TANTO JUNTOU
& BABAU! – Imagem: Alongtimealone,
do pintor, gravurista e escultor
estadunidense Nathan Oliveira (1928-2010) - Anclotinato
era tinhoso, sabido, astucioso, menino feito os pés da doida, duma vivacidade surpreendente.
Tanto que foi crescendo de ninguém se dar conta, aprendeu a ler na cacunda dos
outros e a escrever com a munheca alheia. De tão liso, passava pito, chegava na
frente, maior mangação: se era pintomba, aos cachos mais que qualquer; manga
rosa, de tuia; abacate, aos montes. Vendia de tudo, até do vizinho. Juntava os
trocados escondidos a sete chaves, ninguém que soubesse. Esmolava até, se
possível, só pra dar o gostinho de manhar engodo. Mais taludo, fazia que dava
com a direita o que escondia com a esquerda, ladino, enrolador. Tapiava todo
mundo, incólume. Adolescia engabelando quem lhe aparecesse na frente, e na
maior lábia aplicou das suas e embuchou uma, duas, três. Quando falaram em
casório, ele deu maior pinote. E assim foi, daqui pra acolá, engravidando as
achegadas. Nem sabia dos rebentos até o dia que aportou em Alagoinhanduba e o seu
cerco se fechou. Danou-se! Casar de mesmo, nunca; amancebou-se com uma das
reboculosas vítimas, produzindo uma infieira de bruguelo de não ter mais fim. Trocava
de mulher, bastava não querer mais da encheção de saco. Ardiloso, jamais perdia
tempo nem sucumbia em contratempos, aprontava e só. Chegava a hora dos meninos
pra escola, e ele: Eu só estudei até a segunda série ginasial e aprendi de tudo
com a vida, a minha escola é a vida. A mulher insistia, ele botou a filharada
em escola pública, era de graça. Gastar não era com ele, nunca gostou de perder
nada, mesmo quando foi reprovado três vezes no segundo ginasial, abandonando e
aprendendo com a cara e a coragem o que pra ele era o suficiente para aprender:
tirar proveito dos bestas e enricar, só. Acossado pelo desvio de um dos rebentos
metido a sabochão, ele berrou: Menino, vá pra escola pra ser gente, vá! Nem deu
tempo o menino virar as costas e ouvir dele: Se eu descobrir quem inventou
estudo, eu mando matar. O menino saiu confuso, o que aprendia na escola,
desaprendia com ele. Mais tivesse de desatino, mais disparate prosperava.
Exemplo que é bom, ao contrário. Até o dia que ele botou todos os filhos que
tinha por enteados pra correr mundo afora. Ficou sozinho na sua mancebia,
lapadas e peiadas diárias, com prevenção pra não vê-la mojada. Esperto, sequer
sabia o que possuía, tudo oculto, ninguém que desse ciência, valha-me, nada de
olho gordo no seu quinhão, para tanto, lamuriava muito, maldizia da vida,
sempre a provocar a caridade de desavisados. Mão de figa, ralhava a mulher da
vez. Ele, nem nem. Um dia ele teve um troço e bateu as botas. Fizeram farra nas
sua fortuna, um tesouro quase perdido, agora festa nos seus restos mortais. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o guitarrista estadunidense Al di Meola: One of These Nights & Jazzwoche Burgghausen; e da
violoncelista clássica estadunidente Alisa Weilerstein: Haydn Concert in D major MVT 1 & Hindemith
Cellokonzert HR-Sinfonie Orchester. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA - Mal estamos emergindo de nossos ancestrais
irracionais, motivo de nossas comuns recaídas animais. A humanidade ainda não
está senão na aurora de sua existência. Pensamento do filósofo, paleontólogo e
teólogo francês Pierre Teilhard de
Chardin (1881-1955). Veja mais aqui.
ECCE HOMO - [...] O dizer sim à vida, mesmo em seus problemas mais estranhos e difíceis;
a vontade de viver, no rehozijo sobre sua própria inexauribilidade, e mesmo no
próprio sacrifício de seus tipos mais altos – isso é o que eu chamei
dionisiaco, isso é o que compreendi como a ponte para a psicologia do poeta
trágico. Não com fim de nos livrarmos do terror e da piedade, não com o fim de
nos purgarm,os de uma emoção perigosa através de sua liberação [...] mas com o fim de sermos nós mesmos a eterna
alegria de destruir, além do terror e da piedade – essa alegria que inclui até
a alegria de destruir [...]. Trecho da obra Ecce homo: Wie man
wird, was man ist (1888 – Como
tornar-se o que se é – Simões, 1957), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui, aqui & aqui.
REFORMA AGRÁRIA - [...] Existe no Brasil um passe de mágica interlectual, ou um truque
epistemológico que consiste no seguinte: problemas antigos e que continuam sem
solução são dados como resolvidos. Ou passam à categoria de problemas chatos,
obsoletos. Arrisca-se, por isso, a um certo ridículo quem fala ainda em reforma
agrária no Brasil, o argumento principal sendo que a agricultura hoje nada mais
é do que a parte antiquada da agroindústria moderna. A indústria domina o campo
e as multinacionais, a indústria. Falar em camponês, parceiro, meeiro, peão –
prossegue o argumento – seria falar nos direitos do servo da gleba, escudeiros
ou palafreneiros. [...] Trechos extraídos da obra Entre Deus e a vasilha: ensaio sobre a reforma agrária, a qual nunca
foi feita (Nova Fronteira, 2003), do jornalista,
romancista, biógrafo e dramaturgo Antonio Callado (1917-1997). Veja mais aqui, aqui & aqui.
OS SERTÕES - [...] Não vimos o traço superior do acontecimento. Aquele afloramento
originalíssimo do passado, patenteando todas as falhas da nossa evolução, era
um belo ensejo para estuarmo-las, corrigirmo-las ou anularmo-lãs. Não
entendemos a lição eloqüente. Na primeira cidade da República, os patriotas
satisfizeram-se com o auto-de-fé de alguns jornais adversos, e o governo começou
a agir. Agir era isso – agremiar os batalhões. [...]. Trecho da obra Os sertões (Francisco Alves, 1936), do
escritor e jornalista Euclides da Cunha
(1866-1909). Veja mais aqui, aqui & aqui.
SONETO - Vós
que escutais em rimas espalhado / deste meu peito o suspirado ardor / e que o
nutria ao juvenil error / quando era muito divbersoo meu estado; / o incerto
estilo por quê eu hei variado / entre a vã esperança e o vão temor, / se vós
houverdes entendido amor / terá vossa piedade despertado. / Vejo que a todos
meu amor assim / quase sempre foi fábula somente. / E agora eu, de mim mesmo me
envergonho. / De minha vida vã vergonha é o fim / e o arrepender-se e o ver mui
claramente / quanto aparaz ao mundo é breve sonho. Poema do livro Sonetos
(Sol Negro, s/d), do escritor, intelectual humanista e filosofo italiano Francesco
Petrarca (1304-1374). Veja mais aqui e aqui,.
MAPA CULTURAL DE PERNAMBUCO
Veja mais:
A literatura de Emily Brontë aqui.
&
A ARTE DE NATHAN OLIVEIRA
A arte do
pintor, gravurista e escultor estadunidense Nathan Oliveira
(1928-2010).
AS ESCULTURAS DE
BRIAN BOOTH CRAIG
Art by Brian Booth Craig.