terça-feira, setembro 04, 2018

CECÍLIA MEIRELES, MATURANA, TURGUÊNIEV, ASSMANN, CAMARGO MARIANO, EDNA SIKORA, SUICÍDIO & MUITO MAIS!!!


O DESNAMORO DE BINHA E PABINHO PICAPAU – Imagens da artista visual e arte-educadora Edna Sikora. - Pabinho – na verdade, Pablo Picasso da Silva na Certidão de Nascimento, o pai nem sabia quem era, mas um dia ouviu alguém mencioná-lo, achava o nome lindo de morrer: Vai ser o nome do meu próximo filho! E foi. Por isso Pabinho pros familiares. Já pros pariceiros, era Picapau pra lá e pra cá, coisa que o deixava chateado -, estava em apuros: já beirava os vinte anos e nada de conseguir namorada para chambregar. Esse cara parece que queima a rodela! Isso é misógino, mesmo! Que porra é isso? Esses que não são muito achegados, sabe? Ah, é. Ele puto da vida com essas insinuações. Precisava fazer alguma pra não cair nessa. De primeira, arrumou um emprego de ajudante de consertador de fogão, ajeitando na limpeza, posição, reposição de peças e coisa e tal – não era lá essas coisas, pelo menos, era trabalho, o que já diminuía nas chaturas de ser reprimido pelos pais acusando-o de vagabundagem: Esse traste num toma jeito, nem emprego arruma, qual mulher vai querer uma lástima dessas? Ele comia arroiado. Já os da patota, de soslaio, desconfiavam que ele só queria tirar bandeira, provocações no pau da venta. Ocupado com os afazeres, foi se especializando na função de ajudante disso e daquilo, a ponto dele próprio entrar no mercado, oferecendo os préstimos laborais de Faz-tudo: conserto de panelas, penicos e o que fosse de latas e flandres, frascos e ferros, couros e plásticos, solados e alinhavados; gambiarra na energia, desentupimento de pias e vasos sanitários, desatolamentos em geral e por aí vai. Fosse bico, era com ele. Por causa disso, conheceu Sebastianita, a Binha pros achegados, uma empregada doméstica duma ricaça. Por meio dos ajeitamentos mais atenciosos, foi premiado pela simpatia dela a requerer recorrentemente dos seus préstimos lá na residência da baronesa. Indo e vindo, emplacou xaveco: Você tem perfil na rede? Fizeru um pra eu, mas nem sei direito como acessar. Ele não teve dúvidas, esperava a folga dela no sábado de tardinha, para ensiná-la e aprumar namorico. Queria agora ver quem insinuaria que ele andava dando o frosquete por não se ajeitar com mulher alguma até então. Queria era mesmo desfilar com ela, o que não era possível porque a moça era para lá de recatada e ainda não dava muita trela pro sabido, toda desconfiada: Tô só olhando pros seus pés. Ele lá saçaricando de todo jeito e ela só na retranca. Um domingo desse, ele deu de presente um aparelho celular pra ela se conectar, ensinando-a coisas da tecnologia. Foi tiro e queda: ela deitou-se cheia de amores pras bandas dele. Entraram na moda, perfis e identificação de quase relação séria. Papo vai, papo vem, ela viu o nome dele na página: Pablo Picasso. Nome bonito, hem? Culpa do meu pai. Não demorou muito o mar de rosa dele. Em conversa com as amigas logo soube que ele era o maior barbazul. Como é que é? Só vive solto nos galinheiros. Ah, ele me paga. E pagou. Um dia lá a patroa chama por ela aos gritos: Binha, me socorra! Espane esses livros que vou ali e volto já. Ela começou a limpar, tudo com nome de Picasso. Cachorro da moléstia! Era o que conseguia ler de tanta raiva. Vixe! O cara é famoso e me enrolando. Ela ficou injuriada, só podia ser carta dele que a senhora encadernou. Piorou mais quando ela pegou um volume que falava dos amores dele: Peguei-lo no flagra, enrolão! Não leu nada, nem teve coragem, mas pelos títulos, já tinha certeza se tratar de um farsante. Aí a senhora retornou e foi logo convocando para recolocar os exemplares nas estantes: Binha, me ajude a colocar essas coisas na estante. Aí ela sapecou: Não sei como a senhora guarda uma trepeça dessas, pelo nome eu já desconfiava que era um safado imprestável. Como? Isso é um sem-vergonha! Hoje mesmo vou dar um bilhetazul pra ele. A madame curiosa, exigiu explicações. Contando tintim por tintim, a senhora caiu às gargalhadas: E num que é mesmo! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do pianista e arranjador Cesar Camargo Mariano: São Paulo Brasil, Octeto, Ponte das Estrelas & Álbum de estúdio & muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] A forma de dizê-lo pode parecer esquisita, mas de fato nós não experimentamos o mundo tal como nos parece que o experimentamos. Aquilo que experimentamos acerca da realidade está submetido a uma espécie de artimanha ou truque da organização autorreferencial do nosso sistema nervoso. Toda ação ou reação sobre a realidade é mediada pelas estratégias do sistema vivo e auto-organizativo que somos. Ele tem lá seus motivos para ‘ligar’ ou desconsiderar tais ou quais níveis entre si [...] Enquanto organismo vivo, somos também um sistema perceptivo e cognitivo. Em cima do que nos advém ‘de fora’, construímos ativamente a nossa imagem do real. Somos criadores do ‘nosso mundo’, inventores do ‘nosso mundo’, fabuladores e sonhadores do ‘nosso mundo’, transformadores do mundo real porque, em primeira instância, transformadores do nosso próprio ‘mundo interno’ mediante uma fantástica evolução intra-organísmica. Nossos órgãos, e assim também nosso cérebro/mente, são órgãos evolutivos, cuja lei suprema é a adaptabilidade. Não há no mundo para nós a não ser mediante a ‘nossa leitura’ do mundo, corporalizada no sistema auto-organizativo que somos [...]. Trechos extraídos Reencantar a Educação – rumo à sociedade aprendente (Vozes, 1998), do educador e teólogo pioneiro da Teologia da Libertação, Hugo Assmann (1933-2008). Veja mais aqui e aqui.

CONHECIMENTO – [...] Quando falamos de conhecimento em qualquer domínio particular é constitutivamente o que consideramos como ações – distinções, operações, comportamentos, pensamentos ou reflexões – adequadas naquele domínio, avaliadas de acordo com o nosso próprio critério de aceitabilidade para o que constitui uma ação adequada nele [...] as teorias filosóficas não são libertadoras. Ao contrário, teorias filosóficas constituem domínios restritivos e imperativos, nos quais aqueles que as adotam negam a si mesmos e aos outros qualquer reflexão sobre os princípios, noções, valores, ou resultados desejados, em torno de cuja conservação elas são construídas ou projetadas. [...]. Trechos extraídos da obra Cognição, ciência e vida cotidiana (UFMG, 2001), do neurobiólogo chileno e criador da teoria da autopoiese e da biologia do conhecer, Humberto Maturana. Veja mais aqui e aqui.

PAIS & FILHOS - [...] O niilista é uma pessoa que não se curva diante de nenhuma autoridade, que não admite nenhum princípio sem provas, com base na fé, por mais que esse princípio esteja cercado de respeito. [...] Somos gente do tempo antigo, acreditamos que, sem princípios, sem princípios aceitos, como você diz, com base na fé, não se pode dar nem um passo, nem mesmo respirar. Vous avez changé tout cela. [...] Antes foram os hegelianos e agora os niilistas. Vejamos como os senhores vão viver no vácuo, no espaço sem ar. [...] Não, meu caro, tudo isso é leviandade, frivolidade! E o que são essas mistérios as relações entre homem e mulher? Nós, fisiologistas, sabemos que relações são essas. Estude a fundo a anatomia do olho: de onde em esse olhar enigmático [da mulher por quem Pável se apaixonara anos atrás], como você o chamou? Tudo isso é puro romantismo, fantasia, podridão, belas artes. É muito melhor irmos examinar o besouro. [...] Atrevo-me a dizer que todos me conhecem como um homem liberal e amante do progresso; mas exatamente por isso respeito os aristocratas... autênticos. [...]. Lembre-se, prezado senhor, dos aristocratas ingleses. Eles não abriram mão nem de uma migalha de seus interesses e por isso mesmo respeitaram os direitos dos demais. [...]. Os pulmões de um tuberculoso não se encontram nas mesmas condições que os pulmões da senhora [referindo-se à personagem Ana Sergueiêvna, por quem Bazárov, contradizendo seu racionalismo, se apaixonaria], embora sejam igualmente constituídos. Conhecemos aproximadamente as causas das enfermidades do corpo; e as doenças morais advêm da educação precária, de todas as bobagens que, desde a infância, atulham as cabeças das pessoas, em suma, da situação revoltante da sociedade. Corrijam a sociedade e não haverá doenças. – E o senhor supõe – disse Ana Sergueiêvna – que, quando a sociedade for corrigida, não haverá mais tolos nem pessoas más? [...]. Sim, entendo; todos terão um baço exatamente igual. – Exatamente isso, nobre senhora. [...]. Trechos extraídos da obra Pais e Filhos (Cosac e Naify, 2004), do escritor, tradutor e dramaturgo russo Ivan Turguêniev (1818-1883).

ALUNA - Conservo-te o meu sorriso / Para, quando me encontrares, / Veres que ainda tenho uns ares / De aluna do paraíso... / Leva sempre a minha imagem / A submissa rebeldia / Dos que estudam todo o dia / Sem chegar à aprendizagem... / - e, de salas interiores, / por altíssimas janelas, / descobrem coisas mais belas, / rindo-se dos professores... / Gastarei meu tempo inteiro / Nessa brincadeira triste; / Mas na escola não existe / Mais que pena e tinteiro! / E toda a humana docência / Para inventar-me um ofício / Ou morre sem exercício / Ou se perde na experiência... Poema extraído da obra Flor de Poemas (Nova Fronteira, 1986), da escritora, pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais aqui.

A ARTE DE EDNA SIKORA
A arte da artista visual e arte-educadora Edna Sikora. Veja mais aqui.

AGENDA
Setembro amarelo – prevenção ao suicídio: valorização da vida & muito mais na Agenda aqui.
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Análise do suicídio aqui & aqui.
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Ascenso & Vou danado pra Catende, Walter Benjamin, Toni Morrison, Luís Buñuel, Costa Porto, Manoel Bentevi, Adriana Asti, Adriana Janacópulos, Educação & Discernimento aqui.
 

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...