BOM DIA - Bom dia. Mesmo que o amanhecer se pareça ao dia de ontem
e anteontem, a semana passada, o mês que ainda lembre ou o ano que não é mais,
e seja como tudo já visto e sem esperança, bom dia. Mesmo que se sinta só sem sobrenome
ou parente e sem o menor sinal de qualquer herança ou ancestral familiar, apenas
um sobrevivente hóspede indesejável no meio da pior das impressões com a
reputação na lama e exposta ao opróbrio, bom dia. Mesmo que o seu retrato seja
para todos o do mais infeliz Cagliostro e tudo seja só desfavor e corra em
segredo de justiça com os semáforos vermelhos como um xeque mate que coíba
todas as possibilidades e alternativas de sua longa caminhada, bom dia. Mesmo que
tenha chegado à conclusão de que nada mas nada mesmo seja mais possível, não obstante,
nenhum reconhecimento confirme o desprezo para que assim tudo lhe seja escasso,
estreito e em conta gotas, tudo perdido e sem solução, sorria e bom dia. Mesmo que
esteja com as mãos vazias, o coração aos prantos e sem ter o que fazer e lhe
recusem a seguir seu caminho em severa reclusão e, com efeito, se oponham em
compará-lo ao pior do que seja e tenha de renunciar às suas aspirações, para
que lhe reste apenas um epitáfio qualquer, bom dia. Sorria, mesmo que tudo se pareça
tão inedecifrável quanto cabalístico de tão intrincado conflito na maior ameaça
de guerra, e tenha esgotada toda a paciência do mundo com tudo de mais
fantasioso que se pareça, sorria e cante Chaplin enquanto ingênuos sectários imponham
a sua exclusão na mais cruel das culpas segregadoras. Sorria, mesmo que tenha
descido ao inferno de Rimbaud e não lhe reste mais nada, chão algum sob os pés,
horizonte algum às vistas, leia os Ombros de Drummond, a Linha Reta de Pessoa
ou Os Ocos de Eliot e sorria, porque, acima de tudo, apesar de todos os pesares
e com tudo às avessas, tudo está em suas mãos e pode mudar a qualquer momento,
a vida não para, ainda há tempo, nunca é tarde. Então, sorria e bom dia. Amem e
amem. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] o número
de pessoas com experiências de consciência cósmica é maior no mundo moderno do
que o era no mundo antigo. Este fato, relacionado com a teoria gemi da evolução
psíquica, tende a confirmar de maneira definitiva a conclusão segundo a qual é
certo que a consciência de si apareceu entre os melhores espécimes de nossa
raça ancestral em sua fase primordial, e tornou-se progressivamente universal
evidenciando-se cada vez mais cedo no indivíduo. Atualmente ela se apresenta,
em média, por volta dos três anos. A consciência cósmica se universalizará até que
a raça inteira possua esta faculdade. A mesma raça e não mais a mesma, pois a
raça da consciência cósmica não será mais a raça que existe atualmente, da
mesma maneira que a raça atual não é igual àquela que existia antes da evolução
da consciência individual. A verdade simples é que, durante milênios, em meio à
multidão de seres comuns, “apareceu por intervalos” o início ainda bem frágil
de uma nova raça; caminhando sobre a terra e respirando conosco e ao mesmo
tempo caminhando sobre uma outra terra e respirando um ar diferente do qual
conhecemos pouco ou absolutamente nada, mas que constitui, no final das contas,
nossa vida espiritual, da mesma maneira como sua ausência seria nossa morte
espiritual. Esta nova raça está em vias de ser gerada de nós mesmos, e em um
futuro próximo ocupará e possuirá a terra. [...]
Trecho
extraído da obra Consciência cósmica: um estudo
na evolução da mente humana (Renes, 1982), do psiquiatra canadense Richard
Maurice Bucke (1837-1902), definindo uma forma de consciência mais elevada
do que a que possui homem. Veja mais aqui.
MANGA ROSA & LUANA MENEZES
Parto para buscar a dignidade e o
reconhecimento que almejo e mereço. Parto com uma admiração enorme por quem
aqui fica e tenta, sem cessar, fazer a roda da cultura girar. Mas parto,
principalmente, com uma vontade urgente de gritar para que Natal valorize os
artistas incríveis que fazem dessa terra sua morada.
O
monólogo Manga Rosa (2014), da atriz
e pesquisadora Luana Menezes, que é
fundadora da Bololô Cia. Cênica e integrante da Arkhétypos Grupo de Teatro, é
inspirado nos diários da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977),
contando a história de uma mulher que pôs fogo na própria casa, degusta os
sabores da sua intimidade: o amargor de ser mulher em qualquer época, o gosto
de cinzas (gosto de quem já ardeu) que fica na boca, o mel dos prazeres e da
liberdade conquistada à ferro e fogo. A peça teatral transita entre a
autoficção e a fábula, embriagando-se com o vinho, o sexo, o amor e os
encontros, percorrendo o lugar de encontro das mulheres deslumbradas e
destroçadas, apaixonadas e criadoras, no qual elas desnudam sua pele, sua
escrita, seus desejos e suas vozes se confundem e se costuram suculentamente
sob a sombra frondosa do erotismo e da poesia. Veja mais aqui e aqui.
A FOTOGRAFIA DE LAURE ALBIN GUILLOT
A arte
da fotógrafa francesa Laure Albin
Guillot (1879-1962), uma artista
que se tornou figura profissional e institucional que dominou a arena
fotográfica francesa, praticando vários gêneros, incluindo retrato, nus,
paisagem, natureza morta e, em menor grau, fotografia documental. Tecnicamente inigualável, ela elevou a prática a um certo elitismo,
usando os novos meios de distribuição da imagem para fornecer ilustrações e
imagens publicitárias para a indústria impressa e editorial que a fizeram
notavelmente uma das primeiras na França a considerar o uso decorativo da
fotografia através de sua pesquisa formal sobre o infinitamente pequeno. Com a fotomicrografia, que ela renomeou como “micrografia”, apresentando
novas perspectivas criativas na combinação de arte e ciência. Por essa razão
ela tornou-se uma das personalidades mais ativas das áreas fotográficas e
culturais da época. Veja mais aqui.
&
A obra
do escritor, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras, Carlos
Heitor Cony (1926-2018) aqui, aqui & aqui.