A arte do artista francês de história em quadrinhos Jean
Giraud (1938-2012), também conhecido pelos pseudônimos de Moebius
e Gir. Veja mais abaixo.
PARÊNTESIS LUXURIOSOS - (ou,
meu navio a sorte inventa...) (...sim, eu posso estar louco de pedra rasgando o
senso e a lucidez mas tenho a palavra de Goethe
ao dizer que quem contempla a beleza humana, a nada de mal se expõe e que, por
isso, está em harmonia consigo e o mundo. Estando, então, só, comigo e na noite
em que os desejos afloram e ardem no aflogístico da paixão, onde os ombros
carentes e desencontrados buscam braços solícitos, querências vadias, conexões
dos dias e noites vazias, metades nômades ancoradas na distância.
Ziguezagueando, assim, entre luzes e sons estonteantes fazia-se festa
revolvedora de íntimos e fantasias. Jamiroquai
alfinetando quereres, loucuras e remelexos sensuais, bulindo com a minha
pasmaceira, acendendo-me a vida distante, perdida. Assim fervia. Girava. Girava
mais que o globo do salão em fantasias psicodélicas colorindo meu universo
insone e marasmódico. Parece mais que perdera a minha fatia de felicidade e
presenciava a dos outros. Quê se dera comigo? Penar de amor para sempre, será?
Nem Pomona, nem ninguém. Minha
maldição? O desinfeliz de tudo? Ah! Que seja. Infincar-me no dissabor não
resolveria nada, melhor entrar na dança e no compasso de Jamiroquai que
convidava a um universo oculto onde um barco protótipo das antigas navegações,
atravessava o recinto expondo cabeças de carneiros que se encontravam no
pedestal onde uma mulher seminua com um cetim argênteo e brilhoso ao lado de
outras completamente nuas com asas de abutre e máscara de falcão. Ah! O aroma
de um perfume agradável permeava o ambiente e inebriava a minha alma. Tudo
muito multicor, irisando minha indolência. Isso e o desfile de famélicas,
oxigenadas, vampiras; gelfas magricelas; lívidas fadas bisonhas; airosas
ebrifestivas; garbosas amásias; divas, peruas e peiticas; vitalinas ariscas,
leigas vestais; papas-hóstia, heroínas, malvadas e resignadas eram nada mais
que Nefertitis ou Valquírias de minhas alucinações; Nereidas ou Cibeles
profanando minhas crenças pagãs; Sekhmets ou Bastets que ferviam meu sangue;
Cleópatras ou Deméteres lisonjeiras; Reas ou Dalilas da minha fome; Gês ou
Madalenas de minha gula sedenta; Iemanjás ou Isis da minha cobiça desenfreada;
Joanas D’Arc ou Mirians dos meus onirismos luxuriosos; Lucrécias Bórgia ou
Mayas da minha satisfação ininterrupta; Pagus ou Shing-Moos da minha
concupiscência; Helenas ou Aditis dos meus queimores sexuais. Ou eram Eríneas,
Parcas, Moiras, Harpias que imolavam meu ser sedento. Era essa, será, uma
artimanha de Perséfone, a minha Mata Hari que sabia do meu fígado lacerado,
minha loucura insone, meu clamor irremediável, meu querer preterido no desfile
das Esfinges saborosas que decifravam-me ou devoravam-me, e a minha amartia: um
verso feito de palavras que não se dizem do amor. Sabia. Era o amor e me vi ao
lado de uma linda Arlene Cockburn, exuberante e faceira. Olhos grandes me
fitavam. Silente, risível. O álcool subtraíra a timidez e dera-me ânimo de
enfrentá-la. Falamos, desdizemos. Ela sussurrou inquirições inaudíveis e eu
paspalho me ria de nada entender. Puxou-me num canto e me contou da vida, dos
sonhos, dos fracassos, de como perdeu a virgindade, suas lembranças e seus
medos; que um príncipe encantado jamais cruzaria sua vida e coisas mais outras
assim. Ouvi, e como diz o ditado anônimo: um arqueiro habilidoso atira uma
flecha de cada vez. Preferi ouvi-la. Era interessante vê-la delatar seus
mistérios, me fiz por entender, solidário. Nisso, tudo é lícito em meu querer,
não há pecado que invalide a paixão. Principalmente quando nas minhas
querências insaciáveis ela surge mágica turífera na minha nutriz adoração,
caminhando letífica e deslumbrante na noite solitária, pesunhando a minha alma
e o meu desejo arvense de séculos sedentos, trazendo a cajila e a súbita
surpresa de vê-la toda na sombra insuspeitável que se insinua do nada, mais
deusa que ignóbil fantasia, mostrando-se inteira na penumbra da minha loucura,
enquanto se inclina esguia e nua na minha frente, empinando o seu calipigio
arrebitado como quem vai apanhar algo de nada no chão, eu restando bocejo,
ptialogogo, capitoso, boca cheia, espectador persistente, ao perceber seu
feitiço à mostra naquele rabilongo par de glúteo redondo e carnudo, farta e
generosa, obsidente imagem acendendo minha intimidade louca para o coito,
caligrante que me faz vivo e permanentemente viril, rendido ao seu encanto
múltiplo de deusa transcendente. Eu não seria nada nem poderia ser nada se na
minha maluca profanação não sacralizasse a beleza inigualável de um corpo de
mulher: a maravilha do próprio deus desnudo. Esta sim, a maiuêutica do menino,
a heurística real, o inegável saber-se vivente. Sim, eu me emancipo e sei que o
coito para Schopenhauer é o sinal da
constante existência da vontade de vida, o que eu não desdigo, comprovo ao
vê-la desinibida, um lindo sorriso nos lábios, um brilho estonteante nos olhos,
carançuda, os lábios grossos pintados a batom vermelho vivo, um diadema
gracioso no cabelo, uma fita de seda preta amarrada no pescoço, uma nudez linda
e pura como se fosse uma dançarina do Talmude - eu, extasiado como Hesíodo diante da figura de Gaia com
seus amplos seios, base segura para sempre oferecida a todos os seres vivos na
sua bela arquitetura que se realça e a quem exalto sua graça e venero devotado
e juro que não é nenhum sofisma da ignorância de causa. Ambiciono sua beleza,
quero porque quero ser seu Urano, minha doce Gaia, com a minha ganância fálica
no seu furor vaginal, ou no empanturrar-me no seu sedal, com a mônada da
apetição, numa ebuliente orgia de nossa perversão alucinante jorrando no gozo
de nossa união envolvida pela lei da queda dos corpos de Galileu e solidários e prontos e felizes. O seu prazer odoro
invade-me as entranhas, incendeia-me os nervos.; o meu prazer tremula suas
bases, abalos sísmicos no seu entregar-se inteira e soberana proporcionando que
eu seja um menino adulto que sempre será menino e incréu do que se fizer fora
de nossa entrega...) ©Luiz Alberto Machado. Direitos Reservados. Veja mais aqui
e aqui.
DITOS &
DESDITOS - A maioria das verdades fundamentais da vida parecem absurdas da primeira
vez que as ouvimos. Em 99 vezes, de 100, afirmar que uma coisa não pode ser
feita é falta de vontade de a fazer. Em tempos de tempestade,
de indecisão e desolação, um livro já conhecido e amado faz melhor leitura do
que algo novo e não experimentado… nada é tão acolhedor e companheiro... Pensamento da escritora inglesa Elizabeth
Goudge (1900- 1984).
ALGUÉM FALOU: Importa pouco
quem primeiro chega a uma ideia, em vez do que é significativo é quão longe
essa ideia pode ir... Pensamento da matemática, física e filósofa francesa Sophie
Germain (1776-1831), que contribuiu como pioneira para o teoria
dos números e da elasticidade, tornando-se ganhadora do prêmio da Academia
Francesa de Ciências. Veja mais aqui.
ALGUÉM MAIS FALOU: Você toma uma
série de pequenos passos que você acredita, pensando que talvez você vai tratar
isso como uma provocação perigosa. E então você espera. Se não houver reação,
você tira outro passo: a coragem é apenas um acúmulo de pequenos passos.
Pensamento do escritor húngaro György Konrád (1933-2019).
DIÁRIO SECRETO – [...] Há apenas uma coisa mais chata do
que ouvir os sonhos de outras pessoas, e isso é ouvir seus problemas. [...]. Trecho extraído da obra The Secret Diary of
Adrian Mole, Aged 13 3/4 (Harper Teen, 2003),
da escritora inglesa Sue Townsend
(1946-2014), primeiro volume da série de comédia ficcional que integra os
títulos Adrian Mole na crise da adolescência (1982), As confissões secretas de
Adrian Mole (1985), Os anos amargos de Adrian Mole (1993), Adrian Mole na Idade
do Cappuccino (1995), Adrian Mole e as armas de destruição em massa (2004) e Os
diários perdidos de Adrian Mole (1999-2001). A sua obra foi adaptado para o
teatro em 1984, musicada por Ken Howard e Alan Blaikley, também para a
televisão numa série e projetos para o cinema.
CAMINHO PARA CASA - Há uma casa no jardim, / fresco por um bosque
aberto. / em todas as minhas viagens / Eu tenho saudades da minha casa / onde
doce soou / O canto dos pássaros, / como riso floral ao redor! / como nós
partimos / subindo- / Agora estou com medo de voltar / Na casa há apenas um, / tão
alto e arejado, tão brilhante e puro / qualquer raio de sol / a casa o mata às
pressas. / que som engraçado / canção infantil, / não havia canto sem jogos; / lá
encontrei meu descanso / para o último dia- / Agora não há nenhuma porta para
eu abrir. / Um nome veio para a casa / Longe de todos os lábios e continuou, / tinha
uma violência maravilhosa, como uma palavra mística. / em cada boca / um
sorriso, / que nome de primavera- / cale-se agora / Ordem fantasmagórica, / e
quem disser, pare de rir. Poema do escritor alemão e Prêmio Nobel de
Literatura de 1910, Paul Heyse (1830-1914).
A arte do artista francês de história em quadrinhos Jean
Giraud (1938-2012), também conhecido pelos pseudônimos de Moebius
e Gir.