segunda-feira, setembro 10, 2018

LEON ELIACHAR, ARLETE NOGUEIRA, LUCIEN SFEZ, RUBEM ALVES, TERESA POESTER, LEOPOLDO MIGUEZ, CASTA DIVA & SUICÍDIO


ARA - Imagem: arte da artista e professora Teresa Poester. - Ara menimanhã vestia domingueira festazul, descalços pés buliçosos brejáguas, pedras e seixos, solfejandeja hunhum futuralgum a fininhavoz: o sertão vai virar mar, o mar virá sertão. Subiávida montemorros, unhas no chão, chãs e capoeiras, tardadentro. Ara, olhora, mimenina noitescuroitão de rodabusões, vigiavestrelas a desenhastros meninices de Deus e aprendescrevendo profundoceanabissais pra singracéus e broterrar o fogamor. Menimoça almandante, crescirrequietas: se soubesse moça das coisas que viriam, não teria passado algum pra contar. Mãos percorrastros sombrestações destinos possíveis aos trovões das primeiras dores. Os seios litorapontavam, a saia cobria morragrestes e canaviais: lembrancorrosivas redesenhentressonhos por mergulhagasalhar faces vagas desfiguradas revoltapresadas, pássaros soltos no quintal pra vê-los cantar livres, um lírio no colo, o cheiro de incenso no vestido. Conheceu os homens ontemanhã, meninos pagãos no silêncio das cidades: poços de angustias, o cruel rigor dos avós e justerras, a riqueza; e aquela velha senhora, atilada e louca, as lições. Nada a temer dos paralelos mundos: a garganta seca e o cascalho das paixões, asas tontas sopravam brasas nas ruas inseguras, as setas envenenadas no ventre e o torrão de espinhos, os diamantes pro extermínio, o trem esmagando o legado nos ombros e abrigos aos ventos, as veias dilatadas no percurso acelerado das cortinas fechadas, cílios travados, menimãmulher: o espelho anoitecera semblantempo, o que pariu não era dela, lamentou a perda com a lição do profeta, enquanto as mãos de menina ardiam em chamas, o que podia fazer daquilo escorrendo em seu desgosto, os filhos e os frutos prontroutras bocas e mãos, nada mais restava, o coração incinerado e o desapego. Nas linhas das mãos o fogo corredor pelos cristais das serras enlutadas e o chão batido no passado, os versavessos com os punhais das tormentas nas palavras destecidas em convulsão, tão vãs no reinado dos abutres e carpideiras, lâminas afiadas atrás dos olhares e veneno entre os dentes, repúdio dos descobrimentos no sepulcro dos seus dias. Agora mãe e mulher, a mentira da fala - uma doença que não era sua, entre escrituras e traços, partituras e silêncios. O filho foi buscar a vida não sabe onde, quem mais por aí, sempre partindo e quase não no declínio dos instantes e o relógio de sol da infância, a névoa e o nada, a ausência acumulada a consumir, porque os desenhos choram seus olhos. Meninanciã, fez suas escolhas e outras tantas, sozinha e estrangeira de si. Atrás da porta todas as portas e a solidão, como se ela não tivesse vivido tudo aquilo no último degrau da vida. Olhontem, não dormia com as ruinas silenciosas do subterrâneo mundo dos mortos, a casa escura de sonhos, carregava antigos apegos e a esperança entre círculos abomináveis. Olhoje, a janela desmanchava a flor e na calçada os dentes da onça banguela, o cansaço dos dedos e a lágrima de gelo traçando nas veias o arremesso ao alvo inabitado, peito nos estranhos presságios da ventania de praças ermas, chora carvão açucarado no sal dos poros, imolação das perdas no ninho das lembranças. E se ausentava, pernas trêmulas no fim do túnel a despir o sentido do fogo crestando as vísceras desde o principio dos dias, a chama desesperada da vida no labirinto dos seus dias. PS: texto-roteiro baseado em Ara ou O livro das Portas, de Cyane Pacheco. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor e músico Leopoldo Miguez (1850-1902): Avè Libertas, Sonata Op. 14, Poema Sinfônico Prometeu & Suíte Antiga Op.45 & mais Sonia Mello, Ricardo Machado, Mazinho & Zé Linaldo, Santanna O Cantador & Auri Viola & muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] o conhecimento de qualquer tipo inicia quando alguém faz uma pergunta a ciência, bem como o conhecimento de qualquer tipo, se inicia quando alguém faz uma pergunta inteligente. A pergunta inteligente é o começo da conversa com a natureza (ou com a sociedade). [...]. Trecho extraído da obra Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras (Brasiliense, 1981), do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014). Veja mais aqui.

TECNOLOGIA DA COMUNICAÇÃO - [...] todas as tecnologias de vanguarda, das biotecnologias à inteligência artificial, do audiovisual ao marketing e à publicidade, enraizam-se num princípio único: a comunicação. Comunicação entre o homem e a natureza (biotecnologia), entre os homens na sociedade (audiovisual e publicidade), entre o homem e seu duplo (a inteligência artificial); comunicação que enaltece o convívio, a proximidade ou mesmo a relação de amizade (friendship) com o computador [...] essas máquinas, essas teorias, essas comunicações, esses ‘Outros’, somos nós que os sustentamos, fazem parte de nós [...] A comunicação é a mensagem que um sujeito emissor envia a um sujeito receptor através de um canal. O conjunto é uma máquina cartesiana concebida com base no modelo de bola de bilhar, cujo andamento e impacto sobre o receptor são sempre calculáveis [...] A comunicação não é mais do que a repetição imperturbável da mesma (tautologia) no silêncio de um sujeito morto, ou surdo-mudo, fechado na sua fortaleza interior (autismo), captado por um grande Todo que engloba e se dissolve até ao menor desses átomos paradoxais. Essa totalidade sem hierarquia, esse autismo tautológico, designo-os eu por tautismo, neologismo que condensa totalidade, autismo e tautologia. A comunicação faz-se assim de si para si mesma, mas de um “si” diluído num todo. Essa comunicação é, pois, a de um não-em-si para um não-em-si mesmo [...] Aplicado à comunicação, esse sistema conduz à confusão total do emissor e do receptor. Num universo em que tudo comunica, sem que se saiba a origem da emissão, sem que se possa determinar quem fala, o mundo técnico ou nós mesmo nesse universo sem hierarquias, senão mesmo confundidas, em que a base é o cume, a comunicação morre por excesso de comunicação e mergulha numa interminável agonia em espirais É a isso que eu chamo de “tautismo”, neologismo contraído de autismo e tautologia, evocando sempre a totalidade e o totalitarismo. [...]. Trechos extraídos da obra Crítica da comunicação (Loyola, 1994), do escritor e professor tunisiano Lucien Sfez. Veja mais aqui.

DEBUTANTE - A discussão começou por causa de uma bobagem: Lucia fazia quinze anos. Estava uma moça, como diziam as visitas que a conheceram pequenina. O grande sonho da mãe é que ela fosse debutante, daí aproximá-la ao máximo dos colunistas pra ver se era citada em jornal. Volta e meia, dava festinhas em casa e convidava um ou dois jornalistas – mas nunca nenhum foi. No dia em que a moça disse que estava namorando um colunista, sua mãe ficou radiante. Todas as noites, lá chegava ele, pontualmente, no seu conversível e buzinava janela adentro. No dia em que não ia, a mãe só faltava morrer: - Vai ver, ele enjoou de você, minha filha. A filha explicava que não era nada disso, que colunista é assim mesmo, tem uma vida atribulada, que o seu estava preparando o próximo baile das debutantes. – Ele convidou você pra debutar? – Até agora, não. Mas veio o dia fatídico. Quando Lúcia deu a noticia em casa, o pai explodiu: - Isso é uma pouca-vergonha. Não quero minha filha metida nesse negocio de society. Falou, falou, falou, por fim cedeu. Um mês depois, Lucia desfilava dentro de um organza branco e sorria feliz para os fotógrafos. O colunista delirava, a mãe chorava, o pai chegou a ficar emocionado. Mas os retratos de Lúcia, nos jornais e nas revistas, haveriam de alterar-lhe a personalidade. Chegaram até a publicar o preço de seu vestido, como se ela fosse candidata de concurso de fantasia do Municipal. Lúcia mudou todinha, dos pés à cabeça: esnobava os pais, esnobava as amiguinhas e chegou até a esnobar o próprio colunista que a lançou. Foi o fim. Seus pais passaram a discutir dia e noite por sua causa: o pai achava que a menina estava perdida, enquanto a mãe defendia a tese de que ser debutante é uma credencial muito importante para o futuro de uma moça. Três meses depois, separaram-se. Foi até um alívio. Mãe e filha passaram a frequentar tudo quanto é coquetel, boate, viver a vida moderna como ela deve ser vivida, sem a interferência de nenhum chato para dar palpite dentro de casa. Agora, o sonho de Lúcia é seu uma das “dez mais elegantes” de outro colunista. Extraído da obra A mulher em flagrante (Círculo do Livro, 1986), do escritor e jornalista Leon Eliachar (1922-1987). Veja mais aqui.

BUSCA MATINAL - Bom, se tu me indicasses / nosso caminho, / como um orvalhado pastor matinal. / Bom, se tu me falasses / de um carinho, / inventado contra todo esse mal. / Bom, se me considerasses / coisa tua, / como quem caminha o mesmo chão. / Bom, se te acostumasses / à mesma rua, / com a fidelidade de um irmão. Poema da poeta Arlete Nogueira da Cruz. Veja mais aqui.

CASTA DIVA
O filme Casta Diva (1954), drama romântico e biográfico dirigido por Carmine Gallone, baseado no primeiro ato a ária Casta Diva, da ópera Norma (1833), do compositor operista italiano Vincenzo Bellini (1801-1835), uma das mais belas melodias de todos os tempos e composta sob inspiração da musa Maddalena Fumaroli, para quem, em 1826, Bellini musica o poema de Alindo Ilisseo, dedicando ao seu primeiro amor e aquela por quem ele chorou. À época o compositor vivia em Nápolis, cenário para uma história de amor comovente que ele protagoniza ao tentar se casar com a loura, elegante e graciosa Maddalena, de quem ele se tornou professor, logo se apaixonando e enfrentado a firme oposição do pai dela, o magistrado Saverio Fumaroli, negando-lhe a mão em casamento. Por duas vezes investiu para casar-se com ela, ambas sob a negativa do pai. Retirou-se para Milão e ao alcançar sucesso, o pai da moça cede, porém, já com a carreira alçando altos voos, se despede da amada e se envolve em outras paixões. A apaixonada morre pouco tempo depois. No filme Maddalena Fumaroli é interpretada por Antonella Lualdi e Bellini pelo ator Maurice Ronet. Entre os amores de Bellini também figuram as mulheres Giuditta Cantú que inspirou a ópera A Sonâmbula (1831), Giuditta Pasta e a prima-dona Maria Malibran, o "diabinho por quem ele havia perdido a cabeça" e o seu último grande amor. Gravaram esta ópera Maria Callas, Joan Sutherland, Montserrat Caballé & Carmen Giannattasio. Veja mais aqui, aqui e aqui.

AGENDA
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A arte da professora e artista visual Teresa Poester. Veja mais aqui.
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Os imprevistos de cada coisa, Alcântara Machado, Todd Solondz, Ansel Adams, a poesia de Paulo José dos Santos, Os campos morfogenéticos de Rupert Sheldrake, A diversidade da vida de Edward Osborne Wilson, Biblioteca Fenelon Barreto, Antonín Dvořák, Felicja Blumental, Paco de Lucía & Fernanda Abreu aqui.