A arte
da desenhista suíça Aloïse Corbaz (1886-1964). Veja mais abaixo.
QUEM É ESSA
MULHER? – À memória de Zuzu Angel (Zuleika Angel Jones/Zuleika de Souza Netto - 1921-1976)
– Quem é essa mulher que era Zuleika de Curvelo e a mãe costurava pra fora, ela
ajudava em Belo Horizonte, brincando com retalhos para criar manequins, roupas
para as bonecas e para as primas. Quem é essa mulher da adolescência e toda
juventude com as cores de Salvador, depois no Rio, das Minas a pioneira dos
anos 1950, às passarelas com sua arte inovadora. Eram rendas, fitas, sedas e
chitas, bambus e conchas entre estampados de borboletas, papagaios e pássaros. Quem
é essa Zuzu que procurava seu filho Stuart, estudante de economia e desaparecido
político, assassinado pela repressão ditadura militar. O desfile no consulado,
um protesto nas manchetes: Designer
de moda pede pelo filho desaparecido. Às suas
fileiras vieram Joan Crawford, Liza Minelli e Kim Novak, afora o discurso do
senador estadunidense Edward Kennedy no plenário. Quem é essa mulher que tomou
da aeromoça o microfone do avião e denunciou: Brasil, país onde se torturavam e matavam jovens estudantes. Ela mais sabia: Ouvi dizer que quando os milicos prendem a gente, tiram nossa roupa e
ficam rindo das varizes e celulites. Das minhas, ninguém vai rir. Quem é
essa mulher? E se tornou Angélica na poesia por
cantar o mesmo estribilho para embalar seu filho na escuridão do mar. Cantava o
mesmo lamento, lembrava o tormento que fez o seu filho suspirar, queria só
agasalhar o anjo para ele descansar e dobrava o sino que não podia cantar. Quem
é essa mulher que mais sofria: Eu não
tenho coragem, coragem tinha meu filho. Eu tenho legitimidade. Ela também seria emboscada pela mesma repressão. Era madrugada
do dia 14 de abril de 1976, uma quarta-feira sombria e um acidente
automobilístico na Estrada da Gávea, à sapída do Túnel Dois Irmãos: um Karmann
Ghia TC derrapa na saída do túnel e sai da pista, chocando-se contra a mureta
de proteção, capota e cai na estrada abaixo. Morte instantânea. Ela sabia: Se eu aparecer morta, por acidente ou outro
meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho... Foi sepultada no Cemitério de São João Batista. Essa mulher,
em 1988, era Em carne viva de José
Louzeiro; em 1998, Quem é você, Zuzu
Angel? Um anjo feito mulher, enredo da Escola de Samba Em Cima da Hora. Em 2006,
o filme de Sérgio Rezende. Em 2013, era o Wikileaks
que vazava a documentação denunciadora. Em 2014, o livro Memórias de uma guerra suja, de um ex-agente da repressão
entregando tudo e um coronel do exército. Em 2019, a fábula cordelizada
infantil de David Massena. Neste mesmo ano foi emitida a certidão de óbito de
ambos, como morte não natural, violeta e causada pelo Estado Brasileiro durante
o regime ditatorial de 1964-1985. Quem é essa mulher? Uma canção. Veja mais
aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - As memórias devem consolar, não escravizar. Pensamento
da escritora estadunidense Ann Carol Crispin (1950-2013).
ALGUÉM FALOU: Encontrar sem
procurar é difícil e raro, mas procurando é acessível e fácil; se não se tem
conhecimento é impossível procurar... Pensamento do filósofo, astrônomo e
estratega grego Arquitas de Tarento (428-347aC),
considerado o mais ilustre dos matemáticos pitagóricos.
FILHA DA DOR – De tudo que eu passei, o pior foi ter
assistido à tortura de Odijas [Carvalho de Souza]. Eles abriram a porta da
sala de tortura e me fizeram sentar ali do lado para ver. Eram muitos homens.
Teve muita porrada: socos, pontapés, palmatória… enfiaram coisas no ânus
dele. Isso durou o dia todo, a madrugada inteira, e ele começou a urinar e
a vomitar sangue. Quando chegou no hospital, oito dias depois, estava com
todos os órgãos destruídos e morreu ali. Durante o dia, eles me deixavam
sentada numa cadeira dura, numa sala de expediente do Dops, no caminho
para a sala de tortura e para as celas. Eles passavam por ali o tempo
todo, tinha muito assédio, puxavam meu cabelo, falavam coisas. Na primeira
semana, eu não fui torturada porque estava tudo concentrado no Odijas e
nos demais presos, que eram da direção do PCBR. Eu era uma desconhecida da
repressão e muito menina, tinha pouco mais de 18 anos. Mas quando passavam
por mim, diziam: ‘Amanhã vai ser você, mas aí vai ser diferente’. E diziam
coisas nojentas sugerindo que haveria violência sexual. Teve um dia que eu
fui interrogada pelo Miranda, que era o chefão dos torturadores. Eu
apanhei de palmatória nas nádegas, mãos, pés… Numa das ameaças de violência
sexual, o delegado me chamou, disse que eu estava muito magra e perguntou
se eu estava trepando muito, pois essa era a melhor maneira de emagrecer.
E disse que ele poderia me alimentar bem, me engordar e depois me faria
emagrecer com a dieta do sexo. Isso tudo aconteceu no Dops do Recife.
Depois eu fui levada para o quartel do Derby, onde também foi muito
pesado, porque não tinha instalação para presas. Então, ficamos três
mulheres numa cela exposta, sem cortina, com soldados passando e fazendo gracejos.
Em 1974, quando eu já estava solta, fui sequestrada pelo Cenimar, onde
fiquei 24 horas encapuzada numa cela. Depoimento da professora pernambucana
da UFMT, Lýlia Guedes, que reside em
Brasilia e coordena a gerencia indígena do Ministério do Meio Ambiente. Veja
mais aqui e aqui.
OS DEVERES DAS
MULHERES – [...] Nós mulheres temos diante de nós o fim mais nobre que uma criatura
finita pode alcançar; e nosso dever nada mais é do que o cumprimento de toda a
lei moral, a realização de toda virtude humana [...] Aquele que mais faz para curar a mulher de
sua fraqueza, sua frivolidade e seu servilismo, da mesma forma fará mais para
curar o homem de sua brutalidade, seu egoísmo e sua sensualidade. [...] O amor naturalmente inverte a ideia de
obediência e faz com que a luta entre duas pessoas que realmente se amam não
seja quem deve comandar, mas quem deve ceder. [...] A construção de um verdadeiro Lar é realmente nosso direito peculiar e
inalienável; um direito que nenhum homem pode tirar de nós, pois um homem não
pode fazer um Lar, assim como um zangão não pode fazer uma colméia. Ele pode
construir um castelo ou um palácio, mas, pobre criatura! seja ele sábio como
Salomão e rico como Creso, ele não pode se tornar um Lar. Nenhum mortal
masculino pode fazer isso. É uma mulher, e apenas uma mulher; uma mulher
sozinha se quiser, e sem nenhum homem para ajudá-la, que pode transformar uma
casa em um lar [...] Minha grande
panacéia para tornar a sociedade ao mesmo tempo melhor e mais agradável seria
cultivar uma maior sinceridade. [...] Eu
acho que toda mulher que tem alguma margem de tempo ou dinheiro de sobra
deveria adotar algum interesse público, algum empreendimento filantrópico, ou
alguma agitação social de reforma, e dar a essa causa qualquer tempo e trabalho
que ela possa pagar; completando assim sua vida, acrescentando aos seus deveres
particulares o nobre esforço de fazer avançar o Reino de Deus além dos limites
de sua casa. [...]. Trechos
extraídos da obra Essays on the Pursuits of Women ( Nabu
Press, 2011), da escritora e ativista antivivissecção irlandesa, Frances
Power Cobbe (1822-1904), que fundou vários grupos de defesa dos
animais, incluindo a National Anti-Vivissection Society (NAVS) em 1875 e
a União Britânica para a Abolição da Vivissecção (BUAV) em 1898, e foi membro
do conselho executivo da London National Society for Sufrágio feminino. Veja
mais aqui e aqui.
UMA POESIA - OS FIOS DA VIDA: Os fios de nossa vida são variados, / Como é íngreme o
outeiro, e estreita a via. / Podemos por um deus ser agraciados, / Com dádivas
de Paz e de Harmonia. Poema do escritor e filósofo alemão Friedrich
Hölderlin (1770-1843). Veja mais aqui e aqui.
A arte
da desenhista suíça Aloïse Corbaz (1886-1964). Veja mais abaixo.