Logo estarei em meu jardim de rosas.
Logo. Estou esperando. Rosas cheias de espinhos. Aromas falsos. Melhores que os
verdadeiros. O original é vulgar. Por seu passado. Foi só uma tentativa, uma
tentativa. A ilusão não é o real. A cópia é perfeita. A cópia é perfeita...
Como a vejo. Como a sinto. De volta ao meu jardim esta noite. Novamente rosas.
Mesmo que só haja uma... Um lindo dia. Se você ao menos soubesse o que eu fiz
para ser bonita...
Trecho extraído do drama Tiresia (2003), dirigido por Bertrand Bonello, baseado na lenda de Tiresias, conta uma mulher transexual
que é sequestrada por um homem e deixada para morrer na floresta. Ela é salva
por uma família e recebe o presente de contar o futuro. Pretende o filme uma releitura contemporânea do mito grego
de Tirésias, o que coloca sua narrativa cinematográfica em relação a uma história
exterior a ela. Tirésias era um profeta com dons adivinhatórios dados por Zeus
como recompensa pelo fato de sua cegueira advir de um castigo de Hera. Certa
vez, ao escalar o monte Citerão, deparou-se com duas cobras em cópula e
separou-as. Conta-se ainda que teria matado a fêmea. Nas diversas variações do
mito, mantém-se a separação das serpentes por Tirésias, o que teria lhe
transformado em mulher. Passados sete anos, voltou ao mesmo monte Citerão e
novamente encontrou duas cobras acasalando-se e mais uma vez as separou, o que
lhe devolveu sua condição masculina.
A SOLIDÃO DE TIRÉSIAS – Nada mais me resta além da sina
tebana e solitária. Depois do fato, eram duas cobras em cópula no monte de Citerão. Ao matar
uma delas, a fêmea, fui transformado em mulher, disso me fiz prostituta famosa,
do lar ao lupanar. Não me bastou, restituída a masculinidade, a cegueira por
flagrar a nudez de Atena. Primeiro me veio a ninfa Liríope, a me interrogar
sobre Narciso: a maldição dele em vê-lo a si próprio. As mulheres tebanas não
me enfeitiçaram, mas a paixão pelos rituais báquicos trouxeram as bacantes para
o monte Citéron com as serpentes em seus cabelos, amamentando gazelas e lobos
selvagens, promovendo a fartura do vinho, do mel, do leite e água que brotavam
do solo. Não previa que a prisão do deus Dioniso traria a punição com o gigante
terremoto e o incêndio devastador contra a repressão de Penteu que foi vestido
de mulher pelo deus, para ganhar um tirso e peles de cervo. Por isso veria
embriagado dias Tebas e dois touros para levá-lo. Nada adiantaria a fama pela
Acaia, recolhi-me ao Hades e recepcionei Ulisses no canto 11 da Odisseia homérica e adverti Édipo
sobre sua própria sentença, e tomei parte da Divina Comédia de Dante,
minhas tetas surrealistas de Apollinaire
e me tornar Orlando para Virginia Wolf, inspirar o filme de Bertrand Bonello, de reinar nas
Bacantes de Zé Celso Martinez Correa
e ser cantado no Sermão do fogo na Terra inútil de Eliot: Eu,
Tiresias, cego embora, palpitando entre duas vidas, / Um anciao de enrugados
peitos femininos, posso ver / Na hora violeta, a hora crepuscular que se empenha
/ A caminho de casa, e faz voltar do mar o marinheiro, / E a datilografia, a
hora do cha, tira a mesa do cafe, / Acende o fogo, e prepara a sua refeicao de
conservas... Eu, Tiresias, um ancião de tetas enrugadas... (E eu, Tiresias, como que sofri de antemão /
Tudo o que se cumpriu nesse diva ou cama; / Tambem eu aguardava a esperada
visita. / Ei-lo que chega, o carbunculoso moco, / Observada a cena, predisse o
resto... Não sou nada mais que um adivinho e sábio cego no meu próprio inferno, capaz
apenas de ver coisas invisíveis. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui & aqui.
La fille de Tirésias, 1973, do pintor, ilustrador e designer
surrealista francês Félix Labisse
(1905-1982)
DITOS
& DESDITOS - A legislação civil vigente a
nenhuma mulher dispensa justiça: nem à mulher fraca que se entrega ao homem sem
a sanção da lei, nem à mulher forte da Bíblia, reduzindo-a pelo casamento a
situação de menor. Pensamento da
bióloga e advogada brasileira Bertha Lutz (1894-1976). Veja mais aqui.
ALGUÉM
FALOU: Se você acabar com uma vida tediosa e miserável porque você
ouviu seus pais, seus professores, seu padre ou alguma pessoa na televisão,
dizendo para você como conduzir a sua vida, então a culpa é só sua e você
merece. Droga não é o mal. A droga é um composto químico. O problema começa
quando pessoas tomam drogas como se fosse uma licença para poderem agir como
babacas. Sem um desvio do normal, progresso é impossível. A mente é como um
paraquedas. Só funciona se abri-lo.
Pensamento do compositor e multi-instrumentista estadunidense Frank Zappa (1940-1993).
Veja mais aqui.
O
HOMEM CÓSMICO – [...] O homem cósmico não
significa apenas o começo da vida, mas também o seu alvo final, a razão de ser
de toda criação [...]. Trechos da obra O
homem e seus símbolos (Nova Fronteira, 1968), do
psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), observando o
ser humano acima dos instintos isolados e dos mecanismos intencionais. Veja
mais do autor aqui & sobre a raça cósmica de José Vasconcelos aqui.
A
HORA DOS ASSASSINOS – [...] Dá-lhe
um nome feio: traição. Mas é justamente essa índole traiçoeira que o diferencia
do resto do rebanho. É sempre traiçoeiro e sacrílego, se não literalmente pelo
menos em espírito. Comporta-se, no fundo, como um traidor porque tem medo de
sua própria humanidade, que aproximaria de seu semelhante. [...]. Trecho
extraído da obra A hora dos assassinos
(L&PM, 2004), do
escritor estadunidense Henry Miller (1891-1980). Veja mais aqui e aqui.
CAFONETOS – Minha amada exuberante / de alegria, coisa e
tal / às vezes fica implicante / por um motivo banal. / Sua atitude petulante /
nesse grilo pega mal / mas, como sou tolerante / fica na minha legal. / Ela
bebe e ameaça / uma tragédia medonha / que eu sei entender de graça / no outro
dia, risonha / pede perdão e me abraça / - Quem ama não tem vergonha. Poema
extraído da obra Monólogos e outros
poemas (Recife, 1987), do
saudoso poeta, cordelista, radialista, compositor, produtor e publicitário Aldemar
Paiva (1925-2014), com prefácio de Chico Anysio. Veja mais aqui.
A arte do pintor, ilustrador e designer
surrealista francês Félix Labisse
(1905-1982).
ORAÇÃO DA CABRA PRETA - Imagem: ilustração de J. Lanzellotti. História recolhida por João Climaco Bezerra. -Nesta encruzilhada eu me ajoelho agoniado e aflito chamando todos os cães e a Cabra Maldita. Na lombada da serra negra tem uma cabra amarrada; dá 7 litros de leite para alimentar todos os diabos, eles tem 3 cavaleiros fortes que são: Ferrabrás, Satanás e Caifás, eles 3 eu chamo à minha presencia que eu não terei medo que eu sei que eles vem mandados da Cabra Preta maldita; ainda Caifás, anda Satanás, anda Ferrabrás, trazei-me à minha presencia o animal e a milhar que tem de dar amanhã na loteria do Rio de Janeiro, com todos os pontos grandes e pequenos, que tu não trazendo eu te amarrarei com as forças do credo debaixo do meu pé direito. Observação: Deve ser rezada despido, à noite, numa encruzilhada deserta com uma vela acesa. De preferência em companhia de outra pessoa. Uma fica no centro da encruzilhada e a outra vai para o braço esquerdo da cruz de estradas. Uma puxa a reza e a outra segura a vela. Observação2: As cópias dessa oração são distribuídas às escondidas, que o pecado mortal é muito grande. E para que ela tenha toda a sua força, desenha-se no mesmo papel uma cabra com uma estrela vermelha na testa, quatro chifres e as patas dianteiras levantadas e com garras enormes. Oração muito corrente no interior do Ceará, segundo Caio Carneiro Porfirio.
FONTE:BEZERRA, João Climaco. Não há estrelas no céu. Rio de Janeiro: José Olympio, s/d.
DANTAS, Paulo (Org.). Estórias e lendas do norte e nordeste. São Paulo: Edigraf, s/d.
TURISMO
RELIGIOSO - Conceito
de Turismo Religioso: De acordo com Andrade
(1991, p. 77): “Conjunto de atividades com utilização parcial ou total de
equipamentos e a realização de visitas a lugares ou regiões que despertam
sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade nos fiem de
qualquer tipo ou em pessoas vinculadas a religião.” Isso mostra que para se
praticar o turismo, seja ele em qualquer de sua segmentação e preciso ter
motivação. O turismo
religioso teve inicio quando os povos começaram a cultivar o habito de viagens
de caráter religioso, no século III e IV na era cristã, visitavam mosteiros e
conventos da síria, do Egito e de Belém a fim de encontrar-se com os “servos de
Deus”para pedir-lhes conselhos, orações, bênçãos e curas. Foi também o inicio
de visitas a igrejas e santuários onde nos terrenos se encontravam os restos
mortais de mártires celebres e aos locais por onde Cristo seus apóstolos e
discípulos passaram, viveram e morreram, alem de outros lugares celebrizados
por eventos importantes do Antigo Testamento. No ano 333, há um registro dotado de um roteiro com
itinerários bem detalhados para as viagens de devotos e fieis que partiram de
Bordeus, na França rumo a Jerusalém. As indicações assemelham-se as utilizadas
nos modernos roteiros técnicos. Atualmente a historia se repete e os destinos
religiosos se multiplicam, à medida que surgem boatos ou fatos de aparições ou
de realizações de milagres e curas efetuadas por algum religioso ou místico. As
noticias e o marketing direto ou indireto nos locais onde acontecem os “feitos
extraordinários” atraem os agentes turísticos, que em geral, se antecipam a
qualquer medida ou manifestação de autoridades religiosas. O grande nó desta
modalidade de turismo se encontra nas estruturas de conceituação que antepõe a
perspectiva da necessidade enraizada na vivência religiosa contra a perspectiva
da liberdade pelo fazer( lazer) do
turismo. (Oliveira 2000) O turismo se
utiliza da religiosidade, da fé, de crenças, de superstições ou mesmo da
simples curiosidade popular para atrair pessoas a lugares que se não fossem
pela motivação espiritual não seriam um destino atrativo como em outro segmento
do turismo, o turismo religioso tem seus pros e contras. A massificação,
congestionamentos, poluição, super lotação de igrejas e templos são alguns
efeitos negativos, desse tipo de turismo, pois as cidades em sua maioria, não
possuem uma estrutura para receber visitantes, são localidades simples, de
comunidades humildes que com o tempo vão tomando dimensões maiores com a
exploração turística. Por outro lado, este segmento é uma possibilidade de
diversificação de renda e movimentação da economia local nas localidades receptoras.
Localidades Religiosas mais visitadas: MECA- é
a cidade santa do mundo árabe, berço de Maomé, onde a base econômica esta no
comércio resultante da grande movimentação dos peregrinos. Todos os mulçumanos
esperam ir em peregrinação. VATICANO-
atrai uma multidão de fieis para receber a bênção do Papa na Praça São Pedro e
é considerado o centro de fé cristã. SANTIAGO DE COMPOSTELA- chamada rota da fé
na Espanha, as pessoas em peregrinação
buscam a cura, esperança e paz. A historia e o misticismo se confundem
ao longo da rota medieval, com marcas por toda a paisagem. Atualmente é
reconhecida pela Unesco como o primeiro Itinerário Cultural Europeu da
Humanidade, com todos os monumentos históricos tombados. LOURDES- é dedicada a Bernadete, a Santa para quem a
mesma Nossa Senhora teria aparecido em 1958. FÁTIMA- localizado em 130 quilômetros e
duas horas de Lisboa, é acidade onde a Santa de mesmo nome teria aparecido para
três crianças portuguesas em 1917. Se tornando em um dos maiores centros de
peregrinação religiosa do mundo, comparável a Santiago, que também fica na
Península Ibérica. BASILICA NACIONAL DE
APARECIDA- localizada a 170
quilômetros de São Paulo, considerada a capital
brasileira da fé, apresentam, nos feriados religiosos, uma programação de
eventos que estimula os visitantes a permanecerem na cidade. É considerada a segunda maior do mundo, fica
tomada de romeiros. Padroeira do Brasil, data do século XVIII, quando os
pescadores lançaram as redes junto ao porto de Itaguaçú, no rio Paraíba do Sul,
pescando a imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição e, 1717. Era uma
imagem esculpida em madeira escura com anjos aos seus pés. Em 1953 o dia 12 de
outubro oficializou-se o Dia de Nossa Senhora Aparecida. JUAZEIRO DO NORTE- o
nordeste brasileiro os devotos buscam a satisfação espiritual junto ao Padre
Cícero, conhecido e venerado por romeiros da região. Como vimos em vários
lugares do mundo e do Brasil existem localidades próprias para a realização do
turismo religioso. No entanto, vimos que essas localidades são todas voltadas a
religião dos “brancos”, ou seja, as maiorias desses lugares são de religião
católica, onde na antiguidade os negros não podiam fazer suas orações, devido a
repressão de seus senhores ao entrar em suas capelas e igrejas, pois não era
vistos como filhos de Deus e sim do “demônio” . Com esse impedimento, os negros
sentiram a necessidade de alternativas para realizar suas orações sem que
fossem castigados por isso. Criando assim, sua própria religião, onde eles
através de outros nomes cultuavam o mesmo Deus. Apesar da maioria dos
brasileiros terem descendência negra ainda existe muito preconceito com relação
a sua raça, cultura, religião, neste ultimo caso, muitas vezes serem mal
interpretados pela falta de conhecimento geral, já que a população não procura
conhecer sua cultura e acredita somente no que houve.
REFERÊNCIAS
ACERENZA, Miguel Angel. Promoção Turística: um enfoque
metodológico. São Paulo: Pioneira, 1991.
ANDRADE, José Vicente de
Andrade. Turismo – Fundamentos e dimensões.
São Paulo: Ática, 1999.
ANSARAH, Marilia Gomes. Turismo Segmentação de Mercado.
São Paulo. Edtora Futura, 2000.
CARVALHO, J. J. de. Cantos Sagrados do Xangô de Recife.
Brasília: Fundação Cultural Palmares/MEC, 1993.
DIAS, Reinaldo; AGUIAR, Maria Rodrigues. Fundamentos do
Turismo: conceitos, normas e definições. Campinas:Alínea, 2002.
BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do
turismo. Campinas; Papirus, 2000.
BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. 5 ed., São Paulo: Editora SENAC, 2001.
MENDONÇA, Rita. Turismo ou Meio Ambiente: Uma falsa oposição.
Amália Innês G. de Lemos (Org.). São Paulo: Hucitec, 1996.
MOTA, Keila Cristina Nicolau. Marketing turístico:
promovendo uma atividade sazonal. São Paulo: Atlas, 2001.
RUSCHMANN, Doris. Turismo e Planejamento Sustentável: a
proteção do meio ambiente. 8. ed. Campinas: Papirus, 1997.
TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi;
NETTO, Alexandre Panosso. Reflexões
sobre um novo turismo: política, ciência e sociedade. Série turismo. São
Paulo. Aleph, 2003.
TRIGUEIRO, Carlos Meira. Marketing e turismo: como
planejar e administrar o marketing turístico para uma localidade. Rio de Janeiro: Qualitymark,
1999. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
Veja
mais sobre:
A
poética aristotélica, Erich Fromm, Georges
Bataille, Eliete Negreiros,
Rufino, Walter Hugo Khouri, Arthur Braginsky, Helena
Ramos, El Tomi Müller, Fernando Fiorese & A primeira estética da arte
dramática aqui.
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