A CIDADE MULHER
AMADA – Imagem: arte da pintora e arquiteta Adelina Nishiyama. - Ainda é madrugada
na hora incerta da minha insônia revelada e a cidade é uma mulher adormecida e
mal coberta, deixando à mostra a sua sedução vulnerável na penumbra. Meus olhos
no voo da imaginação se confudem com a cor da noite carregada de nuvens, a esconder
a Lua cheia nos passos dos madrugadores ronceiros da sorte a perturbar meu
sossego, seguem como eu sempre em busca do amor distante esperando a minha
presença. O silêncio abafa opressivamente o deserto das aventuras pela luta da
vida, e entre gretas e frestas, cadê o perfume amável das damas ofegantes e bem
vistosas para alegria da minha perdição, todas dormem pro meu desconsolo,
sequer sabem da minha ânsia de viver no fio da navalha, parido das bússolas e
direções. Cem anos antes eu nasço do que sou na descoberta maravilhosa de viver
com a idade no ventre materno de todas elas, enquanto sou órfão entre mestiços
tropicais que esqueceram rumo e sequer guardam na lembrança quantos amanheceres
sem esperança. No horizonte sinais da alvorada distante prestes a me refazer e
eu já sinto o dia entre os dedos com os seus cheiros, sons e cor irrompendo no
contorno das ruas até saber-me Sol tinindo nas costas queimando o tempo na
equivalência mágica de viver entre pernas elegantemente torneadas no realce das
saias que emergem como um pé de vento impetuoso a me darem noção da rua à beira
do rio com seu verde úmido e a noção de que tudo é possível a partir de agora
como sempre foi no meu coração atormentado pelas paixões. A cidade agora é uma
mulher esbelta decotada entre os seios e coxas, altaneira estonteante, altiva e
linda na manhã fria de dezembro, anunciando a desconfiança do recato na tarde
quente e o calor na carestia da vida ao entardecer, a me dizer que tudo passa e
sou apenas passageiro a desembarcar em cada ponto de parada para admirar o viço
e dizer que volto já e de novo sempre. A cidade é o meu poema à mulher amada. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com Gilbertos – Samba ao vivo do cantor e compositor Gilberto Gil & a belíssima pianista chinesa Yuja Wang interpretando obras de George Gershwin & Scriabin. Veja mais aqui, aqui & aqui.
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com Gilbertos – Samba ao vivo do cantor e compositor Gilberto Gil & a belíssima pianista chinesa Yuja Wang interpretando obras de George Gershwin & Scriabin. Veja mais aqui, aqui & aqui.
PENSAMENTO DO DIA - [...] importante parcela das deficiências
nutricionais, com destaque para a anemia ferropriva, tanto no Brasil quanto no
mundo, também tem na dieta seu principal fator etiológico. Como a dieta é
passível de modificação, torna-se necessário o desenvolvimento de políticas
para a prevenção, tanto das deficiências nutricionais, quanto das doenças
crônicas não transmissíveis. Essa modificação deve ter por base a existência de
sistemas que monitorem, de preferência com fluxos de informações já existentes,
indicadores do consumo alimentar. Pesquisas de Orçamento Familiar (POF)
constituem fonte valiosa para obtenção de indicadores do consumo alimentar,
cujo uso é crescente em países em desenvolvimento. [...]. Trecho do artigo Disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil:
distribuição e evolução - 1974-2003 (Revista Saúde Pública, 2005), de Renata
Bertazzi Levy-Costa; Rosely Sichieri; Nézio dos Santos Pontes e Carlos Augusto
Monteiro. Veja mais aqui e aqui.
ALIMENTOS PARA O FUTURO – [...] Nas próximas quatro
décadas, a população mundial crescerá 2,3 bilhões de pessoas e ficará mais
rica. Satisfazer a demanda dos 9,1 bilhões de pessoas no planeta em 2050
exigirá produzir 70% mais alimentos do que hoje. Portanto, a menos que tomemos,
agora, as decisões adequadas, nos arriscamos a que, amanhã, a dispensa mundial
esteja perigosamente vazia. Sobretudo porque, nos próximos anos, o sistema
alimentar mundial deverá enfrentar o crescente desafio da mudança climática - que
pode reduzir a produção agrícola potencial em até 21% no conjunto dos países em
desenvolvimento-, bem como pragas e doenças transfronteiriças mais graves de
animais e plantas. Ao mesmo tempo, haverá uma redução da mão de obra agrícola
-porque cerca de 600 milhões de pessoas trocarão o campo pela cidade- e uma
maior competição pelo uso da terra e dos recursos naturais. Nossa resposta a
esses desafios determinará como poderemos alimentar o planeta no futuro.
Igualmente importante é garantir que as pessoas estejam bem alimentadas hoje. [...] Porém, considero que é meu dever, assim como
é nosso dever como comunidade global, fazer tudo o que está ao nosso alcance
para desterrar o fantasma da fome para sempre e assegurar que nossos filhos e
netos possam comer dignamente e desfrutar de uma vida saudável. Techos do
artigo Alimentos para o futuro (Folha
de São Paulo, 2009), do ciplomata senegalês e ex-diretor-geral da Organizalçai
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Jacques Diouf.
SANHARÓ – O município de Sanharó
tinha suas terras pertencentes à sesmaria de Ororubá, tendo sido fundada a
povoação no século XVIII, o distrito criado pela Lei municipal nº 18, de 12 de
novembro de 1912, subordinado ao município de Pesqueira. Foi elevado à
categoria de município com a denominação de Sanharó, pela Lei estadual nº 375,
de 24 de dezembro de 1948, desmembrado de Pesqueira e instalado em 2 de janeiro
de 1949. O nome Sanharó veio de uma espécie de abelha negra existente neste
local, denominada sanharó, que em vocábulo indígena significa zangado ou
excitado. O município é banhado pelo rio Ipojuca e considerado uma das maiores
bacias leiteiras do estado pernambucana, conhecida como a cidade do queijo e do
leite. Por conta disso realiza-se no mês de setembro a feira do leite, com vaquejadas,
concurso leiteiro, rodeios e show ao vivo. Outra atração da cidade é a Festa do
Beco, realizada sempre na última semana do ano. Outra festa anárquica/etílico é
de "sancoquinho", realizada sempre depois da festa de São Sebastião.
No mês de maio acontece a cavalgada das amazonas, reunindo mulheres de todos os
municípios vizinhos. No mês de junho acontece a Festa do Curral, que é uma
grande confraternização de amigos no curral de gado da cidade onde acontece
durante o ano inteiro nas teças feiras a tradicional feira de gado. O município
tem forte tradição na música, possui uma das mais antigas e tradicionais bandas
de músicas do estado, a centenária Sociedade Musical Santa Cecília, fundada em
1908, pelos grandes e eternos músicos Manuel Fernandes Bezerra e Joaquim
Francisco de Assis Aquino. Outra importante manifestação cultural do município
é o grupo cultural dos Bacamarteiros de Sanharó, que nos trazem toda a tradição
e emoção dos tiros de bacamarte e espalham cultura e por onde passam. Possui
também dentre outras coisas, o grupo de Coco da Barriguda; o bloco da porca e
as as orquestras de frevo no carnaval; o Palhoção do Povo e as quadrilhas no
São João; e a grandiosa Feira do Leite, que acontece todos os anos. Veja mais aqui.
SINFONIA PARA VAGABUNDOS – [...] Ampla é a sala cercada de estantes altas com livros empoeirados, leve a
iluminação que entra pelas janelas, tempo impreciso. Silêncio e mansidão. A
noite está chegando. O professor Deusdete acredita: este é o momento da criação
[...]. Senta-se. Cochila e nãp é mais do
que um velho. [...]. Trechos da obra Sinfonia para vagabundos (Bagaço,
1992), do premiado escritor, crítico, editor e jornalista
pernambucano Raimundo Carrero. Veja mais aqui e aqui.
ÂMBAR - Pulseira de pedras quadradas que caem unidas,
sustidas. / De cada uma se desprende / o valor de nossa amizade. / Quadrada
cidade como contas de muitas cores:/ quadrilátero infernal de colina em colina/
desordenado para chegar a ti. /Como conto estas contas tão dispersas? / O
vendedor as pesou bem na balança sem paixão,/ mas foi enganado. / Um
desperdício de contas âmbar contra o tempo /que durou nosso encontro. / O
resultado de conversar sem ar lá na colina / gera uma inquietude de contemplar
tua mão / (larga e cortante contra a borda do corpo de cerveja). / O que ficou
de nós mesmos? / A vaidade de mover as pedrasno ar insatisfeito e sem ilusão? /
Flocos de milho macio, contaminados pelo vapor / do distrito, já queimados? / Carne
crua do Japão, carne faminta / que estremece e entorpece a dobra de minha
língua? / Provo o sorvete de chá verde, “é como mastigar jade”, tu dizes, / paralisando
meu riso nervoso ao remover com a colherinha de prata / o tremor da terra, / esse
tremor de minha boca que recebe de tua mão, a jóia invisível, / a promessa
mantida que me dás de comer, de provar, / com a hilaridade de um passado
vencido pelo presente outra vez. / “Ele foi a minha juventude”, repito, para
reafirmá-lo, / ainda que já saiba. E a colher retine. / Um fecho de prata no
pulso para firmar um pacto / com o esforço carbonizado de querer. / Porém, as
pedras dizem que voltarás ao começo / (tu, comigo). / Elas retornam agora como
uma pulseira fina, /logo voltarão como um laço ao redor do pescoço / ou dentro
de um relógio acostumado a mentir. / Infinita caravana de pedras sem contar, / nos
rodeando. / De duas em duas, de três em três... / Quadriláteros portáteis / cuspindo
cinzas art decó. / — O impulso de viver — disse o vendedor, sempre nos
enganando. / Mais um daqueles velhos antiquários / a quem entregamos para a
vida toda o valor de nossa amizade, agora / (âmbar negro) para não adquirir
nada mais que a proibição. / E eu o trouxe de volta, o escondi debaixo do
travesseiro. / Ocultei-o como pude, para não mastigar vinte e quatro horas / cinzas
de âmbar. / Porque já te perdi muitas vezes / entre o vermelho solitário do
vulcão / eructando sua rocha mais incandescente — tu./ Agora, as pedras que me
deste hão de coroar esta erupção. ; Talvez a última erupção sob minha cabeça / friamente. Poema
da premiada poeta cubana Reina María Rodríguez, traduzido por Luiz
Roberto Guedes
A ARTE DE WILHELM BRASSE
A arte do fotógrafo polonês Wilhelm Brasse (1917-22012), prisioneiro em Auschwirz durante a Segunda Guerra Mundial, conhecido como o fotógrafo do campo de concentração, tema de um documetário de 2005, Portrecista.
A arte do fotógrafo polonês Wilhelm Brasse (1917-22012), prisioneiro em Auschwirz durante a Segunda Guerra Mundial, conhecido como o fotógrafo do campo de concentração, tema de um documetário de 2005, Portrecista.
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DOIS
POEMAS DE LUCIAH LOPEZ
... a felicidade pode sim pousar em nossa mão_________________é só uma questão de interpretação.
... a felicidade pode sim pousar em nossa mão_________________é só uma questão de interpretação.
MAMULENGO - Eu vou por aqui e acolá,
mamulengo que sou nas ruas desta cidade feita de panos de chita e barro queimado.
Corro os meus passos sobre as pedras lisas, corro pra longe do escuro, do muro,
do medo do fim do mundo. Em cada esquina, dois pares de olhos sem pálpebras,
duas bocas sem dentes, duas mãos e uma pedra! Uma lata, um cachimbo, um escambo
e dois palitos____um apito e o guarda Belo! Eu corro, eu subo a ladeira,
escorrego na ribanceira e me faço broto de bananeira ( yés, nós temos banana!)
e a puta que o pariu acende as luzes feito um Zeppelin apocalíptico e chove
sobre nós o mijo sagrado de cada dia. E a cidade adormecida entre chitas e
tafetás emite sons graves e agudos e padece num orgasmo transcendental pra
renascer colorida entre peidos, merdas e mijos e o pão nosso de cada dia -
amém!
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