-se aos padrões estabelecidos pelos velhos
mestres. [...].
Trechos
de Elogio ao ócio (1932 – Sextante,
2002), do filósofo, matemático e pensador inglês Bertrand Russel (1872-1970). Veja mais aqui e aqui.
Veja
mais sobre:
Lagoa da
Prata, O folclore no Brasil de Basílio de
Magalhães, Chão de mínimos amantes de Moacir da Costa Lopes, Culturas e
artes do pós-humano de Lucia Santaella,
a música de Belchior, a fotografia de Tatiana Mikhina, a arte de Joseph Mallord
William Turner & Wesley Duke Lee aqui.
E mais:
Folia Caeté, O trabalho
do antropólogo de Roberto
Cardoso de Oliveira, Monções de Sérgio Buarque de Holanda, a poesia de Luis de Góngora y
Argote, O poeta dramático e a história de Karl Georg Büchner, a música de Antônio Carlos Gomes, o cinema de Alfred E. Green
& Carmen Miranda, a arte de William Orpen, a pintura de Ivan
Gregorewitch Olinsky & Charles-Antoine
Coypel aqui.
Raízes do
Brasil de Sérgio Buarque de Holanda,
a música de Antonio Carlos Gomes & Quinteto Violado, Joana
Ramos & Givaldo Kleber aqui.
História
dos hebreus de Flávio Josefo, Vidas paralelas de Plutarco, A civilização
hispano-moura de Philipe Aziz, Cronologia pernambucana de Nelson Barbalho,
Violência: crimes de trãnsito & arma de fogo aqui.
Umas
do Doro & o jabá, Multimidiação
do processo artístico de Augusto de Campos, Vila dos confins de Artêmis, a música de
Rossini & Olga Peretyatko, o cinema de Jacques Rivette, a arte de Marie McDonald Greg
Williams & a poesia de aqui.
Paixão
Legendária & Santanna O Cantador, A patente de Luigi
Pirandello, A história do mundo de Mel Brooks, As
ciências e as artes de Jean-Jacques Rousseau, Guilhermina Suggia, a
xilogravura de Nena Borges, Brincarte do Nitolino, a crônica de Aldemar Paiva,
a poesia de Marly de Oliveira,
a música de Felipe Radicetti & pintura de Maria Luisa Persson aqui.
A culpa é
da Dilma, O Projeto Atman de Ken Wilber, a música de Heitor Villa-Lobos, O sermão do
bom ladrão de Padre Antônio Vieira, a pintura
de Peter Paul Rubens, a poesia de Henriqueta Lisboa, Prometeu acorrentado de Ésquilo,
o cinema de Abbas Kiarostami & Juliette Binoche, a arte de Alex Toth &
Ekaterina Mortensen aqui.
Preciso
de um culpado, Platónov de Anton Tchékov, Peri
Physeos de Anaxímenes de Mileto, A arte de furtar
de Padre
Antônio Vieira, As odes píticas de Píndaro, o cinema de Walter Lang & Susan
Hayward, a arte de Dave Saint-Pierre, a música de Stanley
Clarke, a pintura de Horace Vernet & Malcolm Liepke aqui.
Lugome,
sua familia, seu infortúnio, A poesia erótica de José Paulo Paes, a música de
Gina Biver, Fundamentos da História do
Direito, O combate à corrupção nas prefeituras do Brasil, a pintura
de Sofan Chan, a fotografia de Luiza Machado, a
arte de Eiko Ojala & Rudson Costa aqui.
A arte de
Tunga, Estética teatral de Redondo Junior, a poesia de César Vallejo, a música de
Ná Ozzetti, a fotografia de Ruy Carvalho, a
arte de Sônia Braga, Fecamepa & Os sapos na política de Edson Moura aqui.
Semáforos
de sempre, vida adiante, Amor em tempos sombrios de Colm Tóibín, O serviço social de Marilda
Villela Iamamoto, Ética & Marketing Social, a fotografia de Spencer Tunick & Esdras Rebouças Nobre, a arte de Vik Muniz & a música de Claudio Nucci aqui.
A sexta
é dia da deusa, da musa, rainha, poeta, mulher, A história
de Goethe, a literatura de Machado
de Assis, Gozo fabuloso de Paulo
Leminski, a música de Alexandra Stan, a fotografia de Marcos Guerra & a
arte de Luciah Lopez aqui.
Na Volta
da Jurema, Semiologia & comunicação lingüística de Eric
Buyssen, Arrowsmith de Sinclair Lewis, O pensamento de Confúcio, a música de
Guinga, a arte de Ida Zam & Laerte Coutinho aqui.
O amor
dos namorados, A arte de amar de Erich Fromm, Sonetos de amor de Pablo Neruda, Cânticos
dos Cânticos, A música de Edith Piaf, o cinema de Derek Cianfrance & Michelle Williams, a pintura
de Julia Watkin & Cornelis
le Mair, a arte de Henry Asencio & Grupo Femen aqui.
Faça seu
TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.
MAIS DO
QUE NUA DE DORIS UHLICH
Projeto Mais do que nua (2012),
oficina da premiadíssima dançarina e coreógrafa austríaca Doris Uhlich no ImPuls Tanz, Festival Internacional de Dança de
Viena. (Imagem:
fotos de Andrea Salzmann/Theresa Rauter). Veja mais aqui e aqui.
RÁDIO
TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de especial com Leila
Pinheiro
do Brasil & Reencontro: cantando Gonzaguinha & Ivan Lins; Luiz
Melodia
ao vivo Convida & Maravilhas Contemporâneas; Marisa
Monte
Diariamente & grandes sucessos; e Jards
Macalé Real
Grandeza. Para conferir é só ligar o som e curtir.
A ARTE DE LAURA KNIGHT
A arte da pintora inglesa Laura Knight (1877-1970).