A arte da artista visual ucraniana Samira Yanushkova. Veja mais abaixo.
PARÊNTESIS
LUXURIOSOS - III - (... Eros & Tanatos... carpe diem... Eros chegara às seis horas matinais: a
guapira da minha vida. Tanatos, o meu dragão indestrutível que sempre vem para
me afrontar e ampliar minha tormenta. Essa a minha corda bamba. Contudo, as
primeiras imagens da manhã me fascinam, principalmente no verão quando, depois
das quatro e meia, já vem se insinuando no firmamento os primeiros raios do
dia, aquela explosão mágica de vida: eu quero aurora dos meus olhos viver a eclosão dia... aquele afogueamento do céu, espetáculo inenarrável de
beleza. Aquele parto diário: o olheiro do meu curso, meu destino. E, naquele
dia, o amanhecer fora mais que lindo, quando eu renascia diariamente,
palingenesias instantâneas dos muitos eus e de mim mesmo. Sempre gostei de
contemplar a alvorada, a mãe-d’água. Dava de pensar no meio daquela
metamorfose, uma turbilhão de ideias: a cópula, a reprodução, a gestação, a
morada na placenta, os nove meses, o rebento... era Perséfone que se manifestara logo à primeira impressão: luz imensa.
Ali estava a partir da hora em que rebentara a porteira do mundo. Via-lhe na
claridade estonteante. Ela assestava em minha direção, sequiosa, impingindo a
vida em mim e se mostrava sob diversas faces e heteronomias, persecutória, uma
máscara para cada ocasião. Daquela vez fora de luz. Opífera, como se eu fosse
Zeus.; ela, Hera.; levou-me jupiteriana para atravessar os pórticos de Osíris,
as perigosas fronteiras de Duat, o reino de Seth, inferno da danação eterna.; e
Amenti, reino dos mortos renascidos. Guiou-me pela sombra de Khaibit, pelo
domicílio de Ba, até que mostrou-me Ib, o pássaro de cabeça humana. E Ib era Ba
e Ba era Ib, alma e coração, apontando-me Eros, Caritas e Agape, as diversas
formas do amor. Se não me ensinasse o Bardo Thödol eu não teria atravessado o
Bardop, aquela flutuação para reencarnar, e alcançado o Sidpa Bardo e renascido
nesta vida... ou era a serpente Nachásh, como um símbolo dos uroboros - a
serpente mítica mordendo sua própria cauda -, causando-me pânico pelo perigo
numa procissão solene de mulheres entre fálus, farsas e jogos de feira: os
komoi, bandos de jovens que vão pelas ruas cantando e dançado, com ditos
chistosos nos lábios, de uma fantasia desenfreada.; odres cheios e
escorregadios untados de óleo. Ou era a bica: mulheres escorregavam no ventre
de seus homens. Elas sentavam-se nuas no tobogã, arreganhavam-se toda e
escorriam até alcançá-los com as pernas envolvendo-lhes a cintura. A serpente
se ouriçava mordiscando a vagina delas, enquanto sustentavam a velha estátua de
Atena em madeira de oliveira revestida com o seu peplo, para tomar um banho
sagrado no mar do amor. Nachásh se introduzia quase que por inteiro nas
profundezas ventrais das mulheres causando-lhes bocejos intermináveis. E ela se
transformava em meu próprio pênis que se dirigia ao meio daquelas sedutoras
mulheres, sonsas e nuas, onde eu gozava múltiplas sensações nas roçadas
isquíacas, no seu ouro alvino, festeiras e lépidas, quescolheiras com seu jeito
ginete, bulideiras turíferas e especiosas, facilitando a minha enterrada nas
gageiras oiagalés da minha inelutável sede de copular. Depois disso, recebi a
primeira visita: era Pandora, a primeira mulher com a sua boceta. Eu ficava
absorto vendo-lhe a nudez ao banho, a sua carne branca, o seu jeito materno.
Ela que foi feita no céu com a contribuição de cada um dos deuses para
aperfeiçoá-la.; que recebera de Vênus a beleza.; de Mercúrio, a persuasão.; de
Apolo, a música.; assim dotada, foi mandada à terra e oferecida a Epimeteu,
como presente de Júpiter. Agora era minha trincadeira sensual, gulosa que viera
reboladeira, cadenciada, slow motion,
para se apoderar do meu falo como seu biró, ah tesouro oriforme, do feitiço na
ponta da língua e nos belfos erióstomos, num beijo com sabor de trufas,
mousses, cremes achocolatados e com a maior ataraxia. Minha nossa! A felação
das deusas levando-me à ejaculação do meu Etna! Ah! Aaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Eu morria e renascia sem a menor noção...) ©Luiz Alberto Machado. Direitos
Reservados. Veja mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - De todas as calamidades a que a humanidade é sujeita, nenhuma é tão
terrível insanidade... Toda a experiência mostra que a insanidade tratada é tão
curável quanto um resfriado ou febre. Pensamento da ativista estadunidense Dorothea
Dix (1802-1887), defensora dos indigentes com problemas mentais por meio de
um programa vigoroso para criação da primeira geração de manicômios. Ela também
atuou como superintendente dos Enfermeiros do Exército, durante a Guerra Civil.
ALGUÉM FALOU: Nada que
eu já escrevi recebeu a menor deliberação. Estava lá na máquina de escrever e
saiu, um desvio total do cérebro. Pensamento da escritora estadunidense Catherine
Lucille Moore (C. L. Moore -
1911-1987),
TEOTIHUACÁN, A
CIDADE DOS DEUSES – “Quando ainda era noite, quando não havia
dia, quando não havia luz, reuniram-se, convocaram-se os deuses em Teotihuacán.
Disseram, falaram entre si: - Vinde cá, ó deuses! Quem toma sobre si, quem se
encarregará para que haja dias, para que haja luz?” Assim os textos indígenas
do século XVI narram a história da fundação de Teotihuacán, a cidade dos
deuses, onde tem origem a arte que se irá difundir por todas a zona central do
México: na arquitetura, as pirâmides, praças e palácios; na pintura, os
fabulosos murais; na escultura, a cerâmica e os trabalhos em obsidiana e em
jade. Segundo o mito do nascimento de Teotihuacán, dois deuses dispõem-se a
oferecer suas vidas para que em troca delas surja a luz. Uma fogueira é
preparada para o sacrifício. O primeiro deus, Tecuciztéctal, tenta por quatro
vezes lançar-se às chamas, mas fracassa devido ao medo. Nanahatzin, o segundo
deus, lança-se ao fogo sem vacilar e depressa é consumido: o destino transforma-o
em Sol. Desesperado, o primeiro deus cria coragem e joga-se também na fogueira,
transformando-se em Lua. Sol e Lua brilham juntos no céu e isso não agrada aos
deuses. Um deles lança um dardo contra a Lua, para que ela se afaste e brilhe
somente à noite. Contudo ainda resta um problema. Nem Sol nem Lua podem se
mover. “Como faremos viver as gentes? Não se move o Sol! Qur por nosso meio se
alimente o Sol, sacrifiquemo-nos todos!” Os deuses morrem, para que possam
viver as gentes. O Sol começa a se mover, surgem os dias e as noites, começa a
vida dos homens em Teotihuacán. Esse antigo mito, base religiosa da cidade,
influencia profundamente a cultura e a arte. O povo sente-se na obrigação de
agradecer aos deuses sua própria existência. Os mesmos textos falam da
construção das pirâmides: “Logo se estabeleceram principados e todos fizeram
oratórios (pirâmides) ao Sol e à Lua, onde faziam cultos”. Veja mais da
história dos Astecas aqui e aqui.
HEAT AND DUST - [...] O resto do tempo Olivia estava
sozinha em sua casa grande com todas as portas e janelas fechadas para evitar o
calor e a poeira. [...] Pouco antes da monção, o calor torna-se muito intenso. Diz-se que quanto mais intenso se torna, mais
abundantemente atrairá as chuvas, por isso queremos que seja o mais quente
possível. E a essa altura a pessoa já aceitou - não se acostumou,
mas aceitou; e, além disso, cansado demais para lutar contra ela,
submete-se a ela e persevera [...] A paisagem que, algumas semanas antes, havia sido obscurecida pela
poeira agora estava enevoada de umidade. [...].
Trechos extraídos da obra Heat and Dust ( Counterpoint
LLC,1999), da escritora alemã Ruth Prawer Jhabvala (1927-2013).
DOIS POEMAS - FLORES - Flores de promessas, buquê em seus braços, / flores
caídas como os parênteses de uma pegada, ninguém / sabe quem trouxe as flores
de inverno / espalhadas na praia? / Areias de teus beijos, flores de ardor
desbotado, / seus belos olhos são cinzas e na lareira / um coração enfeitado de
gritos / queima com fogo sagrado. ADEUS - As palavras foram
ditas, as peças foram feitas, / todas as cores, todas as medidas, / o perigo
pegou seu buquê selvagem. / Aos penhascos desta aventura / nunca mais voltarei.
/ Adeus chapéu de capitão. / Adeus meadas alegres de vento, / estrela do norte,
éclat vão, / seu beijo está no céu / sobre o jardim em que estou perdido. / Adeus
navios de dias derrotados, / chegou a hora esperada; / o amor me escolheu
minhas dores. / Para aquele caminho de viúva de doce aflição / eu nunca mais
subirei. Poemas da escritora e jornalista francesa Louise Lévêque de
Vilmorin (1902-1969).
A arte da artista visual ucraniana Samira Yanushkova. Veja mais abaixo.