UMOUTRA, BOTANDO FOGO NO CIRCO – Imagem: Multidão,
arte do artista Antônio Flores. - O
que me vem à cabeça é a baixa estação do estado de espírito: ofensa, depressão,
hostilidade. É só esturro daqui pra lá, como falam mal, de lá pra cá passam
recibo na lei do bumerangue. Tem gente que fala mal do governo, pudera! Não dá
pra fazer outra coisa com tantos golpes descarados. Se pelo menos os
governantes e gestores atuassem na eleição de consensuais prioridades com todos
os governados, ainda ia, acho; mas não, enchem as funduras dos potes de seus
próprios interesses e os eleitores que se danem! Além do mais, a força da grana
e do umbigocentrismo é quem manda no pedaço, ditam tudo. De facínoras a
Zé-Ruelas, todos se elegem no conluio, com compra de votos e discurseira
inflamada, peidam em público a delirar e mentir que tudo é verdade. Tem quem
acredite, coitados. E tem quem goste e lavam a jega, os sebosos. A estupidez
não tem limites, avalie. Nada de se pensar um outro modo de se fazer política,
só valendo toma-lá-dá-cá, politicagem e espórtula, uma mão lavando a outra e
valha-nos Deus que coisa é essa! De outra, tem gente que acha que não tem nada
a ver com isso, desconfiados, ególatras, hipócritas de plantão do
individualismo possessivo potencializado, arruma o seu no conforto e o resto
que se dane. Quando não falam mal de religião ou dos politeístas ou fanáticos cristãos
e assemelhados fundamentalistas, metem o pau no que aparecer na frente. Essa é
a gente que fala mal do que aparecer pela frente, donos da verdade de que tudo
é culpa dos outros, não deles que tiraram o rabinho da reta, os certinhos
engomados. Mas, também tem gente que não tem nem o que falar, os do complexo de
lagartixa, sim senhor, está certo, tinindo, vamos nessa. Nem aí nem chegando. E
o sal só se pisando. Haja moleira. Eu mesmo nem sei, transito em silêncio aos
gritos inaudíveis e exasperos mudos, vou de rir e chorar quando posso, ao menos
assisto a tudo e faço o que posso para não embarcar nesse naufrágio de gente,
bichos e coisas. Houve um tempo em que não era nada de mais falar pelos
cotovelos, debulhar sentimentos, jogar conversa fora; hoje nem tanto, pra
evitar sopapos e cuspe na cara, usa-se telefone e redes sociais, quanto
estresse, haja impaciência e mal-entendidos. Eu, hein? Por isso vou
equilibrista tirando fino nas broncas e me livrando insultados. Vamos aprumar a
conversa. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio
Tataritaritatá especial
com a música do compositor, instrumentista e arranjador francês Hervé
Senni:
Keep it simple, Lakshmin, Seven ride & Aloès d’Eden & muito mais nos
mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos
de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Plantou-se
na vasta quadra o destino do País, enraizado na impossibilidade de confronto
entre casa-grande e senzala, o capataz agita o chicote, o negro oferece as
costas, o senhor deitado na rede fuma o seu charuto [...] Os oligarcas a postos em santa paz, os corruptos
à vontade em santa impunidade [...] a
mídia, por tradição instrumento de poder, passa a confundir-se com o próprio e
a engodar a minoria privilegiada e beócia enquanto o povo estaciona na
inconsciência da cidadania, miserável e inerte [...] O Brasil anda sozinho à revelia dos homens e ainda saberá aproveitar-se
por completo dos dons recebidos da natureza [...]. Trechos extraídos da
obra O Brasil (Record, 2013), do jornalista, escritor, editor e pintor
ítalo-brasileiro Mino Carta.
AOS PROFESSORES - [...] a
crítica da prática de utilizar as revistas do Chico Bento, os sambas do
Adoniran Barbosa e os poemas de Patativa do Assaré como material de estudo da
variação linguística, e propus que a gente recorra a material autêntico,
gravações ou filmagens que sirvam para o estudo da diversidade linguística em
bases mais sólidas e confiáveis. [...] E
é sobre eles que a professora deve apoiar o trabalho de reeducação
sociolinguística de seus alunos e alunas [...] Se você tiver a boa sorte de ouvir um “ingrês”, um “trabaio” ou um “nós
qué” em sua sala de aula, espero que saiba aproveitar essa oportunidade para
combater o riso debochado e preconceituoso e promover a autoestima linguística
de seus alunos. Mostre a eles de onde vêm esses fenômenos, esclareça que não se
trata de “erros”, mas de formas perfeitamente explicáveis com base num bom
conhecimento da história da língua e de seu funcionamento. Chame a atenção
deles para as consequências sociais do uso dessas regras variáveis e garanta a
eles, também, o conhecimento das regras prestigiadas, para que eles possam, se
quiserem, usá-las como instrumento em sua luta por uma vida melhor, mais digna
e mais justa. Trechos extraídos da obra Nada
na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística (Parábola,
2007), do professor doutor em língua portuguesa pela USP, Marcos Bagno.
Veja mais aqui.
O LADRÃO DE MERENDAS - [...] Bom, minha senhora,
eu lhe agradeço e... – principiou o comissário, erguendo-se. – Por que não fica
pra jantar comigo? – Montalbano sentiu seu estômago empalidecer. Dona
Clementina era uma boa pessoa, muito agradável e tudo, mas devia alimentar-se á
base de semolina e batatas cozidas. – Realmente, eu tenho tanta coisas pra... –
Pina, a empregada, é uma excelente cozinheira, pode acreditar. Hoje preparou
massa à Norma, sabe qual? Aquela com berinjelas fritas e ricota salgada. –
Jesus! – fez Montalbano, voltando a
sentar-se. – E, como segundo, um guisado. – Jesus! – repetiu Montalbano. – Por
que esse espanto todo? – Não é uma comida um tantinho pesada para a senhora? –
E por quê? Eu tenho um estômago que uma garota de vinte anos tem, daquelas que
atravessam o dia inteiro com meia maçã e um suco de cenoura. Será que o senhor
é da mesma opinião do meu filho Giulio? – Não tenho o prazer de conhecer essa
opinião. – Ele diz que, na minha idade, não é decoroso comer essas coisas. E me
considera um pouco desavergonhada. Acha que eu devia me aguentar à base de
mingauzinhos. Então, o que o senhor resolve, fica? – Fico. – respondeu o
comissário, decidido. [...] Montalbano abriu a geladeira: Adelina havia
preparado um abundante ensopadinho de camarão, suficiente até para quatro.
Adelina era mãe de dois delinquentes, o caçula dos dois tinha sido detido três
anos antes pelo próprio Montalbano e ainda estava na prisão. [...] No último mês de julho, quando veio a Vigàta
para passar duas semanas com ele, Lívia ficou apavorada ao ouvir aquela
história. – Você é louco? Mis da, menos dia, essa daí resolve se vingar e
envenena sua sopa! – Mas de que ela se vingaria? – Você prendeu o filho dela! –
E daí, é culpa minha? Adelina sabe muitíssimo bem que não é culpa minha, mas do
filho, que foi babaca de se deixar apanhar. Eu agi lealmente pra pender ele,
não recorri a estratagemas nem armadilhas. Foi tudo normal. – Não quero nem
saber desse jeito distorcido de vocês raciocinarem. Você tem que mandar ela
embora. – Mas, se eu fizer isso, quem cuida da casa, lava e passa, faz comida
pra mim? – Você arranja outra! – Aí você se engana: boa como Adelina não existe.
[...] Como estava ficando tarde, Valente
convidou o colega para jantar em sua casa. Montalbano, que já havia sofrido a
experiência da terrificante culinária da mulher do subchefe, recusou, dizendo
que precisava voltar imediatamente a Vigàta. [...] Adiantado para o encontro com Valente, resolveu estacionar à frente do
restaurante onde já estivera da outra vez. Traçou um sauté di vongole com
farinha de rosca, uma porção abundante de spaghetti in bianco conle vongole e
um rodovalho ao forno, com orégano e limão caramelado. Completou com uma
forminha de chocolate amargo ao molho de laranja. Por fim levantou-se, foi à
cozinha e, comovido, apertou a mão do cozinheiro, sem dizer uma palavra. [...]
Mais que uma nova receita para cozinhar
polvo, a invenção da senhora Elisa, a mulher do chefe de polícia, pareceu ao
palato de Montalbano uma verdadeira inspiração divina. Ele serviu-se de uma
segunda e abundante porção e, quando viu que também esta chegava ao fim,
reduziu o ritmo da mastigação, a fim de prolongar, por menos que fosse, o
prazer de saborear o prato. [...] Júlia,
a mulher do subchefe Valente, não só era da mesma idade que Lívia como, além
disso, tinha nascido em Sestri. A simpatia entre as duas foi instantânea. O
mesmo não aconteceu com Montalbano em relação à senhora Valente, em virtude da
massa vergonhosamente cozida além do ponto [...]. Trechos extraídos da obra
O ladrão de merendas (Record, 2000),
do escritor e roteirista italiano Andrea
Camilleri.
AUTORRETRATO - Era algo marrom, / com um rosto festivo, / de tamanho
médio, / nem grande nem pequeno. / De nariz e boca / um pouco fornecido / e o
cabelo liso / algo rarefeito. / Eles eram gentis / seus olhos e vivos, / às
vezes loquaz, / e às vezes adormecido. / Seu rosto era feio / mas não é
indesejável / mas inspirou / confiança e carinho. / Ele teve algumas vezes / defeitos
e vícios, / mas sua alma era nobre / seu peito simples. / Uma toupeira tinha / com
cabelo crescido, / fixo no meio / do carrillo direito. / Seu sotaque era suave /
e asaz expressivo, / mais uma doença / deixou que ficasse pra sempre rouco. / Eu
usei óculos de proteção / Tomei pó / e foi com as senhoras / atencioso e
rendido. / Não foi seu personagem / sombrio ou indescritível / e assim foi de
todos / amado e bem intencionado. / Eu contei mil histórias / com seus
ribetillos, / deixando o exato / tão engraçado / Eu formei linhas / longo e
pequeno / o que eles ansiavam / versos peregrinos. / Eu não estava invocando
Apollo / por ser homem / e apenas às musas / Eu pedi sua ajuda. Poema do poeta uruguaio Francisco Acuña de Figueroa (1790-1862).
JANE ADDAMS
[...] Estamos
todos envolvidos nesta corrupção política, e como membros da comunidade,
indiciados. Esta é a pena de democracia - que somos obrigados a seguir em
frente ou para trás, juntos. Nenhum de nós pode ficar de lado, os nossos pés
estão atolados no mesmo solo, e nossos pulmões respiram o mesmo ar. [...].
Pensamento da escritora, assistente social, socióloga,
filósofa e ativista estadunidense Jane
Addams (1860-1935), a pioneira mãe do trabalho social, feminista e
pacifista, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, em 1931. Veja mais aqui.
AGENDA
&
&
Índia, arte do artista Antônio Flores.
&
De amor, sexo & vida, Farīd al-Dīn'Aṭṭār, Di Cavalcanti, Arte Popular & Souza Barros,
Manual do Artitsa & Ralph Mayer, Escola & Ana
Maria Casasanta Peixoto, a escrita/escrever & Charles Bazerman, José
Terra Correia, Jean-Pierre Rameau, Lola Astanov, Celso Viáfora & Karina
Buhr, Marquinhos Cabral & Zé Linaldo aqui.