É SÓ TIRAR O P,
ORRA! - Uma revolução nunca vista ocorre no Brasil. Verdade. Quer dizer, parece. Depois do que se tem visto nos últimos anos, nada será capaz de nos deixar tranquilos por um bocado de
anos. Não há como ter calma, a coisa está pra lá de periclitante. Pois bem. Já
que os partidos políticos se valiam apenas de programas lindos de morrer pro
seu blá blá blá, quando, na prática, era tudo conversa mole pra tapiar a jogada
do poder pelo poder e outras patifarias, agora as agremiações políticas resolveram
levar a sério as conduções dos condôminos do poder, erradicando a letra P para
adotar (ou melhor, copiar) a ideia de partidos-movimentos europeus. Explico melhor:
o que era PQP, ou PQME, PABECÊ ou outras infelizes siglas, agora é pra valer na
ação, nada de lero-lero. Trocando em miúdos, os que gostam de andar pra frente
e só isso, sem andar na linha nem de lado, nem pra trás, comporão o Frente. Os
que são indecisos ou que deixam pra amanhã, ou pra depois, quem sabe para o mês
ou ano que vem, estarão filiados ao Muro - sobretudo aqueles que nunca tiveram
a coragem de sair do armário e jamais escolheram a coluna 1 ou a 2, sempre na
do meio, óbvio, seguiram e seguirão sempre o vencedor de ocasião. Afora aqueles que
possuem o complexo de superpoderes ou coisa parecida, reunidos sob a legenda do
Avante, metido a salvadores da pátria ou coisa deploravelmente que lembre ou ache. Pela
lógica, os conservadores devem adotar o Répratrás por nomenclatura, já que
nasceram de forma – pra não dizer foda - mal passada e ficarem por lá até hoje.
Assim como os que podem e seja lá o que Deus quiser serão os asseclas do
Podemos – deixando claro que os que fodem, foderam e foderão tudo do mesmo
jeito. E o mais importante, todos estarão livres de ser de direita, esquerda ou
centro, coisa mais antiga essa, agora tudo na base do lavou está novo, novíssimo
– aliás, não dá nem pra imaginar que sempre foram porque estão fantasiados de
zero quilômetro. Sacou? O argumento é forte: é que a Constituição Federal que
ainda nem é balzaquiana – hem, hem, ainda ontem eu a vi, novinha em folha,
maior belezura cobiçada, desfilando sedutoramente com sua promulgação em 1988, hoje
já com quase cem cirurgias plásticas que a deixaram mais remendada que só tábua
de pirulito! -, já anda caducando e que não adianta mais mexer nela pra não
catingar demais – coitada, pintaram, bordaram, golpearam, tripudiaram e
arrombaram com a jovem esperançosa, dela quase ninguém sequer saber nem se dar
conta. Outro fundamento defendido é que ou a gente moderniza este país na marra
do estupro ou do jeito que querem – o que pra mim dá no mesmo -, ou a gente
será a colônia de sempre – como se não fosse! Por tudo isso é que eu digo que é
novidade, modernidade, coisa que nem sei pra quem ver – ah, sei, eles mesmos
que pensam que fora deles só tem burro. Pros promotores revolucionários, isso
acaba com o pior profissional do mundo: o político. E é? Como? E eu que sei!?! Os
encrenqueiros de plantão é que insistem que se trata apenas de mudança de
rótulo, vez que a merda é a mesma, a fedentina talqualmente, e a desgraça de
antanho só mudam de nome. Vale a delação desproposital: odre novo de vinho
velho azedado. Outros sisudos asseveram que a mudança é somente para jogar
embaixo do tapete as porcarias que fizeram apoiando o golpe e tudo o mais de
impunidade e trambicagem, tapando o Sol com a peneira. Digam o que disserem, mas o certo mesmo é que se
deveria era aproveitar a oportunidade e abolir a letra P do nosso alfabeto (que
já deveria ter virado o escambau do Doro, sic), facilitando a vida de todo
brasileiro. Assim quando se falasse em artido saberia que se tratava de uma
nova arte de fazer olítica, bem como arlamentar seria a forma de articipar da
olítica. Diga se não é novidade, hem? Por conta disso, eculato seria uma nova
ciência eculógica, ou seja, se enrabam desde sempre, não seria agora que
parariam de enrabar todo mundo, né não? Icaretagem seria uma nova forma de
fazer anúncios boca-a-boca; obre seria a inclusão de todo hipossuficiente na
condição de mão-de-obra habilitada, como também quando se usasse a expressão ropina,
todos ficariam com carga de interrogação pelo lançamento festivo, transformada
numa nova forma de garantir comissões vultosas de forma legalizada, esquecendo
até das aves de rapina do passado que ontem, anteontem e desde sempre dilapidaram
e dilapidam o erário público (melhor dizendo, o passado vira presente a todo
instante). Além do mais, acaba com a distinção entre o úblico e o articular,
pronto resolvido o problema daqueles que tiram do bolso direito pro esquerdo,
misturando apurado com lucro e fisco com o que é seu, colocando o justo e todo mundo na rivada. É tudo muito simples
demais: é só matar o P que será uma besteirinha de nada, coisa de pouca monta que
nem fará cócegas no índice de criminalidade brasileira, encobrindo o que sempre foi ignorado pelas sanções enais e, mesmo, anais (aboliram o P e não o B, deixa pra lá, quem vai ligar?). É certo que a imprensa
sensacionalista considerará um absurdo e o maior escândalo pra alcançar altos
índices de audiência, contudo, como tudo por aqui, uma semana depois, saiu da
manchete e ninguém mais se lembra. Inclusive – e a melhor – é que a gente nem ficará
sabendo que nas eleições vindouras, todo olítico continua sendo filho da uta. Isso sim, quanta
mudança alvissareira, hem? São novos tempos, né? Hummmmm. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá prévia do
Revellon de Ano Novo com especiais Clássicos do
Frevo com a Orquestra de Rua Recife Olinda & O melhor do frevo ao vivo &
muito mais! Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] essa sociedade é irracional como um todo.
Sua produtividade é destruidora do livre desenvolvimento das necessidades e
faculdades humanas; sua paz, mantida pela constante ameaça de guerra; seu
crescimento, dependente da repressão das possibilidades reais de amenizar a
luta pela existência. [...] Em
virtude do modo pelo qual organizou a sua base tecnológica, a sociedade
industrial contemporânea tende a tornar-se totalitária. Pois totalitária não é
apenas uma coordenação terrorista da sociedade, mas também uma coordenação
técnico-econômica não-terrorista que opera através da manipulação das
necessidades por interesses adquiridos. Impede, assim, o surgimento de uma
oposição eficaz ao todo. Não apenas uma forma específica de governo ou direção
partidária constitui totalitarismo, mas também um sistema específico de
produção e distribuição que bem pode ser compatível com o ‘pluralismo’ de
partidos, jornais, ‘poderes contrabalançados’ etc. [...] Como um universo tecnológico, a sociedade
industrial desenvolvida é um universo político, a fase mais atual da realização
de um projeto histórico específico – a saber, a experiência, a transformação e
a organização da natureza como o mero material de dominação. Ao se desdobrar, o
projeto molda todo o universo da palavra e da ação, a cultura intelectual e
material. No ambiente tecnológico, a cultura, a política e a economia se fundem
num sistema onipresente que engolfa ou rejeita todas as alternativas. O
potencial de produtividade e crescimento desse sistema estabiliza a sociedade e
contém o progresso técnico dentro da estrutura de dominação. A racionalidade
tecnológica ter-se-á tornado racionalidade política [...] É uma cultura antiquada e ultrapassada, e
somente sonhos e regressões infantis podem recuperá-la. Mas essa cultura é
também, em alguns de seus pontos decisivos, pós-tecnológica. Suas imagens e
posições mais avançadas parece sobreviverem à sua absorção em comodidades e
estímulos administrados; continuam assombrando a consciência com a
possibilidade de seu renascimento na consumação do progresso técnico. São a expressão
da alienação livre e consciente das formas estabelecidas de vida com a qual a
literatura e as artes se opuseram a essas formas até mesmo onde as adornaram.
[...]. Trechos extraídos da obra A ideologia da sociedade industrial: o
homem unidimensional (Zahar, 1982), do sociólogo e filosofo alemão
pertencente à Escola de Frankfurt, Herbert Marcuse (1898-1979).Veja mais
aqui e aqui.
MUTAÇÃO HOJE EM DIA - As últimas duas décadas de nosso século vêm registrando um estado de profunda
crise mundial. É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos
os aspectos de nossa vida — a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente
e das relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões
intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes
em toda a história da humanidade. Pela primeira vez, temos que nos defrontar
com a real ameaça de extinção da raça humana e de toda a vida no planeta. Estocamos
dezenas de milhares de armas nucleares, suficientes para destruir o mundo
inteiro várias vezes, e a corrida armamentista prossegue a uma velocidade incoercível. [...] Os custos dessa loucura
nuclear coletiva são assustadores. [...] Enquanto isso, mais de 15 milhões de pessoas — em sua maioria crianças
— morrem anualmente de fome; outros 500 milhões de seres humanos estão
gravemente subnutridos. Cerca de 40 porcento da população mundial não tem
acesso a serviços profissionais de saúde; entretanto, os países em
desenvolvimento gastam três vezes mais em armamentos do que em assistência à
saúde da população. Trinta cinco por cento da humanidade carece de água
potável, enquanto metade de seus cientistas e engenheiros dedica-se à
tecnologia da fabricação de armas. [...] A civilização continua a crescer quando sua resposta bem-sucedida ao
desafio inicial gera um ímpeto cultural que leva a sociedade para além de um
estado de equilíbrio, que então se rompe e se apresenta como um novo desafio.
Desse modo, o padrão inicial de desafio-e-resposta é repetido em sucessivas
fases de crescimento, pois cada resposta bem-sucedida produz um desequilíbrio
que requer novos ajustes criativos. [...] Os economistas tendem a dissociar a economia do contexto ecológico em
que ela está inserida e a descrevê-la em termos de modelos teóricos simplistas
e altamente irrealistas. A maioria de seus conceitos básicos, estreitamente
definidos e usados sem o pertinente contexto ecológico, já não são apropriados
para mapear as atividades econômicas num mundo fundamentalmente interdependente
[...] Esses valores levaram a uma
exagerada ênfase na tecnologia pesada, no consumo perdulário e na rápida
exploração dos recursos naturais, tudo motivado pela persistente obsessão com o
crescimento. O crescimento econômico, tecnológico e institucional
indiferenciado ainda é visto pela maioria dos economistas como o sinal de uma
economia "saudável", embora esteja causando hoje desastres
ecológicos, crimes empresariais generalizados, desintegração social e uma
probabilidade sempre crescente de guerra nuclear [...] Quando adotamos uma perspectiva ecológica e usamos os conceitos apropriados
para analisar processos econômicos, torna-se evidente que nossa economia, nossas
instituições sociais e nosso meio ambiente natural estão seriamente desequilibrados.
Nossa obsessão com o crescimento e a expansão levou-nos a maximizar um número
excessivo de variáveis por períodos prolongados — pnb, lucros, o tamanho das
cidades e das instituições sociais, etc. —, e o resultado foi uma perda geral de
flexibilidade. [...] O
restabelecimento do equilíbrio e da flexibilidade em nossas economias, tecnologias
e instituições sociais só será possível se for acompanhado por uma profunda mudança
de valores. [...] Enquanto a
transformação está ocorrendo, a cultura declinante recusa-se a mudar,
aferrando-se cada vez mais obstinada e rigidamente a suas idéias obsoletas; as
instituições sociais dominantes tampouco cederão seus papéis de protagonistas
às novas forças culturais. Mas seu declínio continuará inevitavelmente, e elas
acabarão por desintegrar-se, ao mesmo tempo que a cultura nascente continuará
ascendendo e assumirá finalmente seu papel de liderança. Ao aproximar-se o
ponto de mutação, a compreensão de que mudanças evolutivas dessa magnitude não
podem ser impedidas por atividades políticas a curto prazo fornece a nossa mais
robusta esperança para o futuro. Trechos da obra O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente
(Cultrix, 1991). do físico e
escritor austríaco Fritjof Capra. Veja mais aqui e aqui.
ÓRFÃOS DO ELDORADO – [...] Abandonar Florita? Como eu
podia abandonar a interprete dos meus sonhos, as mãos que preparavam minha
comida, e lavavam, passavam, engomavam e perfumavam minha roupa: gostei dela
desde o dia em que a vi no meu quarto: a moça de rosto redondo, lábios grossos
e cabelo escorrido, cortado em forma de cuia, o olhar terno e triste que foi
adquirindo malicia e duraza no convívio com Armando. Florita sentia ciúme de
mim por eu ter dormido com ela uma única vez na rede: a brincadeira que ela me
ensinou, dizendo: Faz assim, pega aqui, aperta minha bunda, não faz assim, põe
a língua pra fora e agora me lambe: a brincadeira que foi a despedida da minha
juventude virgem e me castigou com a temporada na pensão Saturno e quatro ou cinco
anos de desprezo de Armando. Pensei em tudo isso [...]. Trecho extraído da
obra Órfãos do Eldorado (Companhia
das Letras, 2008), escritor,
tradutor e professor Milton Hatoum. Veja mais aqui.
MAR DE SARGAÇOS - Criar
é não se adequar à vida como ela é,/ Nem tampouco se grudar às lembranças
pretéritas / Que não sobrenadam mais. / Nem ancorar à beira-cais estagnado, / Nem
malhar a batida bigorna à beira-mágoa./ Nascer não é antes, não é ficar a ver
navios, / Nascer é depois , é nadar após se afundar e se afogar. / Braçadas e
mais braçadas até perder o fôlego. / ( Sargaços ofegam o peito opresso ), / Bombear
gás do tanque de reserva localizado em algum ponto / Do corpo / E não parar de
nadar, / Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar. / Plasmar / bancos
de areia, recifes de corais, ilhas, arquipélagos, baías, / espumas e salitres,
ondas e maresias. / Mar de sargaços / Nadar, nadar, nadar e inventar a viagem,
o mapa, / o astrolábio de sete faces, / O zumbido dos ventos em redemunho, o
leme, as velas, as cordas. / Os ferros, o júbilo e o luto. / Encasquetar-se na
captura da canção que inventa Orfeu / Ou daquela outra que conduz ao mar
absoluto. / Só e outros poemas / Soledades / Solitude, récif, étoile. / Através
dos anéis escancarados pelos velhos horizontes / Parir, / desvelar, desocultar
novos horizontes. / Mamar o leite primevo, o colostro, da Via Láctea. / E,
mormente, / remar contra a maré numa canoa furada / Somente / para martelar um
padrão estoico-tresloucado / De desaceitar o naufrágio. / Criar é se
desacostumar do fado fixo / E ser arbitrário. / Sendo os remos imatérias. / (Remos
figurados / no ar / pelos círculos das palavras.). Poema do poeta Wally Salomão (1943 – 2003).
A ARTE DE PORTINARI
Veja mais:
A literatura de Lima Barreto aqui.
A arte de Guido Cagnacci aqui.
&
A ARTE DE
SIQUEIROS
A arte do
pintor mexicano David Alfaro Siqueiros
(1896-1974). Veja mais aqui.