A CAÇA & A
FUGA DO CAÇADOR – Imagem:
arte da pintora inglesa Lucinda Lyons. - De
noite todo gato é pardo e ele, temporada de caça, armado de unhas e dentes,
flagrou os olhos perdidos dela de presa por ser abatida. Perseguiu com faro de
bom caçador todos os passos dela, conferindo-lhe a realeza de extraordinária
espécime pro rol da conquista: olhos vivos amendoados na face formosa de lábios
rubros e carnudos próprios pros beijos e felação, o corpo esbelto de bom talhe
pras investidas ao bel prazer, os seios protuberantes pras mãos em conchas e
soltos por baixo da blusa negra colada na carne suculenta quais frutas maduras
da drupa de bicos aduncos ao seu alcance, quadris desenhados com esmeros na
saia justa a dar-lhe o molde da cintura ideal de toda assimetria desejada e a
encaminhar todo desejo pro ventre abissal de todos os prazeres dispostos pra
sua concupiscência se fartar entre coxas roliças de torres abraçáveis por
pernas torneadas no realce do salto das maiores volúpias. Olhos nos olhos,
libido à flor da pele, à espreita, o preparo do bote certeiro. No ataque
tomou-lhe a mão, envouveu-lhe o corpo na dança do confronto: face a face, corpo
a corpo, o confronto e o perfume dela inebriando nervos e gula com a respiração
ofegante ao seu ombro na pegada de jeito, dois pra lá, dois pra cá, o molde perfeito
do tope ao domínio completo, a cessão às tomadas de decisão, prali, por aqui, a
domesticação, agora assim, assado, amansada completamente, aquiescente. Com tudo
a favor, hora de iniciar o abate, perícia de domador no afago pelos contornos geográficos
da escultura corporal com a sua sedosa pele, tudo propício para fincar
bandeiras de posses, a servidão de súdita e benevolência de fiel aprisionada,
pronta para todos os quereres. Hora de quebrar o gelo: o que você faz da vida?
Ela sussuRra docemente: sou tanatoesteticista, especializada em taxidermia e
tanatopraxia. Hem? Ele disfarça a ignorância ao pensamento compensador: pelo
menos faz alguma coisa, menos mal. A vez dela: você não tem medo? De que? Sou necromaquiadora,
lido só com gente morta. Hum? Valha-me! Pior que viúva-negra, pensou pra si. Cadê
chão pra se socar. Coincidentemente a música parou e ele: vou ao banheiro,
volto já. E nunca mais voltou. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a banda de rock progressivo britânica Emerson, Lake &
Palmer (ou ELP), formada por
Keith Emerson (teclados), Greg Lake (guitarra, baixo e vocais) e Carl Palmer
(bateria): From the beginning, C’est La vie & Pictures at na exhibition; e a
premiada pianista e cantora Eliane Elias: Live in Jazz, Light my fire & Bye, bye blackbird. Para conferir
é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui & aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] a educação atua organizando encontros
buscando promover concórdia e ajuda mutua entre seus membros, constituindo, com
suas regras, um viver comum. A educação pode ser nesse sentido, considerada um
auxilio formador, derivado da potência coletiva em seu esforço para preservar
em sua existência. A eucação formal, como produtora de encontros que expandem
as nossas potências de pensar e agir, soma-se, assim, ao aprendizado ético-afetivo
individual, o qual se constitui como uma experiência longa, lenta e árdua,
sempre atravessada pelos riscos postos por potências superiores e contrárias.
[...] a educação busca oferecer caminhos
práticos para a transição de nossa passividade e impotência à atividade que
alcançamos pelo exercício do nosso pensar. Trecho extraído da obra Aprendizado ético-afetivo: uma leitura
sponizana da educação (Alinea, 2009), da educadora, professora e filósofa Juliana Merçon. Veja mais aqui.
JUCATI – O município de Jucati é adinistrativamente formado apenas pelo distrito sede e
pela Vila Neves. Grande parte do que hoje é o município, foi no final do século
XIX, quatro fazendas de gado que pertenciam a imigrantes italianos, na antiga
Pindorama. Estas fazendas tinham por denominação: Divisão, Raposa, Salgado e
Malhada do Couro. O nome de Jucati foi alterado para Pindorama em 1938, quando
o povoado foi elevado à categoria de vila. Em 1943 foi denominada Jucati. Sobre
a origem do nome, atribuída a uma planta local pelos indígenas, possivelmente
derivativo do pau-ferro jucá, com o significado de terreno pedregoso, argila
forte. O município está localizado na unidade geoambiental do Planalto da
Borborema, nos domínios das Bacias Hidrográficas dos rios Mundaú e Una. Tem como
principais tributários são os rios da Chata e Canhoto, além dos riachos da
Pracinha e S. Pedro, todos de regime intermitente. A Vila Neves é um distrito pertencente
ao município de Jucati, localizada entre Jupi e Garanhuns. Veja mais aqui.
ECONOMIA LIBIDINAL - A questão do valer-para, não nos pressionamos a
colocá-la, ainda menos a resolvê-la. [...] O que nos ameaça, economistas libidinais, é fabricar uma nova moral com
esta consolação, é proclamar e difundir que a faixa libidinal é boa, que a circulação dos afetos é alegre, que o anonimato e a incompossibilidade das
&guras são impressionantes e livres, que toda dor é reacionária e
contém o veneno de uma formação saída do grande Zero – o que eu acabei de
dizer. Ora, não se tem necessidade de
uma ética, desta ou de outra. Talvez de uma ars vitae, jovem homem, mas da qual convém ser os artistas e
não os propagadores, os aventureiros e não os teóricos, os fazedores de
hipóteses e não os censores. [...] concebendo a dor como o motor da teatralidade, Freud dá a esta a
consistência metafísica do negativo, ele é, assim, vítima dessa teatralidade,
já que é somente na representação com vocação unitária que o corte e a ussura
fazem mal, somente para o corpo já puro [...] quando é claro que não existe mais e nunca haverá mesmo uma tal dissolução pelo bom motivo de que nunca houve e nunca haverá
um tal corpo reunido em si mesmo na sua unidade e identidade, que este corpo é
uma fantasia, ela mesma notavelmente libidinal [...] e que
é em relação a esta fantasia que toda alienação é pensada e sentida como reconhecimento que é o sentimento suscitado
pelo grande Zero como desejo de retorno. Mas o corpo dos selvagens primitivos
não é um corpo mais inteiro do que aquele dos mineiros escoceses de um século
atrás, não existe corpo inteiro. [...]. Trechos extraídos da
obra Economia libidinal
(Fondo de Culttura, 1990), do filósofo francês Jean-François
Lyotard (1924-1998). Veja mais aqui, aqui & aqui.
AFINAÇÃO DA ARTE DE CHUTAR TAMPINHAS - [...]
Dia desses, no lotação. A tal estava a
meu lado querendo prosa. Tentava, uma olhadela, nos cantos os olhos se mexendo.
Um enorme anel de grau no dedo. Ostentação boba, é moça como qualquer outra.
Igualzinha às outras, sem diferença., e eu me casar com um troço daquele?...
Parece-me que procurava conversa, por causa do Huxley qye viu repousando nos
meus joelhos. Eu, Huxley e tampinhas somos coincidências. Que se encontraram e
que se dão bem, perguntou o que eu fazia da vida. A pergunta veio com jeito,
boas palavras, delicada, talvez não querendo ofender o silencio em que eu me
fechava. Quase respondi... [...] Mas
não sei. A voz mulata no disco me fala de coisas sutis e corriqueiras. De vez
em quando um amor que morre sem recado, sem bilhete. Ciúme, queixa. Sutis e
corriqueiras. Ou a cadencia dos versos que exaltam um céu cinzento, uma luba,
um carro de praça... Se ouço um samba de Noel... Muito difícil dizer, por
exemplo, o que é mais bonito – o “Feitio de Oração” ou as minhas tampinhas.
Trecho do conto Afinação da arte de
chutar tampinhas, extraído da obra Malagueta, Perus e Bacanaço (Civilização Brasileira, 1963), do
escritor e jornalista João Antonio (1937-1996).
Veja mais aqui.
DOIS RISOS – Quando sorris, parece / que de minha alma o tenebroso véu, / que a dor
teceu e não desfez a prece / se adelgaça e sutil desparece... / teu riso vem do
céu! / Alheias alegrias / o teu sorriso amargo assim corroi / qual veneno
cruel! Tais agonias / traduz. - Não choras? Pois também não rias! / Teu riso
dói! Poema da poeta Úrsula Garcia
(1865-1905), que em carta a Francisca Izidora escreveu: Hoje... para que renome? A mim que penso às vezes com uma espécie de
nostalgia na paz do túmulo? Há 17 anos – vês – eu era noiva! Pequenina e
gentil, como diziam, vaidosa mesmo, elegante e vivaz, era feliz. Inebriava-me
de seu amor e de esperanças... Hoje sou pesada e feia, mesmo cheia de tédio e
cansaço... E não tenho futuro. Ambos extraídos da antologia Em busca de Thargélia: poesia escrita por
mulheres em Pernambuco no segundo Oitocentismo - 1870-1920 (Fundarpe, 1996),
organizado por Luzilá Gonçalves Ferreira. Veja mais aqui.
ENCONTRO DOS PALMARENSES
Veja mais:
&
A ARTE DE
BERNINI
A arte do artista
italiano Gian Lorenzo
Bernini (1598-1680).