ARA - Imagem:
arte da artista e professora Teresa
Poester. - Ara menimanhã vestia domingueira festazul, descalços pés buliçosos
brejáguas, pedras e seixos, solfejandeja hunhum futuralgum a fininhavoz: o sertão vai virar mar, o mar virá sertão.
Subiávida montemorros, unhas no chão, chãs e capoeiras, tardadentro. Ara,
olhora, mimenina noitescuroitão de rodabusões, vigiavestrelas a desenhastros meninices
de Deus e aprendescrevendo profundoceanabissais pra singracéus e broterrar o
fogamor. Menimoça almandante, crescirrequietas: se soubesse moça das coisas que
viriam, não teria passado algum pra contar. Mãos percorrastros sombrestações destinos
possíveis aos trovões das primeiras dores. Os seios litorapontavam, a saia
cobria morragrestes e canaviais: lembrancorrosivas redesenhentressonhos por
mergulhagasalhar faces vagas desfiguradas revoltapresadas, pássaros soltos no
quintal pra vê-los cantar livres, um lírio no colo, o cheiro de incenso no
vestido. Conheceu os homens ontemanhã, meninos pagãos no silêncio das cidades: poços
de angustias, o cruel rigor dos avós e justerras, a riqueza; e aquela velha
senhora, atilada e louca, as lições. Nada a temer dos paralelos mundos: a
garganta seca e o cascalho das paixões, asas tontas sopravam brasas nas ruas
inseguras, as setas envenenadas no ventre e o torrão de espinhos, os diamantes
pro extermínio, o trem esmagando o legado nos ombros e abrigos aos ventos, as
veias dilatadas no percurso acelerado das cortinas fechadas, cílios travados, menimãmulher:
o espelho anoitecera semblantempo, o que pariu não era dela, lamentou a perda
com a lição do profeta, enquanto as mãos de menina ardiam em chamas, o que
podia fazer daquilo escorrendo em seu desgosto, os filhos e os frutos prontroutras
bocas e mãos, nada mais restava, o coração incinerado e o desapego. Nas linhas
das mãos o fogo corredor pelos cristais das serras enlutadas e o chão batido no
passado, os versavessos com os punhais das tormentas nas palavras destecidas em
convulsão, tão vãs no reinado dos abutres e carpideiras, lâminas afiadas atrás
dos olhares e veneno entre os dentes, repúdio dos descobrimentos no sepulcro
dos seus dias. Agora mãe e mulher, a mentira da fala - uma doença que não era
sua, entre escrituras e traços, partituras e silêncios. O filho foi buscar a
vida não sabe onde, quem mais por aí, sempre partindo e quase não no declínio
dos instantes e o relógio de sol da infância, a névoa e o nada, a ausência
acumulada a consumir, porque os desenhos choram seus olhos. Meninanciã, fez
suas escolhas e outras tantas, sozinha e estrangeira de si. Atrás da porta
todas as portas e a solidão, como se ela não tivesse vivido tudo aquilo no
último degrau da vida. Olhontem, não dormia com as ruinas silenciosas do
subterrâneo mundo dos mortos, a casa escura de sonhos, carregava antigos apegos
e a esperança entre círculos abomináveis. Olhoje, a janela desmanchava a flor e
na calçada os dentes da onça banguela, o cansaço dos dedos e a lágrima de gelo
traçando nas veias o arremesso ao alvo inabitado, peito nos estranhos
presságios da ventania de praças ermas, chora carvão açucarado no sal dos poros,
imolação das perdas no ninho das lembranças. E se ausentava, pernas trêmulas no
fim do túnel a despir o sentido do fogo crestando as vísceras desde o principio
dos dias, a chama desesperada da vida no labirinto dos seus dias. PS: texto-roteiro baseado em Ara ou O livro das Portas, de Cyane Pacheco. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio
Tataritaritatá especial
com a música do compositor e músico Leopoldo
Miguez
(1850-1902): Avè Libertas, Sonata Op. 14, Poema Sinfônico Prometeu & Suíte
Antiga Op.45 & mais Sonia Mello, Ricardo Machado, Mazinho & Zé Linaldo,
Santanna O Cantador & Auri Viola & muito mais nos mais de 2
milhões & 600
mil acessos ao
blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para
conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] o
conhecimento de qualquer tipo inicia quando alguém faz uma pergunta a ciência,
bem como o conhecimento de qualquer tipo, se inicia quando alguém faz uma
pergunta inteligente. A pergunta inteligente é o começo da conversa com a
natureza (ou com a sociedade). [...]. Trecho extraído da obra Filosofia da ciência: introdução ao jogo e
suas regras (Brasiliense, 1981), do psicanalista,
educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014). Veja mais aqui.
TECNOLOGIA DA COMUNICAÇÃO - [...] todas as tecnologias de vanguarda, das
biotecnologias à inteligência artificial, do audiovisual ao marketing e à
publicidade, enraizam-se num princípio único: a comunicação. Comunicação entre
o homem e a natureza (biotecnologia), entre os homens na sociedade (audiovisual
e publicidade), entre o homem e seu duplo (a inteligência artificial);
comunicação que enaltece o convívio, a proximidade ou mesmo a relação de
amizade (friendship) com o computador [...] essas máquinas, essas teorias, essas comunicações,
esses ‘Outros’, somos nós que os sustentamos, fazem parte de nós [...] A comunicação é a mensagem que um sujeito
emissor envia a um sujeito receptor através de um canal. O conjunto é uma
máquina cartesiana concebida com base no modelo de bola de bilhar, cujo andamento
e impacto sobre o receptor são sempre calculáveis [...] A
comunicação não é mais do que a repetição imperturbável da mesma (tautologia)
no silêncio de um sujeito morto, ou surdo-mudo, fechado na sua fortaleza
interior (autismo), captado por um grande Todo que engloba e se dissolve até ao
menor desses átomos paradoxais. Essa totalidade sem hierarquia, esse autismo
tautológico, designo-os eu por tautismo, neologismo que condensa totalidade,
autismo e tautologia. A comunicação faz-se assim de si para si mesma, mas de um
“si” diluído num todo. Essa comunicação é, pois, a de um não-em-si para um
não-em-si mesmo [...] Aplicado à comunicação, esse sistema conduz
à confusão total do emissor e do receptor. Num universo em que tudo comunica,
sem que se saiba a origem da emissão, sem que se possa determinar quem fala, o
mundo técnico ou nós mesmo nesse universo sem hierarquias, senão mesmo
confundidas, em que a base é o cume, a comunicação morre por excesso de comunicação
e mergulha numa interminável agonia em espirais É a isso que eu chamo de “tautismo”, neologismo contraído de autismo e
tautologia, evocando sempre a totalidade e o totalitarismo. [...]. Trechos
extraídos da obra Crítica da comunicação
(Loyola, 1994), do escritor e
professor tunisiano Lucien Sfez. Veja mais aqui.
DEBUTANTE - A
discussão começou por causa de uma bobagem: Lucia fazia quinze anos. Estava uma
moça, como diziam as visitas que a conheceram pequenina. O grande sonho da mãe
é que ela fosse debutante, daí aproximá-la ao máximo dos colunistas pra ver se
era citada em jornal. Volta e meia, dava festinhas em casa e convidava um ou dois
jornalistas – mas nunca nenhum foi. No dia em que a moça disse que estava
namorando um colunista, sua mãe ficou radiante. Todas as noites, lá chegava
ele, pontualmente, no seu conversível e buzinava janela adentro. No dia em que
não ia, a mãe só faltava morrer: - Vai ver, ele enjoou de você, minha filha. A
filha explicava que não era nada disso, que colunista é assim mesmo, tem uma
vida atribulada, que o seu estava preparando o próximo baile das debutantes. –
Ele convidou você pra debutar? – Até agora, não. Mas veio o dia fatídico.
Quando Lúcia deu a noticia em casa, o pai explodiu: - Isso é uma
pouca-vergonha. Não quero minha filha metida nesse negocio de society. Falou,
falou, falou, por fim cedeu. Um mês depois, Lucia desfilava dentro de um
organza branco e sorria feliz para os fotógrafos. O colunista delirava, a mãe
chorava, o pai chegou a ficar emocionado. Mas os retratos de Lúcia, nos jornais
e nas revistas, haveriam de alterar-lhe a personalidade. Chegaram até a
publicar o preço de seu vestido, como se ela fosse candidata de concurso de
fantasia do Municipal. Lúcia mudou todinha, dos pés à cabeça: esnobava os pais,
esnobava as amiguinhas e chegou até a esnobar o próprio colunista que a lançou.
Foi o fim. Seus pais passaram a discutir dia e noite por sua causa: o pai
achava que a menina estava perdida, enquanto a mãe defendia a tese de que ser
debutante é uma credencial muito importante para o futuro de uma moça. Três
meses depois, separaram-se. Foi até um alívio. Mãe e filha passaram a
frequentar tudo quanto é coquetel, boate, viver a vida moderna como ela deve
ser vivida, sem a interferência de nenhum chato para dar palpite dentro de
casa. Agora, o sonho de Lúcia é seu uma das “dez mais elegantes” de outro
colunista. Extraído da obra A mulher em flagrante (Círculo do Livro,
1986), do escritor e jornalista Leon Eliachar (1922-1987). Veja mais
aqui.
BUSCA MATINAL - Bom, se tu me indicasses / nosso caminho, / como um orvalhado pastor
matinal. / Bom, se tu me falasses / de um carinho, / inventado contra todo esse
mal. / Bom, se me considerasses / coisa tua, / como quem caminha o mesmo chão.
/ Bom, se te acostumasses / à mesma rua, / com a fidelidade de um irmão. Poema da
poeta Arlete Nogueira da Cruz. Veja mais
aqui.
CASTA DIVA
O filme Casta Diva (1954), drama romântico e biográfico dirigido por Carmine Gallone, baseado no primeiro ato a ária Casta Diva, da ópera Norma (1833), do compositor operista italiano Vincenzo Bellini (1801-1835), uma das mais belas melodias de todos os tempos e composta sob inspiração da musa Maddalena Fumaroli, para quem, em 1826, Bellini musica o poema de Alindo Ilisseo, dedicando ao seu primeiro amor e aquela por quem ele chorou. À época o compositor vivia em Nápolis, cenário para uma história de amor comovente que ele protagoniza ao tentar se casar com a loura, elegante e graciosa Maddalena, de quem ele se tornou professor, logo se apaixonando e enfrentado a firme oposição do pai dela, o magistrado Saverio Fumaroli, negando-lhe a mão em casamento. Por duas vezes investiu para casar-se com ela, ambas sob a negativa do pai. Retirou-se para Milão e ao alcançar sucesso, o pai da moça cede, porém, já com a carreira alçando altos voos, se despede da amada e se envolve em outras paixões. A apaixonada morre pouco tempo depois. No filme Maddalena Fumaroli é interpretada por Antonella Lualdi e Bellini pelo ator Maurice Ronet. Entre os amores de Bellini também figuram as mulheres Giuditta Cantú que inspirou a ópera A Sonâmbula (1831), Giuditta Pasta e a prima-dona Maria Malibran, o "diabinho por quem ele havia perdido a cabeça" e o seu último grande amor. Gravaram esta ópera Maria Callas, Joan Sutherland, Montserrat Caballé & Carmen Giannattasio. Veja mais aqui, aqui e aqui.
O filme Casta Diva (1954), drama romântico e biográfico dirigido por Carmine Gallone, baseado no primeiro ato a ária Casta Diva, da ópera Norma (1833), do compositor operista italiano Vincenzo Bellini (1801-1835), uma das mais belas melodias de todos os tempos e composta sob inspiração da musa Maddalena Fumaroli, para quem, em 1826, Bellini musica o poema de Alindo Ilisseo, dedicando ao seu primeiro amor e aquela por quem ele chorou. À época o compositor vivia em Nápolis, cenário para uma história de amor comovente que ele protagoniza ao tentar se casar com a loura, elegante e graciosa Maddalena, de quem ele se tornou professor, logo se apaixonando e enfrentado a firme oposição do pai dela, o magistrado Saverio Fumaroli, negando-lhe a mão em casamento. Por duas vezes investiu para casar-se com ela, ambas sob a negativa do pai. Retirou-se para Milão e ao alcançar sucesso, o pai da moça cede, porém, já com a carreira alçando altos voos, se despede da amada e se envolve em outras paixões. A apaixonada morre pouco tempo depois. No filme Maddalena Fumaroli é interpretada por Antonella Lualdi e Bellini pelo ator Maurice Ronet. Entre os amores de Bellini também figuram as mulheres Giuditta Cantú que inspirou a ópera A Sonâmbula (1831), Giuditta Pasta e a prima-dona Maria Malibran, o "diabinho por quem ele havia perdido a cabeça" e o seu último grande amor. Gravaram esta ópera Maria Callas, Joan Sutherland, Montserrat Caballé & Carmen Giannattasio. Veja mais aqui, aqui e aqui.
&
Análise do
suicídio aqui
&
Os imprevistos de cada coisa, Alcântara Machado, Todd Solondz, Ansel Adams, a
poesia de Paulo José dos Santos, Os campos morfogenéticos de Rupert Sheldrake, A diversidade da
vida de Edward Osborne Wilson,
Biblioteca Fenelon Barreto, Antonín Dvořák, Felicja Blumental, Paco de Lucía
& Fernanda Abreu aqui.