sexta-feira, dezembro 22, 2017

CIRO ALEGRÍA, GREIMAS, RONSARD, GUSTAV HOLST, LOLA ASTANOVA, OBIRICI, ASTECAS, ALESSANDRA CESTAC, HIROKO SAKAI & LUCIAH LOPEZ

DOS DIAS ÀS NOITES, O AMANHECER - Imagem: Love painting, art by Hiroko Sakai. - Espreito a tudo: o que se move e a mim, distinguindo fedores e perfumes, cantigas e catingas, luzes e escuridão. A tudo vejo, ouço o movimento, cheiro infortúnio e felicidade: o pêndulo da vida. Dentes que trincam nas narinas alargadas, bocas abertas e a ira na face dura pro combate, o súbito agir partindo pro ataque aos que defendem, os que retrucam, os que revidam, tocam a ira e tudo reverbera repulsivamente. Onde há guerra havia a paz perdida, desfocada, esquecida. Aos que perscrutam entre nebulosos e diáfanos, os que contraem as pupilas, estado de alerta. É preciso tomar cuidado, nunca se sabe. E os que vertem lágrimas, circunspectos ou alheios, rendidos da hora ante as circunstancias. Ouço o vozerio, algaravias escuras na vida noturna, admonições eventuais, censura, escancaro. E me calo prostrado na Noite Obscura, viagem pelas trevas. Tudo passa, o efêmero é a ordem e tudo se descarta e se transforma. Alguns entristecidos por nada e o espanto dos olhos aos olhares sensíveis, janelas da alma: força psíquica intangível irradiando poder especial. E se levantam temores, outras emoções. No fundo, no fundo tudo está bem, tudo dará certo, quer queira, quer não. É só a passagem, correnteza de águas do não saber. A tudo presencio e testemunho conquistas e fracassos, eu próprio entre prêmios e migalhas, todos entre o luxo e a miséria. Mais que a vida o teor da morte, o falso que se faz real, a mentira que se faz verdadeira. Sou-me inteiro com as pálpebras cerradas: pineal exposta às ultrafrequências das mais elevadas oitavas cósmicas. Vou além do visinvisível, quem vai da Lua ao Sol que vem, sou pro futuro na antecipação da aurora, emoção intensa e vívida no glorioso amanhecer. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o compositor, arranjador e professor inglês Gustav Holst (1874-1934): The Planets Suite & Symphoniy in F Major The Costwolds; e com a pianista russa Lola Astanova: Rhapsody in blue Gershwin & The Chopin Project.  Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA: Todo parecer é imperfeito: ele oculta o ser; é a partir dele que se constroem um querer-ser e um dever-ser, o que já um desvio do sentido. Somente enquanto poder ser – ou pode-ser – é o parecer apenas suportável. Pensamento do lingüista lituano Algirdas Julius Greimas (1917-1992), que desenvolveu contribuições inestimáveis para a semiótica e narratologia.

AS LÁGRIMAS DE OBIRICI – Imagem: As lágrimas de Obirici, do escultor Mário Arjonas - [...] Mas com Obirici, uma linda jovem [...] Desde curumim ela nutria amor por um único índio. Nunca havia confessado sua paixão, no entanto. Amava em segredo, em silêncio, sozinha. Quis o destino que o índio por quem ela era apaixonada fosse escolhido o chefe guerreiro dos tapi-mirins. Obirici pensou, então, que chegara o momento para se declarar. – Grande chefe, estou aqui para dizer que te amo. Quero ser tua esposa, passara vida ao teulado. – Tu não és a única a declarar amor por mim, Obirici. – Outra índia se apresentou como tua pretendente? – Sim. Ela diz me amar como ninguém mais me amaria. – Mas eu te amo tanto quanto ela, mais até. E desde sempre. Desde que soube o que era amar alguém... [...] A outra índia parecia mais afeita ao arco e à flecha. Seus disparos eram precisos, fulminantes, certeiros. Cada flexha sua que acertava o alvo era como se acertasse também o coração de Obirici. Aos poucos, sua vitoria foi se tornando evidente. Perdeu Obirici. [...] Era noite de lua cheia, e para a lua Obirici chorou. [...] Obirici virou suas lágrimas, e suas lágrmas viraram um riacho, que foi fazendo seu caminho pela areia até chegar à aldeia. Primeiro assustados, depois consternados, os tapi-mirins perceberam que o rio eram as lágrimas de sofrimento de Obirici. Chamaram o arroi de Ibicuiretã, e os açorianos quando aqui chegaram, o rebatizaram de Passo da Areia, que deu nome ao bairro. Lenda extraída da obra Lendas gaúchas: 35 histórias com origem no imaginário popular rio-grandense (RBS, 2007), organizada por Pedro Hasse Filho. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

ASTECAS - [...] Ora, eu e meus amigos de infância frequentemente discutíamos, como imagino que até mesmo as crianças cristãs discutam, a respeito das diferenças entre o corpo do homem e o da mulher, e aquilo que acreditávamos que homem e mulher intimidade, como faziam, quem ia por cima, quais as variações, quanto tempo durava o ato e quantas vezes podia ser feito em seguida. Cada um de nós, primeiro em segredo, depois em reuniões competitivas, descobriu como verificar se seu tepuli estava bastante ereto e se seus ovos ololtin continham omicetl masculino em quantidade e capacidade de projeção não inferiores de nossos colegas. [...] ouvíamos avidamente a caçoada obscena dos trabalhadores adultos e suas lembranças de aventuras com muilheres, decerto exageradas ao serem contadas. [...] E lá estava eu, diante do corpo da mais bela virgem de Aztlan – não uma maatil barata e vulgar ou mesmo uma cara auyanimi, mas uma verdadeira princesa. [...] E, é claro, após algum tempo, ela abandonava toda a calma e eu já não estava mais tão nervoso e ambos gritávamos sons desarticulados de êxtase e deleite. A coisa que de melhor me lembro sobre essa cópula, e de todas as outras que se seguiram, é quão bem Patzcatl-Ameyadtl personificava o próprio nome, que quer dizer Fonte de Humores. Quando nos deitávamos, ela era exatamente isso. Conheci muitas mulheres desde então, mas nenhuma tão pródiga de humores. Naquela primeira vez, meu primeiro toque em sua tipili fez com que começasse a produzir um fluido claro como água, embora lubrificante. Logo estávamos nós dois – e o catre também – escorregadios e brilhantes. Quando finalmente partimos para o ato da penetração, a membrana de proteção virginal de Ameyatl, o chitoli, rompeu-se sem oferecer resistência. Ela era apertada como uma virgem, mas não precisei forçar. Meu tepuli, bem-vindo nesses humores, penetrou-a sem dificuldade. Em outras ocasiões, Amyatl começava a ficar molhada nem bem tirava o tochomitl, ou, mais tarde ainda, assim que entrava no meu quarto. Às vezes, ainda depois, quando estávamos vestidos na companhia de outras pessoas e nos comportando com impecável propriedade,ela me lançava um olhar que queria dizer? “Estou olhando para você, Tenamaxtli... e estou molhada por baixo das roupas”. [...] fiquei supreso quando a menina fez comigo, coma boca, aquilo que pensei que só tuilontli masculinos faziam entre si, porque fora o mesmo que Yeyac certa vez tentara fazer comigo. Mas meu tepuli estava mais maduro então e a menna o excitou com tanta pericia que irrompi em glorioso prazer. Então ela me mostrou como fazer o mesmo com xacapili dela. Aprendi que essa pérola discreta, embora muito menor que o órgão de um mhomem, pode também ser posto na boca, acariciada com a língua e sugada até impelir a mulher a verdadeiras convulsões de prazer. Ao aprender isso, comecei a suspeitar que mulher alguma realmente precisava de um homem, ou seja, de seu tepuli, uma vez que outra mulher, mesmo uma criança, podia dar-lhe o mesmo tipo de prazer. Quando eu disse isso,a garota riu, mas concordou, e me falou que o ato sexual entre mulheres se chama paclachuia. [...] E assim foi, e passamos a nos divertir um com o outro em todo momento de privacidade possível durante os cinco anos seguintes, mais ou menos. [...]. Trechos da obra Outono asteca (Record, 2003), de Gary Jennings. Veja mais aqui.

A SERPENTE DE OURO – [...] O índio da fazenda guarda o segredo da sua comunidade como o seu próprio. Sabe bem que todos são conversadores, mas não com os brancos. Mal divisam um rosto claro ou uma roupa diferente, fecham-se em copas, só abrindo a boca para responderem o necessário. Somente os seus paisanos fraternos, do mesmo meio familiar, das palestras à porta de suas casas, lhes ouvem dissertações sobre as trivialidades da vida diária ou das boas ou más colheitas. Eles sabem como choram as plantas durantes as secas,m de como a laguna se põe rubra, recordando a morte de antigos guerreiros degolados e atirados em suas águas por rebeldia; do que diz de o Sol, quando as nuvens passam por ele; e como os trovões são produzidos por São Isidro, o padroeiro dos fazendeiros, que, num corcel ferrado e brioso, galipa pelos céus, ordenando uma boa chuva. Ou também uma maravilhosa historia, por exemplo de Tungurbao, espécie de Dom João Tem´roio da selva, surgindo em Chuquiten, ninguém sabendo de onde viera, nem para onde fora, que tocava flauta de ouro em noites de luar, atrando e seduzindo donzelas com o feitiço de sua música maravilhosa, alta e clara, que enchia a comarca, jamais ouvida antes, nem depois, e que desapareceu, talvez, devido às lágrimas das mães de suas vitimas ou porque terminasse o seu pacto com o diabo... mas, isto foi há muito, muito tempo... [...]. Trecho do romance A serpente de ouro (Clube do Livro, 1972), do premiado escritor e jornalista peruano Ciro Alegría (1909-1967). Veja mais aqui.

SONETO & ODE DE RONSARD - 1 – Soneto: Foi para vós que ontem colhi, senhora, / este ramos de flores que ora envio. / Não no houvesse colhido e o vento e o frio / tê-las-iam crestado antes da autora. / Meditai nesse exemplo, que se agora / não sei mais do que o vosso outro macio / rosto nem boca de melhor feitio, / a tudo a idade afeia sem demora. / Senhora, o tempo foge...  o tempo foge... / com pouco morreremos e amanhã / já não seremos o que somos hoje... / Por quê é que o vosso coração hesita? / O tempo foge... a vida é breve e é vã... / Por isso, amai-me... enquanto sois bonita. 2 – Ode à Cassandra: Vem, amor, vem ver se a rosa, / que ontem, fresca e perfumosa, / se aberiu ao sol estival, / não perdeu o viço ainda / e conserva, rubra e linda, / cor a teu rosto igual. / Oh, amor! Vê quão depressa, / fenecendo, a rosa cessa / de ser bela e ser louçã! / Como é madrasta a Natura, / pois que tal flor jamais dura / do entardecer à manhã! / Meu conselho é, pois, amor, / que, enquanto na vida em flor, / encantos possam sobrar-te: / colhe, colhe a mocidade, / pois comoà rosa a idade / da beleza há de privar-te. Poemas do poeta renascentista francês Pierre de Ronsard (1524-1595). Veja mais aqui.

AS CONDECORAÇÕES DE LUCIAH LOPEZ
A poeta Luciah Lopez é homenageada com a Comenda Internacional Ruy Barbosa "O Águia de Haia", o Título Honorífico de Embaixadora da Paz pela OMDDH - Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos, vinculado a Organização das Nações Unidas (ONU), Certificado de Mérito Cultural 2016 e o Diploma de Benfeitor Cultural da Humanidade - FEBACLA. As condecorações internacionais vêm como fruto de um trabalho desenvolvido através de sua poesia e pensamento em prol da paz mundial. A cerimonia de entrega dos títulos aconteceu na Câmara Municipal de Niterói (RJ). no dia 08 de dezembro, com a presença de artistas e autoridades. Veja mais aqui.

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A ARTE HIROKO SAKAI
A arte da pintora japonesa Hiroko Sakai.

A ARTE PERFORMÁTICA DE ALESSANDRA CESTAC
A arte da artista plástica, performer e designer gráfica Alessandra Cestac.
 

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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