DE DIAS & OUTRAS - Sim, a vida
é muito mais do que se possa imaginar, é a vida o encontro e o inesperado, a
queda e a ascensão, o seguir adiante e ter de retornar sempre, recomeçar e
refazer-se, incríveis transformações. O que se aprende leva vigência até outra
lição. Nunca é demais saber que tudo segue e que a esperança possa fenecer ao
crepúsculo e escurecer. O que havia de luzes na manhã, já nada mais brilha, de
antemão está prestes mais uma tormenta, sombrio horizonte a cada momento. Quantos
dias acordei na expansão dos desertos que eu mesmo havia suplantado e por um
tanto de vezes rejeitei, fiquei distante para nunca mais ter de passá-los e,
recorrentemente, ali adiante, depois da primeira esquina vencida na surpresa,
tê-los por inarredáveis como se sina fosse ou sei lá mais o que pudesse ser. Quantas
noites aos sustos, sem bater as pálpebras porque se fazia de uma fome imensa quase
inesgotável, não havia qualquer possibilidade de trégua nem de alvissareira
situação em que fizesse diferença da guerra oculta, permanentemente incendiada e
em cada insulto ou desespero, até ouvir na madrugada escura a maior chiadeira:
a culpa é sua! Eu sei, nunca me isentei e sei, sempre minha, sou grato, assumo
meus erros e nunca dei por certo nada que soubesse provisório nem mesmo o
impermanente que me rodeia. A vida é um rio, tudo passa, e eu contra a maré e a
correnteza sem querer ser esmagado pela mesmice, a fugir da mediocridade,
margem alguma para aportar e nadar sem fim para se salvar ou ser punido por
minha soberba e loucura e morrer de vez afogado nos meus próprios ideais. Quantos
invernos suportei calando as dores e a traição do tempo na face, a carne
dilacerada exposta e quando menos se esperava apagavam as luzes, sozinho pra
mim e para tudo, como se eu tivesse que morrer em cada anoitecer e ressuscitar ao
despertar o dia. Nada demais, é a vida e aprendo. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
Pensamento do psicoterapeuta e mestre zen
alemão, Karlfried Graf Dürckheim
(1896-1988), que expressa em seu Experiência
do ser -Pratique de I’experience spiritueIle - du Rocher e extraído da Antologia
do êxtase (Palas Atena, 1993), organizada por Pierre Weil: [...] o desastre de 1918 havia despertado algo de
novo. Reconheci depressa, eu também, que naqueles anos do pós-guerra minha
preocupação era o problema de um homem novo, O impacto de um determinado
acontecimento fez-me reconhecer nesta questão não apenas uma necessidade geral
de nosso tempo, mas também a obrigação de fazer dela o centro de minha vida.
Este acontecimento, para mim capital, foi também o primeiro encontro de meus
vinte e quatro anos com Lao Tsé. [...] Enquanto
o escutava, fui atingido por uma revelação súbita. O véu se rasgou: eu fora
despertado. Eu havia experimentado aquilo. Todo o resto era e não obstante não
era mais, era este mundo e ao mesmo tempo transparente para um outro. Eu mesmo
também era e não era a um só tempo. Eu estava preenchido, capturado. Não
obstante, completamente presente. Feliz e como que vazio de sentimentos, muito
distante e todavia profundamente imerso nas coisas. Eu havia experimentado
aquilo de um modo evidente, como o impacto de um raio, e claro, como um dia de
sol; aquilo, que era totalmente incompreensível. A vida continuava, a vida de antes,
e no entanto já náo era a mesma. Havia a espera dolorosa de mais “Ser”, uma
promessa profundamente sentida. E ao mesmo tempo forças crescendo até o
infinito e a aspiração no sentido de um compromisso – com o quê? Esse estado
excepcional durou o dia inteiro e uma parte da noite. Ele me marcou
definitivamente. Eu vivenciara aquilo que através dos séculos testemunharam
muitos homens, que em um momento qualquer de suas vidas tiveram essa
experiência. Ela os atingiu como um relâmpago. Ela os ligou para sempre à corrente da verdadeira vida. Ou antes, ela
lhes tornou perceptível a fonte de uma grande felicidade e ao mesmo tempo de
sofrimento que experimentamos quando essa corrente é interrompida. Mas é também
uma experiência inseparável de um compromisso com a via interior. Repetida
depois por várias vezes, embora com menos força, ela continua a servir de ponto
de referência para indicar, para mim e para outros, a direção acertada de
conhecimento e de trabalho. [...]
Karlfried Dürckheim propõe a Psicologia
Sagrada baseada na psicologia junguiana, na Filosofia Perene e na corrente
Transpessoal, defendendo que: [...] Pois,
qual a valia do mestre sem o discípulo? Mas quem pode chamar-se de discípulo?
Só aquele que foi arrebatado de suas bases pelo anseio, aquele cuja angústia o
levou até o último limite e que sente que, se não romper essa derradeira
barreira, morrerá. Só se pode chamar de discípulo aquele que foi aprisionado
pela inquietude do coração, que não o largará mais até ser satisfeita. Só se
pode chamar de discípulo quem começou a trilhar o caminho disposto a deixar-se
conduzir e a obedecer. Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ter uma
inabalável confiança, e quem é capaz de seguir mesmo sem entender, pronto a
encarar qualquer desafio. Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ser
exigente consigo mesmo, quem está preparado para abandonar tudo pela Unidade
que o empurra na direção da luz. Só se pode chamar de discípulo quem, cativado
pelo incondicional, é capaz de se submeter a qualquer situação, e suportar os
rigores da senda através da qual o mestre o guia. TUDO OU NADA está escrito em
letras maiúsculas sobre o portal da sala de exercícios frequentada pelo
discípulo. Este deixa tudo para trás, e só uma certeza o acompanha: de agora em
diante, ele não irá mais se deparar com a arbitrariedade, mas com o olhar da
sabedoria que, ao se concentrar na sua essência intrínseca, se vale de qualquer
meio para trazê-la à tona, para reavivá-la. Pois o significado da morte que
dele se espera não é a morte propriamente dita, mas a VIDA que transcende a
vida e a morte. [...]. Veja mais aqui.
DANÇA
NO SÉCULO XXI, CÉLIA GOUVEA
A obra Dança no século XXI (Prismas, 2017), organizado pela bailarina e coreógrafa Célia Gouvêa, traz reflexões acerca das artes cênicas escritas por artistas, propondo pensares múltiplos em conexão com a contemporaneidade, por meio de questões relacionais, passagens, circulações, errancias, precariedades, transinformações, incertezas, impulsos, energias potentes, portais, dissoluções, recomposições, preservações, validades mortais que habitam as trevas que guardam a dança na atualidade. Veja mais aqui.
A obra Dança no século XXI (Prismas, 2017), organizado pela bailarina e coreógrafa Célia Gouvêa, traz reflexões acerca das artes cênicas escritas por artistas, propondo pensares múltiplos em conexão com a contemporaneidade, por meio de questões relacionais, passagens, circulações, errancias, precariedades, transinformações, incertezas, impulsos, energias potentes, portais, dissoluções, recomposições, preservações, validades mortais que habitam as trevas que guardam a dança na atualidade. Veja mais aqui.
VERDADEIROS AMIGOS
Há muito tempo atrás, na China, havia dois amigos, um que tocava a harpa com habilidade e um que escutava com habilidade. Quando um deles tocava ou cantava a respeito de uma montanha, o outro dizia: “Posso ver a montanha diante de nós”. Quando um tocava a respeito da água, o que escutava exclamava: “Aqui está o riacho correndo!” Mas o que escutava ficou doente e morreu. O primeiro amigo cortou as cordas de sua harpa e nunca mais tocou. Desde aquela época o ato de cortar as cordas de uma harpa tem sempre sido um sinal de íntima amizade.
Há muito tempo atrás, na China, havia dois amigos, um que tocava a harpa com habilidade e um que escutava com habilidade. Quando um deles tocava ou cantava a respeito de uma montanha, o outro dizia: “Posso ver a montanha diante de nós”. Quando um tocava a respeito da água, o que escutava exclamava: “Aqui está o riacho correndo!” Mas o que escutava ficou doente e morreu. O primeiro amigo cortou as cordas de sua harpa e nunca mais tocou. Desde aquela época o ato de cortar as cordas de uma harpa tem sempre sido um sinal de íntima amizade.
Recolhida de Histórias zen: uma coleção de escritos zen e pré-zen (Teosófica,
1999), compilada por Paul Reps e traduzida por Pedro Oliveira. Veja mais aqui.