ESSA MENINA - Essa menina é
feita de lua. Ela voa na rua prontinha querubin. E me apronta tlin tlin no alto
da campina onde tudo é cantina feita só de si. Ah, essa menina que dança com
jeito, somente a gingar. Qual estrela lá mansa na unha matutina, desde sonsa
ilumina onde antes supunha nunca existir. Ela está sempre aqui como chama na
retina, como a grama que mina todo o quintal. E se faz de vestal de todos os
presságios. Ela alucina ao contágio. E ela só vale ágio na sina do apelo a
brilhar nos cabelos toda magia. O que eu mais queria: roubar o seu cheiro, seu
secreto terreiro de tangerina. Ah, fulmina iminente – ela não é gente – é deusa
a mendigar. Essa menina é feita de mar, intensa, quiçá, real mais divina.
Quando vem cabotina só me desmantela. Ela vira a janela pronta pr´eu abrir. Essa
menina chega com o olhar ardendo de vida. Quase desvalida com a boca nas asas
que vaza e é guia perdidas esquinas, toda emoção repentina com o sopro de
aguerrida na pele. O paladar que repele na maior febre, que tudo se quebre ao
sol posto - a saliva com gosto de boa cajuína. Ela é tão traquina: o seio da
boca sedenta. E venta maior ventania. E, todavia, se põe a chover: o corpo
queimando o prazer. Essa menina é feita do rio que escorre ao quadril pra me
afogar. Patati, patatá, é ela que me abriga como se eu fosse a viga que ela
quer sustentar. Essa menina, bailarina da noite, em carne viva, vitalina, essa
flor menina a me servir sucessivas entregas, peças que prega nos meus cinco
sentidos. Essa menina é feita de peso: a coxa tatua o desejo que as pernas
eqüinas rolam sobejo do sexo azul. Eu todo taful com seus pés nos meus braços
que o abraço fulmina e lateja, água que poreja tão pequenina e vira ribeirão na
luz feminina. Vingo-lhe a nuca que me ilumina e ela me sorri encantada,
franzina com a gula que vai da glória à ruína. Essa menina e a mão culpada de
amor. Ela brota, ereta, me socorre, me empesta. Salta da grota, na greta,
virada na breca, capeta, na alvura exalta, cristalina. E tudo se arrasta,
arrebata, contamina. E me larga no sopro. Meu corpo oficina. Maior serpentina
de carnaval. E me faz imortal. Vem e ilumina a vida toda esquecida no meio da
paixão. É quando, então, ela cisma do mundo e reduz quase tudo na palma da mão
onde ela mais que altaneira me deita na esteira e me nina um milênio de paixão.
© Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Fico
feliz em ganhar a vida fazendo algo divertido que é classificado como uma arte
menor. A maioria dos idosos diz que nunca se sentiu tão jovem; eu nunca me
senti tão velha . Tenho habilidades muito desenvolvidas para não fazer nada. Não
sou um grafomaníaca, como Cabu, que desenha nos bolsos ou nas costas. Quando
estou trabalhando em um álbum, é tão cansativo, levar sem trégua quando eu
gosto, então, difícil de parar completamente. Meu desenho decorre menos do
sentido de observação do que do sentimento de pertencimento a um grupo social.
Eu sempre falo mais ou menos de mim e meus personagens tiram sarro de minhas
próprias falhas Pensamento da cartunista francesa Claire
Bretécher (1940-2020), criadora de obras como Les Frustrés
e a adolescente Agrippine.
ALGUÉM FALOU: Ao longo
dos anos tem havido um crescente número de mulheres em uma grande gama de
cargos, como professoras associadas, professoras universitárias e cargos
elevados na administração das universidades. Mas ainda há uma subrepresentação
das mulheres que ocupam papéis importantes nos laboratórios fazendo
experimentos. Quando estava na graduação, 50% dos alunos da turma e da própria
universidade eram mulheres. Agora estou numa posição em que há menos de 10% de
mulheres no mesmo patamar. Pensamento da bióloga molecular
estadunidense Carol Greider, Premio Nobel de Medicina de 2009, que
noutra ocasião assim se expressou: Uma
foto apareceu nos jornais em que estou com meus filhos. Quantos homens que
ganharam o Nobel nos últimos anos, e que têm filhos da mesma idade que os meus,
aparecem em uma foto em que seus filhos estão presentes? Essa é uma grande
diferença não é? Em si, esta é uma afirmação.
PSICANÁLISE DO FOGO – [...]
O fogo aceita os valores opostos do bem e do mal [...] Brilha no paraíso e arde no inferno [...] É doçura e tortura, bom e mau [...] Calor doméstico e apocalipse [...] Ele pode ser brincadeira e castigo para a criança próxima a uma
lareira, diz ainda o filósofo que conclui: O fogo é grande mestre de
tolerância, já que aceita contradições [...] Uma psicanálise indireta e segunda que buscaria sempre o inconsciente
sob o consciente, o valor subjetivo sob a evidência objetiva, o devaneio sob a experiência.
Só se pode estudar o que primeiramente se sonhou. A ciência se forma mais sobre
um devaneio do que sobre uma experiência [...]. Trechos extraídos da obra La psychanalyse du feu (Idées Gallimard,
1972), do filósofo, crítico literário e epistemólogo francês Gaston
Bachelard (1884-1962). Veja mais aqui e aqui.
A LENDA DA LLORONA – Llorona, um poema: Não nubla, senhora, a luz de seus olhos, / não
chore, senhora, porque chorar te deixa feia / e o rim inunda com estrepes feridos / Bem,
quem chora muito muito pouco faz xixi. / Se fosse pelos seus filhos, pare de
chorar. / Se fosse pelo seu amante, mais uma razão... / Llorona, a morte nunca
é um grande problema / e você tem que morder a bala −dizem– coração. / Lágrimas
de sangue ou água alcalina / nem diluem o amor nem despertam o amor; / mas em
vez disso, eles infame de humildade canina / e a alma ondula e a córnea
irrita... / Não chore, Llorona, porque chorar te deixa feia / e quem chora
muito mija muito pouco... Poema do poeta e jornalista mexicano Renato
Leduc (1897-1986), dando conta da lendária Llorona:
uma mulher que perdeu os seus filhos, que foi convertida numa alma penada,
procura-os em vão, perturbando com o seu pranto os que a ouvem. No México
colonial, a cada noite os sinos do templo católico marcavam o toque de
recolher, às onze da noite. Passada essa hora, começavam a ouvir prantos e
gritos angustiosos, emitidos por uma mulher sobrenatural, que percorria de
madrugada da colônia espanhola e desaparecia misteriosamente antes do alvorecer.
Após o acontecimento que se repetia por várias noites, os vizinhos começaram a
se interrogar quem seria essa mulher que pretendia se afogar. Aflorando às
janelas e saindo inesperadamente ao seu encontro, distinguiram uma mulher
vestida de branco, oculta por um véu, magra e cadavérica, que se ajoelhava
olhando a Oriente na praça Maior. Ao ver que a seguiam, se desvanecia entre a
bruma junto ao Lago de Texcoco. Essa história foi resgatada de uma narrativa de
Malinche, uma indígena do México traduzia a língua local e foi uma auxiliar de
Cortês, inscrita no Lienzo Tlaxcala - Roupa de Tlaxcala, que foi um documento
traduzido, no século XV. Aí formularam diversas teorias sobre a fantasmagórica
desconhecida, que o povo, por sua perpétua aflição, começou a chamar: Llorona.
Dizia-se que era uma mulher indígena, apaixonada por um cavaleiro espanhol ou
criollo, com quem teve três meninos. No entanto, ele não formalizou a sua
relação: limitava-se a visitá-la e evitava casar-se com ela. Tempo depois, o
homem casou-se com uma mulher espanhola, pois tal enlace resultava-lhe maior
conveniência. Ao certificar-se, Llorona, enlouqueceu de dor e afogou os seus
três filhos no rio. Depois, ao ver o que tinha feito, se suicidou. Desde então,
o seu fantasma tem se ouvido a gritar "Ai, meus filhos!" (ou então,
emite um gemido mudo). Costumam achá-la na margem do rio, percorrendo o lugar
onde morreram os seus filhos e onde ela pôs termo à vida. Alguns interpretam a
lenda com a crença totonaca nas Cihuateteo, mulheres mortas de parto e que se tornaram
deusas.
DOS DRAGÕES – [...] Não existe
algo como impossível, Soluço, apenas improvável. A única coisa que nos limita
são os limites da nossa imaginação [...] Às
vezes é apenas um Verdadeiro Amigo que sabe o que queremos dizer quando
tentamos falar. Alguém que passou muito tempo conosco e ouve atentamente o que
estamos tentando dizer e tenta entender. [...] Para um herói não pode triunfar o tempo todo. Às vezes ele será
derrotado, e como ele enfrenta essa derrota é um teste de seu caráter. [...] Trechos extraídos da obra How to Train Your Dragon (Little, Brown Books/Young Readers, 2010), da escritora
inglesa Cressida Cowell.
CACTO - Insólito,
agressivo, / de pudor botânico: / cacto. / Espantalho / da chuva, / bandido
xerófilo, / multiapunhalante. / Mãos ásperas / lixam o tempo. / A língua / dura
e espinhenta / lambe e fere / o ígneo vento. / Cacto de aço / verde árido. / Mas
/ com o pranto nas raízes / e o impacto cromático / da flor cactácea / que se /
abre neste mormaço. Poema O Galo
e o Cata-vento (1962), do poeta, jornalista, professor e
memorialista Mauro Mota (1911-1984). Veja mais aqui e aqui.
A arte
do fotógrafo e diretor de cinema britânico David
Hamilton (1933-2016).
PROGRAMA
DOMINGO ROMÂNTICO – O programa Domingo
Romântico que vai ao ar todos os domingos, a partir das 10hs (horário
de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio
Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação deste domingo aqui. Na edição deste 12/08 do programa Domingo Romântico, uma
produção da radialista e poeta Meimei Correa e apresentado por Luiz
Alberto Machado, além de comemorar 2 mil membros parceiros no Grupo
do Facebook, está com uma programação especial pra você, confira
as atrações: Leos Janacek, Thomas Mann, John
Cage, Miguel Torga, Pat Metheny, Jules Massenet, Gonçalves Dias, Dmitri
Shostakovich, Bertolt Brecht, Herbert de Sousa (Betinho), William Blake, Elis
Regina, Jorge Amado, Ian Fleming, Helena Meirelles, Hamilton de Holanda, Dire
Straits, Marcus Viana, Beto Guedes, Leo Gandelman, Adriana Calcanhotto, Chico
Buarque, Milton Nascimento, Ivan Lins, Jacob do Bandolim, Djavan, Claudionor
Germano, Preta Gil, Fafá de Belém, Jetro Tull, Clara Nunes, Ana de Hollanda,
Sonia Mello, Santanna, o Cantador, Roberta Sá, Tábata Corso, Virginia Rosa,
Maytê Correa, Paulo Cesar Pinheiro, Giovana Guastaldi, Teresa Cristina, Agepe,
Junior Ribas, Jorge Medeiros & muito mais. Veja mais aqui.

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