quarta-feira, setembro 12, 2018

AUTA SOUZA, GERALDO VANDRÉ, LINS DO REGO, AGAMBEN, MAFFESOLI, CLAUDE CHABROL & WESLEY DUKE LEE


DEIXANDO O PAPO EM DIA – Imagem: arte do artista plástico Wesley Duke Lee (1931-2010). - UMA DOUTRAS – Hoje tive a grata satisfação de reencontrar Carma, a minha vó dona Carminha, com a minha prima Fátima. Sempre as vejo, quando posso, mas é sempre maravilhoso encontrá-las, jogar conversa fora, mangar das coisas que eu fazia nos meus tempos de treloso capetinha e darmos gargalhadas gratuitas das mungangas que sempre fui responsável por promover. Lembravam-me que eu não parava quieto quando menino, coisa que sou ainda hoje: inquieto. Diziam, então, esse menino parece que tem um cotoco! E era mesmo. Ah, gostava mesmo era de aparecer. Bastava qualquer assunto ou o que fosse, só queria um pretexto para chamar atenção. E o pior era o chulé. Gente, pense numa inhaca danada! Nesse caso, triplo: o meu, o de Marquinhos e o de Marcelo. A gente se riu tanto só de lembrar da fedentina de ter de aguentar o odor de três almas sebosas, aliás, três pares de pés fedorentos. Minha nossa! Que coisa horrível. Destá. DUAS DE NÃO SEI QUANTAS – Outra se deu quando saí de lá às risadas, encontrava o povo e logo me perguntavam pelas novidades. Eu que tenho andado no mundo da lua, não tenho lá me atualizado muito com o noticiário que é o mesmo de dois anos atrás, a mesmíssima coisa. Teve um que disse na lata: quer notícia nova? Só com os repórteres manicure, vigias, caçadores, barbeiros, visitantes de salão de beleza e quejandos, esses os principais repórteres de Alagoinhanduba. Eita! E asseverou: Esses sabem tudo da vida alheia. Desconfio. Contudo, sei que se apertar direitinho, esses que me perguntaram pelas novidades, se eu desse trela, debulhariam tudo da vida alheia. Eu, hem? TRÊS PASSANDO A RÉGUA – Acho que este será o último post da semana. É que a partir de hoje estarei na V Feira de Leitura: Territórios Interculturais da Leitura, na Universidade Federal de Pernambuco, atendendo convite da professoramiga doutora Esther Rosa. Não sei se dará pra de lá atualizar aqui o blog. Caso seja possível, tudo bem, atualizarei. Caso contrário, a gente volta a conversar na próxima segunda-feira, dia 17 de setembro. Afora isso, vamos sempre juntos & beijabrações paratodos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do cantor, compositor, advogado e poeta Geraldo Vandré: Das terras do benvirá, Canto Geral, Ao vivo & com Quinteto Violado & muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Se por um lado, de fato, não somos mais capazes de julgar esteticamente a obra de arte, por outro, a nossa inteligência da natureza se ofuscou da tal modo e , além disso, a presença nela do elemento humano se potencializou de tal modo que, diante de uma paisagem, nos ocorre espontaneamente compará-la à sua sombra, perguntando-nos se ela é esteticamente bela ou feia, e conseguimos cada vez com maior dificuldade distinguir de uma obra de arte um precipitado mineral ou um pedaço de lenha corroído e deformado pela ação química do tempo. [...]. Trecho extraído da obra O Homem sem conteúdo (São Paulo: Autêntica, 2012), do filósofo italiano Giorgio Agamben. Veja mais aqui.

NOVAS FORMAS DE SOCIABILIDADE E DE VÍNCULOS ASSOCIATIVOS & COMUNITÁRIOS – [...] todos os micro-rituais [...] parecem ter esse papel de desvio da técnica de sua função meramente utilitária, de agrupamento de indivíduos em torno de uma atividade comum, de uma paixão compartilhada. Poderíamos então falar que o destino da técnica moderna reside também na sua apropriação dionisíaca e, assim, numa ressacralização, um reencantamento do mundo. [...]. Trecho extraído da obra O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa (Forense, 1987), sociólogo francês Michel Maffesoli. Veja mais aqui.

FOGO MORTO - [...] Trabalhava a mulher de Vitorino na castração dos frangos de d. Amélia. Só ela por aquelas bandas tinha mão e ciência para aquele serviço. Vivia de engenho a engenho à espera da lua nova, ou do quarto minguante, para operar com sucesso. Ali estava ela desde manhã, como uma cirurgiã que confiava no seu talho. Com ela não morria uma cria. Tinha boa mão, tinha força de verdade para fazer as coisas. D. Amélia viera-lhe falar, somente para lhe dizer que acabados os serviços queria lhe dar duas palavras. Era a senhora de engenho mais delicada da Ribeira. Nunca ouvira uma palavra feia naquela boca, nunca a vira aos gritos com os outros, metida na cozinha para ouvir conversa de negras. Falavam dela, por isto, falavam do gênio esquisito, de viver calada para um canto. Era assim desde que a conhecera. Quando fora em 1877, a velha Adriana chegara, moça feita, com seu povo morrendo de fome, no Santa Fé, e d. Amélia já era casada, e era aquilo mesmo. Era moça de prendas, de educação muito fina. Lembrava-se dela naquele mesmo carro que ainda corria pela estrada, com o seu ar de rainha, aquela beleza tão mansa, tão quieta que o povo chegara a desconfiar. O povo estava acostumado com as senhoras de engenho que davam grito, que descompunham como a d. Janoca do Santa Rosa. D. Amélia era assim, de natureza. Tocava piano. Lembrava-se bem dos primeiros dias da sua chegada, com a lembrança ainda lhe doendo do sertão na pior seca do mundo. A família estava aboletada na casa do engenho, e de lá ela ouvia d. Amélia tocando no seu piano. Tudo era bem diferente do que via hoje. Tudo era tão mais cheio de alegria. O coronel Lula era moço bonito, com a barbicha preta, todo bem-vestido. Parece que ainda escutava o som do piano nos ouvidos. Todos eles estavam na desgraça, comendo a carne que o imperador mandara para o povo. Tudo magro como rês na retirada. D. Amélia fora um anjo, naqueles dias. Quando ela entrava na casa do engenho, era como a providência, uma bênção de Deus. Agora era aquela velha, muito mais velha do que a idade que tinha. O coronel era aquele homem que ninguém entendia, metido dentro de casa, cheio de tanta soberba. Tinham aquela filha que estudara nas freiras do Recife. Era moça de mais de trinta anos, tão cavilosa, enterrada no quarto, lendo livros, com medo de gente. Parecia-se com d. Olívia, aquela irmã de d. Amélia que andava sem parar, da sala de visitas para a cozinha, o dia inteiro, com a cabeça branca como de lã de algodão. [...]. Trecho extraído da obra Fogo Morto (José Olympio, 2012), do escritor José Lins do Rego (1901-1957). Veja mais aqui, aqui e aqui.

DOIS POEMAS - AGONIA DO CORAÇÃO - Estrelas fulgem da noite em meio / Lembrando círios louros a arder... / E eu tenho a treva dentro do seio... / Astros! velai-vos, que eu vou morrer! / Ao longe cantam. São almas puras / Cantando á hora do adormecer... / E o eco triste sobe ás alturas... / Moças! não cantem, que eu vou morrer! / As mães embalam o berço amigo, / Doce esperança de seu viver... / E eu vou sozinha para o jazigo... / Chorai, crianças, que eu vou morrer! / Pássaros tremem no ninho santo / Pedindo a graça do alvorecer... / Enquanto eu parto desfeita em pranto... / Aves, suspirem, que eu vou morrer! / De lá do campo cheio de rosas / Vem um perfume de entontecer... / Meu Deus! que mágoas tão dolorosas... / Flores! Fechai-vos, que eu vou morrer! MINH'ALMA E O VERSO - Não me olhes mais assim... Eu fico triste / Quando a fitar-me o teu olhar persiste / Choroso e suplicante... / Já não possuo a crença que conforta. / Vai bater, meu amigo, a uma outra porta. / Em terra mais distante. / Cuidavas que era amor o que eu sentia / Quando meus olhos, loucos de alegria, / Sem nuvem de desgosto, / Cheios de luz e cheios de esperança, / N’uma carícia ingenuamente mansa, / Pousavam no teu rosto? / Cuidavas que era amor? Ah! se assim fosse! / Se eu conhecesse esta palavra doce, / Este queixume amado! / Talvez minh’alma mesmo a ti voasse / E n’um berço de flor ela embalasse / Um riso abençoado. / Mas, não, escuta bem: eu não te amava. / Minha alma era, como agora, escrava... / Meu sonho é tão diverso! / Tenho alguém a quem amo mais que a vida, / Deus abençoa esta paixão querida: / Eu sou noiva do Verso. / E foi assim. Num dia muito frio. / Achei meu seio de ilusões vazio / E o coração chorando... / Era o meu ideal que se ia embora, / E eu soluçava, enquanto alguém lá fora / Baixinho ia cantando: / “Eu sou o orvalho sagrado / Que dá vida e alento às flores; / Eu sou o bálsamo amado / Que sara todas as dores. / Eu sou o pequeno cofre / Que guarda os risos da Aurora; / Perto de mim ninguém sofre, / Perto de mim ninguém chora. / Todos os dias bem cedo / Eu saio a procurar lírios, / Para enfeitar em segredo / A negra cruz dos martírios. / Vem para mim, alma triste / Que soluças de agonia; / No meu seio o Amor existe, / Eu sou filho da Poesia.” / Meu coração despiu toda a amargura, / Embalado na mística doçura / Da voz que ressoava... / Presa do Amor na delirante calma, / Eu fui abrir as portas de minh’alma / Ao verso que passava... / Desde esse dia, nunca mais deixei-o; / Ele vive cantando no meu seio, / N’uma algazarra louca! / Que seria de mim se ele fugisse, / Que seria de mim se não ouvisse / A voz de sua boca! / Não posso dar-te amor, bem vês. Meus sonhos / São da Poesia os ideais risonhos, / Em lago de ouro imersos... / Não sabias dourar os meus abrolhos, / E eu procurava apenas nos teus olhos / Assunto para versos. Poemas extraídos da obra Horto (1900), da poeta do Romantismo potiguar Auta Souza (1876-1901). Veja mais aqui.

A ARTE DE CLAUDE CHABROL
Entre os filmes que já destaquei e os que aprecio do cineasta, ator, roteirista e produtor francês Claude Chabrol (1930-2010), estão o drama/romance Madame Bovary (1991), baseado na obra homônima de Flaubert, com destaque para atriz francesa Isabelle Ann Huppert; a comédia The Twist (1976), com destaque para atriz francesa  Stéphane Audran; o drama Nada (1974), adaptado do romance homônimo de Jean-Patrick Manchette e inspirado pelos eventos de maio de 1968 na França e destaque para a atriz italiana Mariangela Melato  (1941-2013); e o erótico Quiet Days in Clichy (1990), baseado no romance autobiográfico de Henry Miller, com um timaço de atrizes: Anna Galiena, Eva Grimaldi, Barbara De Rossi, Stéphanie Cotta & Isolde Barth. Veja mais aqui.

AGENDA
Encontro sobre o Ensino da Língua Portuguesa & muito mais na Agenda aqui.
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Nos meus ambientes envolvo pintura, ambientação, som e teatro, pois tem algo de cênico nisso. A pessoa entra como ator e expectador ao mesmo tempo (se entrar no jogo da coisa, é lógico). A intenção era unir os elementos todos, pensei muito nisso antes de iniciar a série.
A arte de Wesley Duke Lee aqui e aqui
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As dores imprevisíveis da felicidade, D. H. Lawrence, Holismo & Christiaan Smuts, Theodor Adorno & Max Horkheimer, Brian De Palma, Daniel Senise, Cesar Camargo Mariano, Silke Avenhaus, Enya & Dery Nascimento aqui.