DEIXANDO O PAPO EM DIA – Imagem: arte
do artista plástico Wesley Duke
Lee (1931-2010). - UMA DOUTRAS – Hoje tive a
grata satisfação de reencontrar Carma, a minha vó dona Carminha, com a minha
prima Fátima. Sempre as vejo, quando posso, mas é sempre maravilhoso
encontrá-las, jogar conversa fora, mangar das coisas que eu fazia nos meus
tempos de treloso capetinha e darmos gargalhadas gratuitas das mungangas que
sempre fui responsável por promover. Lembravam-me que eu não parava quieto
quando menino, coisa que sou ainda hoje: inquieto. Diziam, então, esse menino
parece que tem um cotoco! E era mesmo. Ah, gostava mesmo era de aparecer. Bastava
qualquer assunto ou o que fosse, só queria um pretexto para chamar atenção. E o
pior era o chulé. Gente, pense numa inhaca danada! Nesse caso, triplo: o meu, o
de Marquinhos e o de Marcelo. A gente se riu tanto só de lembrar da fedentina
de ter de aguentar o odor de três almas sebosas, aliás, três pares de pés
fedorentos. Minha nossa! Que coisa horrível. Destá. DUAS DE NÃO SEI QUANTAS – Outra se deu quando saí de lá às risadas,
encontrava o povo e logo me perguntavam pelas novidades. Eu que tenho andado no
mundo da lua, não tenho lá me atualizado muito com o noticiário que é o mesmo
de dois anos atrás, a mesmíssima coisa. Teve um que disse na lata: quer notícia
nova? Só com os repórteres manicure, vigias, caçadores, barbeiros, visitantes de
salão de beleza e quejandos, esses os principais repórteres de Alagoinhanduba. Eita!
E asseverou: Esses sabem tudo da vida alheia. Desconfio. Contudo, sei que se
apertar direitinho, esses que me perguntaram pelas novidades, se eu desse
trela, debulhariam tudo da vida alheia. Eu, hem? TRÊS PASSANDO A RÉGUA – Acho que este será o último post da semana.
É que a partir de hoje estarei na V Feira
de Leitura: Territórios Interculturais da Leitura, na
Universidade Federal de Pernambuco, atendendo convite da professoramiga doutora
Esther Rosa. Não sei se dará pra de lá atualizar aqui o blog. Caso seja
possível, tudo bem, atualizarei. Caso contrário, a gente volta a conversar na
próxima segunda-feira, dia 17 de setembro. Afora isso, vamos sempre juntos
& beijabrações paratodos. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio
Tataritaritatá especial
com a música do cantor, compositor, advogado e poeta Geraldo
Vandré:
Das terras do benvirá, Canto Geral, Ao vivo & com Quinteto Violado &
muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos
de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
mais aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Se por um lado, de fato, não somos mais
capazes de julgar esteticamente a obra de arte, por outro, a nossa inteligência
da natureza se ofuscou da tal modo e , além disso, a presença nela do elemento
humano se potencializou de tal modo que, diante de uma paisagem, nos ocorre
espontaneamente compará-la à sua sombra, perguntando-nos se ela é esteticamente
bela ou feia, e conseguimos cada vez com maior dificuldade distinguir de uma
obra de arte um precipitado mineral ou um pedaço de lenha corroído e deformado
pela ação química do tempo. [...]. Trecho
extraído da obra O Homem sem conteúdo
(São Paulo: Autêntica, 2012), do filósofo italiano Giorgio
Agamben. Veja mais aqui.
NOVAS FORMAS DE SOCIABILIDADE E DE VÍNCULOS ASSOCIATIVOS &
COMUNITÁRIOS – [...] todos os
micro-rituais [...] parecem ter esse
papel de desvio da técnica de sua função meramente utilitária, de agrupamento
de indivíduos em torno de uma atividade comum, de uma paixão compartilhada.
Poderíamos então falar que o destino da técnica moderna reside também na sua
apropriação dionisíaca e, assim, numa ressacralização, um reencantamento do
mundo. [...]. Trecho extraído da obra O
tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa
(Forense, 1987), sociólogo francês Michel Maffesoli. Veja mais aqui.
FOGO MORTO - [...] Trabalhava a mulher
de Vitorino na castração dos frangos de d. Amélia. Só ela por aquelas bandas
tinha mão e ciência para aquele serviço. Vivia de engenho a engenho à espera da
lua nova, ou do quarto minguante, para operar com sucesso. Ali estava ela desde
manhã, como uma cirurgiã que confiava no seu talho. Com ela não morria uma
cria. Tinha boa mão, tinha força de verdade para fazer as coisas. D. Amélia viera-lhe
falar, somente para lhe dizer que acabados os serviços queria lhe dar duas palavras.
Era a senhora de engenho mais delicada da Ribeira. Nunca ouvira uma palavra
feia naquela boca, nunca a vira aos gritos com os outros, metida na cozinha para
ouvir conversa de negras. Falavam dela, por isto, falavam do gênio esquisito,
de viver calada para um canto. Era assim desde que a conhecera. Quando fora em
1877, a velha Adriana chegara, moça feita, com seu povo morrendo de fome, no
Santa Fé, e d. Amélia já era casada, e era aquilo mesmo. Era moça de prendas,
de educação muito fina. Lembrava-se dela naquele mesmo carro que ainda corria
pela estrada, com o seu ar de rainha, aquela beleza tão mansa, tão quieta que o
povo chegara a desconfiar. O povo estava acostumado com as senhoras de engenho
que davam grito, que descompunham como a d. Janoca do Santa Rosa. D. Amélia era
assim, de natureza. Tocava piano. Lembrava-se bem dos primeiros dias da sua
chegada, com a lembrança ainda lhe doendo do sertão na pior seca do mundo. A
família estava aboletada na casa do engenho, e de lá ela ouvia d. Amélia
tocando no seu piano. Tudo era bem diferente do que via hoje. Tudo era tão mais
cheio de alegria. O coronel Lula era moço bonito, com a barbicha preta, todo
bem-vestido. Parece que ainda escutava o som do piano nos ouvidos. Todos eles
estavam na desgraça, comendo a carne que o imperador mandara para o povo. Tudo
magro como rês na retirada. D. Amélia fora um anjo, naqueles dias. Quando ela
entrava na casa do engenho, era como a providência, uma bênção de Deus. Agora
era aquela velha, muito mais velha do que a idade que tinha. O coronel era
aquele homem que ninguém entendia, metido dentro de casa, cheio de tanta
soberba. Tinham aquela filha que estudara nas freiras do Recife. Era moça de
mais de trinta anos, tão cavilosa, enterrada no quarto, lendo livros, com medo
de gente. Parecia-se com d. Olívia, aquela irmã de d. Amélia que andava sem
parar, da sala de visitas para a cozinha, o dia inteiro, com a cabeça branca
como de lã de algodão. [...].
Trecho extraído da obra Fogo Morto
(José Olympio, 2012), do escritor José Lins do Rego (1901-1957). Veja
mais aqui, aqui e aqui.
DOIS POEMAS - AGONIA
DO CORAÇÃO - Estrelas fulgem da noite em meio / Lembrando círios
louros a arder... / E eu tenho a treva dentro do seio... / Astros! velai-vos,
que eu vou morrer! / Ao longe cantam. São almas puras / Cantando á hora do
adormecer... / E o eco triste sobe ás alturas... / Moças! não cantem, que eu
vou morrer! / As mães embalam o berço amigo, / Doce esperança de seu viver... /
E eu vou sozinha para o jazigo... / Chorai, crianças, que eu vou morrer! / Pássaros
tremem no ninho santo / Pedindo a graça do alvorecer... / Enquanto eu parto
desfeita em pranto... / Aves, suspirem, que eu vou morrer! / De lá do campo
cheio de rosas / Vem um perfume de entontecer... / Meu Deus! que mágoas tão
dolorosas... / Flores! Fechai-vos, que eu vou morrer! MINH'ALMA E O VERSO - Não me olhes
mais assim... Eu fico triste / Quando a fitar-me o teu olhar persiste / Choroso
e suplicante... / Já não possuo a crença que conforta. / Vai bater, meu amigo,
a uma outra porta. / Em terra mais distante. / Cuidavas que era amor o que eu
sentia / Quando meus olhos, loucos de alegria, / Sem nuvem de desgosto, / Cheios
de luz e cheios de esperança, / N’uma carícia ingenuamente mansa, / Pousavam no
teu rosto? / Cuidavas que era amor? Ah! se assim fosse! / Se eu conhecesse esta
palavra doce, / Este queixume amado! / Talvez minh’alma mesmo a ti voasse / E
n’um berço de flor ela embalasse / Um riso abençoado. / Mas, não, escuta bem:
eu não te amava. / Minha alma era, como agora, escrava... / Meu sonho é tão
diverso! / Tenho alguém a quem amo mais que a vida, / Deus abençoa esta paixão
querida: / Eu sou noiva do Verso. / E foi assim. Num dia muito frio. / Achei
meu seio de ilusões vazio / E o coração chorando... / Era o meu ideal que se ia
embora, / E eu soluçava, enquanto alguém lá fora / Baixinho ia cantando: / “Eu
sou o orvalho sagrado / Que dá vida e alento às flores; / Eu sou o bálsamo
amado / Que sara todas as dores. / Eu sou o pequeno cofre / Que guarda os risos
da Aurora; / Perto de mim ninguém sofre, / Perto de mim ninguém chora. / Todos
os dias bem cedo / Eu saio a procurar lírios, / Para enfeitar em segredo / A
negra cruz dos martírios. / Vem para mim, alma triste / Que soluças de agonia; /
No meu seio o Amor existe, / Eu sou filho da Poesia.” / Meu coração despiu toda
a amargura, / Embalado na mística doçura / Da voz que ressoava... / Presa do
Amor na delirante calma, / Eu fui abrir as portas de minh’alma / Ao verso que
passava... / Desde esse dia, nunca mais deixei-o; / Ele vive cantando no meu
seio, / N’uma algazarra louca! / Que seria de mim se ele fugisse, / Que seria
de mim se não ouvisse / A voz de sua boca! / Não posso dar-te amor, bem vês.
Meus sonhos / São da Poesia os ideais risonhos, / Em lago de ouro imersos... / Não
sabias dourar os meus abrolhos, / E eu procurava apenas nos teus olhos / Assunto
para versos. Poemas extraídos da obra Horto
(1900), da poeta do Romantismo potiguar Auta
Souza (1876-1901). Veja mais aqui.
A ARTE DE CLAUDE CHABROL
Entre os
filmes que já destaquei e os que aprecio do cineasta, ator, roteirista e
produtor francês Claude Chabrol (1930-2010), estão o drama/romance Madame Bovary (1991), baseado na obra
homônima de Flaubert, com destaque para atriz francesa Isabelle Ann Huppert; a
comédia The Twist (1976), com
destaque para atriz francesa Stéphane Audran; o drama Nada (1974), adaptado do romance
homônimo de Jean-Patrick Manchette e inspirado pelos eventos de maio de 1968 na
França e destaque para a atriz italiana Mariangela Melato (1941-2013); e o erótico Quiet Days in Clichy (1990), baseado no romance autobiográfico de
Henry Miller, com um timaço de atrizes: Anna Galiena, Eva Grimaldi, Barbara De
Rossi, Stéphanie Cotta & Isolde Barth. Veja mais aqui.
AGENDA
&
Nos meus ambientes envolvo pintura,
ambientação, som e teatro, pois tem algo de cênico nisso. A pessoa entra como
ator e expectador ao mesmo tempo (se entrar no jogo da coisa, é lógico). A
intenção era unir os elementos todos, pensei muito nisso antes de iniciar a
série.
&
As dores imprevisíveis da felicidade, D. H. Lawrence, Holismo & Christiaan Smuts, Theodor Adorno & Max Horkheimer, Brian De
Palma, Daniel Senise, Cesar Camargo Mariano, Silke
Avenhaus, Enya & Dery Nascimento aqui.