quinta-feira, setembro 06, 2018

CAMILLERI, FRANCISCO ACUÑA, JANE ADDAMS, JUNG, MINO CARTA, BAGNO, HERVÉ SENNI & ANTÔNIO FLORES


UMOUTRA, BOTANDO FOGO NO CIRCO – Imagem: Multidão, arte do artista Antônio Flores. - O que me vem à cabeça é a baixa estação do estado de espírito: ofensa, depressão, hostilidade. É só esturro daqui pra lá, como falam mal, de lá pra cá passam recibo na lei do bumerangue. Tem gente que fala mal do governo, pudera! Não dá pra fazer outra coisa com tantos golpes descarados. Se pelo menos os governantes e gestores atuassem na eleição de consensuais prioridades com todos os governados, ainda ia, acho; mas não, enchem as funduras dos potes de seus próprios interesses e os eleitores que se danem! Além do mais, a força da grana e do umbigocentrismo é quem manda no pedaço, ditam tudo. De facínoras a Zé-Ruelas, todos se elegem no conluio, com compra de votos e discurseira inflamada, peidam em público a delirar e mentir que tudo é verdade. Tem quem acredite, coitados. E tem quem goste e lavam a jega, os sebosos. A estupidez não tem limites, avalie. Nada de se pensar um outro modo de se fazer política, só valendo toma-lá-dá-cá, politicagem e espórtula, uma mão lavando a outra e valha-nos Deus que coisa é essa! De outra, tem gente que acha que não tem nada a ver com isso, desconfiados, ególatras, hipócritas de plantão do individualismo possessivo potencializado, arruma o seu no conforto e o resto que se dane. Quando não falam mal de religião ou dos politeístas ou fanáticos cristãos e assemelhados fundamentalistas, metem o pau no que aparecer na frente. Essa é a gente que fala mal do que aparecer pela frente, donos da verdade de que tudo é culpa dos outros, não deles que tiraram o rabinho da reta, os certinhos engomados. Mas, também tem gente que não tem nem o que falar, os do complexo de lagartixa, sim senhor, está certo, tinindo, vamos nessa. Nem aí nem chegando. E o sal só se pisando. Haja moleira. Eu mesmo nem sei, transito em silêncio aos gritos inaudíveis e exasperos mudos, vou de rir e chorar quando posso, ao menos assisto a tudo e faço o que posso para não embarcar nesse naufrágio de gente, bichos e coisas. Houve um tempo em que não era nada de mais falar pelos cotovelos, debulhar sentimentos, jogar conversa fora; hoje nem tanto, pra evitar sopapos e cuspe na cara, usa-se telefone e redes sociais, quanto estresse, haja impaciência e mal-entendidos. Eu, hein? Por isso vou equilibrista tirando fino nas broncas e me livrando insultados. Vamos aprumar a conversa. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor, instrumentista e arranjador francês Hervé Senni: Keep it simple, Lakshmin, Seven ride & Aloès d’Eden & muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Plantou-se na vasta quadra o destino do País, enraizado na impossibilidade de confronto entre casa-grande e senzala, o capataz agita o chicote, o negro oferece as costas, o senhor deitado na rede fuma o seu charuto [...] Os oligarcas a postos em santa paz, os corruptos à vontade em santa impunidade [...] a mídia, por tradição instrumento de poder, passa a confundir-se com o próprio e a engodar a minoria privilegiada e beócia enquanto o povo estaciona na inconsciência da cidadania, miserável e inerte [...] O Brasil anda sozinho à revelia dos homens e ainda saberá aproveitar-se por completo dos dons recebidos da natureza [...]. Trechos extraídos da obra O Brasil (Record, 2013), do jornalista, escritor, editor e pintor ítalo-brasileiro Mino Carta.

AOS PROFESSORES - [...] a crítica da prática de utilizar as revistas do Chico Bento, os sambas do Adoniran Barbosa e os poemas de Patativa do Assaré como material de estudo da variação linguística, e propus que a gente recorra a material autêntico, gravações ou filmagens que sirvam para o estudo da diversidade linguística em bases mais sólidas e confiáveis. [...] E é sobre eles que a professora deve apoiar o trabalho de reeducação sociolinguística de seus alunos e alunas [...] Se você tiver a boa sorte de ouvir um “ingrês”, um “trabaio” ou um “nós qué” em sua sala de aula, espero que saiba aproveitar essa oportunidade para combater o riso debochado e preconceituoso e promover a autoestima linguística de seus alunos. Mostre a eles de onde vêm esses fenômenos, esclareça que não se trata de “erros”, mas de formas perfeitamente explicáveis com base num bom conhecimento da história da língua e de seu funcionamento. Chame a atenção deles para as consequências sociais do uso dessas regras variáveis e garanta a eles, também, o conhecimento das regras prestigiadas, para que eles possam, se quiserem, usá-las como instrumento em sua luta por uma vida melhor, mais digna e mais justa. Trechos extraídos da obra Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística (Parábola, 2007), do professor doutor em língua portuguesa pela USP, Marcos Bagno. Veja mais aqui.

O LADRÃO DE MERENDAS - [...] Bom, minha senhora, eu lhe agradeço e... – principiou o comissário, erguendo-se. – Por que não fica pra jantar comigo? – Montalbano sentiu seu estômago empalidecer. Dona Clementina era uma boa pessoa, muito agradável e tudo, mas devia alimentar-se á base de semolina e batatas cozidas. – Realmente, eu tenho tanta coisas pra... – Pina, a empregada, é uma excelente cozinheira, pode acreditar. Hoje preparou massa à Norma, sabe qual? Aquela com berinjelas fritas e ricota salgada. – Jesus!  – fez Montalbano, voltando a sentar-se. – E, como segundo, um guisado. – Jesus! – repetiu Montalbano. – Por que esse espanto todo? – Não é uma comida um tantinho pesada para a senhora? – E por quê? Eu tenho um estômago que uma garota de vinte anos tem, daquelas que atravessam o dia inteiro com meia maçã e um suco de cenoura. Será que o senhor é da mesma opinião do meu filho Giulio? – Não tenho o prazer de conhecer essa opinião. – Ele diz que, na minha idade, não é decoroso comer essas coisas. E me considera um pouco desavergonhada. Acha que eu devia me aguentar à base de mingauzinhos. Então, o que o senhor resolve, fica? – Fico. – respondeu o comissário, decidido. [...] Montalbano abriu a geladeira: Adelina havia preparado um abundante ensopadinho de camarão, suficiente até para quatro. Adelina era mãe de dois delinquentes, o caçula dos dois tinha sido detido três anos antes pelo próprio Montalbano e ainda estava na prisão. [...] No último mês de julho, quando veio a Vigàta para passar duas semanas com ele, Lívia ficou apavorada ao ouvir aquela história. – Você é louco? Mis da, menos dia, essa daí resolve se vingar e envenena sua sopa! – Mas de que ela se vingaria? – Você prendeu o filho dela! – E daí, é culpa minha? Adelina sabe muitíssimo bem que não é culpa minha, mas do filho, que foi babaca de se deixar apanhar. Eu agi lealmente pra pender ele, não recorri a estratagemas nem armadilhas. Foi tudo normal. – Não quero nem saber desse jeito distorcido de vocês raciocinarem. Você tem que mandar ela embora. – Mas, se eu fizer isso, quem cuida da casa, lava e passa, faz comida pra mim? – Você arranja outra! – Aí você se engana: boa como Adelina não existe. [...] Como estava ficando tarde, Valente convidou o colega para jantar em sua casa. Montalbano, que já havia sofrido a experiência da terrificante culinária da mulher do subchefe, recusou, dizendo que precisava voltar imediatamente a Vigàta. [...] Adiantado para o encontro com Valente, resolveu estacionar à frente do restaurante onde já estivera da outra vez. Traçou um sauté di vongole com farinha de rosca, uma porção abundante de spaghetti in bianco conle vongole e um rodovalho ao forno, com orégano e limão caramelado. Completou com uma forminha de chocolate amargo ao molho de laranja. Por fim levantou-se, foi à cozinha e, comovido, apertou a mão do cozinheiro, sem dizer uma palavra. [...] Mais que uma nova receita para cozinhar polvo, a invenção da senhora Elisa, a mulher do chefe de polícia, pareceu ao palato de Montalbano uma verdadeira inspiração divina. Ele serviu-se de uma segunda e abundante porção e, quando viu que também esta chegava ao fim, reduziu o ritmo da mastigação, a fim de prolongar, por menos que fosse, o prazer de saborear o prato. [...] Júlia, a mulher do subchefe Valente, não só era da mesma idade que Lívia como, além disso, tinha nascido em Sestri. A simpatia entre as duas foi instantânea. O mesmo não aconteceu com Montalbano em relação à senhora Valente, em virtude da massa vergonhosamente cozida além do ponto [...]. Trechos extraídos da obra O ladrão de merendas (Record, 2000), do escritor e roteirista italiano Andrea Camilleri.

AUTORRETRATO - Era algo marrom, / com um rosto festivo, / de tamanho médio, / nem grande nem pequeno. / De nariz e boca / um pouco fornecido / e o cabelo liso / algo rarefeito. / Eles eram gentis / seus olhos e vivos, / às vezes loquaz, / e às vezes adormecido. / Seu rosto era feio / mas não é indesejável / mas inspirou / confiança e carinho. / Ele teve algumas vezes / defeitos e vícios, / mas sua alma era nobre / seu peito simples. / Uma toupeira tinha / com cabelo crescido, / fixo no meio / do carrillo direito. / Seu sotaque era suave / e asaz expressivo, / mais uma doença / deixou que ficasse pra sempre rouco. / Eu usei óculos de proteção / Tomei pó / e foi com as senhoras / atencioso e rendido. / Não foi seu personagem / sombrio ou indescritível / e assim foi de todos / amado e bem intencionado. / Eu contei mil histórias / com seus ribetillos, / deixando o exato / tão engraçado / Eu formei linhas / longo e pequeno / o que eles ansiavam / versos peregrinos. / Eu não estava invocando Apollo / por ser homem / e apenas às musas / Eu pedi sua ajuda. Poema do poeta uruguaio Francisco Acuña de Figueroa (1790-1862).

JANE ADDAMS
[...] Estamos todos envolvidos nesta corrupção política, e como membros da comunidade, indiciados. Esta é a pena de democracia - que somos obrigados a seguir em frente ou para trás, juntos. Nenhum de nós pode ficar de lado, os nossos pés estão atolados no mesmo solo, e nossos pulmões respiram o mesmo ar. [...].
Pensamento da escritora, assistente social, socióloga, filósofa e ativista estadunidense Jane Addams (1860-1935), a pioneira mãe do trabalho social, feminista e pacifista, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, em 1931. Veja mais aqui.

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