quinta-feira, março 14, 2019

CARLOS HEITOR CONY, RICHARD MAURICE BUCKE, LAURE ALBIN GUILLOT, LUANA MENEZES & BOM DIA


BOM DIA - Bom dia. Mesmo que o amanhecer se pareça ao dia de ontem e anteontem, a semana passada, o mês que ainda lembre ou o ano que não é mais, e seja como tudo já visto e sem esperança, bom dia. Mesmo que se sinta só sem sobrenome ou parente e sem o menor sinal de qualquer herança ou ancestral familiar, apenas um sobrevivente hóspede indesejável no meio da pior das impressões com a reputação na lama e exposta ao opróbrio, bom dia. Mesmo que o seu retrato seja para todos o do mais infeliz Cagliostro e tudo seja só desfavor e corra em segredo de justiça com os semáforos vermelhos como um xeque mate que coíba todas as possibilidades e alternativas de sua longa caminhada, bom dia. Mesmo que tenha chegado à conclusão de que nada mas nada mesmo seja mais possível, não obstante, nenhum reconhecimento confirme o desprezo para que assim tudo lhe seja escasso, estreito e em conta gotas, tudo perdido e sem solução, sorria e bom dia. Mesmo que esteja com as mãos vazias, o coração aos prantos e sem ter o que fazer e lhe recusem a seguir seu caminho em severa reclusão e, com efeito, se oponham em compará-lo ao pior do que seja e tenha de renunciar às suas aspirações, para que lhe reste apenas um epitáfio qualquer, bom dia. Sorria, mesmo que tudo se pareça tão inedecifrável quanto cabalístico de tão intrincado conflito na maior ameaça de guerra, e tenha esgotada toda a paciência do mundo com tudo de mais fantasioso que se pareça, sorria e cante Chaplin enquanto ingênuos sectários imponham a sua exclusão na mais cruel das culpas segregadoras. Sorria, mesmo que tenha descido ao inferno de Rimbaud e não lhe reste mais nada, chão algum sob os pés, horizonte algum às vistas, leia os Ombros de Drummond, a Linha Reta de Pessoa ou Os Ocos de Eliot e sorria, porque, acima de tudo, apesar de todos os pesares e com tudo às avessas, tudo está em suas mãos e pode mudar a qualquer momento, a vida não para, ainda há tempo, nunca é tarde. Então, sorria e bom dia. Amem e amem. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] o número de pessoas com experiências de consciência cósmica é maior no mundo moderno do que o era no mundo antigo. Este fato, relacionado com a teoria gemi da evolução psíquica, tende a confirmar de maneira definitiva a conclusão segundo a qual é certo que a consciência de si apareceu entre os melhores espécimes de nossa raça ancestral em sua fase primordial, e tornou-se progressivamente universal evidenciando-se cada vez mais cedo no indivíduo. Atualmente ela se apresenta, em média, por volta dos três anos. A consciência cósmica se universalizará até que a raça inteira possua esta faculdade. A mesma raça e não mais a mesma, pois a raça da consciência cósmica não será mais a raça que existe atualmente, da mesma maneira que a raça atual não é igual àquela que existia antes da evolução da consciência individual. A verdade simples é que, durante milênios, em meio à multidão de seres comuns, “apareceu por intervalos” o início ainda bem frágil de uma nova raça; caminhando sobre a terra e respirando conosco e ao mesmo tempo caminhando sobre uma outra terra e respirando um ar diferente do qual conhecemos pouco ou absolutamente nada, mas que constitui, no final das contas, nossa vida espiritual, da mesma maneira como sua ausência seria nossa morte espiritual. Esta nova raça está em vias de ser gerada de nós mesmos, e em um futuro próximo ocupará e possuirá a terra. [...]
Trecho extraído da obra Consciência cósmica: um estudo na evolução da mente humana (Renes, 1982), do psiquiatra canadense Richard Maurice Bucke (1837-1902), definindo uma forma de consciência mais elevada do que a que possui homem. Veja mais aqui.

MANGA ROSA & LUANA MENEZES
Parto para buscar a dignidade e o reconhecimento que almejo e mereço. Parto com uma admiração enorme por quem aqui fica e tenta, sem cessar, fazer a roda da cultura girar. Mas parto, principalmente, com uma vontade urgente de gritar para que Natal valorize os artistas incríveis que fazem dessa terra sua morada.
O monólogo Manga Rosa (2014), da atriz e pesquisadora Luana Menezes, que é fundadora da Bololô Cia. Cênica e integrante da Arkhétypos Grupo de Teatro, é inspirado nos diários da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977), contando a história de uma mulher que pôs fogo na própria casa, degusta os sabores da sua intimidade: o amargor de ser mulher em qualquer época, o gosto de cinzas (gosto de quem já ardeu) que fica na boca, o mel dos prazeres e da liberdade conquistada à ferro e fogo. A peça teatral transita entre a autoficção e a fábula, embriagando-se com o vinho, o sexo, o amor e os encontros, percorrendo o lugar de encontro das mulheres deslumbradas e destroçadas, apaixonadas e criadoras, no qual elas desnudam sua pele, sua escrita, seus desejos e suas vozes se confundem e se costuram suculentamente sob a sombra frondosa do erotismo e da poesia. Veja mais aqui e aqui.

A FOTOGRAFIA DE LAURE ALBIN GUILLOT
A arte da fotógrafa francesa Laure Albin Guillot (1879-1962), uma artista que se tornou figura profissional e institucional que dominou a arena fotográfica francesa, praticando vários gêneros, incluindo retrato, nus, paisagem, natureza morta e, em menor grau, fotografia documental. Tecnicamente inigualável, ela elevou a prática a um certo elitismo, usando os novos meios de distribuição da imagem para fornecer ilustrações e imagens publicitárias para a indústria impressa e editorial que a fizeram notavelmente uma das primeiras na França a considerar o uso decorativo da fotografia através de sua pesquisa formal sobre o infinitamente pequeno. Com a fotomicrografia, que ela renomeou como “micrografia”, apresentando novas perspectivas criativas na combinação de arte e ciência. Por essa razão ela tornou-se uma das personalidades mais ativas das áreas fotográficas e culturais da época. Veja mais aqui.
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A obra do escritor, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras, Carlos Heitor Cony (1926-2018) aqui, aqui & aqui.