DITOS &
DESDITOS - Fico
feliz em ganhar a vida fazendo algo divertido que é classificado como uma arte
menor. A maioria dos idosos diz que nunca se sentiu tão jovem; eu nunca me
senti tão velha . Tenho habilidades muito desenvolvidas para não fazer nada. Não
sou um grafomaníaca, como Cabu, que desenha nos bolsos ou nas costas. Quando
estou trabalhando em um álbum, é tão cansativo, levar sem trégua quando eu
gosto, então, difícil de parar completamente. Meu desenho decorre menos do
sentido de observação do que do sentimento de pertencimento a um grupo social.
Eu sempre falo mais ou menos de mim e meus personagens tiram sarro de minhas
próprias falhas Pensamento da cartunista francesa Claire
Bretécher (1940-2020), criadora de obras como Les Frustrés
e a adolescente Agrippine.
ALGUÉM FALOU: Ao longo
dos anos tem havido um crescente número de mulheres em uma grande gama de
cargos, como professoras associadas, professoras universitárias e cargos
elevados na administração das universidades. Mas ainda há uma subrepresentação
das mulheres que ocupam papéis importantes nos laboratórios fazendo
experimentos. Quando estava na graduação, 50% dos alunos da turma e da própria
universidade eram mulheres. Agora estou numa posição em que há menos de 10% de
mulheres no mesmo patamar. Pensamento da bióloga molecular
estadunidense Carol Greider, Premio Nobel de Medicina de 2009, que
noutra ocasião assim se expressou: Uma
foto apareceu nos jornais em que estou com meus filhos. Quantos homens que
ganharam o Nobel nos últimos anos, e que têm filhos da mesma idade que os meus,
aparecem em uma foto em que seus filhos estão presentes? Essa é uma grande
diferença não é? Em si, esta é uma afirmação.
PSICANÁLISE DO FOGO – [...]
O fogo aceita os valores opostos do bem e do mal [...] Brilha no paraíso e arde no inferno [...] É doçura e tortura, bom e mau [...] Calor doméstico e apocalipse [...] Ele pode ser brincadeira e castigo para a criança próxima a uma
lareira, diz ainda o filósofo que conclui: O fogo é grande mestre de
tolerância, já que aceita contradições [...] Uma psicanálise indireta e segunda que buscaria sempre o inconsciente
sob o consciente, o valor subjetivo sob a evidência objetiva, o devaneio sob a experiência.
Só se pode estudar o que primeiramente se sonhou. A ciência se forma mais sobre
um devaneio do que sobre uma experiência [...]. Trechos extraídos da obra La psychanalyse du feu (Idées Gallimard,
1972), do filósofo, crítico literário e epistemólogo francês Gaston
Bachelard (1884-1962). Veja mais aqui e aqui.
A LENDA DA LLORONA – Llorona, um poema: Não nubla, senhora, a luz de seus olhos, / não
chore, senhora, porque chorar te deixa feia / e o rim inunda com estrepes feridos / Bem,
quem chora muito muito pouco faz xixi. / Se fosse pelos seus filhos, pare de
chorar. / Se fosse pelo seu amante, mais uma razão... / Llorona, a morte nunca
é um grande problema / e você tem que morder a bala −dizem– coração. / Lágrimas
de sangue ou água alcalina / nem diluem o amor nem despertam o amor; / mas em
vez disso, eles infame de humildade canina / e a alma ondula e a córnea
irrita... / Não chore, Llorona, porque chorar te deixa feia / e quem chora
muito mija muito pouco... Poema do poeta e jornalista mexicano Renato
Leduc (1897-1986), dando conta da lendária Llorona:
uma mulher que perdeu os seus filhos, que foi convertida numa alma penada,
procura-os em vão, perturbando com o seu pranto os que a ouvem. No México
colonial, a cada noite os sinos do templo católico marcavam o toque de
recolher, às onze da noite. Passada essa hora, começavam a ouvir prantos e
gritos angustiosos, emitidos por uma mulher sobrenatural, que percorria de
madrugada da colônia espanhola e desaparecia misteriosamente antes do alvorecer.
Após o acontecimento que se repetia por várias noites, os vizinhos começaram a
se interrogar quem seria essa mulher que pretendia se afogar. Aflorando às
janelas e saindo inesperadamente ao seu encontro, distinguiram uma mulher
vestida de branco, oculta por um véu, magra e cadavérica, que se ajoelhava
olhando a Oriente na praça Maior. Ao ver que a seguiam, se desvanecia entre a
bruma junto ao Lago de Texcoco. Essa história foi resgatada de uma narrativa de
Malinche, uma indígena do México traduzia a língua local e foi uma auxiliar de
Cortês, inscrita no Lienzo Tlaxcala - Roupa de Tlaxcala, que foi um documento
traduzido, no século XV. Aí formularam diversas teorias sobre a fantasmagórica
desconhecida, que o povo, por sua perpétua aflição, começou a chamar: Llorona.
Dizia-se que era uma mulher indígena, apaixonada por um cavaleiro espanhol ou
criollo, com quem teve três meninos. No entanto, ele não formalizou a sua
relação: limitava-se a visitá-la e evitava casar-se com ela. Tempo depois, o
homem casou-se com uma mulher espanhola, pois tal enlace resultava-lhe maior
conveniência. Ao certificar-se, Llorona, enlouqueceu de dor e afogou os seus
três filhos no rio. Depois, ao ver o que tinha feito, se suicidou. Desde então,
o seu fantasma tem se ouvido a gritar "Ai, meus filhos!" (ou então,
emite um gemido mudo). Costumam achá-la na margem do rio, percorrendo o lugar
onde morreram os seus filhos e onde ela pôs termo à vida. Alguns interpretam a
lenda com a crença totonaca nas Cihuateteo, mulheres mortas de parto e que se tornaram
deusas.
DOS DRAGÕES – [...] Não existe
algo como impossível, Soluço, apenas improvável. A única coisa que nos limita
são os limites da nossa imaginação [...] Às
vezes é apenas um Verdadeiro Amigo que sabe o que queremos dizer quando
tentamos falar. Alguém que passou muito tempo conosco e ouve atentamente o que
estamos tentando dizer e tenta entender. [...] Para um herói não pode triunfar o tempo todo. Às vezes ele será
derrotado, e como ele enfrenta essa derrota é um teste de seu caráter. [...] Trechos extraídos da obra How to Train Your Dragon (Little, Brown Books/Young Readers, 2010), da escritora
inglesa Cressida Cowell.
CACTO - Insólito,
agressivo, / de pudor botânico: / cacto. / Espantalho / da chuva, / bandido
xerófilo, / multiapunhalante. / Mãos ásperas / lixam o tempo. / A língua / dura
e espinhenta / lambe e fere / o ígneo vento. / Cacto de aço / verde árido. / Mas
/ com o pranto nas raízes / e o impacto cromático / da flor cactácea / que se /
abre neste mormaço. Poema O Galo
e o Cata-vento (1962), do poeta, jornalista, professor e
memorialista Mauro Mota (1911-1984). Veja mais aqui e aqui.
A arte
do fotógrafo e diretor de cinema britânico David
Hamilton (1933-2016).