AS CARTAS, BELA
FLOR – Ah, bela flor da Vila Viçosa, ouço a
sua voz no soneto ao vento com todo furor e desventuras que não caberiam em cem
milhões de versos, cantando a vida e a morte desde a infância para que tudo
fosse entressonhos não mais que reais. Já errava em mim inquieta com o calor do
ventre e dos seios juvenis, trocando olhares para cair nas estradas,
adolescendo a misteriosa descoberta. Para quem a viu desde mocinha numa viagem
em alto mar, pernas e coxas roliças, poemas como quem se abre à vida e eu
seduzido pelo despudor do ofertório de sua emanação de pagã extasiante. Ah,
musa alentejana, a deusa em carne e osso soltando versos cheios de paixão e dor,
como quem me dava o corpo prometido à morte para que eu tragasse o vinho forte
de seus beijos na dança de ritual da dádiva, num livro das mágoas diante da
impotência dos interditos, enquanto a vibração do cio escandalizava numa
epifania essencial. O poema dito que era d’ele era meu e em mim como carta para
longe no mistério do amor. Confesso renascido aos seus pés em súplica pela
estrela cadente. E o livro sempre meu, ninguém entendia a alma do poeta e não
sabíamos de nós dois quem amava e quem era amado. O seu reino meu ficou para
além do seu exílio na sóror saudade às horas rubras dos sensuais e ardentes
beijos nas noites quentes da sua temperatura amorosa em chamas, pela charneca
em flor e o movimento dos nervos na sinfonia da volúpia, a rir e chorar no
fremente corpo pela loucura e fantasia ao mais alto bradar até o infinito dos
sonhos dos seus querentes e divinos braços erguidos de mulher. As minhas mãos ateias
tateavam o alvoroço da sua tempestade e a minha boca desfolhava o seu ventre à
torre erguida ao grito para que não fosse grave e triste o grande amor, guardando-se
no Reliquae como um jardim com sua alma e amor, para que seus olhos flamejassem
a sua obscena vitalidade nos sonetos fanáticos não mais que eu obsessivo amante
amado, enquanto inteira no meu rosto, entregue às minhas mãos, a morar dentro
de mim. Descortinamos as máscaras do destino para quem sofria da perda de
sempre, malogro recorrente no dominó preto, com todas as cartas derrubando
barreiras e tabus na transgressão de si com seus arroubos sensuais. Eu mesmo
não sabia que viver era não saber que se vive e a vi diante do espelho
procurando sentido para a vida e para si, porque não se esquecia de viver,
porque simplificava para poder ser feliz, arrancando tudo, esmagando-se, reduzindo-se,
em seus próprios destroços com todos os astros que moravam lá no alto. O teu
adeus indesejável eu pude ver em Matosinhos, solene Diário do último ano com o
poema sem título a me dizer que não haveria mais gestos novos nem novas
palavras no suicídio de seu derradeiro aniversário. Ah, bela flor guardada em
mim. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] Na ciência,
pode-se reconhecer a ordem central pelo fato de podermos usar metáforas como ‘a
natureza foi feita de acordo com tal plano’. É nesse contexto que minha ideia
da verdade relaciona-se com o conteúdo efetivo da experiência religiosa. Sinto
que essa ligação tornou-se muito mais evidente desde que compreendemos a teoria
quântica. [...].
Trecho extraído da obra A parte e o todo: encontros e conversas sobre física, filosofia,
religião e política (Contraponto, 1996), do físico e Prêmio
Nobel de 1932, Werner Heisenberg (1901-1976), uma autobiografia
intelectual de um dos mais importantes cientistas do século XX, relembrando os
debates sobre física, filosofia, religião e política que travou com Einstein,
Bohr, Planck, Dirac, Pauli, entre outros, narrando sua experiência pessoal
durante o regime nazista e o esforço alemão para dominar a energia atômica
ainda durante a guerra. Noutra de suas obras, A imagem da natureza na física moderna (Livros do Brasil, 1962),
ele expressa que: [...] O grande rio da ciência, que atravessa a nossa época,
brota de duas fontes situadas no terreno da antiga filosofia, e, embora mais
tarde muitos outros afluentes tenham desaguado neste rio, contribuindo para
engrossar o seu fecundo caudal, a sua origem é, não obstante, sempre claramente
reconhecível. [...] Quem queira chegar até ao fundo das coisas em qualquer especialidade
[...] se chocará com aquelas fontes antigas
e daí tirará grandes benefícios para o seu próprio trabalho, por ter aprendido
com os gregos a pensar de uma maneira geral, a transportar os problemas para o
plano teórico [...]. Por fim, na sua obra Philosophic problems of nuclear science (Faber and Faber, 1952), ele assinala que: [...] A ciência moderna tem seguido algumas
tendências da filosofia natural grega, pois tem reconsiderado uma série de
problemas com que a filosofia havia se debatido em seus inícios [...]. Existem, especificamente, duas ideias da
antiga filosofia grega que na atualidade ainda determinam o curso da ciência e
que são, por essa razão, de especial interesse para nós: a convicção de que a
matéria consiste de pequenas unidades indivisíveis, os átomos, e a crença na
força de estruturas matemáticas [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.
O GRUPO
TEATRO IDEIA AÇÃO (TIA)
O
premiado grupo Teatro Ideia Ação (TIA), formado pelos atores Marcelo Militão, Mariana Abreu, Mário Ferrolho, Sofia Militão, Renan
Leandro, Aline Ferraz, Vicente Goulart & Karen Gonçalves, desenvolve um trabalho
continuado há 15 anos, com a proposta de teatro popular e de intervenção
social. Uma de suas características mais marcantes é a viabilidade para a
itinerância, todos seus espetáculos são concebidos e pensados tanto na questão
estética como material para seu objetivo maior, circular, ir ao encontro do
público onde quer que ele esteja, seja nas grandes metrópoles, nos teatros, nas
praças, nas favelas, no sertão, enfim, levar a sua arte aonde público e
artista, numa comunhão, virem um só. Além disso, o grupo desenvolve uma linha
de pesquisa na arte popular, na rua, na periferia e no teatro comunitário e
trabalha com cenopoesia, palhaçaria e mamulengo. No decorrer de sua trajetória
o Grupo TIA já ganhou mais de 10 prêmios e apresentou em diversas localidades
do país e no exterior para um público superior a 500 mil pessoas. Atualmente,
desenvolve seus estudos e trabalhos na periferia de Canoas. E realiza e produz
o FESTIA - Festival Internacional de Teatro em Canoas. Veja mais aqui e aqui.
A FOTOGRAFIA DE SALLY MANN
A arte
da fotógrafa estadunidense Sally Mann
que é autora de diversos livros de fotografias e que desenvolve um trabalho em
preto-e-branco de grande formato. Veja mais aqui.
&
A obra do escritor, jornalista e político peruano Mario
Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura de 2010, aqui, aqui, aqui &
aqui.