A arte do
pintor, desenhista e professor Guerino Grosso (1907-1988).
PENSAMENTO DO DIA – Ninguém ignora que a poesia é uma
solidão espantosa, uma maldição de nascença, uma doença da alma. Pensamento do escritor, cineasta, dramaturgo, desenhista e ator
surrealista francês, Jean Cocteau (1889-1963). Veja mais aqui e aqui.
A FALA & A ESCRITA - [...] A mais nobre aquisição da humanidade é a fala, e a arte mais útil é a
escrita. A primeira distingue eminentemente o homem da criatura bruta; a
segunda, dos selvagens sem civilização. [...] Trecho extraído da obra The origin and progresso f writing
(Autor, 1784), do antiquário e palqueador inglês Thomas Astle.
PARA MARIA DA GRAÇA – Agora,
que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro:
Alice no País das Maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele
está em ti. Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca.
Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um
simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas.
Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares
que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca. Nem o Papa,
ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à
gatinha: “Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?” Não te espantes quando
o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas
vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é lugar-comum de
cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão
entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual
seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja
mentira. A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é
inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: “Estou tão cansada de estar
aqui sozinha!” O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A
porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães
amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar
uma porta bem aberta. Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação
trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências.
Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos
espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem
bolo. Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser
grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas
sete vezes por dia: “Oh, I beg your pardon” Pois viver é falar de corda em casa
de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato,
experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice:
“Gostarias de gato se fosses eu?” Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos
escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes,
nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e
mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão
confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é,
tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas
chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: “A corrida terminou! mas quem
ganhou?” É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá
saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade
fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres,
ganhaste. Disse o ratinho: “A minha história é longa e triste!” Ouvirás isso
milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: “Minha vida daria um
romance”. Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e
como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma
vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram
e dizem: “Minha vida daria um romance!” Sobretudo dos homens. Uns chatos
irremediáveis, Maria. Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida
de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres
não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a
palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais
tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste
pensamento de Alice: “Devo estar diminuindo de novo” Em algum lugar há
cogumelos que nos fazem crescer novamente. E escuta a parábola perfeita: Alice
tinha diminuido tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo.
Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário
também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim:
o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É
isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida
uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que
parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem
disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado
de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre
meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor. Toda a pessoa deve ter três
caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato
que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a
gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de
ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes
ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios
de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou
triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria,
com as grandes ocasiões. Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma
pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que
tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se
vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago,
pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”. Conclusão:
a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso
ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça. Extraído da obra
Primeiras leituras: crônicas (Companhia das Letras, 2012), do escritor e
jornalista Paulo Mendes Campos (1922-1991). Veja mais aqui e aqui.
ENQUANTO - Enquanto houver
um homem caído de bruços no passeio / e um sargento que lhe volta o corpo com a
ponta do pé / para ver como é; / enquanto o sangue gorgolejar das artérias
abertas / e correr pelos interstícios das pedras, / pressuroso e vivo como
vermelhas minhocas despertas; / enquanto as crianças de olhos lívidos e
redondos como luas, / órfãs de pais e de mães, / andarem acossadas pelas ruas /
como matilhas de cães; / enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto / com
o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente, / num silêncio de espanto
/ rasgado pelo grito da sereia estridente; / enquanto o grande pássaro de fogo
e alumínio / cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas / amassando
na mesma lama de extermínio / os ossos dos homens e as traves das suas casas; /
enquanto tudo isto acontecer, e o mais que se não diz por ser / verdade, / enquanto
for preciso lutar até ao desespero da agonia, / o poeta escreverá com alcatrão
nos muros da cidade: / ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA. Poema extraído de Poesias completas (Sá
da Costa, 1987), do poeta e professor português António Gedeão (1906-1997). Veja
mais aqui.
REINO DAS PERNAS – Ei-la que vem no ballet do andar pra
incidiar minha libido quando aterrissa do seu salto alto com suas lindas torres
gêmeas que eu Sansão cego de exaltação quero vencer e vergar e dominar no meu
xeque mate, dissimulada cruza as pernas em xis fechando a porteira, o bailado
cruzado em LA para abrir escala escancarando tudo pra mim e se agacha como quem
faz UU com os glúteos e eu Uh!, ao vê-la rodopiar num pé só e estirar a perna
pra tocar o meu sexo com os dedos pros caminhos dos pés descalços e o realce
das unhas pintadas na inquietação de sua dança louca lúbrica, com a planta dos
pés alisando meu pênis indomável e enrijecido a prendê-lo entre eles e a me
expor seu tornozelo que contorno para prender-lhe os calcanhares e alcançar suas
panturrilhas como quem domina a dobra do joelho – o istmo que me leva às correntezas dos seus mares profundos e
vê-la amanhecer entre as coxas com uma cruzada sensual de provocante Sharon
Stone no meu instinto selvagem e distinguir a cor da calcinha para baldear seus
quadris e nas suas ancas arrancá-la para saborear o que mata a minha sede e
deixa brincar a minha língua na vulva de todos os seus desejos pra minha
possessão até se afastar engatinhando pro close de sua fortuna secreta que eu
exalto despudorado pra beijar-lhe o sexo, o ânus e a alma e lambê-la arrepiada a
desvelar a catarse do seu iniciático orgasmo de égua nua pro meu deleite de cavaleiro
templário guardião exclusivo no seu trote a subjugá-la as pernas em V pra
descobrir-lhe o gozo ao crepúsculo até sermos um – Yin & Yang - na entrega
carnal e anímica de nós dois. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais:
O
ímpero de possuir-te docemente amanheceu desnudo – do escritor
grego Giórgios Seféris (1900-1971) com a arte do pintor, desenhista e
professor Guerino Grosso (1907-1988). Veja mais aqui.
TANATOLOGIA
- A Tanatologia se preocupa com o estudo da morte visando a consciência humana
deste evento tão submetido a tabus e mal-entendidos. Historicamente doutrinas
filosóficas, religiosas e científicas têm estudado a morte e seus eventos
promotores de angustias, temores e ansiedades para a humanidade, notadamente
quando foi encarada como um fenômeno físico submetido a apreciações e estudos
exaustivos, sendo, no entanto, apesar dessas pesquisas, ainda um mistério.
A
Tanatologia é originária, segundo Torres e Torres (1983), do grego “thánatos”, identificado na mitologia
grega como o deus da morte. Este deus grego, Tânatos, convivia com Eros, deusa
do amor, no contexto mitológico grego. Tal origem traz a representação de que
Tanatologia é a ciência que estuda a morte, onde as suas correlações com a vida
em diversos momentos históricos deixam entendidas todos os anseios e temores
humanos diante da morte.
Historicamente,
a herança cultural sobre a morte vem das gerações mais antigas por meio das culturas
que, segundo Bock, Furtado e Texeira (2201),.foram legadas pela modernidade,
desde estudos realizados por arqueólogos e antropólogos onde se descobriu que o
homem de Neanderthal já se preocupava com seus mortos.
Na
pré-história, conforme Martins (1983), os mortos dos povos antigos eram
cobertos por pedras, principalmente acobertando seus rosto e a cabeça, visando
a proteção do cadáver da ação de animais, como também na tentativa de se evitar
o retorno de mortos ao mundo dos vivos. Considera, ainda, Martins (1983, p. 32)
que “Mais tarde, eram depositados alimentos e as armas do morto sobre a
sepultura de pedras e o esqueleto era pintado com uma substância vermelha”.
Os
egípcios da antiguidade, conforme os estudos de Kastenbaum e Aisenberg (1983), deixavam
ver que em sua sociedade bastante desenvolvida do ponto de vista intelectual e
tecnológico, consideravam a morte como uma ocorrência dentro da esfera de ação,
uma vez que possuíam um sistema que tinha como objetivo, ensinar cada indivíduo
a pensar, sentir e agir em relação à morte.
Também
os malaios, segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983, p. 132): Os malaios, por viverem em um sistema comunitário intenso,
apreciavam a morte de um componente, como uma perda do próprio grupo. Desta
feita, um trabalho de lamentação coletiva diante da morte era necessário aos
sobreviventes. Ademais, a morte era tida não como um evento súbito, mas sim
como um processo a ser vivido por toda a comunidade. Deixam claro os autores, portanto, que na
antiguidade, após a morte, o justo irá para o paraíso enquanto as versões
nórdicas rejeitavam a idéia de paraíso porque não esperavam as mesmas delícias
que os orientais, após a morte. Tais curiosidades trazem no bojo o entendimento
de que, na Antiguidade, o ser humano deseja, ao menos após a morte, obter o
conforto que não conseguiu em vida. E que as pessoas podiam escolher onde iriam
morrer; longe ou perto de tais pessoas, em seu lugar de origem; deixando
mensagens a seus descendentes.
Para
Kovács (1998), outras exposições são encontradas, por exemplo, na mitologia do budismo
onde é ocorre a busca por afirmar a inevitabilidade da morte. Também na
mitologia hindu, a morte é encarada como uma válvula de escape para o controle
demográfico. Os Antigos de Constantinopla mantinham os cemitérios afastados das
cidades e das vilas, bem como os cultos e honrarias que prestavam aos mortos,
tinham como objetivo mantê-los afastados, de modo que não "voltassem"
para perturbar os vivos.
Na
Idade Média, conforme Martins (1983), a visão de morte é encarada a partir da
disposição dos cemitérios cristãos que se localizavam no interior e ao redor
das igrejas, significando lugar onde se deixa de enterrar. Há de se considerar
que a Idade Média foi um período critico com turbulências sociais violentas,
período marcado pela mudança radical do homem encarar a morte. É neste sentido qie
Kastenbaum e Aisenberg (1983, p. 138) relatam: A
sociedade do século catorze foi assolada pela peste, pela fome, pelas cruzadas,
pela inquisição; uma série de eventos provocadores da morte em massa. A total
falta de controle sobre os eventos sociais, teve seu reflexo também na morte,
que não podia mais ser controlada magicamente como em tempos anteriores. Ao
contrário, a morte passou a viver lado a lado com o homem como uma constante ameaça
a perseguir e pegar a todos de surpresa.Esse descontrole, traz à consciência do
homem desta época, o temor da morte. Com
isso, entende-se que as atitudes perante a morte, nas sociedades do Ocidente
cristão, da Idade Média aos dias atuais, vão da aceitação predominante na primeira
Idade Média, depois a simplicidade, a socialização do homem com a morte, a
parca ou nenhuma preocupação com o destino futuro dos corpos, observando-se,
inclusive, que no século XII, a morte é vista com maior dramaticidade, individualidade,
quando o homem vai descobrindo a "morte de si mesmo" e a morte
adquire características eróticas e de morbidez.
Com
o século das Luzes e do Barroco, a morte começa a ser dramatizada, exaltada.
Toma sentido a "morte do outro", e a morte assume o sentido de
ruptura, passa a ser indesejável, embora admirada pela beleza que lhe dá o
romantismo.
A
morte do século XIX é acompanhada, no leito do moribundo, por ritos e
manifestações de choros, gestos dramáticos, uma afetividade macabra, pela
religião emotiva do catolicismo romântico ou do petismo protestante. Surge o
culto contemporâneo dos túmulos individuais ou familiares, da sepultura como
propriedade particular e perpétua e o culto da saudade, com as periódicas
peregrinações aos cemitérios. A civilização urbana e industrial intervém nas
novas atitudes funerárias. A morte, no século XIX é um tabu, que substitui o
tabu do sexo de há pouco tempo ou da era vitoriana. E ao penetrar nessa
superfície constituída por relato literário, o cientista social depara com
camadas profundas de dados culturais interessantes e significativos. Eles
incluem um variado conjunto de crenças e ritos relativos à morte e aí se
encontram. São prescrições próprias do catolicismo em graus variáveis de
consonância com a ortodoxia; são crenças e ritos de procedência africana,
combinada e recombinadas, entre grupos africanos culturalmente diferentes e
entre essas diferentes crenças africanas e as variações próprias do
cristianismo do colonizador católico.
No
Brasil, o tema da morte é praticamente inexplorado; pelo menos dentro de um
tratamento da demografia e das atitudes, comportamentos e representações das
sociedades do passado. Os historiadores pouco se voltaram para o assunto. São
os antropólogos primeiro, seguidos dos sociólogos e psicólogos que vão
desbravando as primeiras veredas.
Numa
abordagem conceitual a morte é descrita através de várias perspectivas na
literatura de todo o mundo. Em primeiro lugar, a morte ou óbito são termos que se
referem duplamente ao fim da vida de um determinado ser, ou o estado deste ser
depois da ocorrência do seu fim. Razão pela qual, biologicamente, a morte
ocorre na parte do ser, ou em todo ser, ou em ambos os casos. Por isso, a morte
é vista na perspectiva de várias teorias, dentre elas, segundo Stedeford
(1986), a da Extinção Absoluta, mais conhecida como teoria materialista que
entende acaba a permanência da vida quando ocorre a morte física.
Na
teoria Teológica, mais conhecida como Teoria do Céu e Inferno, Stedeford
(1986), entende os anseios humanos de que numa vida eterna além da física é
determinada pela conduta na vida física.
Na
Teoria do Renascimento ou da Reencarnação, Stedeford (1986) explica em seus
estudos que através de renascimentos sucessivos em corpos físicos e com
diferentes experiências de vida para alcançar a expansão de consciência e
perfeição espiritual. Também é a morte, na maioria das vezes, usada, para o
autor mencionado, numa definição mais conservadora de morte: a interrupção da
atividade elétrica no cérebro como um todo, e não apenas no neocórtex. Tal
entendimento leva a apreensão de que, segundo Stedford (1986, p. 71): A irreversibilidade é constantemente citada como um atributo
da morte. Cientificamente, é impossível trazer de novo à vida um organismo
morto. Se um organismo vive, é porque ainda não morreu anteriormente. No
entanto, muitas pessoas não acreditam que a morte física é sempre e
necessariamente irreversível, enquanto outras acreditam em ressuscitação do
espírito ou do corpo e outras ainda, têm esperança que futuros avanços
científicos e tecnológicos possam trazê-las de volta à vida, utilizando
técnicas ainda embrionárias, tais como a criogenia ou outros meios de ressuscitação
ainda por descobrir. Alguns biólogos acreditam que a função da morte e
primariamente permitir a evolução da espécie. A
partir disso encontra-se que atualmente, quando requerida, a morte geralmente,
conforme Stedford (1986), é esclarecida como morte cerebral ou morte biológica:
pessoas são dadas como mortas quando a atividade cerebral acaba por completo.
Presume-se que a cessação de atividade elétrica no cérebro indica fim de
consciência. Porém, aqueles que mantêm que apenas o neocórtex do cérebro é
necessário para a consciência, argumentam que só a atividade elétrica do
neocórtex deve ser considerada para definir a morte.
A
partir daí, várias são as expressões entendidas acerca dos conteúdos que se
demonstram negativos por causa das associações da morte aos flagelos, torturas,
conteúdos macabros e perversos, relacionando-se a castigo e punições
perturbadoras nos seres humanos desencadeando um completo estranhamento acerca
do seu evento. Além disso, a morte dos mais próximos e amigos passa a ser uma
das mais importantes formas da tipologia da morte a causar problemas nos seres
humanos, trazendo até conseqüências devastadoras quando da ocorrência de falecimento
de entes queridos e desconhecidos, discutindo-se o seu significado religioso,
filosófico, social, dentre outros.
Os
estudos freudianos recolhidos por Stedford (1986, p. 75) registram que a morte
de um ente querido revolta por levar consigo uma parte do próprio ser, uma vez
que “Para a psicanálise, a intensidade da
dor frente à uma perda, se configura narcisicamente como a morte de parte de si
mesmo”.
A
morte, na contemporaneidade, é vista, conforme Kübler-Ross (1997), culturalmente,
não incorporada à vida, mas sim como castigo ou punição, principalmente quando são
cada vez mais intensas e velozes as mudanças sociais, expressas pelos avanços
tecnológicos, onde o homem tem se tornado cada vez mais individualista, convivendo
com a idéia de que uma bomba pode cair do céu a qualquer momento. Para Kübler-Ross
(1997, p. 69), "Diminuindo a cada
dia sua capacidade de defesa física, atuam de várias maneiras suas defesas
psicológicas", ao mesmo tempo que as atrocidades se transformam em verdadeiras
pulsões de destruição, detectando, portanto, a dimensão visível da pulsão de
morte. Também a morte é encarada como ruptura de um vínculo. Ou como fracasso,
a impotência, a depressão, a negação, a evasão. Portanto, a morte em si está
ligada a uma ação má, a um acontecimento medonho, a algo que em si clama por
recompensa ou castigo.
Na
sociedade onde predomina o homem da massa, em detrimento do homem como
indivíduo e com o distanciamento cada vez maior do homem em relação à morte,
cria-se um tabu, como se fosse desaconselhável ou até mesmo proibido falar
sobre este tema. É neste sentido que Torres e Torres (1983, p. 110) expressam: Esse quadro atual nos revela a dimensão da cisão que o homem
tem feito entre vida e morte, tentando se afastar ao máximo da idéia da morte,
considerando sempre que é o outro que vai morrer e não ele. Nos lançamos então
à questão da angústia e do medo em relação à morte. Com isso Torres e Torres (1983, p. 112)
entendem que, por meio da Psicanálise Existencial, esta revela a dimensão da
angústia da morte: "A angústia mesma nos revela que a morte e o nada se
opõe à tendência mais profunda e mais inevitável do nosso ser", que seria
a afirmação do si mesmo. Recolhem os autores que a partir de Freud situa ou na
reação a uma ameaça exterior, ou como na melancolia, ao desenrolar de um
processo interno. Fato este que leva Kastenbaum e Aisenberg (1983) a entender
que o ser humano lida com duas concepções em relação à morte: a morte do outro,
da qual todos nós temos consciência, embora esteja relacionada ao medo do abandono;
e a concepção da própria morte, a consciência da finitude, na qual evitamos
pensar, pois, para isto, temos que encarar o desconhecido. Daí, entende Kovács
(1998, p. 84) que: "O medo é a
resposta mais comum diante da morte. O medo de morrer é universal e atinge
todos os seres humanos, independente da idade, sexo, nível sócio-econômico e
credo religioso". Isto porque, para o autor, o homem é o único animal
que tem consciência de sua própria morte.
Contemporaneamente
as discussões filosóficas, científicas, psicológica e psicanalítica,
principalmente a partir de Bataille (2004), trazendo a noção a partir das
pulsões de morte, transgressão, nascimento e morte, redundando nos debates
atuais. A questão envolve a discussão alusiva a afinidade entre a reprodução e
a morte, quando, segundo Bataille (2004), se delineia a morte, a decomposição e
a renovação da vida. É neste sentido que Bataille (2004, p. 84) assinala que
“[...] as interdições responderam à
necessidade de afastar a violência do curso habitual das coisas”, quando,
mais adiante, assinala que “A morte e a
reprodução se opõem como a negação à afirmação”, sendo que, no entanto,
considera que a vida é a negação da morte, uma vez que a mesma é a sua
exclusão. Diz Bataille (2004, p. 85) que: A vida é
sempre um produto da decomposição da vida. Ela é tributária em primeiro lugar,
da morte, que cede o lugar; em seguida, da decomposição, que sucede a morte, e
recoloca em circulação as substancias necessárias à incessante vinda ao mundo
de novos seres. Neste
tocante o autor acentua a dicotomia entre vida e morte, reprodução e
decomposição, delineando, no entanto, a noção antagônica, porem complementar
entre si que as relacionam e as tornam complementares em suas essências. No
entanto, mais adiante Bataille (2004, p. 92) assinala que: [...] a morte sozinha assegura um constante
reflorescimento sem o qual a vida declinaria. Recusamo-nos a ver que a vida é a
armadilha oferecida ao equilíbrio, que ela é inteiramente a instabilidade, o
desequilíbrio no qual se precipita. É um movimento tumultuoso que atrai
incessantemente a explosão. Mas a explosão incessante não cessa de esgotá-la, e
ela só continua sob uma condição: que os seres que ela engendra, e cuja força
de explosão está esgotada, detem lugar a novos seres, que entram na roda com
uma nova força. É neste
sentido que o autor advoga a relação existente entre o nascimento e a morte, a
reprodução e a decomposição, assegurando que a sexualidade e a morte não são
nada além de movimentos agudos de uma festa que a natureza celebra com
inesgotável multidão de seres, ambos tendo o sentido do desperdício ilimitado
ao qual a natureza vai ao encontro do desejo de durar que é próprio de cada
ser, mesmo diante da constatação de finitude, da condenação ao fim existencial,
da certeza de que a vida um dia terá um fim determinado na morte e na
decomposição. É a partir disso que fica claro nas idéias do autor em questão,
que a teoria já difundida e bem retumbante nos meios psicanalíticos,
filosóficos e científicos de que o ser humano nasce morrendo, indicando assim a
contagem regressiva de sua existência e, deixando claro, portanto, que a morte
não é a tragédia nem o evento fatal da existência humana, mas a conseqüência das
transformações vitais como um acontecimento natural a ser entendido como tal.
Estudar
a Tanatologia é, conforme visto, abordar a morte no seu mais amplo sentido,
mesmo que ela, a morte, não tenha um significado único geral. Isto quer dizer,
portanto, que o entendimento dessa variedade de significação do termo morte,
leva-se a um necessário aprofundamento acerca do tema proposto no presente
trabalho. Em razão disso, em primeiro lugar há que se entender o tabu que representa
a abordagem do tema morte, um evento que assusta, causa temor, apavora e leva a
depressão ou insatisfação da vida. No entanto, há que se entender que este
comportamento diante da morte, é um comportamento cultural: desde as mais
antigas civilizações do planeta, a morte causa fascínio e temor. É exatamente
por meio do estudo realizado pela Tanatologia que se pode evidenciar um caminho
para se aprofundar estudos e pesquisas que levem á superação das pessoas diante
do evento da morte e suas conseqüências na vida humana. Entende-se, com isso,
que é a Tanatologia que proporcionará uma consciência da finitude humana e do
evento natural da morte para o ser humano, cabendo necessariamente ampliação
nos debates acerca de tão importante temática na vida de todas as pessoas.
REFERÊNCIAS
BATAILLE,
Georges. O erotismo. São Paulo: Atx, 2004.
BOCK,
Ana M. Bahia; FURTADO Odair; TEIXEIRA Maria de L. Trassi. Psicologias; uma introdução ao estudo de
Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.
KASTENBAUM,
R. e AISENBERG, R. Psicologia da morte. São Paulo: EDUSP, 1983.
KOVÁCS,
Maria Julia. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo,
1998.
KUBLER-ROSS, Elizabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes,
1979.
MARTINS, José de Sousa. A
morte e os mortos. São Paulo, Hucitec, 1983.
STEDEFORD, A. Encarando a morte. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
TORRES, W. e TORRES, R. A psicologia e a morte. Rio de Janeiro: FGV, 1983. Veja mais aqui, aqui e aqui .
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mais sobre:
A poesia
nossa de cada dia, Mario de Andrade, Gerardo Mello Mourão,
Jacques Tati, Camille Saint-Saëns, Empédocles de Agrigento, Jeremy Lipking,
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Bestinha se vê enrolado num namorico de virar idílio estopolongado aqui.
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Proezas
do Biritoaldo: Quando a adversidade
aperta, o biltre bota o rabinho entre as pernas aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Leitora
parabenizando o Tataritaritatá.
CANTARAU: VAMOS
APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.