sexta-feira, setembro 07, 2018

THIAGO DE MELLO, JOÃO UBALDO, PAULO FREIRE, DARCY RIBEIRO, SEBASTIÃO SALGADO & BRASIL


QUE BRASIL É ESTE? - Ainda ontem perguntaram: que droga de país é este, mas diziam como se fosse esse, coisa de não ter nada a ver. Pra quem disse assim, o problema era só meu, não era dele, só daquele, e insistia pra mim: é seu! E mais dizia: Você e todos não sabem votar! Tenho dito! Será o Benedito? Isso entrava noite pelo dia, maior o esculacho, metendo bronca a pacutia. Em riba da fivela, insistia o soberbo: se fosse eu resolvia na sola, pena de morte, só degola, coisa certa no corte, sem pantim. Ah, se fosse assim, garantia, seria outra coisa, não sobraria raposa pra farra no galinheiro. A culpa é do brasileiro – e ele que exaltava a si, assim não se achava, ôôôôôô. Esse o Brasil do vitupério e nunca foi levado a sério por quem quer que seja, ou que pragueja por ter dado de bandeja o que era e o que não era de seu, ôôôôôô. Onde tudo escureceu porque afanaram sem escarcéu, todas as estrelas do céu, de ficar só no hora veja, no aperto até gagueja, sem conseguir enganar nem a si mesmo, pintando todo de escorreito, só no deixa disso, ôôôôôô. Esse é o país do reboliço, de burlar o compromisso e qualquer avença aquiliana, feito fizeram com Mariana ou no Alto Xingu, pra todos tomarem... café, ôôôôôô, sem saber que são carniça pronta só pra urubu, ôôôôôô. Tudo é só caroço no angu para maior congestão, vale só corrupção a pisar todos os mortos, aos trancos e barrancos, de só pegar se for ao arranco das noticias fabricadas, ôôôôôô, pras comemorações de nada a requebrar de felicidade urgente efêmera, ôôôôôô, como se durasse o final feliz da telenovela e a juntar bufunfa escusa no pé do cipa, enquanto muitos choraram a desdita com a cabeça pelas tabelas, ôôôôôô. O país que tudo se leva no bico ou nas coxas, aos esparros porque tem a coisa roxa, a dançar qualquer batuque na lata, cantarolando que nem saci na academia e corredores do Arroio ao Chuí, porque é sempre carnaval e daí ou coisa correlata, seja por bem ou por mal, ôôôôôô, isso aqui ôôôôôôô é isso aqui. Mas que Brasil é este do incêndio de museu e o que toma o que é meu ou seu como se dele fosse, quando a má notícia trouxe de que tudo se perdeu com a plataforma P36 da Petrobras, a sair abanando o rabinho atrás, enquanto a gente espreme entre as pernas, coisa que agora vira eterna para nunca mais, ôôôôôô. O que é que a gente faz se podres poderes levam a geringonça, com tantas mãos tão sonsas de quase nem adivinhar o sangue da canela à rótula, se tudo é na força da espórtula, seja guerra, seja paz, ôôôôôô. E tanto faz se caeté exterminado ou qualquer tupi-guarani despejado terrafora, com pretos e gringos excluídos, a perder os possuídos em cada passo alvissareiro que o país desce a ribanceira, falta freio na ladeira, viva o povo brasileiro, ôôôôôô. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música de Chico Buarque, Maria Rita, Gal Costa, Leila Pinheiro, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gilberto Gil, A Cor do Som, Caju & Castanha, Capital Inicial, Auri Viola & muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Não há educação fora das sociedades humanas e não há homem no vazio. [...] Há uma pluralidade nas relações do homem com o mundo, na medida em que responde à ampla variedade dos seus desafios. Em que não se esgota num tipo padronizado de resposta. A sua pluralidade não é só em face dos diferentes desafios que partem do seu contexto, mas em face de um mesmo desafio. No jogo constante de suas respostas, altera-se no próprio ato de responder. Organiza-se. Escolhe a melhor resposta. Testa-se. Age. Faz tudo isso com a certeza de quem usa uma ferramenta, com a consciência de quem está diante de algo que o desafia. Nas relações que o homem estabelece com o mundo há, por isso mesmo, uma pluralidade na própria singularidade. E há também uma nota presente de criticidade. [...] Mas, infelizmente, o que se sente, dia a dia, com mais força aqui, menos ali, em qualquer dos mundos em que o mundo se divide, é o homem simples esmagado, diminuído e acomodado, convertido em espectador, dirigido pelo poder dos mitos que forças sociais poderosas criam para ele. Mitos que, voltando-se contra ele, o destroem e aniquilam. É o homem tragicamente assustado, temendo a convivência autêntica e até duvidando de sua possibilidade. Ao mesmo tempo, porém, inclinando-se a um gregarismo que implica, ao lado do medo da solidão, que se alonga como “medo da liberdade”, na justaposição de indivíduos a quem falta um vínculo crítico e amoroso, que a transformaria numa unidade cooperadora, que seria a convivência autêntica. [...] encarávamos e encaramos a educação como um esforço de libertação do homem e não como um instrumento a mais de sua dominação. [...] que a palavra seja compreendida pelo homem na sua justa significação: como uma força de transformação do mundo. Só assim a alfabetização tem sentido. Na medida em que o homem, embora analfabeto, descobrindo a relatividade da ignorância e da sabedoria, retira um dos fundamentos para a sua manipulação pelas falsas elites. Só assim a alfabetização tem sentido. Na medida em que, implicando em todo este esforço de reflexão do homem sobre si e sobre o mundo em que e com que está, o faz descobrir “que o mundo é seu também, que o seu trabalho não é a pena que paga por ser homem, mas um modo de amar — e ajudar o mundo a ser melhor”. [...]. Trecho extraído Educação como prática da liberdade (Paz e Terra, 1967), do sociólogo e pedagogo Paulo Freire (1921-1997). Veja mais aqui.

O POVO BRASILEIRO - [...] A sociedade e a cultura brasileiras são conformadas como variantes da versão lusitana da tradição civilizatória européia ocidental, diferenciadas por coloridos herdados dos índios americanos e dos negros africanos. O Brasil emerge, assim, como um renovo mutante, remarcado de características próprias, mas atado genesicamente à matriz portuguesa, cujas potencialidades insuspeitadas de ser e de crescer só aqui se realizariam plenamente. A confluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderia ter resultado numa sociedade multiétnica, dilacerada pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis. Ocorreu justamente o contrário, uma vez que, apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se diferenciaram em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes de autonomia frente à nação. [...] Por essas vias se plasmaram historicamente diversos modos rústicos de ser dos brasileiros, que permitem distinguilos, hoje, como sertanejos do Nordeste, caboclos da Amazônia, crioulos do litoral, caipiras do Sudeste e Centro do país, gaúchos das campanhas sulinas, além de ítalobrasileiros, teutobrasileiros, nipobrasileiros etc. Todos eles muito mais marcados pelo que têm de comum como brasileiros, do que pelas diferenças devidas a adaptações regionais ou funcionais, ou de miscigenação e aculturação que emprestam fisionomia própria a uma ou outra parcela da população. [...] O povonação não surge no Brasil da evolução de formas anteriores de sociabilidade, em que grupos humanos se estruturam em classes opostas, mas se conjugam para atender às suas necessidades de sobrevivência e progresso. Surge, isto sim, da concentração de uma força de trabalho escrava, recrutada para servir a propósitos mercantis alheios a ela, através de processos tão violentos de ordenação e repressão que constituíram, de fato, um continuado genocídio e um etnocídio implacável. Nessas condições, exacerbase o distanciamento social entre as classes dominantes e as subordinadas, e entre estas e as oprimidas, agravando as oposições para acumular, debaixo da uniformidade étnicocultural e da unidade nacional, tensões dissociativas de caráter traumático. Em consequência, as elites dirigentes, primeiro lusitanas, depois lusobrasileiras e, afinal, brasileiras, viveram sempre e vivem ainda sob o pavor pânico do alçamento das classes oprimidas. Boa expressão desse pavor pânico é a brutalidade repressiva contra qualquer insurgência e a predisposição autoritária do poder central, que não admite qualquer alteração da ordem vigente. A estratificação social separa e opõe, assim, os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis, mais do que corresponde habitualmente a esses antagonismos. Nesse plano, as relações de classes chegam a ser tão infranqueáveis que obliteram toda comunicação propriamente humana entre a massa do povo e a minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a explora e a deplora, como se esta fosse uma conduta natural. A façanha que representou o processo de fusão racial e cultural é negada, desse modo, no nível aparentemente mais fluido das relações sociais, opondo à unidade de um denominador cultural comum, com que se identifica um povo de 160 milhões de habitantes, a dilaceração desse mesmo povo por uma estratificação classista de nítido colorido racial e do tipo mais cruamente desigualitário que se possa conceber. O espantoso é que os brasileiros, orgulhosos de sua tão proclamada, como falsa, "democracia racial", raramente percebem os profundos abismos que aqui separam os estratos sociais. O mais grave é que esse abismo não conduz a conflitos tendentes a transpôlo, porque se cristalizam num modus vivendi que aparta os ricos dos pobres, como se fossem castas e guetos. Os privilegiados simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social, que perpetua a alternidade. O povomassa, sofrido e perplexo, vê a ordem social como um sistema sagrado que privilegia uma minoria contemplada por Deus, à qual tudo é consentido e concedido. Inclusive o dom de serem, às vezes, dadivosos, mas sempre frios e perversos e, invariavelmente, imprevisíveis. Essa alternidade só se potencializou dinamicamente nas lutas seculares dos índios e dos negros contra a escravidão. [...]. Trechos da obra O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil (Companhia das Letras, 1995), do antropólogo e escritor Darcy Ribeiro (1922-1997). Veja mais aqui.

VIVA O POVO BRASILEIRO – [...] Quando os padres chegaram, declarou-se grande surto de milagres, portentos e ressurreições. Construíram a capela, fizeram a consagração [...] Levantaram as imagens nos altares [...] Depois da doutrina das mulheres, que então eram arrebanhadas para aprender a tecer e fiar para fazer os panos com que agora enrolavam os corpos, seguia-se a doutrina dos homens, sabendo-se que mulheres e homens precisam de doutrinas diferentes. [...] Na doutrina da tarde, às vezes se ensinava a aprisionar em desenhos intermináveis a língua até então falada na aldeia, como consequência de que, pouco mais tarde, os padres mostravam como usar apropriadamente essa língua, corrigindo erros e impropriedades. [...] Mas estaria aqui mesmo, esse orixá? Que vinha fazer tão longe de seus terreiros e de seu povo [...] Zé Popó resolveu que estava pensando bobagens, dando corda demais ao pensamento. [...] Dia bonito, felizmente, dia claro, até podia dizer cheiroso. Mas os matos, que há nos matos? Se é Oxóssi nos matos, que faz ele nesses matos? [...] Zé Popó pulou para atender a um chamado do oficial e, a caminho, viu um grupo de soldados saindo às carreiras da floresta. [...] chiou e explodiu uma espécie de rojão, soou o toque de chamada ligeira, soldados formigaram de todos os cantos desfazendo os sarilhos como se fossem de palitos [...] os oficiais começaram a gritar [...]. Veio a República e ela pregou que tanto fazia como tanto fez, que nem rei nem presidente estava pensando no povo e podiam esperar até vida pior. Como de fato foi o que se viu depois, a seca piorando, as terras sendo tomadas dos pobres, a escravidão pior do que antes, o coronel mandando mais que o imperador de Roma, o povo de cabeça baixa, os despossuídos cada vez mais despossuídos e os possuídos cada vez mais despossuídos, por isso se dizendo que a República trouxe a lei do Cão. [...] – Estamos aqui em missão oficial, com o objetivo de reprimir uma rebelião contra os integrantes da República. A República, uma conquista do povo brasileiro, [...]. Os senhores não devem fidelidade à Coroa de Bragança, como desobedientemente, sediciosamente professam, violando a lei e afrontando a autoridade [...]. – Não devemos nada a ninguém, todos nos devem! – disse uma voz de mulher vinda do canto escuro do salão. [...] – Deixe estar - disse. – É dona Maria da Fé. – O povo brasileiro não deve nada a ninguém, tenente. [...] Que nos dá a República? Dá-nos mais pobreza. Que nos manda a República? Manda seu exército nos matar. A história de vocês sempre foi de guerra contra o próprio povo de sua nação [...]. Aqui neste sertão, morrerão muitos desses heróis, mas o povo não morrerá, porque é impossível que o povo morra [...]. Vocês são traidores do seu povo e assim deveriam morrer. E vão morrer. [...], porque ainda não será esta expedição que esmagará o povo de Canudos. [...] Viva o povo brasileiro! Viva a nós! [...]. Trechos extraídos da obra Viva o povo brasileiro (Nova Fronteira, 1984), do escritor, jornalista e professor João Ubaldo Ribeiro (1941-2014). Veja mais aqui.

CANÇÃO PARA OS FONEMAS DA ALEGRIA – Peço licença para algumas coisas. / Primeiramente para desfraldar / este canto de amor publicamente. / Sucede que só sei dizer amor / quando reparto o ramo azul de estrelas / que em meu peito floresce de menino. / Peço licença para soletrar, / no alfabeto do sol pernambucano, / a palavra ti-jo-lo, por exemplo, / e poder ver que dentro dela vivem / paredes, aconchegos e janelas, / e descobrir que todos os fonemas / são mágicos sinais que vão se abrindo / constelação de girassóis gerando / em círculos de amor que de repente / estalam como flor no chão da casa. / Às vezes nem há casa: é só o chão. / Mas sobre o chão quem reina agora é um homem / diferente, que acaba de nascer: / porque unindo pedaços de palavras / aos poucos vai unindo argila e orvalho, / tristeza e pão, cambão e beija-flor, / e acaba por unir a própria vida / no seu peito partida e repartida / quando afinal descobre num clarão / que o mundo é seu também, que o seu trabalho / não é a pena que paga por ser homem, / mas um modo de amar — e de ajudar / o mundo a ser melhor. Peço licença / para avisar que, ao gosto de Jesus, / este homem renascido é um homem novo: / ele atravessa os campos espalhando / a boa-nova, e chama os companheiros / a pelejar no limpo, fronte a fronte, / contra o bicho de quatrocentos anos, / mas cujo fel espesso não resiste / a quarenta horas de total ternura. / Peço licença para terminar / soletrando a canção de rebeldia / que existe nos fonemas da alegria: / canção de amor geral que eu vi crescer / nos olhos do homem que aprendeu a ler. Poema extraído da obra Faz escuro mas eu canto: porque a manhã vai chegar (Civilização Brasileira, 1965), do premiadíssimo poeta amazonense Thiago de Mello. Veja mais aqui.

O BRASIL DE SEBASTIÃO SALGADO
Fotos da série Serra Pelada, do fotógrafo Sebastião Salgado. Veja mais aqui e aqui.

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PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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