sexta-feira, dezembro 29, 2017

CAPRA, MARCUSE, PORTINARI, HATOUM, WALLY SALOMÃO, SIQUEIROS, REVELLON & FREVO

É SÓ TIRAR O P, ORRA! - Uma revolução nunca vista ocorre no Brasil. Verdade. Quer dizer, parece. Depois do que se tem visto nos últimos anos, nada será capaz de nos deixar tranquilos por um bocado de anos. Não há como ter calma, a coisa está pra lá de periclitante. Pois bem. Já que os partidos políticos se valiam apenas de programas lindos de morrer pro seu blá blá blá, quando, na prática, era tudo conversa mole pra tapiar a jogada do poder pelo poder e outras patifarias, agora as agremiações políticas resolveram levar a sério as conduções dos condôminos do poder, erradicando a letra P para adotar (ou melhor, copiar) a ideia de partidos-movimentos europeus. Explico melhor: o que era PQP, ou PQME, PABECÊ ou outras infelizes siglas, agora é pra valer na ação, nada de lero-lero. Trocando em miúdos, os que gostam de andar pra frente e só isso, sem andar na linha nem de lado, nem pra trás, comporão o Frente. Os que são indecisos ou que deixam pra amanhã, ou pra depois, quem sabe para o mês ou ano que vem, estarão filiados ao Muro - sobretudo aqueles que nunca tiveram a coragem de sair do armário e jamais escolheram a coluna 1 ou a 2, sempre na do meio, óbvio, seguiram e seguirão sempre o vencedor de ocasião. Afora aqueles que possuem o complexo de superpoderes ou coisa parecida, reunidos sob a legenda do Avante, metido a salvadores da pátria ou coisa deploravelmente que lembre ou ache. Pela lógica, os conservadores devem adotar o Répratrás por nomenclatura, já que nasceram de forma – pra não dizer foda - mal passada e ficarem por lá até hoje. Assim como os que podem e seja lá o que Deus quiser serão os asseclas do Podemos – deixando claro que os que fodem, foderam e foderão tudo do mesmo jeito. E o mais importante, todos estarão livres de ser de direita, esquerda ou centro, coisa mais antiga essa, agora tudo na base do lavou está novo, novíssimo – aliás, não dá nem pra imaginar que sempre foram porque estão fantasiados de zero quilômetro. Sacou? O argumento é forte: é que a Constituição Federal que ainda nem é balzaquiana – hem, hem, ainda ontem eu a vi, novinha em folha, maior belezura cobiçada, desfilando sedutoramente com sua promulgação em 1988, hoje já com quase cem cirurgias plásticas que a deixaram mais remendada que só tábua de pirulito! -, já anda caducando e que não adianta mais mexer nela pra não catingar demais – coitada, pintaram, bordaram, golpearam, tripudiaram e arrombaram com a jovem esperançosa, dela quase ninguém sequer saber nem se dar conta. Outro fundamento defendido é que ou a gente moderniza este país na marra do estupro ou do jeito que querem – o que pra mim dá no mesmo -, ou a gente será a colônia de sempre – como se não fosse! Por tudo isso é que eu digo que é novidade, modernidade, coisa que nem sei pra quem ver – ah, sei, eles mesmos que pensam que fora deles só tem burro. Pros promotores revolucionários, isso acaba com o pior profissional do mundo: o político. E é? Como? E eu que sei!?! Os encrenqueiros de plantão é que insistem que se trata apenas de mudança de rótulo, vez que a merda é a mesma, a fedentina talqualmente, e a desgraça de antanho só mudam de nome. Vale a delação desproposital: odre novo de vinho velho azedado. Outros sisudos asseveram que a mudança é somente para jogar embaixo do tapete as porcarias que fizeram apoiando o golpe e tudo o mais de impunidade e trambicagem, tapando o Sol com a peneira. Digam o que disserem, mas o certo mesmo é que se deveria era aproveitar a oportunidade e abolir a letra P do nosso alfabeto (que já deveria ter virado o escambau do Doro, sic), facilitando a vida de todo brasileiro. Assim quando se falasse em artido saberia que se tratava de uma nova arte de fazer olítica, bem como arlamentar seria a forma de articipar da olítica. Diga se não é novidade, hem? Por conta disso, eculato seria uma nova ciência eculógica, ou seja, se enrabam desde sempre, não seria agora que parariam de enrabar todo mundo, né não? Icaretagem seria uma nova forma de fazer anúncios boca-a-boca; obre seria a inclusão de todo hipossuficiente na condição de mão-de-obra habilitada, como também quando se usasse a expressão ropina, todos ficariam com carga de interrogação pelo lançamento festivo, transformada numa nova forma de garantir comissões vultosas de forma legalizada, esquecendo até das aves de rapina do passado que ontem, anteontem e desde sempre dilapidaram e dilapidam o erário público (melhor dizendo, o passado vira presente a todo instante). Além do mais, acaba com a distinção entre o úblico e o articular, pronto resolvido o problema daqueles que tiram do bolso direito pro esquerdo, misturando apurado com lucro e fisco com o que é seu, colocando o justo e todo mundo na rivada. É tudo muito simples demais: é só matar o P que será uma besteirinha de nada, coisa de pouca monta que nem fará cócegas no índice de criminalidade brasileira, encobrindo o que sempre foi ignorado pelas sanções enais e, mesmo, anais (aboliram o P e não o B, deixa pra lá, quem vai ligar?). É certo que a imprensa sensacionalista considerará um absurdo e o maior escândalo pra alcançar altos índices de audiência, contudo, como tudo por aqui, uma semana depois, saiu da manchete e ninguém mais se lembra. Inclusive – e a melhor – é que a gente nem ficará sabendo que nas eleições vindouras, todo olítico continua sendo filho da uta. Isso sim, quanta mudança alvissareira, hem? São novos tempos, né? Hummmmm. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. 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RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá prévia do Revellon de Ano Novo com especiais Clássicos do Frevo com a Orquestra de Rua Recife Olinda & O melhor do frevo ao vivo & muito mais! Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA[...] essa sociedade é irracional como um todo. Sua produtividade é destruidora do livre desenvolvimento das necessidades e faculdades humanas; sua paz, mantida pela constante ameaça de guerra; seu crescimento, dependente da repressão das possibilidades reais de amenizar a luta pela existência. [...] Em virtude do modo pelo qual organizou a sua base tecnológica, a sociedade industrial contemporânea tende a tornar-se totalitária. Pois totalitária não é apenas uma coordenação terrorista da sociedade, mas também uma coordenação técnico-econômica não-terrorista que opera através da manipulação das necessidades por interesses adquiridos. Impede, assim, o surgimento de uma oposição eficaz ao todo. Não apenas uma forma específica de governo ou direção partidária constitui totalitarismo, mas também um sistema específico de produção e distribuição que bem pode ser compatível com o ‘pluralismo’ de partidos, jornais, ‘poderes contrabalançados’ etc. [...] Como um universo tecnológico, a sociedade industrial desenvolvida é um universo político, a fase mais atual da realização de um projeto histórico específico – a saber, a experiência, a transformação e a organização da natureza como o mero material de dominação. Ao se desdobrar, o projeto molda todo o universo da palavra e da ação, a cultura intelectual e material. No ambiente tecnológico, a cultura, a política e a economia se fundem num sistema onipresente que engolfa ou rejeita todas as alternativas. O potencial de produtividade e crescimento desse sistema estabiliza a sociedade e contém o progresso técnico dentro da estrutura de dominação. A racionalidade tecnológica ter-se-á tornado racionalidade política [...] É uma cultura antiquada e ultrapassada, e somente sonhos e regressões infantis podem recuperá-la. Mas essa cultura é também, em alguns de seus pontos decisivos, pós-tecnológica. Suas imagens e posições mais avançadas parece sobreviverem à sua absorção em comodidades e estímulos administrados; continuam assombrando a consciência com a possibilidade de seu renascimento na consumação do progresso técnico. São a expressão da alienação livre e consciente das formas estabelecidas de vida com a qual a literatura e as artes se opuseram a essas formas até mesmo onde as adornaram. [...]. Trechos extraídos da obra A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional (Zahar, 1982), do sociólogo e filosofo alemão pertencente à Escola de Frankfurt, Herbert Marcuse (1898-1979).Veja mais aqui e aqui.

MUTAÇÃO HOJE EM DIA - As últimas duas décadas de nosso século vêm registrando um estado de profunda crise mundial. É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida — a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes em toda a história da humanidade. Pela primeira vez, temos que nos defrontar com a real ameaça de extinção da raça humana e de toda a vida no planeta. Estocamos dezenas de milhares de armas nucleares, suficientes para destruir o mundo inteiro várias vezes, e a corrida armamentista prossegue a uma velocidade incoercível. [...] Os custos dessa loucura nuclear coletiva são assustadores. [...] Enquanto isso, mais de 15 milhões de pessoas — em sua maioria crianças — morrem anualmente de fome; outros 500 milhões de seres humanos estão gravemente subnutridos. Cerca de 40 porcento da população mundial não tem acesso a serviços profissionais de saúde; entretanto, os países em desenvolvimento gastam três vezes mais em armamentos do que em assistência à saúde da população. Trinta cinco por cento da humanidade carece de água potável, enquanto metade de seus cientistas e engenheiros dedica-se à tecnologia da fabricação de armas. [...] A civilização continua a crescer quando sua resposta bem-sucedida ao desafio inicial gera um ímpeto cultural que leva a sociedade para além de um estado de equilíbrio, que então se rompe e se apresenta como um novo desafio. Desse modo, o padrão inicial de desafio-e-resposta é repetido em sucessivas fases de crescimento, pois cada resposta bem-sucedida produz um desequilíbrio que requer novos ajustes criativos. [...] Os economistas tendem a dissociar a economia do contexto ecológico em que ela está inserida e a descrevê-la em termos de modelos teóricos simplistas e altamente irrealistas. A maioria de seus conceitos básicos, estreitamente definidos e usados sem o pertinente contexto ecológico, já não são apropriados para mapear as atividades econômicas num mundo fundamentalmente interdependente [...] Esses valores levaram a uma exagerada ênfase na tecnologia pesada, no consumo perdulário e na rápida exploração dos recursos naturais, tudo motivado pela persistente obsessão com o crescimento. O crescimento econômico, tecnológico e institucional indiferenciado ainda é visto pela maioria dos economistas como o sinal de uma economia "saudável", embora esteja causando hoje desastres ecológicos, crimes empresariais generalizados, desintegração social e uma probabilidade sempre crescente de guerra nuclear [...] Quando adotamos uma perspectiva ecológica e usamos os conceitos apropriados para analisar processos econômicos, torna-se evidente que nossa economia, nossas instituições sociais e nosso meio ambiente natural estão seriamente desequilibrados. Nossa obsessão com o crescimento e a expansão levou-nos a maximizar um número excessivo de variáveis por períodos prolongados — pnb, lucros, o tamanho das cidades e das instituições sociais, etc. —, e o resultado foi uma perda geral de flexibilidade. [...] O restabelecimento do equilíbrio e da flexibilidade em nossas economias, tecnologias e instituições sociais só será possível se for acompanhado por uma profunda mudança de valores. [...] Enquanto a transformação está ocorrendo, a cultura declinante recusa-se a mudar, aferrando-se cada vez mais obstinada e rigidamente a suas idéias obsoletas; as instituições sociais dominantes tampouco cederão seus papéis de protagonistas às novas forças culturais. Mas seu declínio continuará inevitavelmente, e elas acabarão por desintegrar-se, ao mesmo tempo que a cultura nascente continuará ascendendo e assumirá finalmente seu papel de liderança. Ao aproximar-se o ponto de mutação, a compreensão de que mudanças evolutivas dessa magnitude não podem ser impedidas por atividades políticas a curto prazo fornece a nossa mais robusta esperança para o futuro. Trechos da obra O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente (Cultrix, 1991). do físico e escritor austríaco Fritjof Capra. Veja mais aqui e aqui.

ÓRFÃOS DO ELDORADO – [...] Abandonar Florita? Como eu podia abandonar a interprete dos meus sonhos, as mãos que preparavam minha comida, e lavavam, passavam, engomavam e perfumavam minha roupa: gostei dela desde o dia em que a vi no meu quarto: a moça de rosto redondo, lábios grossos e cabelo escorrido, cortado em forma de cuia, o olhar terno e triste que foi adquirindo malicia e duraza no convívio com Armando. Florita sentia ciúme de mim por eu ter dormido com ela uma única vez na rede: a brincadeira que ela me ensinou, dizendo: Faz assim, pega aqui, aperta minha bunda, não faz assim, põe a língua pra fora e agora me lambe: a brincadeira que foi a despedida da minha juventude virgem e me castigou com a temporada na pensão Saturno e quatro ou cinco anos de desprezo de Armando. Pensei em tudo isso [...]. Trecho extraído da obra Órfãos do Eldorado (Companhia das Letras, 2008), escritor, tradutor e professor Milton Hatoum. Veja mais aqui.

MAR DE SARGAÇOS - Criar é não se adequar à vida como ela é,/ Nem tampouco se grudar às lembranças pretéritas / Que não sobrenadam mais. / Nem ancorar à beira-cais estagnado, / Nem malhar a batida bigorna à beira-mágoa./ Nascer não é antes, não é ficar a ver navios, / Nascer é depois , é nadar após se afundar e se afogar. / Braçadas e mais braçadas até perder o fôlego. / ( Sargaços ofegam o peito opresso ), / Bombear gás do tanque de reserva localizado em algum ponto / Do corpo / E não parar de nadar, / Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar. / Plasmar / bancos de areia, recifes de corais, ilhas, arquipélagos, baías, / espumas e salitres, ondas e maresias. / Mar de sargaços / Nadar, nadar, nadar e inventar a viagem, o mapa, / o astrolábio de sete faces, / O zumbido dos ventos em redemunho, o leme, as velas, as cordas. / Os ferros, o júbilo e o luto. / Encasquetar-se na captura da canção que inventa Orfeu / Ou daquela outra que conduz ao mar absoluto. / Só e outros poemas / Soledades / Solitude, récif, étoile. / Através dos anéis escancarados pelos velhos horizontes / Parir, / desvelar, desocultar novos horizontes. / Mamar o leite primevo, o colostro, da Via Láctea. / E, mormente, / remar contra a maré numa canoa furada / Somente / para martelar um padrão estoico-tresloucado / De desaceitar o naufrágio. / Criar é se desacostumar do fado fixo / E ser arbitrário. / Sendo os remos imatérias. / (Remos figurados / no ar / pelos círculos das palavras.). Poema do poeta Wally Salomão (1943 – 2003).

A ARTE DE PORTINARI
A arte do pintor Cândido Portinari (1903-1962), Veja mais aqui, aqui e aqui.

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A poesia de Rainer Maria Rilke aqui, aqui, aqui e aqui.
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A arte de Guido Cagnacci aqui.
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A ARTE DE SIQUEIROS
A arte do pintor mexicano David Alfaro Siqueiros (1896-1974). Veja mais aqui.

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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