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quarta-feira, março 13, 2019

KARLFRIED DÜRCKHEIM, GEORG GADAMER, CÉLIA GOUVÊA, A HARPA ZEN & DE DIAS E OUTRAS


DE DIAS & OUTRAS - Sim, a vida é muito mais do que se possa imaginar, é a vida o encontro e o inesperado, a queda e a ascensão, o seguir adiante e ter de retornar sempre, recomeçar e refazer-se, incríveis transformações. O que se aprende leva vigência até outra lição. Nunca é demais saber que tudo segue e que a esperança possa fenecer ao crepúsculo e escurecer. O que havia de luzes na manhã, já nada mais brilha, de antemão está prestes mais uma tormenta, sombrio horizonte a cada momento. Quantos dias acordei na expansão dos desertos que eu mesmo havia suplantado e por um tanto de vezes rejeitei, fiquei distante para nunca mais ter de passá-los e, recorrentemente, ali adiante, depois da primeira esquina vencida na surpresa, tê-los por inarredáveis como se sina fosse ou sei lá mais o que pudesse ser. Quantas noites aos sustos, sem bater as pálpebras porque se fazia de uma fome imensa quase inesgotável, não havia qualquer possibilidade de trégua nem de alvissareira situação em que fizesse diferença da guerra oculta, permanentemente incendiada e em cada insulto ou desespero, até ouvir na madrugada escura a maior chiadeira: a culpa é sua! Eu sei, nunca me isentei e sei, sempre minha, sou grato, assumo meus erros e nunca dei por certo nada que soubesse provisório nem mesmo o impermanente que me rodeia. A vida é um rio, tudo passa, e eu contra a maré e a correnteza sem querer ser esmagado pela mesmice, a fugir da mediocridade, margem alguma para aportar e nadar sem fim para se salvar ou ser punido por minha soberba e loucura e morrer de vez afogado nos meus próprios ideais. Quantos invernos suportei calando as dores e a traição do tempo na face, a carne dilacerada exposta e quando menos se esperava apagavam as luzes, sozinho pra mim e para tudo, como se eu tivesse que morrer em cada anoitecer e ressuscitar ao despertar o dia. Nada demais, é a vida e aprendo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
Quando você tocar alguém, nunca toque só um corpo.
Pensamento do psicoterapeuta e mestre zen alemão, Karlfried Graf Dürckheim (1896-1988), que expressa em seu Experiência do ser -Pratique de I’experience spiritueIle - du Rocher e extraído da Antologia do êxtase (Palas Atena, 1993), organizada por Pierre Weil: [...] o desastre de 1918 havia despertado algo de novo. Reconheci depressa, eu também, que naqueles anos do pós-guerra minha preocupação era o problema de um homem novo, O impacto de um determinado acontecimento fez-me reconhecer nesta questão não apenas uma necessidade geral de nosso tempo, mas também a obrigação de fazer dela o centro de minha vida. Este acontecimento, para mim capital, foi também o primeiro encontro de meus vinte e quatro anos com Lao Tsé. [...] Enquanto o escutava, fui atingido por uma revelação súbita. O véu se rasgou: eu fora despertado. Eu havia experimentado aquilo. Todo o resto era e não obstante não era mais, era este mundo e ao mesmo tempo transparente para um outro. Eu mesmo também era e não era a um só tempo. Eu estava preenchido, capturado. Não obstante, completamente presente. Feliz e como que vazio de sentimentos, muito distante e todavia profundamente imerso nas coisas. Eu havia experimentado aquilo de um modo evidente, como o impacto de um raio, e claro, como um dia de sol; aquilo, que era totalmente incompreensível. A vida continuava, a vida de antes, e no entanto já náo era a mesma. Havia a espera dolorosa de mais “Ser”, uma promessa profundamente sentida. E ao mesmo tempo forças crescendo até o infinito e a aspiração no sentido de um compromisso – com o quê? Esse estado excepcional durou o dia inteiro e uma parte da noite. Ele me marcou definitivamente. Eu vivenciara aquilo que através dos séculos testemunharam muitos homens, que em um momento qualquer de suas vidas tiveram essa experiência. Ela os atingiu como um relâmpago. Ela os ligou para sempre à corrente da verdadeira vida. Ou antes, ela lhes tornou perceptível a fonte de uma grande felicidade e ao mesmo tempo de sofrimento que experimentamos quando essa corrente é interrompida. Mas é também uma experiência inseparável de um compromisso com a via interior. Repetida depois por várias vezes, embora com menos força, ela continua a servir de ponto de referência para indicar, para mim e para outros, a direção acertada de conhecimento e de trabalho. [...] Karlfried Dürckheim propõe a Psicologia Sagrada baseada na psicologia junguiana, na Filosofia Perene e na corrente Transpessoal, defendendo que: [...] Pois, qual a valia do mestre sem o discípulo? Mas quem pode chamar-se de discípulo? Só aquele que foi arrebatado de suas bases pelo anseio, aquele cuja angústia o levou até o último limite e que sente que, se não romper essa derradeira barreira, morrerá. Só se pode chamar de discípulo aquele que foi aprisionado pela inquietude do coração, que não o largará mais até ser satisfeita. Só se pode chamar de discípulo quem começou a trilhar o caminho disposto a deixar-se conduzir e a obedecer. Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ter uma inabalável confiança, e quem é capaz de seguir mesmo sem entender, pronto a encarar qualquer desafio. Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ser exigente consigo mesmo, quem está preparado para abandonar tudo pela Unidade que o empurra na direção da luz. Só se pode chamar de discípulo quem, cativado pelo incondicional, é capaz de se submeter a qualquer situação, e suportar os rigores da senda através da qual o mestre o guia. TUDO OU NADA está escrito em letras maiúsculas sobre o portal da sala de exercícios frequentada pelo discípulo. Este deixa tudo para trás, e só uma certeza o acompanha: de agora em diante, ele não irá mais se deparar com a arbitrariedade, mas com o olhar da sabedoria que, ao se concentrar na sua essência intrínseca, se vale de qualquer meio para trazê-la à tona, para reavivá-la. Pois o significado da morte que dele se espera não é a morte propriamente dita, mas a VIDA que transcende a vida e a morte. [...]. Veja mais aqui.

DANÇA NO SÉCULO XXI, CÉLIA GOUVEA
A obra Dança no século XXI (Prismas, 2017), organizado pela bailarina e coreógrafa Célia Gouvêa, traz reflexões acerca das artes cênicas escritas por artistas, propondo pensares múltiplos em conexão com a contemporaneidade, por meio de questões relacionais, passagens, circulações, errancias, precariedades, transinformações, incertezas, impulsos, energias potentes, portais, dissoluções, recomposições, preservações, validades mortais que habitam as trevas que guardam a dança na atualidade. Veja mais aqui.

VERDADEIROS AMIGOS
Há muito tempo atrás, na China, havia dois amigos, um que tocava a harpa com habilidade e um que escutava com habilidade. Quando um deles tocava ou cantava a respeito de uma montanha, o outro dizia: “Posso ver a montanha diante de nós”. Quando um tocava a respeito da água, o que escutava exclamava: “Aqui está o riacho correndo!” Mas o que escutava ficou doente e morreu. O primeiro amigo cortou as cordas de sua harpa e nunca mais tocou. Desde aquela época o ato de cortar as cordas de uma harpa tem sempre sido um sinal de íntima amizade.
Recolhida de Histórias zen: uma coleção de escritos zen e pré-zen (Teosófica, 1999), compilada por Paul Reps e traduzida por Pedro Oliveira. Veja mais aqui.
&
A obra do filósofo alemão Hans-Georg Gadamer (1900-2002) aqui, aqui, aqui & aqui.
 

segunda-feira, setembro 12, 2016

UNGARETTI, TACUCHIAN, GRAF DÜRCKHEIM, JEROME BRUNER, CÉLIA GOUVÊA, TESS GUBRIN, KERRY LEE & ANA CAROLINA FERNANDES


ANDEJO DA NOITE E DO DIA (Imagem: foto Ali havia uma árvore, LAM/2016) – Sou pedestre ao amanhecer. A cidade ainda dorme alheia ao espetáculo da alvorada. As ruas livres pros gorjeio de pássaros peraltas e pros meus passos erradios entre poças e batentes das irregulares calçadas alinhadas ou esburacadas entre o calçamento e barro batido, todas lisas e cuido para não escorregar. Gosto de me perder nas encruzilhadas, pelas curvas das ruas a sensação do desconhecido. Sou caminheiro visionário e percebo na ausência de tudo que as pessoas roncam quase silenciosas pelas frestas das residências, enquanto os motores adormecem nas garagens, antes de invadirem o trânsito para transformarem a vida numa loucura desorganizada. Na primeira esquina dobro a esmo, não sei precisamente onde estou nem se chegarei a algum lugar, apenas caminho pelo meio fio, fitando muros, portões, casas, prédios, até, quem sabe, encontrar no caminho de volta. Divago na perdição, e me encontro de mim mesmo. Brinco como se entrasse pela perna de pinto e saísse pela perna de pato, é o meu jeito de ser. E a cada passo refaço-me, até que em certa altura do trajeto, tenho a sensação de que já estive por essas paragens e vou relembrando partes do logradouro, quando me dou por certo num ponto de parada da condução, sem sinalização, sem abrigo nem nada por identificá-lo, lembrei-me disso, sim e havia uma árvore aqui por referência, não há mais. Divisei com o primeiro morador no portão e ao perguntá-lo me respondeu que há mais de quarenta anos que residia ali e já havia um pé de não sei quê que seus avós e pais falavam de tempos, nem ele sabia ao certo quanto nem de que era mesmo, mas que havia sido cortado ontem. Que coisa!?! Havia tempo que eu não passava ali, acho que era um pé de amêndoa, não sei bem. Uma vizinha ao ouvir nossa conversa disse que aquela árvore frondosa era o amparo dos passageiros pra pegar o ônibus, agora nem sabe mais se é ponto de parada. Outra moradora da mesma casa dizia que a árvore estava causando danos ao muro e à residência em frente, uma casa pro dono dela muito frienta e cheia de bichos de todas as espécies, levando-o a requerer por diversas vezes a sua derrubada, até que lograra êxito e ela foi demovida ontem com raiz e tudo, por um guindaste que removeu suas toras para o caminhão de uma empresa lá, parece que da prefeitura ou prestadora de serviços, ninguém sabia direito. Arrancaram e logo fizeram o serviço bem feito, como se nada antes houvesse ali. Ninguém dera conta, pra eles nada demais. Alguém que pergunta qual a serventia de uma árvore mesmo plantada numa calçada, atrapalhando o passeio e tudo na vida. É, pelo que vejo, preferem a ausência dela. Realmente, pra eles, nada demais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

UMA MÚSICA
Enquanto caminhava soavam na ideia os acordes do álbum Tacuchian: Música para piano (ABM, 2005), do compositor, professor e maestro Ricardo Tacuchian, na interpretação de José Eduardo Martins, Max Lifchitz, Anne Kaasa, Ingrid Barancoski, Sérgio Monteiro & Regina Martins.
 
PESQUISA: MOMENTO DE REFLEXÃO - [...] A cultura é superorgânica, mas ela também molda a mente de indivíduos. Sua expressão individual é parte da produção de significado, a atribuição de significados a coisas em diferentes contextos em ocasiões particulares. Produzir significado envolve situar encontros com o mundo em seus contextos culturais apropriados a fim de saber “do que eles tratam”. Embora os significados estejam “na mente”, eles têm suas origens e sua importância na cultura na qual são criados. É esta localização cultural dos significados que garante sua negociabilidade e, no final das contas, sua comunicabilidade. Não se trata, aqui, da existência, ou não, de “significados particulares”; o importante é que os significados constituem uma base para o intercâmbio cultural. Nesta visão, saber e comunicar são, em sua natureza, extremamente interdependentes, de fato praticamente inseparáveis. Por mais que o indivíduo pareça operar por conta própria ao realizar sua busca de significados, ninguém pode fazê-lo sem o auxílio dos sistemas simbólicos da cultura. É a cultura que fornece as ferramentas para organizarmos e entendermos nossos mundos de maneira que sejam comunicáveis. A característica distintiva da evolução humana é que a mente evoluiu de uma forma que permite que os seres humanos utilizem as ferramentas da cultura. Sem ferramentas, sejam simbólicas, sejam materiais, o homem não é um “macaco nu”, mas uma abstração vazia. [...]. Trecho extraído da obra A cultura da educação (ArtMed, 2001), do psicólogo e professor estadunidense Jerome Bruner (1915-2016), líder do movimento denominado de Revolução Cognitiva, ocorrido na década de 1960, introduzindo novas perspectivas ao estudo da mente na superação do behaviorismo que focava apenas os fenômenos observáveis.

UM LIVRO: A ALEGRIA
Meu coração esbanjou vaga-lumes / se acendeu e apagou / de verde em verde / fui contando / Com minhas mãos plasmo o solo / difuso de grilos / modulo-me / com / igual submisso / coração / Bem-me-quer mal-me-quer / esmaltei-me / de margaridas / enraizei-me / na terra apodrecida / cresci / como um cardo / sobre o caule torto / colhi-me / no tufo / do espinhal / Hoje / como o Isonzo / de asfalto azul / me fixo.
Aniquilamento, poema extraído da obra A Alegria (Record, 2002), do poeta e professor italiano Giuseppe Ungaretti (1888-1970).

PENSAMENTO DO DIA: UMA GATA EXTRAORDINÁRIA – Em uma casa, de certo país, há um rato enorme e muito perigoso. Para libertar-se dele, o proprietário da casa apela para todos os mestres-gatos que ele conhece. O primeiro gato que se apresente é um grande atleta, um gato muito forte. Mas, para surpresa de todos, este gato, que sempre fora vitorioso, é vencido pelo rato. Apresenta-se um outro gato que diz ao primeiro: “É perfeitamente normal que você tenha sido vencido, porque à sua força opôs-se uma outra força. É preciso se servir da força do inimigo para que ele se autodestrua”. Este gato conhece bem as artes marciais. Entretanto, apesar de aplicá-las com toda competência, é vencido. Chega ainda um outro gato que diz: “Todos os meus predecessores não compreenderam. Este tipo de tato só pode ser vencido com o poder do espírito”. Senta-se em uma postura adequada par hipnotizar o rato. Mas isso de nada adianta. Então, eis que chega uma velha gata que não tem um ar extraordinário. Entra no quarto, vai diretamente ao rato, pega-o pela pele do pescoço e joga-o fora. Todos os mestres-gatos lhe perguntam: - “O que você fez? Qual foi a sua técnica? Quem é o seu mestre? Qual é a sua energia? Como isso é possível?” E ela lhes responde: - “Eu não tenho técnica. Quando entrei neste quarto não tinha nenhuma ideia, nem sobre o rato nem sobre o modo de vencê-lo. Simplesmente escutei o movimento do meu ventre, o movimento da vida em mim e fiz o que me pareceu certo”. esta é a força do hara. E completa: - “Nada tenho de especial. Conheço em um país vizinho, alguém que é muito mais forte do que eu. É um velho gato, muito gentil, que passa seus dias dormindo, deitado em um banco. Mas no país onde ele mora não existem ratos”. Trecho extraído da obra Practica del camino interior: lo cotidiano como ejercicio (Mensajero, 1994), do psicoterapeuta, Mestre-Zen e diplomata alemão Graf Dürckheim (1896-1988), um adepto do nazismo veterano da I Guerra Mundial que, ao ser preso no Japão na II Guerra Mundial, transformou-se espiritualmente, tornando-se defensor da esotérica tradição espiritual ocidental ao sintetizar ensinamentos do misticismo cristão, Psicologia Profunda e Zen Budismo.

UMA IMAGEM
A arte da premiada fotógrafa e fotojornalista Ana Carolina Fernandes.

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Fecamepa: de Pindorama à carta de Sardinha aqui.
Ratadas & atassalhaduras, Honoré de Balzac, Jean-Luc Godard, Montaigne, Direito de amar & danos de amor, Suzana Salles, Charlotte Wolter, Cécile Camp, Milo Moiré, Louis Maeterlinck, Louis Hersent & Pessoa de Araújo Lopes aqui.

DESTAQUE: CÉLIA GOUVÊA

A arte da bailarina e coreógrafa Célia Gouvêa que integrou o grupo belga Chandra e uma das fundadoras do grupo Chandra.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
 Reclining nude, do artista plástico neozelandês Tess Gubrin.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Inner Peace, by Kerry Lee
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.


ANNE CARSON, MEL ROBBINS, COLLEEN HOUCK & LEITURA NA ESCOLA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som do álbum Territórios (Rocinante, 2024), da premiada violonista Gabriele Leite , que possui mestrado em...